CURSOS TÉCNICOS EM TURISMO NO CONTEXTO SÓCIO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SIGNIFICADOS



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Transcrição:

CURSOS TÉCNICOS EM TURISMO NO CONTEXTO SÓCIO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SIGNIFICADOS Celso Maciel de Meira 1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Mário Lopes Amorim 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Resumo O presente artigo busca investigar, por meio de uma pesquisa exploratória bibliográfica de corte longitudinal, a partir da segunda metade do século XX até os dias que correm, aspectos históricos de cunho político que se relacionaram com as concepções e significados atribuídos a formação da mão de obra de nível técnico para as atividades turísticas no Brasil. Como resultado das análises temporais, se verifica que o ensino de nível técnico para os segmentos turísticos teve seus resultados condicionados às tomadas de decisões políticas que influenciaram nos rumos da imagem do país como destino, bem como impactou numa formação inconsistente e generalista que não deu conta de atender ao campo da hospitalidade e nem no quesito que, prioritariamente, se espera da educação profissional, que é uma formação para aqueles que vivem do trabalho, por meio de uma escola unitária e liberta das imposições da escola dualista que historicamente segregou os menos favorecidos. Introdução Primeiramente, importa ressaltar que este artigo justifica-se pela escassez de produções acadêmicas que tratem do ensino técnico em turismo e pela pouca atenção que se tem dado aos desdobramentos históricos e políticos que impactaram na educação profissional, principalmente nos adventos mais recentes, conforme relata Ciavatta (2005, p.102) No Brasil, hoje, á um déficit de pesquisa para conhecer os estragos e as conquistas deflagradas com a imposição do Decreto no. 2.208/97. A sua revogação e a aprovação do Decreto no. 5.154/2004 trouxe a abertura e o estímulo à formação integrada, mas não trouxe a garantia de sua implementação. A partir de tais dados de realidade, buscamos referências bibliográficas e documentos que abarcassem tais temas com o objetivo de compreender os processos históricos e políticos no desenrolar da educação profissional brasileira, a partir da segunda metade do século passado até os nossos dias. 1 Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE). Av. Sete de Setembro, 3165 Rebouças - CEP: 80230-901 - Curitiba - Paraná - Tel.: (41) 3310-4713/4711 e-mail: celso-meira@ig.com.br 2 Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE). Av. Sete de Setembro, 3165 Rebouças - CEP: 80230-901 - Curitiba - Paraná - Tel.: (41) 3310-4713/4711 e-mail: marioamorim@utfpr.edu.br

2 Perpassam por nossas análises documentais as principais reformas na educação profissional e os seus impactos nos rumos do ensino técnico em turismo no Brasil, entre os quais fizeram parte das nossas investigações: a Lei nº 5692/71, a LDB 9.394/96, Decreto Lei nº 2208/97 e o Decreto Lei 5154/04. Quanto aos resultados obtidos, percebemos que, historicamente, a educação profissional esteve condicionada a fatores econômicos, determinados pelos interesses do capitalismo, os quais influenciaram a formação insuficiente para os trabalhadores dos segmentos turísticos. Assim, como proposta às incongruências da realidade vigente, na formatação dos cursos técnicos em turismo, sugerimos uma reforma nas estruturas de seus currículos, na perspectiva de ordenar uma área de ensino relativamente ampla, pois o modelo de estruturação curricular atual não tem dado conta da formação profissional na modalidade de ensino em questão dada a amplitude das atividades turísticas. Desdobramentos da educação profissional no contexto sócio histórico dos cursos técnicos em turismo no Brasil Se, na sociedade industrial, o trabalho constitui o cerne das preocupações, na sociedade flexível, o tempo livre, o lazer, o turismo e o prazer passam também a exigir atenção. Certamente Marx, se vivo fosse, estaria investigando as contradições desse fenômeno, por sua magnitude, sua relação com o trabalho, com o modo de produzir que sugere a alguns acrescentar adjetivos à sociedade contemporânea como sociedade do ócio e pós-industrial. (CORIOLANO & MELLO e SILVA) Para se compreender o lugar do turismo no mundo do trabalho, exige-se o conhecimento das mudanças históricas e o entendimento de qual a importância dessa atividade para o desenvolvimento de uma região ou de um determinado lugar. (CORIOLANO & MELLO e SILVA, 2005, p. 41). Não menos importante, há de se dar historicidade ao debate e a ação. A história nos coloca num terreno contraditório da dialética do velho e do novo de lutarmos contra ideologia e a democracia burguesas, no espaço restrito desta democracia burguesa em que vivemos. (FRIGOTO et al, 2005, p. 27) Entretanto, para se estabelecer relações entre as atividades turísticas contemporâneas e o mundo do trabalho na perspectiva da formação de trabalhadores e no embate entre os que lucram por meio do trabalho alheio e daqueles que vivem do trabalho, se faz necessário um estudo cuidadoso, pois uma análise acurada do turismo como fenômeno remete ao estudo do par dialético, trabalho-lazer, integrante de um mesmo processo. (CORIOLANO & MELLO e SILVA, 2005, p. 41). Tais reflexões nos levam a citar as transformações no mundo do

3 trabalho impostas pelos modelos taylorista/fordista e toyotista, as quais promoveram uma série de condicionantes aos trabalhadores, como por exemplo, a fadiga, o estresse e as pressões diárias provocadas pelos instrumentos de controle e pela produtividade em larga escala. Em contrapartida ao dado de realidade, pontualmente no caso brasileiro, as conquistas dos trabalhadores em função das prerrogativas das leis trabalhistas, notadamente a partir do governo de Getúlio Vargas, com as férias remuneradas e outros benefícios, bem como os comportamentos e atitudes ligados ao tempo livre das obrigações laborais, levaram tanto patrões quanto empregados, logicamente com menos intensidade estes últimos, a aproveitarem melhor os seus tempos livres, fato que impulsionou a valorização do lazer, do entretenimento e do turismo. Tais fatores se mostraram como importantes motivações para o surgimento dos cursos em nível técnico no Brasil, nos primeiros anos da década de 70 do século passado, além do fomento financeiro estatal, notadamente aos equipamentos de hospedagem (TRIGO, 2002). Numa fase anterior, na segunda metade dos anos de 1960, pode-se pontuar o desenvolvimento de políticas públicas, com a criação da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR), no ano de 1966, no sentido de tentativa da ordenação às atividades turísticas em âmbito nacional. Com efeito, situados num contexto o qual Trigo (2002) denominou como primeira fase de grande de expansão do turismo brasileiro sinalizava à necessidade de formação de mão de obra específica e qualificada para atender às novas demandas, motivadas por um marketing agressivo - porém inócuo e muita agitação cívica baseada na conquista do tricampeonato de futebol (1970), nas vitórias de Emerson Fittipaldi na Fórmula 1 e na beleza das brasileiras, sempre finalistas nos então famosos concursos de Miss Universo 3. (TRIGO, 2002, p. 94) Durante o regime militar (1964-1984), como se não bastasse os inúmeros golpes institucionais pautados pela proposta de modernização conservadora em termos econômicos e políticos, contribuindo para a histórica estrutura de desigualdades sociais, uma das intenções do regime foi mostrar o Brasil para o restante do globo. Fase esta, na qual o mundo passou a ter uma visão de imagens e representações turisticamente estereotipadas do Brasil. 3 Apesar do esforço concentrado, a primeira fase do turismo brasileiro acabou em fracasso. Dois conjuntos de motivos ocorridos concomitantemente afetaram a área: o primeiro foi estrutural, ou seja, a série de desastres econômicos provocados pela crise do petróleo e o aumento das dívidas brasileiras provocaram a inflação e a recessão que comprometeram o desenvolvimento nacional, inclusive do setor turístico. O segundo conjunto de motivos foi conjuntural, pois os planejadores não se importaram com preservação ambiental, com a conquista de padrões internacionais de qualidade e com a formação intensiva de profissionais qualificados em todos os níveis, o que afetou a operação gestão dos serviços turísticos. Todas essas deficiências do setor turístico, aliadas à crise econômica mundial, resultaram em fracasso. (TRIGO, 2002, p. 94)

4 Para se entender a criação da Embratur é necessário fazer uma análise e uma contextualização histórica do período da ditadura militar. A ditadura foi uma época em que o governo brasileiro se aliava integralmente aos interesses políticos e econômicos dos Estados Unidos, com total apoio aos investimentos e à ideologia norte-americana. Neste contexto de crescimento econômico apoiado pela ideologia desenvolvimentista, a Embratur cria uma imagem de um país com ausência de contrastes sociais agravados pelo período ditatorial, demonstrando a existência de um paraíso tropical receptivo, exótico e com belas mulheres (SANTOS FILHO, 2008, s/p.) Voltando ao assunto sobre a formação de nível técnico para as atividades turísticas, os levantamentos realizados para confecção deste artigo revelaram que o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) deu início às atividades ligadas à formação profissional de trabalhadores para o setor do turismo e hospitalidade no país. O desenvolvimento das instituições de educação em Turismo e Hotelaria no Brasil data da década de 50 e teve seu início e forte desenvolvimento nas Regiões Sudeste e Sul do País, liderados sobretudo pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, de abrangência nacional e com administrações autônomas em cada estado da Federação. Os cursos do SENAC nos diversos estados das regiões citadas atendiam à qualificação de quadros operacionais de base para hotéis e restaurantes, em diversos restaurantes-escola. No final da década de 60, instalou, no Estado de São Paulo, seu primeiro hotel-escola, também priorizando aquela qualificação. (RCNs, ÁREA PROFISSIONAL: TURISMO E HOSPITALIDADE, 2002, p. 19) Durante o regime militar, além do exposto sobre as condicionantes utilizadas para a nossa divulgação em terras estrangeiras, a figura da mulher 4, comumente, esteve na vanguarda de tais propagandas. Ainda em tempos ditatoriais, com relação à formação técnica de mão de obra especializada às atividades turísticas, antes mesmo da promulgação da Lei nº 5692/71 5, de forma pioneira, o estado de São Paulo dá início ao ensino técnico em turismo. Data de 30 de março de 1971 a deliberação do Conselho Estadual de Educação que institui o Curso Técnico de Turismo no sistema de ensino do Estado de São Paulo. O interesse das escolas de Nível Médio em oferecer esse curso foi, a princípio, bastante restrito: - a clientela escolar não demonstrava interesse pelo curso e as perspectivas profissionais oferecidas eram muito vagas, além da concorrência representada pelo curso do SENAC 6. 4 Tais apelos estereotipados da mulher brasileira aguçaram e aguçam o imaginário daqueles, principalmente de estrangeiros, que se deslocam ao Brasil a procura de sexo, caracterizando a exploração sexual por meio das atividades turísticas em núcleos receptores, como é o caso de algumas capitais na região Nordeste, contribuindo para o aumento de suas mazelas sociais. 5 [...] a Lei nº 5692/71 pretendeu substituir a dualidade pelo estabelecimento da profissionalização compulsória no Ensino Médio; dessa forma, todos teriam uma única trajetória. (KUENZER, 2000, p. 15) 6 Disponível em: http://www.rieli.com.br/profissao/pb10.htm#ensino. Acesso: 02.abr.2012.

5 A partir das prévias ações do SENAC no que concerne à qualificação profissional visando a formação de mão de obra para atuação nos segmentos do turismo, observa-se que somente há pouco mais de seis décadas é que se deu o interesse em formação de profissionais com conhecimentos específicos a partir da sistematização de cursos técnicos direcionados à atividade turística. Os cursos nesta área, especificamente, denominados técnicos em turismo, são em maior número, ainda herdeiros da profissionalização obrigatória imposta pela Lei Federal nº 5.692 7, implantados quase sempre pela facilidade e pelo baixo custo. Estes cursos, em sua grande maioria, não têm laboratórios ou ambientes especiais, nem recursos tecnológicos, nem biblioteca especializada, são distanciados do processo produtivo da área e seus docentes muitas vezes não têm experiência ou efetiva atuação no mercado de trabalho. (RCNS, ÁREA DE TURISMO E HOSPITALIDADE, 2002, p. 20). Destarte, num contexto marcado por questões desfavoráveis em se tratando de recursos materiais e humanos, os estudantes estavam sendo preparados na expectativa da lógica das empresas, ou seja, do mercado de trabalho, das demandas do capital, divorciados de uma formação que os conduzissem à compreensão do mundo do trabalho e, logo, da representação integral dos processos laborais que envolvem tal atividade. Ao analisar a história, os cursos de turismo em nível técnico foram menos ofertados em relação, por exemplo, a cursos de nível médio de outras áreas e aos cursos superiores, muito embora a formação técnica tenha se iniciado antes de 1970, enquanto os cursos superiores foram implantados a partir de 1971 (MATIAS, 2002). As iniciativas relativas à profissionalização na área de hospitalidade restringem-se ao SENAC e Escolas Técnicas Federais/CEFETs. Só a partir de 1988 vêm surgindo outras iniciativas, inclusive de escolas públicas estaduais. (RCNS, ÁREA DE TURISMO E HOSPITALIDADE, 2002, P. 20). Se compararmos, por meio dos desdobramentos temporais, a situação desfavorável e as precárias condições destes cursos nos sentidos estruturais, materiais e humanos, pode-se verificar que pouca coisa se modificou no desenrolar do ensino técnico em turismo no país. As expectativas de mudanças, na década de 1990, foram desacreditadas frente à reforma da educação profissional proposta à época, pois não sinalizavam para alterações do panorama apresentado, marcadas pelas intenções políticas explicitadas nos documentos 7 O texto da Lei nº 5692 fornecia os parâmetros para elaboração do currículo do ensino de 2º grau, ao determinar que, nele, a parte especial, isto é, a propriamente profissionalizante, deveria prevalecer sobre a educação geral, assim como o seu objetivo geral deveria ser o de propiciar a habilitação profissional de cada aluno. (CUNHA, 2005, p. 189). Sequencialmente, o Parecer 45/72 estabeleceu 130 cursos técnicos, dentre os quais constavam os cursos de Hotelaria e Turismo, na área de hospitalidade.

6 oficiais da época, as quais apontavam para a separação da educação profissional em nível técnico, em contraposição à formação unitária, consubstanciados pela própria LDB 9.394/96. Nesta legislação, a educação profissional é apresentada como uma modalidade educacional, mantendo o caráter dualista 8 característico dessa oferta educacional, na perspectiva de formar sujeitos minimamente qualificados ao sabor do desenvolvimento econômico, evidenciando as propostas de reestruturação da educação profissional à época. Não obstante, o ensino em turismo de nível técnico e, consequentemente, a formação profissional às atividades turísticas sofreriam tais influências, num período que a atividade no país vinha sendo concebida e desenvolvida basicamente de forma estrutural (operacional). Em relação aos segmentos turísticos, no tocante ao ensino para as atividades do turismo, os planejadores não se preocuparam com a qualificação intensiva de profissionais em todos os níveis, afetando a gestão e operacionalização dos serviços, caracterizando um setor marcado pelo amadorismo e improvisação de toda a cadeia produtiva, do planejamento à implantação, gestão e operação turística. Evidentemente o setor possuía uma qualidade medíocre ou comprometida. (TRIGO, 2002, p.95). Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, sob a égide do Decreto 2208/97 e do Parecer 04/99 a situação se agravou e a educação assume o ideário pedagógico do capital e do mercado pedagogia das competências para a empregabilidade como base nas Referências e Diretrizes Curriculares Nacionais (RCNs e DCNs). (FRIGOTTO et al, 2005, p. 13). Fomentou-se a face mercantil da educação e os ensaios das décadas anteriores se materializaram numa visão unidimensional, na perspectiva da produtividade e da empregabilidade. A política de educação profissional no governo de FHC não se resumiu ao ensino técnico. Ela abrangeu ações voltadas para a qualificação e a requalificação profissional, desviando a atenção da sociedade das causas reais do desemprego para responsabilidade dos próprios trabalhadores pela condição de desempregados ou vulneráveis ao desemprego. (FRIGOTO et al, 2005, p. 38). Assim foi caracterizada a educação profissional em um dos referidos documentos: 8 No Brasil, o dualismo das classes sociais, do acesso aos bens e aos serviços produzidos pelo conjunto da sociedade, se enraíza no tecido social através de séculos de escravismo e de discriminação do trabalho manual. Na educação, apenas na metade do século XX, o analfabetismo se coloca como uma preocupação das elites intelectuais e a educação do povo se torna objeto de políticas de Estado. Mas sua organicidade social está em reservar a educação geral para as elites dirigentes e destinar a preparação para o trabalho para os órfãos, os desamparados. Esse dualismo toma um caráter estrutural especialmente a partir da década de 1940, quando a educação nacional foi organizada por leis orgânicas, segmentando a educação de acordo com os setores produtivos e as profissões, e separando os que deveriam ter o ensino secundário e a formação propedêutica para a universidade e os que deveriam ter formação profissional para a produção. (CIAVATTA, 2005, p.87)

7 Não se pode tratar da educação profissional sem referência à trabalhabilidade, desafio maior de um tempo em que a globalização e a disponibilidade de ferramentas tecnológicas avançadas, rápida e continuamente recicladas ou substituídas, determinam que produtividade e competitividade são condições de sobrevivência e, portanto, palavras de ordem nos negócios e empreendimentos produtivos contemporâneos. (RCNs, 2000, p.9) [grifos nossos] Num explícito determinismo, visaram-se as bases tecnológicas do mundo contemporâneo como soluções redentoras, de maneira generalista, para os históricos problemas sociais/estruturais ligados ao trabalho e ao emprego. Outro ponto a se destacar foi que houve uma proposta universal para áreas que careciam de tratamentos diferenciados, como também é o caso das atividades turísticas. Estabelecendo relações com as exposições acima, quanto às atividades turísticas e a formação profissional na área de turismo e hospitalidade, vale lembrar que a globalização é um fator degenerativo do ponto de vista do processo de aculturação que vivem nossos destinos turísticos e que, em muitas experiências, os aparatos tecnológicos disponibilizados por tal processo, nem sempre vêm ao encontro de nossos anseios, pois vivemos realidades e necessidades diferentes daqueles que as produzem, e estas nos são empurradas compulsoriamente. Entre os grupos humanos, as maiores vítimas são as populações, já em desvantagem, nas áreas de turismo, particularmente no Hemisfério Sul: mulheres, crianças, minorias étnicas e povos indígenas. (KRIPPENDORF, 2002, p. 44). Sendo assim, não se trata de analisar somente os impactos da globalização das e nas atividades turísticas, mas a imposição vertical que vem a reboque por meio das díspares relações sociais a que são acometidos os núcleos receptores turísticos. Numa época de conflito entre o local e o global, também no desenvolvimento do turismo, as soluções, se não pelo global, pelo nacional e internacional regionalizado [...] é a capacidade local de atração que constitui o primeiro e um dos mais poderosos elementos na organização do circuito turístico numa escala global [...] A diversidade das localidades é o princípio da motivação turística. (MOESCH, 2002, p. 9). Se pudéssemos apontar algo determinante às atividades turísticas, seria pluriculturalidade (BENI, 2005), pois nós nos deslocamos atrás do novo, do inusitado, do pitoresco, e não de produtos enlatados, padronizados e esteriotipados pela globalização, pois para além de fenômeno econômico de peso, o turismo é, cada vez mais, visto como um fenômeno fundamentalmente social, por suas implicações humanas (MOESCH, 2002, p. 9).

8 Retomando ao foco do texto, ainda em análises às políticas para educação profissional do governo de Fernando Henrique Cardoso, especificamente, no que tange aos cursos técnicos em turismo, em paralelo às RCNs, numa espécie de documentos complementares, foram elaborados vinte referenciais específicos para áreas profissionais distintas 9, entre eles um para a área turística, o qual foi denominado área de turismo e hospitalidade, tendo como foco as habilidades na perspectiva da pedagogia das competências 10. Com a revogação do decreto nº 2208/97 e a promulgação do decreto nº 5154/04, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, (re)apareceu uma luz ao fim do túnel. Não que tal promulgação se materializasse na salvação estrutural (material e humana) dos cursos técnicos, mas poderia se considerar uma histórica conquista, pois a partir de tal advento, vislumbrou-se a possibilidade de integração do ensino médio à educação profissional como algo concreto. Todavia, na prática, os compromissos de campanha não se efetivaram, pois nos interstícios do governo Lula, conforme citou Frigotto et al (2005, p. 14), se visualizava cada vez mais é a reedição de políticas focalizadas no campo social e educacional. De acordo com o referido autor, no campo político, a esquerda, que poderia ser um dos pilares das transformações, perdia força, e assim se gerava mais desigualdade, tanto na área social como na educacional. Nos desdobramentos das políticas para educação profissional no que tange a formação de nível técnico às atividades turísticas, no ano de 2008, foi lançado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos. Esse documento foi dividido em doze eixos tecnológicos, um deles denominado Hospitalidade e Lazer, o qual trouxe em seu conteúdo sete subáreas 11, as quais foram incorporadas pelas instituições de ensino técnico, basicamente à modalidade subsequente (pós-médio). Do ponto de vista da segmentação às atividades no setor turístico, a ação do MEC, a partir do referido Catálogo, se mostra relevante, pois numa área que abrange 52 segmentos (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p.8), uma matriz curricular tendo como base exclusivamente o turismo, na tentativa de contemplar sua abrangência, se mostra muito ampla 9 Agropecuária, Artes, Comércio, Comunicação, Construção Civil, Design, Geomática, Gestão, Imagem Pessoal, Indústria, Informática, Lazer e Desenvolvimento Social, Meio Ambiente, Mineração, Química, Recursos Pesqueiros, Saúde, Telecomunicações, Transportes, Turismo e Hospitalidade. 10 Em síntese, encontramos os seguintes problemas nas orientações oficiais para os currículos da educação profissional de nível técnico, muitos próximos dos problemas próprios do condutivismo: a) reduzem as competências profissionais aos desempenhos observáveis; b) reduzem a natureza do conhecimento ao desempenho que ele pode desencadear; c) consideram a atividade profissional competente como uma justaposição de comportamentos elementares cuja aquisição obedeceria a um processo cumulativo; d) não coloca a efetiva questão sobre os processos de aprendizagem, que subjazem aos comportamentos e desempenhos: os conteúdos da capacidade. (RAMOS, 2002, p. 412) 11 Técnico em Agenciamento de Viagem, Técnico em Cozinha, Técnico em Eventos, Técnico em Guia de Turismo, Técnico em Hospedagem, Técnico em Lazer e Técnico em Serviços de Restaurante e Bar.

9 e genérica. Para se ter uma ideia dessa dimensão, citamos o segmento de turismo de aventura que se desdobra em vinte e três atividades (ABETA, 2010). Outro exemplo é o caso dos meios de hospedagem que, segundo Davies (2001), possuem 154 cargos e funções. Para finalizar, recentemente assistimos a mais um capítulo da saga da educação profissional, não somente no que concerne à formação de trabalhadores para o turismo, mas para vários outros segmentos. O PRONATEC 12 lançou 288 cursos 13 em várias áreas, com uma proposta de formação (cursos de 160 a 300 horas) que não foge das propostas que, historicamente, almejaram atender o mercado e o desenvolvimento econômico com formações aligeiradas e desintegradas 14. Ainda, verificamos mais um episódio da educação profissional, as secretarias de educação das unidades da federação são as instituições que estão fazendo as seleções dos alunos para os referidos cursos (PRONATEC) em atendimento ao SENAC e aos Institutos Federais. No caso do SENAC, se caracteriza a utilização de uma instituição pública a serviço dos interesses privados. Não podemos afirmar se é mera coincidência ou mesmo analogia, mas essa situação nos remete a citar um episódio dos anos 1990, mais precisamente por meio do Projeto de Lei 1603/96 que tramitava na época, na perspectiva do desmantelamento das escolas técnicas, conforme KUENZER (1996, p. 83), preconizava: [...] cursos profissionais básicos de curta duração ou de módulos independentes [...] esses cursos devem ser oferecidos obedecendo a lógica do mercado (e da mercadoria, porque devem reverter em recursos captados junto ao setor privado) por meio da identificação de perfis, estudos de demanda e acompanhamento de egressos, bem ao gosto da velha Teoria do Capital Humano. Quanto ao turismo, justificam-se tais ações em atendimento aos eventos esportivos emblemáticos 15 que o país sediará nos próximos quatro anos, o que a nosso ver dá continuidade à formação dual, além de devolver novamente à iniciativa privada, como é o do caso do SENAC, as rédeas da educação profissional no Brasil. Portanto, a educação profissional no Brasil caminha num constante embate político entre duas alternativas: a implementação do assistencialismo e da aprendizagem operacional; 12 Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Disponível em: http://www.pronatecportal.mec.gov.br/index.html. 13 Entre os cursos lançados, no tange ao turismo, estão: Auxiliar de Agenciamento de Viagens, Camareira em Meios de Hospedagem, Recepcionista em Meios de Hospedagem, Condutor de Visitantes, Recepcionista de Eventos, Recepcionista de Turismo Rural, Agente de Informações Turísticas e Monitor de Recreação. 14 Além das ações do Ministério do turismo com cursos relâmpagos em diversas áreas, inclusive na área de idiomas na modalidade de educação à distância (EAD). 15 Copa das Confederações, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.

10 versus a proposta da introdução dos fundamentos da técnica e das tecnologias, o preparo intelectual. (CIAVATTA, 2005, p.88). Conclusões Após as análises, nos resta salientar que pouco se alterou ao longo da trajetória brasileira da educação profissional. Os processos ocorreram e ocorrem em meio a ajustes políticos e partidários visando adaptação às demandas do capital, que culminaram e culminam em formações interessadas mascaradas por ações assistencialistas, e desinteressadas quando se trata em construir efetivamente uma política voltada para os que vivem do trabalho, principalmente com a possibilidade de empregos dignos e remunerações satisfatórias, diferentes da realidade imposta 16. No que concerne ao ensino técnico em turismo, o mesmo obedeceu aos históricos estímulos da educação para o mercado com formação (operacional) de trabalhadores, deficitária e insuficiente à complexidade das atividades que envolvem o turismo e seus espectros. Por outro lado, ações interessadas visaram e visam àqueles que podem pagar pelos produtos e serviços turísticos em detrimento daqueles que os recebem nos núcleos receptores. Não obstante, um questionamento que importa lembrar com relação à formação técnica em turismo na modalidade do ensino médio integrado, diz respeito às recentes experiências dos estados do Espírito Santo e do Paraná que, se valendo do Decreto 5154/04, implantaram em seus sistemas de educação os referidos cursos. Porém, no caso capixaba tal tentativa não durou muito, pois na primeira troca de governo, logo após a implantação, a proposta de integração foi desmantelada. No caso paranaense, a implantação ainda resiste, mesmo com todos os obstáculos, desafios 17 e a diminuição dos cursos na atual gestão de um governo com apelos neoliberais propostos à desintegração do ensino médio na modalidade integrada. 16 [...] O salário médio pago aos empregados do setor ainda é muito baixo, o que é uma das razões porque a atividade é relativamente desprestigiada e por vezes tem dificuldade em atrair pessoal qualificado, por exemplo, para os destinos turísticos no interior do País. O trade é conhecido pela alta-rotatividade, horas de trabalho pouco usuais, empregos sazonais, instabilidade e baixo status, imagem que acaba por afetar também as agências e operadores de turismo. Essas características também reforçam a concentração da receita do setor nas mãos de algumas poucas empresas, como a CVC, que podem oferecer condições diferenciadas a alguns funcionários principais. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006, p.27) 17 Para aprofundamento, vide: GARCIA, Sandra R. O. A educação profissional técnica de nível médio integrada ao ensino médio: obstáculos e avanços na rede pública do Paraná. Curitiba. SEED: 2006.

11 No que refere ao ensino do turismo em nível subsequente (pós-médio), a partir do lançamento do Catalogo Nacional de Cursos Técnicos e o do eixo tecnológico de Lazer e Hospitalidade, os cursos com a denominação de Técnicos em Turismo têm se mostrado insuficientes para que os egressos consigam dar conta da complexidade dos segmentos, da dimensão de suas respectivas atividades e com remunerações adequadas. Entretanto, os cursos técnicos em turismo de nível médio integrado ainda vêm sendo ofertados, como no caso do Estado do Paraná, com a nomenclatura de Técnico em Turismo por meio de uma matriz generalista diluída em disciplinas de 80 horas, como por exemplo, turismo e meio ambiente e meios de hospedagem, segmentos que já foram acima exemplificados e apontados seus relativos espectros, os quais em suas atividades, cargos e funções demostram complexidades que põem em dúvida a capacidade dos egressos contemplarem ao menos parte do todo destes segmentos, haja vista o número reduzido de horas/aulas da realidade vigente. Outra questão que merece destaque tanto nos cursos subsequentes como nos médio integrados são as reduzidas cargas horárias em língua estrangeira (inglês e espanhol), sendo que para os primeiros, em sua maioria, as disciplinas para os idiomas são ofertados em cargas horárias de 120 horas para o primeiro caso e 80 horas para o segundo. Frente ao exposto, não há como deixar de perguntar: será que com tal carga horária em língua estrangeira o egresso dará conta, mesmo que de maneira instrumental, das demandas internacionais antepostas? Por fim, como proposta para um ensino técnico em turismo próximo da realidade e da complexidade das atividades turísticas, sugerimos que os cursos de nível médio integrado acompanhem a ordenação preconizada no Catalogo Nacional de Cursos Técnicos, pois assim poderemos oferecer uma formação mais consistente, se distanciando da formação generalista dos nossos dias, dando oportunidades mais realistas aos egressos, pois como vem sendo organizados tais cursos, não atendem nem sequer as demandas capitalistas alteradas constantemente pelas leis do mercado, muito menos àqueles que vivem do trabalho e que urgem por uma compreensão totalizante dos desdobramentos do mundo do trabalho neste terceiro milênio. REFERÊNCIAS ANSARAH, Marilia Gomes dos Reis. Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e perspectivas. Barueri-SP: Manole, 2009.

12 BENI, M.C. Turismo: da economia de serviços à economia da experiência. Lisboa: IFETUR. Disponível em: http://turismoreligioso.com.pt/. Acesso em 01.abr. 2012. BENI, Mario Carlos. Análise estrutural do turismo. 2. edição. São Paulo: SENAC, 1998. BRASIL, LDBEN: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei nº 9.394/96. BRASIL. CNE/CEB. Parecer nº 16, de 5 de outubro de 1999. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional. de Nível Técnico. Disponível em: http://www.mec.gov.br/cne/parecer.shtm. Acesso em 19. abr. 2012. BRASIL. Decreto Lei nº 2.208, de 17 de abril de 1997. BRASIL. Decreto Lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971. BRASIL. Decreto Lei nº 5154, de 23 de julho de 2004. BRASIL. Decreto Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011. BRASIL. MEC. Referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível técnico. Brasília: MEC, 2000. BRASIL. Resolução nº 4, de 8 de dezembro de 1999. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico. Disponível em http://www.mec.gov.br/cne/ resolucao.shtm. CIAVATTA, M. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade In: FRIGOTTO, G. et al. (Orgs.). Ensino médio integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005. CORIOLANO, L. N. M. T; MELLO e SILVA, S. C. B. Turismo e Geografia: abordagens críticas. Fortaleza: EDUECE, 2005. CUNHA, Luiz Antonio. O ensino profissional na irradiação do industrialismo. São Paulo. 2. ed. UNESP; Brasília: FLACSO, 2005. DAVIES, Carlos Alberto. Cargos em hotelaria. Caxias do Sul. 3. ed. Caxias do Sul. EDUCS. 2001. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Ensino médio integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005.

13 GARCIA, Sandra R. O. A educação profissional técnica de nível médio integrada ao ensino médio: obstáculos e avanços na rede pública do Paraná. Curitiba: SEED, 2006. GASTAL, Suzana; MOESCH, Marutschka (Orgs). Um outro turismo é possível. São Paulo: Contexto, 2004. KUENZER, Acacia Z. Ensino médio e profissional as políticas do Estado Neoliberal. São Paulo: Cortez, 1997. KUENZER, Acacia Z. (org.). Ensino médio: Construindo uma proposta para os que vivem do trabalho. São Paulo: Cortez, 2000. MATIAS, Marlene. Turismo: formação e profissionalização. São Paulo: Manole, 2002. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURAL. Catálogo Nacional de Cursos Técnicos. Disponível em: http://catalogonct.mec.gov.br/. Acesso em 19.abr.2012 MINISTÉRIO DO TURISMO. Estudos da competitividade do turismo brasileiro. Disponível em http://www.turismo.gov.br/turismo/home.html. Acesso em:15.abr.2012. MINISTÉRIO DO TURISMO. Perfil do turista de aventura e do ecoturista no Brasil. São Paulo: ABETA, 2010. MINISTÉRIO DO TURISMO. Segmentação do turismo: marcos conceituais. Brasília: Ministério do Turismo, 2006. MOREIRA, H e CALEFFE, L. G. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. PRONATEC. Disponível em: http://www.pronatecportal.mec.gov.br/index.html. Acesso em: 15.abr.2012. RAMOS, Marise Nogueira. A educação profissional pela pedagogia da competências e a superfície dos documentos oficiais. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 80, setembro/2002, p. 401-422. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br. Acesso 19.mar.2012 RIELI. Disponível em: http://www.rieli.com.br/profissao/pb10.htm#ensino. Acesso: 02.abr.2012. SANTOS FILHO, João. Embratur omite a verdade sobre a história do turismo: faz uma leitura politicista dos fatos. Disponível em: http:// www.espacoacademico.com.br. Acesso em: 19.mar. 2012. WEBARTIGOS. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/o-papel-da-embraturnas-politicas-de-desenvolvimento-do-turismo-no-brasil/9606/19. Acesso em: 19.mar. 2012.