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Transcrição:

apresenta A u t o r : J o s é R o b e r t o T o r e r o Livro para colorir

A u t o r : J o s é R o b e r t o T o r e r o Livro para colorir

I Numa pequenina cidade no interior do Brasil, um pai e seu filho pequeno conversam dentro de um barracão que serve de marcenaria. Fora, a tranquilidade da cidade abraça o barracão. Uma mulher admira o céu azul pela janela, uma galinha cisca ao lado de uma velha, que se balança numa cadeira de balanço velha e que range com o vai e volta, um menino puxa um burrico sobre uma ponte que é quase ruína, um velho sentado na varanda de uma casa masca um capim comprido, um cata-vento gira com a brisa fazendo um som monótono. 4

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Dentro do barracão, a criança brinca com um caminhãozinho, enquanto seu pai trabalha em uma grande peça de madeira. Nenhum dos dois está prestando atenção ao radinho de pilha, que berra seus comerciais de rádio AM do interior. Mas então, a atenção do menino é atraída para o rádio, quando este solta no ar o nome de Papai Noel. Pai, como é o Papai Noel?, pergunta Matias, o menino. Seu pai, sem entender de onde surgiu o assunto, fica meio sem jeito. Fazendo algum esforço para se recordar de algo que poderia dizer a seu filho, responde: que pergunta hein, Matias... Ele tem uma bela barba branca, veste uma roupa vermelha e é bem barrigudo. O menino, empolgado, esquece o carrinho com o qual brincava e encara o pai. Os olhos arregalados de interesse. Há tempos não pensava em Papai Noel. O Natal estava se aproximando e era uma ótima oportunidade para saber mais sobre esse bom velhinho que todos, no mundo inteiro, tanto admiravam. - Mamãe dizia que ele andava em uma carroça bem grande. Você acredita? - Eu mesmo nunca vi, filho. Respondeu o pai, largando as ferramentas e se apoiando sobre a mesa, ficando mais próximo ao menino. Meio desapontado com a resposta do pai, Matias olha para o carrinho de madeira que está à sua frente e diz: Eu acredito. Só acho que ele não vem nos visitar porque a ponte da cidade está quebrada e a carroça dele não consegue passar. Enquanto fala, o carrinho vai e vem em suas mãos. O menino só deseja poder consertar a ponte num piscar de olhos para que o papai noel possa fazer uma visita. O pai, percebendo a reação do menino como se conseguisse ler seus pensamentos, puxa o filho para um abraço bem apertado. Se entreolham. O pai beija a testa de Matias: - Deixa de bobagem, filhão. Vem, está ficando tarde, vamos jantar. Na mesa de jantar, já de banho tomado, Matias parece sem fome. Ele olha para frente, perdido em pensamentos. Seu pai percebe isso e tem um momento daqueles em que o coração fica apertado de tristeza, porque o menino olha na direção da cadeira vazia, onde a mãe deveria estar. Matias não sente fome, sente saudades da mãe. Pai viúvo e filho órfão tentam não demonstrar um para o outro o quanto sentem a falta dela.

I I Depois do jantar, sentado em sua cama, Matias brinca com uma garrafa vazia de Coca-Cola. Está pensativo, inquieto. De repente, dá um salto e fica em pé. Não pode perder a oportunidade de conhecer o Papai Noel neste Natal. Precisa se apressar ou terá que esperar mais um ano para tentar de novo. Pega uma folha de papel. Senta numa cadeira de frente à escrivaninha. Aponta um lápis e arruma o abajur. As palavras vêm repentinamente à sua cabeça e começa a escrever uma carta, sem pausas. Papai Noel, A minha mãe disse que um dia ia me levar para uma cidade grande para eu ver você, mas ela se foi. Se o meu pai consertar a ponte, você vem me visitar? Matias. 8

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Ao terminar, relê confiante. Guarda a carta na garrafa vazia de Coca-Cola e chama seu pai. Este entra no quarto e fica surpreso ao ver o filho em pé a essa hora da noite. Antes de conseguir perguntar se está tudo bem com ele, Matias o interrompe: - Pai, coloca isso no lugar mais alto da árvore lá fora? Assim fica mais fácil pra ele poder pegar. O pai faz que sim com a cabeça, ainda sem entender. Mas ele lê, de relance através do vidro da garrafa vazia, que a carta é para Papai Noel. O pai dá um beijo na testa do filho e, desejando a ele uma boa noite, sai do quarto. A noite está linda, não há uma nuvem no céu. As estrelas brilham, cada pontinho no seu lugar como flocos de neve prestes a caírem. Antes de colocar a garrafa no topo da árvore, o pai não aguenta de curiosidade. Lê a carta e mal consegue conter a emoção. O pai tenta segurar o choro, a saudade. E, principalmente, o amor pelo seu menino. O presente verdadeiro, impossível, Matias não ousou pedir: ter a mãe de volta. Neste momento, o pai respira fundo e sorri: ele acaba de decidir que vai consertar a ponte. 10

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O sol nasce, o pai levanta bem cedo. Está empolgado. Quer começar a trabalhar cedo na ponte para não perder um minuto. Ela precisa estar perfeita até a noite de Natal. Pega suas ferramentas, um pouco de corda, alguns pregos e três tábuas de madeira. Carrega tudo meio atrapalhado, mas chega sem problemas até o lugar. Dá uma olhada, larga o material e dá uma suspirada. Não vai ser fácil. A ponte já quase não se aguenta sozinha. De vez em quando algum morador da cidade dá uma martelada aqui, uma amarrada ali, de boa vontade. Acha que é suficiente e fica nisso. Ela não é muito usada mesmo, para que gastar tempo e suor consertando a velha ponte? Depois de alguns minutos empurrando vigas daqui, puxando cordas dali, ele cansa. Realmente não vai ser fácil, não mesmo. Amarra uma corda em uma tábua de madeira quebrada que atrapalha a passagem das pessoas, quer arrancá-la dali. Quando vai puxar, Matias aparece a seu lado. O menino senta com um carrinho e fica brincando, feliz em ver o pai se esforçando daquele jeito. Alguns moradores curiosos começam a aparecer para ver o que está acontecendo. Primeiro ficam longe, dão uma olhada, entram nas casas e logo depois voltam a sair, trazendo mais gente para ver o pai de Matias em ação. Ou tentando. Começam a chegar perto e a comentar. Uma senhora tricotando comenta com a outra: - Acho que o sol queimou os miolos deste moço. Vai querer arrumar esta ponte sozinho? Um som opaco reverbera pelos ares. O moço dos miolos queimados está no chão. Caiu tentando arrancar uma das vigas. Ainda sentado, ele olha para o filho. Está coberto de suor e de frustração. Ele não vai conseguir consertar a ponte. Puxa o filho para um abraço e diz: - Me perdoa, filho. Eu ten... 13

N ão termina a frase. Uma mulher passa ao lado dele rapidamente, pega a corda ainda amarrada na viga e sorri para ele. Está oferecendo ajuda. O pai se levanta sem saber o que dizer, segura a corda e sorri de volta. Quando olha em volta, repara que mais pessoas estão vindo ajudar. A senhora que tricotava está lá, um pouco mais receosa, com medo de cair. Ela pensa para si mesma é, acho que o sol queimou meus miolos também. Dois dias se passam e a cidade toda está reunida trabalhando na ponte. Os mais jovens e fortes cuidam da parte de carpintaria e da construção. Os mais velhos adoram incentivar os mais jovens. Duas vezes ao dia, um lanche é servido enquanto todos descansam. Alguns ainda não sabem por que estão lá, mas adoram a oportunidade de conversar e conhecer mais os outros moradores da cidade. No fim do terceiro dia, todos largam as ferramentas, se limpam como podem e se juntam sob a mesma árvore. Está pronta. 14

Cada viga em seu devido lugar, cada centímetro de madeira está nivelado e cada sorriso está visível no rosto das pessoas. Firmes e fortes. O pai abraça o filho dizendo conseguimos. Alguém acende as lâmpadas que decoram a nova ponte. Depois de um momento de contemplação, a comemoração explode. Todos se abraçam, se agradecem e se parabenizam pelo trabalho bem feito. Matias nem escuta as comemorações. Está com os olhos fixos no outro lado da ponte, à espera da carroça grande do Papai Noel. Olha para os céus, volta o olhar para o outro lado da ponte, mas nada. As pessoas começam a voltar para suas casas, o céu vai ficando cada vez mais escuro e as luzes da ponte mais brilhantes. Matias, agora sentado apoiando a cabeça nas mãos, parece decepcionado. Seu pai se agacha ao seu lado e diz que é bom irem dormir, está ficando tarde. Meio emburrado, Matias levanta e o acompanha. 16

I I I Matias não consegue dormir. Tem uma sensação estranha que sobe pela sua barriga. Vira para a esquerda, volta para a direita, senta, deita, sente que algo vai acontecer, mas pensa que besteira, Papai Noel nem deve vir de carroça, muito menos por uma ponte. Ele nem viu meu bilhete. 18

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Matias adormece, mas uma espécie de faísca passeia pelo quarto, muito rapidamente. E logo, outra. Esses fragmentos luminosos, que aumentam de intensidade e se multiplicam a cada segundo, são fachos de luz que estão atravessando o vidro da garrafa que ainda está pendurada na árvore. A garrafa do bilhete. Essa luz crescente acaba por despertar Matias. Em um instante, ele entende tudo. Levanta e vai até a janela. Seus olhos brilham, não é possível... - Pai, pai! É ele! É ele! Ele tá vindo! Matias sai de casa correndo junto às outras crianças. Ninguém sabe o que está acontecendo. Todos em seus pijamas saem de suas casas coçando os olhos, alguns reclamam do barulho e outros reclamam dos vizinhos que reclamam do barulho. Euforia. Um caminhão com um vermelho forte e todo iluminado para na rua. Outro vem atrás dele, depois mais um. Tem algo escrito na lateral do caminhão, não se vê bem. As luzes ofuscam as palavras. Repentinamente, o som dos motores para e as luzes diminuem. Coca-Cola, é isso que está escrito. Matias mal consegue terminar de ler e a lona da lateral do caminhão começa a se abrir. São cortinas! De dentro, sai uma música, algo como O Natal vem vindo, vem vindo o Natal. Uma banda tocando, músicos com seus instrumentos em perfeita harmonia. Bailarinas começam a dançar. Ursos polares aparecem para contracenar com os atores. Cada caminhão com algo diferente para mostrar. As pessoas vão de um para o outro e do outro para o um. Nunca tinham visto nada assim. 20

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Em meio ao caminhar apressado e ao olhar estagnado das pessoas, uma pausa. As cortinas do caminhão do meio se abrem e Matias corre para a frente da plateia para ver o que vai acontecer neste. Uma sombra aparece diante das luzes e do cenário. Parece ser uma pessoa. Que tem uma barba, usa uma roupa pomposa vermelha e é bem barrigudo. Espera, pensa Matias, não pode ser. Lembrara da descrição que seu pai lhe dera alguns dias antes. Mas era ele mesmo. De dentro do caminhão, desce todo sorridente o Papai Noel. Acena para todos e gargalha, chacoalhando o barrigão. Caminha em direção à plateia. Papai Noel encontra o olhar maravilhado do garoto. Agacha. Matias não sabe como reagir. Sua mente está vazia naquele momento. Estica o braço e coloca a mão entre as barbas brancas e felpudas do velhinho. Dá uma puxada. É de verdade. Uma lágrima escorre pelo seu rosto, e ele se deixa cair nos braços cobertos por mangas vermelhas e macias. Matias olha ao redor. Encontra os olhos de seu pai, que está de mãos dadas com a moça da ponte. Ele sorri, Matias sorri de volta. Que noite mágica. Horas mais tarde, Matias está deitado na grama, com seu pai deitado ao lado. Eles olham para o céu, felizes, ainda extasiados. Uma estrela cadente cruza o céu. Mas, sob um olhar mais atento, não parece que é uma estrela cadente. Ela está andando em círculos, e deixa um rastro distante de brilho vermelho. Matias aponta, entusiasmado. É possível ouvir um som, e são acordes da música que acompanhou a chegada dos caminhões. Matias ri, seu pai ri. Então, o garoto diz: - Pai, acho que ano que vem nós vamos precisar construir um aeroporto... 23

Quando você acredita, a mágica acontece.

Sinta o sabor do Natal.

Créditos: Criação e concepção da campanha Uma Ponte para Noel : JWT Brasil Autor do conto: José Roberto Torero Ilustrações (criação e desenvolvimento dos personagens): Zombie Studio Ilustrações (capa e internas): Iluminata

Este livro é uma adaptação do filme Uma Ponte Para Noel. Conta a história de Matias, e sobre como a imaginação dele conseguiu unir toda a cidade. Mas vamos parar por aqui, para não estragar a surpresa. Afinal, mesmo que você já tenha assistido ao filme, a história que você tem agora nas mãos precisa do seu toque. As cores que você vai usar para contá-la vão tornar a história de Natal de Matias um pouco mais sua. Feliz Natal.