DIFERENÇAS ENTRE SEXOS NA APRENDIZAGEM DO BASQUETEBOL GENDER DIFFERENCES IN LEARNING BASKETBALL



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Transcrição:

Revista da EDUCAÇÃO FÍSICA/UEM 7(1):85-89,1996. DIFERENÇAS ENTRE SEXOS NA APRENDIZAGEM DO BASQUETEBOL Luiz Antonio Pereira da Silva * Maria da Graça de Sousa Guedes ** RESUMO. Pesquisa desenvolvida por Davisse (1986) conclui que estudantes do sexo masculino apresentam melhores rendimentos na aprendizagem de esportes do que estudantes do sexo feminino, principalmente no início da 5 a série do 1 o Grau quando os estudantes começam a ter Educação Física com professores especializados. No entanto, Baur (1988) afirma que estudantes do sexo feminino apresentam bom rendimento quando o trabalho é feito em conjunto com estudantes do sexo masculino. O objetivo deste estudo foi verificar se existem diferenças na aprendizagem de basquetebol entre estudantes masculinos e femininos na faixa etária de 9 a 10 anos. O trabalho experimental foi desenvolvido ao longo de 21 aulas de basquetebol com duas turmas mistas (26 estudantes do sexo feminino e 35 do sexo masculino). No teste de AAHPERD para basquetebol foi aplicado no início e no final do trabalho experimental. O teste t de estatística demonstrou um melhor rendimento de aprendizagem por parte das estudantes do sexo feminino. Os resultados apresentados no final do trabalho evidenciaram este mesmo rendimento na aplicação dos fundamentos em situação de jogo, contrariando as perspectivas, pois os estudantes do sexo masculino apresentaram diferenças significativas (p<0,01), tanto no pré-teste como no pós-teste e na aplicação dos fundamentos fora da situação de jogo. A conclusão final é que, em situação de jogo, existe outros fatores que interferem no processo da aprendizagem, além da boa execução dos fundamentos básicos, o que fez com que as estudantes do sexo feminino apresentassem melhores rendimentos do que os do sexo masculino. Palavras-chave: basquetebol, aprendizagem, desenvolvimento. GENDER DIFFERENCES IN LEARNING BASKETBALL ABSTRACT. Research carried out by Davisse (1986) concludes that male students presents a better performance in sports learning than females, principally at the beginning of the 5 th year in high school when children begin to have Physical Education with specialized teachers. However, Baur (1988) says that females present a good performance when they work together with males. The porpose of this study is to determine whether gender differences exist in 9-and 10-year-old children of both sexes when learning basketball. An experimental work was carried out over 21 basketball classes distributed in two mixed groups of 35 male and 26 female children AAHPERD test for basketball was applied at the beginning and at end the experimental work. The statistic t test showed a better performance of the females. The results at the end of the work showed this same performence in the application of the rules during the games. This was contrary to perspectives, since males presented important differences (p<0.01) in the pre-test, in the post-test and in the application of the rules out of the games. The final conclusion is that during the games there are other factors which interfere in the learning process, besides good performance in the basic rules, the latter caused a better performance of females than of males in learning situation. Key words: basketball, learning, development. * Professor da Universidade Estadual de Maringá, Paraná. Doutor na Área de Pedagogia do Desporto. * * Professora da Faculdade de Ciências e de Educação Física da Universidade do Porto, Portugal. Doutora na Área de Psicologia da Educação Física.

86 Silva e Guedes INTRODUÇÃO As investigações conduzidas por Davisse (1986) concluem que o sexo masculino possue melhores condições físicas do que o sexo feminino, principalmente no início do 5º ano de escolaridade, no 1º grau, quando a criança efetivamente começa a fazer educação física, ministrada por professor especialista da área. O desenvolvimento superior das capacidades físicas apresentado pelas crianças do sexo masculino, provavelmente dará a este sexo, condições para apresentar melhores performances no aprendizado do basquetebol, principalmente no que concerne às habilidades (Jacob, 1991 e Konzag, 1991). No entretanto, Baur (1988a) afirma que crianças de ambos os sexos entre os dez e doze anos, apresentam grande potencialidade para a aprendizagem. Este fator de importância, confere ao sexo feminino aptidão similar para a aprendizagem, muito embora o sexo masculino desenvolva quantidade significativa de atividades físicas diárias, a mais do que o sexo oposto. Com base no maior desenvolvimento de atividades físicas diárias, Jacob (1991) cita que o sexo masculino tende a apresentar melhor capacidade coordenativa, o que pode representar um benefício no desenvolvimento específico de habilidades como o arremesso, drible e passe no basquetebol. Este conflito que sugere ter o sexo masculino melhores condições de aprendizagem, devido seu melhor desenvolvimento físico-motor, face a significativa quantidade de atividades físicas desenvolvidas diariamente, proposto por Davisse (1986), Jacob (1991) e Konzag (1991) e a capacidade similar de aprendizagem proposta para os dois sexos defendida por Baur (1988b) sugeriu a formulação do seguinte problema: existe algum tipo de diferença no rendimento apresentado, quando da aprendizagem do basquetebol, envolvendo os dois sexos? OBJETIVO DO ESTUDO O problema levantado determinou o seguinte objetivo para o estudo: determinar se existe qualquer tipo de diferença entre os sexos, na aprendizagem do basquetebol. Em função do objetivo proposto, se levantou a seguinte hipótese

Diferenças entre sexos na aprendizagem de basquetebol 87 de trabalho: na aprendizagem do basquetebol, quando os dois sexos são trabalhados juntos, não existe qualquer tipo de diferença significativa no rendimento de ambos os sexos. METODOLOGIA A amostra constou de 116 crianças na faixa etária entre os 10 e 12 anos de idade, sendo 54 do sexo feminino e 62 do sexo masculino, todas pertencentes a 5ª série do 1º grau, no início do ano letivo. Estas crianças foram divididas em dois grupos mistos, um com 28 meninas e 32 meninos, outro com 26 meninas e 30 meninos. Dois testes foram aplicados na mostra, o primeiro após a aplicação das cinco primeiras aulas, para que as crianças possuíssem pelo menos as noções básicas dos fundamentos e do jogo e o segundo, no final do trabalho experimental, após a aplicação de mais 16 aulas. Foram ministradas aos dois grupos, um total de 21 aulas para a aprendizagem do basquetebol. Os testes foram compostos por uma bateria específica para o arremesso, drible e passe (AAHPERD para o basquetebol) e outro para determinar a capacidade de jogo usando os fundamentos básicos do basquetebol. Para a observação e análise dos fundamentos básicos do basquetebol, em situação real de jogo, foram filmados os testes em que as crianças foram colocadas em situação de jogo e analisados cada um dos fundamentos durante o transcorrer de cada uma das quatro partidas com duração de cinco minutos, utilizando os recursos do vídeo-cassete. As mesmas aulas foram ministradas para os dois grupos experimentais, em condições semelhantes, durante o período de três meses, com a freqüência de três vezes por semana. Os dados coletados foram utilizados para comparar as performances apresentadas por ambos os sexos, tendo sido aplicado um teste "t" de Student, para determina a existência de possíveis diferenças. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A análise estatística realizada face os resultados obtidos, evidenciando diferenças na variação entre as amostras, possibilita discutir a performance dos dois sexos na aprendizagem do basquetebol. A primeira comparação feita no pré-teste, sobre os fundamentos do basquetebol (arremesso, drible e passe), fora de situação de jogo, evidenciou a existência de diferença significativa (p<0,01) do sexo masculino sobre o feminino. Nesta parte do teste só se considerou para o arremesso, aqueles que efetivamente foram concretizados, sem considerar as bolas que apenas tocaram a parte superior do aro, como prevê o teste para esta faixa etária. Entretanto, em ambos os casos, houve diferenças significativas (p<0,01) quando se comparou a performance do sexo masculino com o feminino (pontos efetivamente marcados, masculino 4,23>1,92 feminino e bolas que tocaram a borda superior do aro, sem a marcação de pontos, masculino 5,17>2,25 feminino. A soma total dos pontos obtidos pelo sexo masculino, manteve a diferença significativa (9,40>3,46; p<0,01). O mesmo ocorreu em relação ao passe e ao drible, com diferenças significativas encontradas na média, em favor do sexo masculino (passe 28,14>21,96; drible 27,68<37,99). As comparações realizadas no pós-teste, também revelaram a existência de níveis significativos (p<0,01) entre os fundamentos básicos do basquetebol (arremessos que marcaram pontos 6,40>2,15; arremessos que tocaram a borda superior do aro, sem marcar pontos 5,15>2,46, total dos pontos 12,11>4,61; passe 29,77>24,23 e drible 25,31<30,26; tabela 1). Apesar do sexo masculino apresentar performance significativamente melhor do que o feminino, nos fundamentos básicos do basquetebol (arremesso, passe e drible), em todos os testes, a melhoria observada na diferença entre o pré-teste e o pós-teste não foi significativa. O sexo feminino evidenciou possuir uma capacidade de aprendizagem nos fundamentos do basquetebol, com um aumento significativo (arremesso 3,36; passe 6,18; drible 10,31; p<0,01) demonstrando ao final melhores performances na aprendizagem. No entretanto a performance final apresentada, não foi suficiente para evidenciar resultados significativos quando comparadas as diferenças ocorridas entre o pós-teste e o pré-teste em ambos os sexos (arremesso: masculino 3,23>3,36 feminino; passe: masculino 5,54<6,18 feminino; drible: masculino 4,95<10,31 feminino). Tabela 1: Resultados do Teste AAHPERD para basquetebol. Pré-teste Pós-teste Fundamentos Masculino Feminino Masculino Feminino 87

88 Silva e Guedes Arremesso 18,40** (2,23) 15,04 (2,66) 18,77** (2,95) 15,54 (2,41) Pontos 4,23** (3,39) 1,92 (2,55) 6,40** (5,26) 2,15 (2,71) No aro 5,17** (3,92) 2,25 (2,69) 5,71** (3,67) 2,46 (3,14) Total 9,40** (6,42) 3,46 (4,69) 12,11** (7,61) 4,61 (5,56) Passes 28,14** (4,51) 21,96 (4,40) 29,77** (4,24) 24,23 (3,94) Dribles 27,68** (4,01) 37,99 (8,84) 25,31** (3,17) 30,26 (4,08) *p<0,05 **p<0,01 Os resultados revelaram que nos fundamentos básicos do basquetebol, a aprendizagem do sexo feminino apresentou melhores performances do que para o sexo masculino e a melhor condição físico-motora que o sexo masculino apresentou no início do desenvolvimento do trabalho experimental, não representou melhor aptidão para a aprendizagem deste desporto (tabela 2). Tabela 2: Diferenças nos resultados entre o pós-teste e o pré-teste. Teste Masculino Sexo Feminino Arremesso 0,37 (2,25) 0,11 (1,99) Pontos 2,17*(4,40) 0,61 (2,57) No aro 0,54 (4,15) 0,54 (2,16) Total 2,71 (6,32) 1,15 (3,82) Passe 1,63 (4,56) 2,27 (3,89) Drible 2,37 (2,24) 7,73**(6,29) *p<0,05 **p<0,01 Na análise do desenvolvimento do jogo (no basquetebol), a vantagem obtida por cada equipe contra a outra, foi virtualmente a mesma entre os dois sexos. A significância observada nos resultados do teste envolvendo os fundamentos básicos do basquetebol, testados fora de uma situação real de jogo, apresentada pelo sexo masculino, não foi suficiente para determinar uma diferença significativa na performance observada durante o desenvolvimento do jogo, no confronto de duas equipes do mesmo sexo (tabela 3), o que vem rejeitar a hipótese de que o rendimento na aprendizagem do basquetebol é semelhante para ambos os sexos. Tabela 3: Resultados do teste do jogo no basquetebol. Pré-teste Pós-teste Fundamentos Masculino Feminino Masculino Feminino Arremesso 6,00(2,98) 4,25(3,15) 8,25(1,39) 6,62(2,39) Pontos 0,75(0,71) 1,25(1,39) 4,12(1,25) 1,62(0,92) No cesto 2,12(1,73) 0,87(0,35) 1,00(0,76) 1,37(1,68) Em direção à cesta 3,37(2,59) 2,12(1,81) 3,12(1,13) 3,62(1,30) Violação da Regra 14,00(4,66) 11,37(2,67) 4,50(2,00) 6,87(2,10) Bento (1984) considera necessário para a criança adquirir competência de jogo, executar com boa performance os fundamentos básicos do desporto a ser aprendido. Um fato que não ocorreu, pois o sexo feminino não apresentava tal performance nos fundamentos do basquetebol, no entanto, durante a aprendizagem mostrou melhores resultados na performance do jogo. Apesar da menor competência na realização dos fundamentos básicos do basquetebol, fora de situação de jogo, produziu ao final melhores resultados do que o sexo masculino, muito embora não se tenha encontrado qualquer nível de significância na diferença apresentada entre os sexos. Esta foi uma situação ocorrida e que Casbon (1991), Bortoli e Robazza (1991) explicam, considerando que existe a necessidade de tempo entre a aprendizagem dos fundamentos executados fora de uma situação de jogo e os fundamentos executados numa situação real de jogo. Também confirmada por Thorpe (1990) e, Read e Davis (1990) em explicações que sugerem: quando a criança não possue experiência de jogo e não consegue entender porque as regras são necessárias, nem porque precisam trabalhar em parceira com outra criança, não conseguem resolver problemas ocorridos durante o jogo. No Teste do Jogo de Basquetebol, o sexo feminino evidenciou possuir melhor disposição para a aprendizagem do que o sexo masculino. A diferença observada no pré-teste foi menor do que no pós-teste com os fundamentos do arremesso durante a execução do jogo (3,37>2,25), bem como de pontos convertidos (0,50>0,25) e bolas lançadas em direção à cesta, sem chegar ao aro, que foi significativamente maior para o sexo feminino (1,50>-0,25; p>0,05). Diferença justificada devido o sexo feminino apresentar menor força de braço para fazer com que as bolas chegassem ao cesto, nas bolas arremessadas a distâncias pouco maiores e que ocorreram com maior frequência, fato que não se deu com o sexo masculino (tabela 4). Tabela 4: Diferença nos resultados do teste do jogo do basquetebol. Pós-teste Diferença Fundamentos Masculino Feminino Masculino Feminino Arremesso 8,25 (1,39) 6,62 (2,39) 2,25 (2,71) 2,37 (2,72) Pontos 4,12 (1,25) 1,62 (0,92) 0,25 (0,89) 0,50 (1,60) Convertidos 1,00 (0,76) 1,37 (1,68) 2,00 (1,15) 0,37 (1,68) Em direção à cesta 3,12 (1,13) 3,62 (1,30) -0,25 (2,76) 1,50 (2,00)

Diferenças entre sexos na aprendizagem de basquetebol 89 Violação da regra 4,50 (2,00) 6,87 (2,10) 9,50 (4,99) 4,50 (3,42) De acordo com Manno (1982) e Hebbelinck (1991), o sexo masculino, nesta faixa etária (média 9 anos e 10 meses) apresenta maior força de braço para a execução do fundamento no arremesso. Um fato que ficou comprovado entre os grupos, com a aplicação do teste do lançamento da bola de hóquei em campo, quando o sexo masculino evidenciou diferença significativa (p<0,01) no arremesso (22,17 metros>13,39 metros). Contudo, a teoria de Jacob (1991) está confirmada nesta investigação, porque o sexo masculino apresentou diferença significativa na quantidade de pontos marcados fora da situação de jogo (2,17>0,61; p<0,01), mas quando em situação de jogo a diferença não foi significante (0,25 0,50; p>0,05). Um fato que pode ser explicado pela teoria de Falguière (1991a). Em cada situação de jogo existe um grande número de ações e necessidade de muitas outras capacidades, o que não ocorre quando se faz só o fundamento (arremesso, passe e drible). Hasler (1991) cita ainda que, em situação de jogo a criança necessita compreensão das regras, boa relação com os companheiros, boa capacidade para execuções de movimentos proporcionada pelo desenvolvimento motor e, inteligência para usar o potencial físico no momento oportuno. mais relevante do sexo masculino, quando o professor dá a mesma atenção para ambos os sexos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAHPERD. Basketball test for boys and girls: test manual. Washington, AAHPERD, 1980b. BAUR, J. Allenamento & Fasi Sensibilli. Rivista di Cultura Sportiva, 14(9):51-53, 1988a.. Le Fasi Sensibilli. Rivista di Cultura Sportiva, 15(7):21-25, 1988b. BENTO, J.O. Jogar não pode substituir a exercitação. Revista de Educação Física e Desporto Horizonte, 2:62-63, 1984. BORTOLI, L. & ROBAZZA, C. Teoria dello schema ed apprendimento motorio. Revista Di Cultura Sportiva, 21:63-68, 1991. CASBON, C. En Lugar de los juegos en la educación física de los niños. Revista de Educación Física y Desportiva, 150:8-13, 1991. DAVISSE, A. Integración mixta en educación física y deporte. Revista de Educación Física y Desportiva, 120:21-24. 1986. FALGUIÈRE, C. Básquetbol en el colegio: evaluacion de la motricidad. Revista de Educación Física y Desportiva, 149/150:17-21/28-33, 1991a. CONCLUSÃO Não existem dúvidas que o sexo masculino apresenta melhores condições no desenvolvimento motor para jogar basquetebol do que o sexo feminino. Contudo, esta condição não deu ao sexo masculino capacidade para apresentar melhor rendimento na aprendizagem do basquetebol, quando as aulas são ministradas com turmas mistas. No final do experimento, as diferenças existentes entre os dois sexos, nos fundamentos realizados em situação de jogo, diminuíram a ponto de deixarem de apresentar significância (p<0,05). Nesta investigação o sexo feminino apresentou melhor disposição para a aprendizagem, a ponto dos resultados diminuírem ao final no pós-teste, rejeitando assim a hipótese levantada de que não existe diferença significativa na aprendiagem entre os dois sexos. Os resultados possibilitaram concluir que o potencial de aprendizagem do sexo feminino é tão ou 89

90 Silva e Guedes HASLER, H. Funcion e importancia de las capacidades coordenativas. Revista de Educación Física y Desportiva, 148:24-25, 1991. HEBBELINCK, M. Desarrollo y desempeño motor. Revista de Educación Física y Desportiva, 145:35-41, 1991. JACOB, F. Funcion e importancia de las capacidades coordenativas. Revista de Educación Física y Desportiva, 147:36-40, 1991. KONZAG, I. A formação técnico-táctica nos jogos desportivos colectivos. Treino Desportivo, 19:27-37, 1991. MANNO, R. A evolução das qualidades físicas força, velocidade, resistência nas várias idades. Futebol em Revista, 9:23-32, 1982. READ, B. & DAVIS, J.D. Enseñanza de los juegos deportivos: cambio de enfoque. Apuntes: Educació Física i Esports, 22:51-56, 1990. THORPE, R. New directions in physical education. England, Armstrong Human Kinetics Publisher, 1990. vol. 1.