PLANOS DE SAÚDE DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA E LEGISLAÇÃO



Documentos relacionados
RESENHAS REVIEWS RESPONSABILIDADE CIVIL DA ATIVIDADE MÉDICA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Judicialização na Saúde Suplementar Edital 005/2014 ANS/OPAS FMUSP

MPS. Manual de Orientação para Contratação de Planos de Saúde ANEXO I SÃO PAULO ANS N PLANOS ODONTOLÓGICOS

A REGULAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL. FAUSTO PEREIRA DOS SANTOS outubro/2011

Luiz Henrique Mandetta Médico Deputado Federal pelo MS

CONTRATOS DE PLANOS DE SAÚDE E A ATUAÇÃO DO BALCÃO DO CONSUMIDOR 1

Contratar um plano de saúde é uma decisão que vai além da pesquisa de preços. Antes de

SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR DIRETORIA DE PROGRAMAS ESPECIAIS

REGULAMENTAÇÃO DO PEDIDO DE CANCELAMENTO OU EXCLUSÃO DE BENEFICIÁRIOS DE PLANOS DE SAÚDE Principais Contribuições. Câmara Técnica 3ª reunião

PROCON-MA Fiscal de Defesa do Consumidor. CONHECIMENTOS GERAIS (30 questões - Peso 1)

PARECER Nº, DE Relator: Senador ANTONIO ANASTASIA

13º SEMESTRE DE DEBATES GVSAÚDE SAÚDE: ACESSO E REGULAÇÃO NO SETOR PÚBLICO E NO SETOR PRIVADO. A visão do cidadão/consumidor

STJ Luiz Henrique Sormani Barbugiani


TERMO ADITIVO ao Contrato Particular de Plano de Saúde (nome do plano) Reg. ANS nº (nº produto).

CONTROLE DE CONTEÚDO EXAME DE ORDEM OAB 1ª FASE

AVM Faculdade Integrada MBA em Regulação Pedro Henrique de Moraes Papastawridis ESTUDO DESCRITIVO AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS)

RESCISÃO CONTRATUAL DO PLANO DE SAÚDE POR INADIMPLÊNCIA

TERMO ADITIVO A CONTRATO DE PLANO DE SAÚDE PLANO COLETIVO EMPRESARIAL CONTRATADA CLASSIFICAÇÃO: COOPERATIVA MÉDICA REG. ANS N 34.

MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO DE PLANOS DE SAÚDE

RESOLUÇÃO NORMATIVA - RN Nº xxx, de xx de xxxxxx DE 2016

Supremo Tribunal Federal

CONTEÚDOS MAIS COBRADOS NA OAB

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA REVISÃO CONTRATUAL DE AUMENTOS ABUSIVOS DOS PLANOS DE SAÚDE

DIREITO DO CONSUMIDOR

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

O presente artigo tem como objetivo oferecer algumas impressões acerca de ambas as questões supracitadas.

DIREITO DO CONSUMIDOR

Gestão de PCB: Visão do Setor de Distribuição

Apresentação. Almeida, Serrano, Martins e Dalmaso Advogados

Reajuste dos. e Familiares. Planos Individuais. Maria Inês Dolci

JUDICIALIZAÇÃO DA SAUDE E OS DMI. Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino Rio de Janeiro, novembro de 2016

O SUPERENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR. Professora Maria Eugênia Finkelstein

DIREITO DO CONSUMIDOR

Sustentabilidade da Saúde Suplementar

Ministério Público do Estado de Mato Grosso. Procuradoria Geral de Justiça

MANIFESTO CONTRA AS PROPOSTAS DE ALTERAÇÃO NA LEI DE PLANOS DE SAÚDE

RESOLUÇÃO NORMATIVA - RN Nº xxx, de xx de xxxxxx de 2017

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA AULA 42 - MÓDULO: SAÚDE SUPLEMENTAR AULA 01 - INTRODUÇÃO À SAÚDE SUPLEMENTAR

Desafios e Perspectivas para a Saúde Suplementar

A RELAÇÃO MÉDICO X SUS

Pauta da sessão plenária desta quarta-feira (7), às 9h e às 14h, traz planos de saúde e terceirização

ATA DE ANALISE DE IMPUGNAÇÃO

O CONTROLE JUDICIAL DAS POLÍTICAS E AÇÕES DE SAÚDE NO BRASIL

DIFERENÇAS ENTRE LICENÇA AMBIENTAL E AUTORIZAÇÃO (ÓTICA DO DIREITO AMBIENTAL)

SUMÁRIO 1 EM BUSCA DA DEFINIÇÃO DO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

Manual de Orientação para Contratação de Plano de Saúde ANEXO I

CARTILHA REA JUSTE DOS PLANOS DE SAÚDE CARTILHA REAJUSTE DOS PLANOS DE SAÚDE IESS

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NA SAÚDE

1 PUBLICAÇÕES RECOMENDADAS. Regulamento

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU (ESPECIALIZAÇÃO) LLM em Direito Empresarial Coordenação Acadêmica: Escola de Direito/FGV Direito Rio

AO NÃO DECLARAR AS DOENÇAS E/OU LESÕES QUE O BENEFICIÁRIO SAIBA SER

GRUPO DE REGULAMENTAÇÃO DOS PLANOS DE SAÚDE. 1. Revisão do Manual de Regulamentação dos Planos de Saúde.

Direito do Trabalho Leandro Antunes

Judicialização: o que vale a pena?

Nº PROCESSO /

SUMÁRIO LISTA DE ABREVIATURAS CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO... 25

TJ/AM Programa Específico da Prova Oral

MANDADO DE INJUNÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVO - PEÇA PRÁTICA

Manual de Orientação para Contratação de Planos de Saúde

Os reajustes por sinistralidade e as suas distorções. Por Rafael Robba (*)

REQUERIMENTO AJUIZAMENTO DE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.

Sumário DIREITO ADMINISTRATIVO DIREITO AMBIENTAL Fernando Baltar Ronny Charles. Romeu Thomé

Plano de saúde. aposentados e demitidos

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Farias Pereira de Sousa Brasilia, 25 de Novembro de O Corretor no Cenário da Saúde Suplementar

IMPACTO DAS RESOLUÇÕES NORMATIVAS 195, 200 e 204 EDITADAS PELA ANS

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Reféns de planos de saúde coletivos, consumidores recorrem aos tribunais

AULA 03: POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

AS NORMAS DAS S.A. E AS EMPRESAS LIMITADAS

Contratação de planos de saúde fica cada vez mais difícil, diz Idec

I mprobidade Administrativa

Guideline Pontos de atenção para a contratação direta por empresas estatais sob a Lei /16 Data: 26/03/2018

Aspectos a serem observados na contratação ou ingresso em um plano de saúde. Com 30 participante s ou mais. Com menos de 30 participante s

SUMÁRIO. Parte I LEI DOS PLANOS E SEGUROS DE SAÚDE Lei 9.656, de

ESTADO DE MATO GROSSO AUDITORIA GERAL DO ESTADO ORIENTAÇÃO TÉCNICA Nº. 054/2010

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...23

Mesmo com menos usuários, planos de saúde são alvos de mais ações

Padrão de Terminologia/TISS

PROJETO DE LEI N.º, DE 2016

Faculdade Novos Horizontes EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ADMINISTRAÇÃO/CONTÁBEIS INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - IDPP TAÍS CRUZ HABIBE

Coletivo Empresarial. Com 30 participantes ou mais

I Mostra de pesquisa em Direito Civil Constitucionalizado UNISC 2014

ARTIGO: O controle incidental e o controle abstrato de normas

AS NEGATIVAS DE COBERTURA POR PLANOS DE SAÚDE E A GARANTIA DE ATENDIMENTO PELA INTERVENÇÃO JUDICIAL 1

MATRIZ 1 DO PROJETO BIODIREITO E DIREITO PENAL ÁREA DO DIREITO PATRIMÔNIO GENÉTICO SOB A ÓTICA CRIMINAL TEMA DELIMITADO

ANEXO I MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO DE PLANO DE SAÚDE

DIREITO ADMINISTRATIVO...

Manual do Beneficiário. Plano de Assistência à Saúde, Coletivo por Adesão

MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO DE PLANO DE SAÚDE

ASPECTOS JURÍDICOS ATUAIS PARA O SISTEMA UNIMED E A SAÚDE SUPLEMENTAR. José Cláudio Ribeiro Oliveira

No que concerne especificamente ao segmento das operadoras exclusivamente de planos odontológicos, tecemos os seguintes comentários.

O Mercado de Saúde Suplementar:

Manual de Orientação para Contratação de Planos de Saúde

Sumário DIREITO ADMINISTRATIVO Agentes Públicos Contratos Administrativos Entes da Administração Pública...

O ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO E OS ADVOGADOS

FUNDAMENTAÇÃO. Tribunal Pleno.

PROGRAMA: Atuação Legislativa da Câmara dos Deputados. PROGRAMA: Atuação Legislativa do Senado Federal

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROF. DR. LEANDRO REINALDO DA CUNHA

Transcrição:

DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9044.v16i3p241-246 Resenha Resenha por: Joana Indjaian Cruz 1 PLANOS DE SAÚDE DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA E LEGISLAÇÃO Luiz Henrique Sormani Barbugiani, Saraiva, 2015 1 Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. São Paulo/SP, Brasil. Correspondência: Joana Indjaian Cruz. E-mail: joanaindjaian@gmail.com. Recebido em: 21/12/2015.

Resenha Em sua obra integrante da coleção Direito Econômico, coordenada por Fernando Herren Agullar, Luiz Henrique Sormani Barbugiani apresenta ao leitor uma análise abrangente sobre direitos e deveres de consumidores e prestadores de serviços de assistência privada à saúde por planos e seguros de saúde. Trata-se de uma obra acessível a uma ampla gama de pessoas, desde consumidores de planos de saúde até estudiosos de direito e direito sanitário, trazendo consigo uma ampla compilação de doutrina, jurisprudência e legislação. O livro é dividido em três partes. Na primeira, apresenta os contratos de planos e seguros de saúde, abordando suas origens e definições. Também discorre sobre as diferenças entre atividades públicas e privadas na prestação de serviços de saúde; a aplicação do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor aos contatos; os direitos dos consumidores; o interesse público e a interferência estatal; os órgãos de fiscalização e repressão do setor; e disposições especiais para a defesa dos direitos coletivos e individuais homogêneos nas relações de consumo. A segunda parte coleciona ampla jurisprudência sobre diversos temas relevantes sobre planos e seguros de saúde, com comentários do autor. A terceira e última parte traz a legislação que regula o setor. Na apresentação do setor de planos e seguros de saúde, o autor traça um breve e interessante histórico da prestação desses serviços no país, que teve origem nos serviços de assistência privada dos funcionários de uma empresa montadora de veículos automotores na década de 1960. Em seguida, apresenta definições, diferenças e aproximações entre planos e seguros de saúde. Sua conclusão é de que, atualmente, as diferenças entre os serviços ofertados pelo mercado praticamente desaparecem, principalmente quando analisamos a relação desses fornecedores de serviços com os consumidores. Um ponto que merece destaque é o conceito do autor, reiterado algumas vezes durante a leitura da obra, sobre o objeto dos contratos de planos e seguros de saúde ser a integridade física e psíquica do indivíduo e de sua família 1. Ele destaca a fragilidade das pessoas ao contratarem esses serviços, por meio de contrato de adesão e relação de consumo, e defende que a tutela desses interesses é geral, pois diz respeito a todos os seres humanos, que são dotados de dignidade a ser salvaguardada pelo ordenamento jurídico por ser fundamento de nossa República. A partir dessas premissas, fica evidente o interesse público inerente à prestação desses serviços e justifica-se a interferência estatal na atividade do mercado. A obra apresenta, então, os órgãos e entidades fiscalizadores e regulamentadores dos planos e seguros de assistência privada à saúde e os reflexos econômicos, jurídicos e políticos da atividade dos planos e seguros de saúde e da interferência estatal. 1 BARBUGIANI. Luiz Henrique Sormani. Planos de saúde: doutrina, jurisprudência e legislação. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 19. 242

Planos de saúde doutrina, jurisprudência e legislação De forma detida, são analisadas a partir do arcabouço jurídico-normativo do setor as características e competências dos órgãos e entidades reguladores, fiscalizadores e regulamentadores dos planos e seguros de saúde no Brasil, como o Conselho Nacional de Saúde Suplementar, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a Câmara de Saúde Suplementar, trazendo importantes informações sobre a atividade regulatória, a composição desses órgãos e o funcionamento dos processos administrativos. Também é tratado o papel dos órgãos e entidades de fiscalização e repressão do setor, algo que nem sempre é muito claro para o público leigo. Para isso, o autor discorre minuciosamente sobre a atuação de entidades distintas, como o Ministério Público, a defensoria pública, os Procons, as associações de consumidores, os juizados especiais cíveis e as delegacias de consumidores. Um ponto da obra que dialoga intimamente com as atividades dessas entidades é o capítulo Disposições especiais para a defesa dos direitos coletivos e individuais homogêneos nas relações de consumo. Nesse capítulo, fica claro o objetivo do autor de apresentar matizes sobre o objetivo principal da defesa dos interesses coletivos, trazendo importantes informações sobre a tutela de direitos coletivos, difusos e individuais homogêneos, tais como trâmites das ações coletivas, custas, condenação, execução, indenização, liquidação e execução, coisa julgada, mencionando também as convenções coletivas de consumo. A conclusão do autor é de que os órgãos e entidades em defesa dos consumidores de planos e seguros de saúde são em quantidade razoável. Entretanto, merecem melhores garantias relacionadas ao efetivo exercício da tutela dessas relações jurídicas, como uma estruturação mais adequada dos instrumentos instituídos pela legislação, por meio de investimentos e de direcionamento de uma política pública, eficiente e efetiva. O arcabouço jurídico-normativo relacionado aos direitos e deveres das operadoras de planos e seguros de saúde e seus consumidores é apresentado na obra de duas formas. Primeiro trata da aplicação, nesses contratos, dos princípios e preceitos gerais do Código Civil tais como justiça contratual, boa-fé, probidade e função social do contrato e destaca as disposições gerais do Código de Defesa do Consumidor como responsabilidade solidária, oferta, vícios e defeitos, segurança dos produtos, práticas abusivas e cláusulas nulas, entre outras. Em seguida, o autor analisa mais detalhadamente os direitos específicos dos consumidores de planos de saúde, trazendo disposições da Lei n. 9.656/1998, principalmente sobre coberturas de procedimentos; reajustes; manutenção de demitidos e aposentados nos planos empresariais; rede assistencial; carências; contratos de transição; proibição de discriminação; esclarecimentos sobre as condições contratuais e direito à cópia do contrato; e proibição de exigência de cheque caução como condicionante do atendimento de urgência, entre outros. No tocante às coberturas de procedimentos por planos e seguros de saúde, a obra poderia abordar uma falha regulatória evidente no setor. A regulação hoje 243

Resenha feita pela ANS exige das operadoras de planos de saúde uma cobertura de procedimentos aquém daquelas exigidas pela legislação vigente. Isto é, a ANS, por meio de suas resoluções normativas, apresenta um rol de cobertura de tratamentos de doenças e moléstias incompatível com as garantias que os consumidores teriam pelas disposições do Código de Defesa do Consumidor e da Lei n. 9.656/1998. Tal conflito causa uma enorme judicialização sobre o tema, que está evidente na parte de jurisprudência da obra. Essa falha regulatória traz sérios questionamentos sobre a eficiência e qualidade da regulação setorial por entidades de defesa do consumidor e sanitaristas. Outro ponto importante do livro é o polêmico tema do ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) pelas operadoras de planos e seguros de saúde, que está previsto na Lei n. 9.656/1998 e deve ocorrer quando um consumidor de seus serviços procura o sistema público para obter acesso a uma cobertura de procedimento legalmente devida. Na obra, o autor traz a discussão sobre a constitucionalidade da medida travada no Supremo Tribunal Federal, apresentando os argumentos das operadoras de planos de saúde sobre a inconstitucionalidade da medida e posicionando-se no sentido de que quem será prejudicado com isso são os consumidores dos planos, pois eles que terão que arcar com o aumento dos preços dos contratos pelas operadoras para minorar o prejuízo de ressarcimento ao SUS, devendo, ao menos, por esse motivo, ser a legislação e a fiscalização da ANS aprimoradas para evitar abusos para os contratantes desses serviços 2. Entretanto, a obra não menciona que o efetivo ressarcimento ao SUS, que hoje está longe de ser completo 3, é uma luta antiga das entidades sanitaristas e se faz necessário para evitar que os planos fujam de suas obrigações legais e repassem a prestação dos serviços pelos quais recebem contraprestações pecuniárias ao SUS. O assunto, sempre controverso, esteve presente nas discussões da última Conferência Nacional de Saúde, cujo documento orientador destaca a necessidade do aprimoramento da cobrança 4. Ainda no capítulo sobre direitos específicos dos consumidores de planos de saúde, a obra é virtuosa ao tratar dos direitos e obrigações dos prestadores de serviços vinculados aos planos e seguros de saúde, discorrendo com propriedade sobre vários temas importantes, como: a proibição da discriminação entre clientes de operadoras diversas; a observância da preferência em situações de urgência e emergência, inclusive no agendamento de consultas e outros procedimentos; e a exigência de exclusividade dos profissionais. Sobre esta última questão, o autor pondera, acertadamente, que a proibição da exigência de exclusividade de prestadores às operadoras 2 Id. Ibid., p. 71. 3 CALOTE Milionário. Revista do IDEC, n. 195, p. 19-21, 2015. Disponível em: <http://www.idec.org.br/em- -acao/revista/ao-poupador-as-migalhas/materia/calote-milionario>. Acesso em: 20 dez. 2015. 4 MINISTERIO DA SAUDE. Documento orientador da 15 a Conferência Nacional de Saúde. p. 41. Disponível em: <http://conferenciasaude15.org.br/wp-content/uploads/2015/04/documento-orientador-digital.pdf>. Acesso: 15 dez. 2015. 244

Planos de saúde doutrina, jurisprudência e legislação configura mais uma obrigação dos prestadores que um direito dos consumidores, pois supre a demanda e impede monopólio, estimulando a concorrência. No capítulo O interesse público e a interferência estatal, o autor traz à tona dois temas polêmicos que estão constantemente presentes nas discussões sobre direito sanitário e integraram a pauta da última Conferência Nacional de Saúde 5 : o fornecimento de planos de saúde para funcionários públicos e a proibição constitucional da participação de entidades ou de capitais estrangeiros, de maneira direta ou indireta, nos serviços de assistência à saúde tem que, em 2015, esteve em grande evidência com a aprovação da Lei n. 13.097/2015, que dispôs, entre outros assuntos, sobre a abertura ao capital estrangeiro na oferta de serviços à saúde. Outra singularidade da obra é tratar do problema da aplicação de dispositivos legais no caso de falência de operadoras de planos e seguros de saúde, sob a ótica da revogação da Lei de Regência da Falência pela Lei n. 11.101/2005. O autor defende a aplicação da nova norma, uma vez que a repristinação depende de expressa previsão legal constante em lei revogadora. Ao tratar da direção técnica e fiscal, o autor pondera que a Lei n. 9.656/1998 trouxe uma espécie de responsabilidade objetiva para os administradores das operadoras, que dispensa nexo de causalidade, semelhante à teoria do risco integral do direito administrativo, bastando a demonstração do dano e da atividade. Ao discorrer sobre a interferência estatal, o autor destaca a necessidade da interferência em prol do convívio harmônico de todos e conclui que ela é necessária na medida em que as atividades dos planos e seguros de saúde impactam a vida de todos os cidadãos, inclusive aqueles que nem desejam contratar tais serviços. A obra traz uma importante abordagem sobre os reflexos econômicos, sociais, políticos e jurídicos da prestação de serviços por planos e seguros de saúde. Destaca o papel das decisões judiciais na política de forma a viabilizar meios de alterar a norma existente para conferir a ela a interpretação do Poder Judiciário, evitando decisões divergentes, uniformizando e consolidando o entendimento na legislação em vigor. A segunda parte do livro constitui outro ponto forte da obra, trazendo uma ampla e completa coletânea de jurisprudência com comentários do autor sobre direitos e deveres de planos e seguros de saúde, seus prestadores e consumidores. Traz também julgados do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça sobre assuntos que muitas vezes não são tratados nos debates sobre o tema, tais como: competência legislativa para normas sobre planos e seguros de saúde; responsabilidade por erro médico; tributação de Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) nas atividades de operadoras de planos e seguros de saúde; reexame de provas e cláusulas contratuais; ressarcimento ao SUS e inscrição do débito, de natureza indenizatória, no Cadastro Informativo de créditos não 5 MINISTERIO DA SAUDE. Documento orientador da 15 a Conferência Nacional de Saúde, cit., p. 41-42. 245

Resenha quitados (Cadin); presença da Justiça trabalhista na competência para julgar causas sobre planos de saúde; e cláusula de exclusividade de médicos para atendimento em operadoras de planos de saúde. Por fim, a obra cumpre o objetivo a que se propõe e constitui excelente material de estudo para todos os operadores de direito, estudiosos de direito sanitário e consumidores dos serviços de planos de saúde, trazendo uma ampla gama de temas atuais e importantes para compreender o setor. Referências BARBUGIANI. Luiz Henrique Sormani. Planos de saúde: doutrina, jurisprudência e legislação. São Paulo: Saraiva, 2015. CALOTE Milionário. Revista do IDEC, n. 195, p. 19-21, 2015. Disponível em: <http://www. idec.org.br/em-acao/revista/ao-poupador-as-migalhas/materia/calote-milionario>. Acesso em: 20 dez. 2015. MINISTERIO DA SAUDE. Documento orientador da 15 a Conferência Nacional de Saúde. Disponível em: <http://conferenciasaude15.org.br/wp-content/uploads/2015/04/documento- Orientador-Digital.pdf>. Acesso: 15 dez. 2015. Joana Indjaian Cruz Graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Advogada e pesquisadora em saúde suplementar no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. São Paulo/SP, Brasil. E-mail: joanaindjaian@gmail.com. 246