Manifestação em defesa da saúde pública reúne centenas de pessoas em Copacabana A população carioca provou que também está insatisfeita com a situação caótica em que se encontra o sistema público de saúde no Rio de Janeiro. Centenas de pessoas que circulavam pela Praia de Copacabana, no último dia 07/8, num domingo de céu limpo e sol forte, fizeram questão de prestar sua solidariedade ao ato público promovido pelo Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, com apoio do Movimento SOS Saúde Pública, que luta em favor de melhores condições salariais e de trabalho para médicos e dentistas e contra a entrega das unidades de saúde para as organizações sociais (OSs). As pessoas que passavam, paravam para assinar o abaixo-assinado que solicita ao Prefeito Eduardo Paes atendimento de qualidade para a população, plano de cargos e salários para os servidores, unidades de saúde em boas condições, o fim da privatização do sistema e a retirada do projeto de lei complementar nº 41/2010, em tramitação na Câmara dos Vereadores do Rio, que acaba com a integralidade e a paridade para os servidores públicos na aposentadoria. Foi uma bela demonstração de defesa da cidadania: além de médicos e dentistas das principais unidades de saúde, deputados federais e estaduais, vereadores, bombeiros, diversos profissionais de saúde e lideranças sindicais participaram da manifestação. Farto material produzido pelo movimento foi disponibilizado para a população, inclusive a cartilha que contém os direitos dos usuários. Diversos painéis com fotos dos hospitais e maternidades do sistema foram expostos, revelando quadros assustadores com amontoados de pacientes em corredores, ambientes insalubres, equipamentos quebrados ou sucateados, abandonados pelo poder público. Ao final da atividade, o grupo Teatro Itinerante apresentou uma bem humorada esquete sobre a crise no setor de saúde pública e o descaso governamental, intitulada E a saúde? Vai bem, obrigada!, que convidou os expectadores a participar da peça. Durante a manifestação foram oferecidas à população fitas brancas, simbolizando a defesa da saúde pública. Todos nós somos potenciais usuários do sistema público de saúde. Mesmo quem tem plano de saúde não está seguro, pois se sofrer um acidente, será atendido primeiramente no hospital público, e se não encontrar lá o especialista que necessita, será colocado numa ambulância para procurar outra unidade, advertiu o Presidente do SinMed/RJ, Dr. Jorge Darze. Ele denunciou que faltam médicos nas
UPAs, Clínicas de Saúde da Família e na rede hospitalar, porque os baixíssimos salários pagos aos estatutários estão afugentando os profissionais. No Hospital Souza Aguiar, em apenas nove meses, morreram mais de 800 pessoas. Isso é uma chacina praticada pelo poder público. Os médicos estão sem nenhuma condição de atender à população, denunciou. Queremos fazer um choque de ordem, mudando a regra perversa da atual política governamental, que mata pobres e fica impune. Por isso, estamos fazendo um greve contra o caixa da prefeitura (os médicos não estão preenchendo as AIHs dos pacientes). O Presidente do Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro, Dr. Afonso Fernandes Rocha, lamentou o fato de a prefeitura não reconhecer a importância da saúde bucal para o restabelecimento da saúde dos pacientes. A odontologia tenta justificar a sua necessária presença na rede pública de saúde, mas o governo prefere pagar aos não concursados, desvalorizando profissionais experientes, frisou. Líder do movimento dos bombeiros militares do Rio de Janeiro, Benevenuto Daciolo, e outros colegas, participaram da manifestação para dar o seu apoio aos servidores da saúde. Todos nós estamos em busca de dignidade. Estamos aqui em solidariedade, porque os quadros da saúde sempre estiveram presentes conosco. Nós estamos dando um grande passo para a mudança. Juntos, somos fortes. Ele aproveitou para fazer uma adaptação do jargão já popularizado pelos bombeiros: Quem é, quem é?, gritou, ao que todos responderam: É a saúde no local!. Parlamentares criticam prefeito por falta de políticas públicas para recursos humanos Todos os parlamentares que participaram do ato público em Copacabana defenderam o cumprimento do preceito constitucional que define saúde como dever do Estado e direito do cidadão, criticando a entrega da gestão das unidades da rede pública municipal para as organizações sociais e a Fiotec. Estiveram presentes os vereadores Paulo Pinheiro (PPS), Eliomar Coelho (PSOL), Edison da Creatinina (PV) e João Ricardo (PSDC), o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e o deputado federal Alessandro Molon (PT). O vereador Paulo Pinheiro salientou que além de médicos, os hospitais estão funcionando sem enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde, devido a falta de políticas coerentes na área de recursos humanos. O parlamentar destacou que nem mesmo a Fiotec, que contrata médicos por salários muito maiores que
o poder público, está conseguindo manter os profissionais nas unidades por mais de dois meses devido aos horários incompatíveis que impõe. Paulo Pinheiro convocou a população a cobrar dos seus vereadores o voto contrário ao Projeto de Lei Complementar 41/2010, de iniciativa do governo municipal, que ele chamou de crime contra o servidor público. A diretora do SinMed e médica do Hospital Lourenço Jorge, Dra. Sara Padron, lembrou que na história da cidade nunca houve um prefeito que tivesse adotado políticas tão perversas como vem fazendo o atual. Ela pediu o engajamento da população na luta em defesa da saúde pública. A crise da saúde somente poderá ser resolvida através da mobilização dos profissionais de saúde e da população e da pressão sobre o prefeito, advertiu o Vereador Edson da Creatinina. Queremos que ele dê para a saúde pública e para os seus servidores a mesma atenção que dá para as obras faraônicas que está fazendo. O Deputado Estadual Marcelo Freixo afirmou que a saúde virou um grande balcão de negócios para o governo. Os servidores precisam estar articulados para reagir contra o desmonte da saúde pública. Ele salientou que assim como os bombeiros, os médicos devem mostrar que o seu valor está muito acima do reconhecimento que o poder público dá aos serviços que prestam, e chamou que criminosa a entrega da gestão das unidades de saúde da rede municipal para as organizações sociais. Felizmente, nós conseguimos brecar as OSs na Assembleia Legislativa. Alessandro Molon, Deputado Federal, agradeceu aos profissionais de saúde por não terem desistido do serviço público, por não abrirem mão dele. Ele destacou que se há dinheiro para pagar salários mais altos aos contratados, há também para pagar salários decentes aos servidores efetivos. Esse governo adota uma visão de sociedade que despreza os mais necessitados e menos protegidos. Eles acham que a população pobre não merece um atendimento decente e maltratam justamente os profissionais que estão mais próximos dela, denunciou. O Vereador João Ricardo elogiou a mobilização dos médicos e demais servidores da saúde e destacou que eles não devem ceder para que possam conquistar a dignidade que buscam. Temos um prefeito que segue fielmente o receituário neoliberal e começou isso pela política social mais importante, que é a saúde, denunciou o Vereador Eliomar Coelho. Ele explicou que o sucateamento e o fechamento das unidades são para mostrar que o governo não tem condições de atender às necessidades da população e, assim, entregá-las para as OSs. E vem mais punhaladas por aí com o novo modelo de
aposentadoria, que segundo o governo, é necessária para resolver a insolvência do RioPrevidência. Só que eles não contam quem são os culpados disso, questionou.