AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS DE ACIDENTES COM INSTRUMENTOS PÉRFURO-CORTANTES NA ATIVIDADE DE LIMPEZA DE HOSPITAIS PÚBLICOS ATRAVÉS



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Transcrição:

JOSÉ MAURO DE ARAUJO ACOSTA AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS DE ACIDENTES COM INSTRUMENTOS PÉRFURO-CORTANTES NA ATIVIDADE DE LIMPEZA DE HOSPITAIS PÚBLICOS ATRAVÉS DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS BELO HORIZONTE MINAS GERAIS 2004

2 JOSÉ MAURO DE ARAUJO ACOSTA AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS DE ACIDENTES COM INSTRUMENTOS PÉRFURO-CORTANTES NA ATIVIDADE DE LIMPEZA DE HOSPITAIS PÚBLICOS ATRAVÉS DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia de Produção da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção. Linha de Pesquisa: Ergonomia e Organização do Trabalho Orientadora: Profª Dra. Eliza Helena Oliveira Echternacht Departamento de Engenharia de Produção UFMG Belo Horizonte Escola de Engenharia Departamento de Engenharia de Produção Universidade Federal de Minas Gerais 2004

3 JOSÉ MAURO DE ARAUJO ACOSTA AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DE RISCOS DE ACIDENTES COM INSTRUMENTOS PÉRFURO-CORTANTES NA ATIVIDADE DE LIMPEZA DE HOSPITAIS PÚBLICOS ATRAVÉS DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO Belo Horizonte, 20 de maio de 2004 Dissertação de mestrado defendida junto ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia da Produção da Faculdade de Engenharia da UFMG, aprovada pela banca examinadora: Prof a. Eliza Helena de Oliveira Echternacht Universidade Federal de Minas Gerais Orientadora Prof. Mário César Rodríguez Vidal Universidade Federal do Rio de Janeiro Prof a. Elizabeth Costa Dias Universidade Federal de Minas Gerais

4 DEDICATÓRIA A meus pais Honório e Geralda e minha irmã Inely que sempre me incentivaram na busca do conhecimento. A Lu, Leo e Bruno que compreenderam a importância desse trabalho para nosso futuro. Desculpem-me por tê-los deixado tantas vezes.

5 AGRADECIMENTOS São muitos aqueles que merecem meu agradecimento. A conquista tem que ser dividida com muita gente e a ajuda de todos foi importante para que eu concluísse este trabalho. Alguns, entretanto, foram fundamentais: A Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, que possibilita acesso gratuito e com qualidade àqueles que desejam enveredar pelo mundo da pesquisa; Ao Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, onde encontrei professores que me conduziram com maestria e competência pelos caminhos do aprendizado; A minha orientadora, professora Eliza Echternacht, que nas idas e vindas do que escrevia, sempre sinalizava com suas ponderações acertadas sobre a difícil arte de escrever a realidade, corrigindo-me em meus percalços de iniciante; Aos colegas do mestrado, que com suas valiosas sugestões, compartilharam comigo o desenvolvimento deste trabalho; Aos hospitais pesquisados, que abriram suas portas, compreendendo a importância do trabalho; Aos amigos da empresa que prestava serviços nos hospitais, onde tive o privilégio de conviver com pessoas que muito me ajudaram nas pesquisas, como os do departamento de segurança e medicina do trabalho; A PETROBRAS, empresa onde estou atualmente, que liberou a continuação de meus estudos, especialmente ao Dr. Julizar Dantas; Finalmente, às Marias, Josés, Silvas, Santos e tantos outros mais que, sem dúvida alguma, foram o foco desta pesquisa, permitindo minha presença em seu mundo de trabalho. A vocês pessoal da limpeza meu muito obrigado. Que a gente possa contribuir um pouquinho mais com a melhoria de suas condições de trabalho.

6 JOSÉ E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, Você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, Você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? (Carlos Drumond de Andrade)

7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...17 1.1 Justificativa...19 1.2 A empresa prestadora de serviços...19 1.3 Os hospitais pesquisados...20 1.4 O problema...21 1.4.1 O problema sob o aspecto global...22 1.4.2 O problema específico dos hospitais investigados...23 1.5 Os objetivos do trabalho...24 1.5.1 Objetivo geral...24 1.5.2 Objetivos específicos...25 2 O ATUAL MODELO DE GESTÃO DE RISCOS E AS CONSEQÜÊNCIAS DOS ACIDENTES SOBRE A SAÚDE E A VIDA DO TRABALHADOR...26 2.1 O atual modelo de prevenção...26 2.2 As conseqüências do acidente para a servente de limpeza...32 2.2.1 O sofrimento emocional...32 2.2.2 Os efeitos adversos dos medicamentos sobre o organismo...36 3 A METODOLOGIA UTILIZADA PARA A INVESTIGAÇÃO DO PROBLEMA...39 3.1 A ergonomia como base de estudo...39 3.2 A trajetória metodológica para a investigação do problema...41

8 3.2.1 Avaliação da origem da demanda...41 3.2.2 As primeiras investigações nos hospitais selecionados...43 3.2.2.1 Conhecendo o trabalho da limpeza em dois hospitais...44 3.2.2.2 Ampliando as observações em outras unidades hospitalares...45 3.2.3 Contextualizando as atividades das serventes e os riscos de perfuração em setores críticos de trabalho...52 4 O CAMPO EMPÍRICO DE INVESTIGAÇÃO...56 4.1 Uma visão macro da estrutura hospitalar e dos serviços de limpeza...56 4.1.1 Hospital: complexidade, incertezas e riscos...56 4.1.2 A importância da limpeza para o hospital...61 4.1.3 A forma usual de contratação dos serviços de limpeza...64 4.2 Focando a estrutura hospitalar investigada e a organização dos serviços de limpeza...65 4.2.1 A situação dos hospitais pesquisados...65 4.2.2 A organização dos serviços de limpeza...70 4.2.2.1 A terceirização precarizando as relações de trabalho das serventes de limpeza...72 4.2.2.2 A organização vertical do trabalho e a dupla subordinação hierárquica...74 4.2.2.3 Divisão do trabalho e produtividade...77 5 COMPREENDENDO O RISCO DE ACIDENTES A PARTIR DA ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE LIMPEZA...80 5.1 O trabalho prescrito...80 5.1.1 O aprendizado das técnicas de limpeza...81

9 5.1.2 As normas prescritas de segurança contra as perfurações...83 5.2 O trabalho real...85 5.2.1 As interfaces da limpeza na gestão horizontal do trabalho...85 5.2.1.1 Os conflitos nas relações de trabalho...86 5.2.1.2 A dificuldade de acesso às informações aumentando o risco de acidentes...88 5.2.2 As variabilidades do contexto como condicionantes de acidentes...92 5.2.2.1 O aumento na demanda de atendimentos a pacientes...93 5.2.2.2 As constantes interrupções nas rotinas de trabalho...94 5.2.2.3 Os coletores de instrumentos pérfuro-cortantes...97 5.2.2.4 Os desvios de função...98 5.2.2.5 A arquitetura dos hospitais dificultando os serviços de limpeza...100 5.2.2.6 As ferramentas de trabalho de limpeza...101 5.2.2.7 As limitações da proteção individual...104 5.2.2.8 Os efeitos do trabalho sobre o organismo...105 5.2.2.8.1 Os condicionantes físicos e posturais...105 5.2.2.8.2 A jornada de trabalho...107 5.2.3 Evidenciando disfuncionamentos através da análise de um acidente.108 5.2.3.1 O acidente e os problemas associados...108 6 SÍNTESE E PROPOSIÇÃO DE AÇÕES...112 7 CONCLUSÃO...115

10 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...118 9 ANEXOS...124

11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABERGO AET AIDS ASO CAT CCIH CDC CIPA CNDST/AIDS CTI DORT EPC EPI HIV MS MTE NBR NIOSH NR OSHA PCMSO PPRA Associação Brasileira de Ergonomia Análise Ergonômica do Trabalho Síndrome da Imunodeficiência Adquirida Atestado de Saúde Ocupacional Comunicação de Acidente do Trabalho Comissão de Controle de Infecção Hospitalar Centers for Disease Control and Prevention Comissão Interna de Prevenção de Acidentes Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS Centro de Terapia Intensiva Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho Equipamento de Proteção Coletiva Equipamento de Proteção Individual Vírus da Imunodeficiência Humana Ministério da Saúde Ministério do Trabalho e Emprego Normas Técnicas Brasileiras National Institute for Occupational Safety and Health Norma Regulamentadora Occupational Safety and Health Administration Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

12 PVC SEC SESMT UTI Policloreto de Vinila Serviço de Emergência Clínica Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho Unidade de Terapia Intensiva

13 LISTA DE TABELAS 1 Número de acidentes por perfuração em relação ao número total de acidentes cadastrados na área hospitalar 2000 a 2002...24 2 Situações de trabalho em que ocorreram os acidentes...42 3 Setores em que ocorreram os acidentes...43 4 Distribuição por gênero dos trabalhadores da limpeza...46 5 Distribuição por idade dos trabalhadores da limpeza...47 6 Distribuição por faixa de escolaridade dos trabalhadores da limpeza...47 7 Tempo de experiência dos trabalhadores da limpeza...48 8 Relação entre número de serventes e número de auxiliares de enfermagem (por plantão)...99 9 Disfuncionamento e problema associado...110

14 LISTA DE FIGURAS 1 Cópia do ASO Atestado de Saúde Ocupacional...30 2 Interdisciplinaridade da Ergonomia...40 3 Organização Vertical...75

15 RESUMO A presente dissertação aborda a gestão de riscos de acidentes com instrumentos pérfurocortantes no trabalho terceirizado de limpeza realizado em hospitais da rede pública estadual a partir do olhar da Ergonomia, colocando as atividades e as situações de trabalho no centro da análise. A pesquisa foca inicialmente o modelo de prevenção adotado contra as perfurações no contexto hospitalar investigado e as conseqüências do acidente na vida das serventes de limpeza. A partir do conhecimento do contexto hospitalar e das reais situações de trabalho que as serventes encontram para executar suas atividades, foi possível buscar elementos para compreender que o modelo tradicional de prevenção, baseado na prescrição de normas e comportamentos seguros, é ineficaz quando se têm condicionantes que comprimem os espaços de regulação dos trabalhadores. Os resultados encontrados permitem concluir que a gestão dos riscos pode ser transformada se houver compreensão da realidade do trabalho, privilegiando sempre a construção conjunta de medidas que possam efetivamente contribuir para a segurança de todos. PALAVRAS-CHAVE: hospital, gestão de riscos, acidente, instrumentos pérfurocortantes, servente de limpeza, Ergonomia.

16 ABSTRACT The present work focuses on risk management of accidents involving piercing or cutting instruments that are handled by the outsourcing cleaning staff in public state hospitals. The analysis is based on Ergonomics theory, and the performed activities and work situations are the mainly observed aspects. This research focuses initially on preventive model that has been adopted to avoid piercing accidents in the investigated hospital context, as well as discusses the consequences of this kind of accident to the cleaner s lives. It was possible to understand how useless the traditional model to prevent accidents is, after finding out about the reality of the hospital context and everyday work situations faced by cleaners to perform their activities. This traditional model is based on prescribing norms and safe behavior to be adopted by the staff, but it doesn t work, due to conditioning factors that limit the works regulation spaces. The results which have been found in this work allow us to conclude that risk management can be changed if there is some understanding about work reality. It s also necessary to defend the idea of collectively establishing a set of rules which can effectively contribute to all people s safety. KEY WORDS: hospital, risk management, accidents, piercing and cutting instruments, cleaners, Ergonomics.

17 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho insere-se no campo da saúde ocupacional e tem como objetivo investigar as causas do elevado número de acidentes de trabalho com instrumentos pérfuro-cortantes entre empregados terceirizados contratados para a limpeza de hospitais da rede pública estadual, profissionais mais conhecidos como serventes de limpeza. O aprofundamento sobre o problema se deu pela necessidade de próprio pesquisador naquela oportunidade engenheiro de segurança da empresa prestadora de serviços de limpeza responder à seguinte indagação: por que ocorriam tantos acidentes por perfuração naquele contexto, se havia normas e procedimentos rigorosos para a manipulação e o descarte de instrumentos pérfuro-cortantes? O que estava falhando nos programas de prevenção de riscos adotados para o trabalho naqueles hospitais? Para responder a essas perguntas, o caminho escolhido para a análise de riscos foi conhecer a realidade de trabalho das serventes de limpeza e descobrir em que condições ocorriam os acidentes. A abordagem julgada a mais adequada para investigar o assunto da forma proposta e com a profundidade que o problema exigia foi a Ergonomia, por sua metodologia própria de investigação AET Análise Ergonômica do Trabalho que possibilita ao pesquisador compreender o trabalho a partir da análise das atividades e das situações de trabalho, ou seja, confrontando o idealizado com o real e buscando estabelecer uma relação de fatos em situação de trabalho que estejam contribuindo para a ocorrência dos acidentes. Montmollin (1998) cita que a Ergonomia situada é essencialmente centrada na organização do trabalho, quem faz o que, onde, e sobretudo, como o faz, questionando-se ainda se é possível que se possa fazer melhor e mais seguro. A partir do entendimento das atividades de limpeza em situações reais de trabalho, a gênese de grande parte dos acidentes pôde ser mais bem compreendida. À primeira vista, as serventes são consideradas trabalhadoras que executam tarefas simples e rotineiras, porém inseridas em um ambiente considerado complexo. Amalberti (1996) cita que os ambientes complexos são marcados pela incerteza, pela dinâmica, pelos riscos e pelas exigências das tarefas.

18 Entretanto, o que se descobriu naqueles contextos, e que será abordado com maiores detalhes nos capítulos seguintes, é uma série de disfuncionamentos que potencializam situações para a concretização de acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes, que não são levadas em consideração na proposição das medidas institucionais de segurança. Dessa forma, os problemas específicos das unidades hospitalares pesquisadas (financeiros, escassez de mão-de-obra e concepção arquitetônica ultrapassada), somados aos disfuncionamentos das atividades de limpeza (falta de materiais, carga de trabalho, extensão da jornada, ferramentas de trabalho inadequadas, constantes interrupções nas rotinas e desvios de função) e os específicos da área de saúde (alta demanda de atendimentos, setores lotados, falta de coletores para instrumentos pérfuro-cortantes) constituem um modo degradado de trabalho, mas que acabam sendo consideradas situações normais naqueles contextos, pois as pessoas se acostumam a conviver com a precariedade do trabalho, chegando ao limite de desconsiderarem o risco. A noção de modo degradado significa, segundo Duarte & Vidal (2000), uma situação de trabalho caracterizado por um estado de disfuncionamentos e de incidentes constantes. Freitas & Porto (1997) citam que o modo degradado vai pouco a pouco minando a segurança pela banalização de falhas consideradas menores, transformando falhas visíveis em invisíveis, denominada pelos autores anormalidade normal. Entretanto, essa falsa normalidade propicia condições para que a servente se exponha mais ao risco, quando ocorre, por exemplo, falta de coletores para descarte dos instrumentos pérfurocortantes ou quando são utilizados em desacordo com as normas, desprezando-se dentro deles outros materiais, além das seringas e agulhas. Os problemas observados, se deixados de lado, podem encobrir as verdadeiras causas dos acidentes e induzir à análise somente de fatos relacionados ao não cumprimento das normas de segurança. Porém, nas condições observadas, é impraticável para a servente seguir as regras que lhe foram formalmente prescritas, o que exige delas uma competência não reconhecida pela organização para conseguir resolver os problemas cotidianos. Competência, nesse sentido, está ligada à capacidade que o trabalhador tem para fazer ajustes à situação onde se verifica a necessidade de seu emprego, ou seja, na ação situada (Montmollin apud Vidal, 1998).

19 Assim, este estudo penetrará no mundo do trabalho das serventes 1 de limpeza hospitalar e avaliará as reais situações de risco a que elas estão expostas e quais os mecanismos de regulação que utilizam para conseguir atingir aquilo que lhes foi prescrito fazer. 1.1. Justificativa A redução dos riscos nos locais de trabalho é o foco de atenção de todos os profissionais de segurança, que tentam implementar medidas de controle para gerenciar adequadamente os eventos que possam resultar em acidentes do trabalho. Entretanto, a avaliação dos riscos e as análises dos acidentes do trabalho, em sua grande maioria, ainda são muito limitadas e superficiais, e não revelam a origem das verdadeiras causas que propiciam as condições para que o acidente se concretize. Como profissional da área de segurança, sempre tive preocupações em descobrir qual a melhor maneira para gerenciar os riscos nos locais de trabalho. Porém, os acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes se configuravam como um problema de difícil resolução. Esses acidentes eram constrangedores para quem se acidentava e por mais que tentássemos proteger o trabalhador, ainda assim eles aconteciam em grande número. Isso nos causava um grande desconforto. A justificativa para esta dissertação foi a necessidade de se buscar uma nova forma de avaliação de riscos, que evidenciasse com mais detalhes as situações de trabalho das serventes de limpeza nos hospitais investigados, assim como os fatores que pudessem estar condicionando os acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes. 1.2. A empresa prestadora de serviços A empresa prestadora de serviços é pública, regida pela CLT Consolidação das Leis do Trabalho e criada pelo governo do Estado de Minas Gerais para fornecer qualquer tipo de mão-de-obra, especializada ou não, que a administração estadual necessite contratar por tempo determinado. 1 Salienta-se que o objetivo desta dissertação não é tratar o problema dos acidentes focando o gênero do trabalhador. O termo a servente somente será utilizado no gênero feminino em função deste coletivo ser formado quase que totalmente por mulheres.

20 Na época em que a pesquisa foi realizada, a empresa prestadora de serviços possuía aproximadamente 6.000 empregados, atuava em vários órgãos da administração pública estadual e mantinha contratos de prestação de serviços com quase todas as secretarias estaduais, em penitenciárias públicas, centros de hemoterapia e hospitais. Apesar de poder contratar qualquer tipo de mão-de-obra, a maior parte dos serviços prestados relaciona-se à conservação e limpeza, ou seja, as serventes de limpeza são a categoria profissional que compõe a maior parte do quadro de empregados da empresa prestadora de serviços. Por ser uma empresa pública, o MPT Ministério Público do Trabalho vinha exigindo ultimamente que a empresa somente admitisse empregados via concurso público, o que dificultava sobremaneira a contratação de pessoas por tempo determinado, fato que acabava repercutindo no trabalho de vários profissionais, já que a empresa não dispunha de mão-de-obra suficiente em seu quadro de reservas para cobrir, por exemplo, empregados que faltassem ao trabalho, que entrassem de férias, que estivessem afastados ou que pedissem demissão. Muitas vezes, isso obrigava a servente de limpeza hospitalar a ter que trabalhar mais tempo, quando, por exemplo, uma colega do plantão seguinte faltasse ao trabalho ou mesmo se atrasasse. Assim, vários acordos estavam sendo feitos com o MPT para tentar resolver a questão da contratação de pessoas sem a obrigatoriedade do concurso público. 1.3. Os hospitais pesquisados Um dos principais clientes da empresa prestadora de serviços é a rede de hospitais públicos do estado, composta por vinte e três unidades assistenciais que prestam atendimento médico-hospitalar à população de todo o Estado de Minas Gerais através da oferta de seus serviços. A Missão Institucional da Fundação Hospitalar é servir ao usuário do SUS em todas as áreas-chave da assistência médico-hospitalar hospitais gerais e de urgência para adultos e crianças, hospitais psiquiátricos, maternidades, centros de reabilitação física e toxicomania e o atendimento a portadores de AIDS e outras doenças infectocontagiosas. São quinze hospitais distribuídos pela cidade de Belo Horizonte e oito

21 localizados no interior do Estado. Por se tratar de hospitais públicos, a demanda de atendimentos a pacientes é alta em todos eles. A empresa prestadora de serviços está presente em todas as unidades da rede hospitalar, inclusive no prédio da administração central 2 dos hospitais Em todos esses locais, o ponto forte da prestação de serviços é a limpeza. O trabalho de limpeza em hospitais é mais problemático do que em outros órgãos onde a empresa prestadora de serviços atua, em função da diversidade de riscos presentes no ambiente hospitalar, da maior carga de trabalho e dos disfuncionamentos existentes. Assim, a servente de limpeza hospitalar é uma profissional diferenciada das demais serventes, necessitando de maior competência para desenvolver seu serviço, pois além de ter que aplicar as técnicas adequadas de limpeza e desinfecção exigidas naqueles ambientes, ainda precisa preocupar-se constantemente com a sua segurança para evitar acidentes, principalmente perfurações, o que nem sempre é possível naqueles contextos, conforme será demonstrado nos próximos capítulos. 1.4. O problema Os acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes são eventos que ocorrem de forma intensa entre os profissionais de saúde. Existem diversos estudos sobre o problema e a preocupação com o tema é mundial, em virtude das sérias doenças que podem ser transmitidas em decorrência das perfurações, como a Hepatite B (HVB), Hepatite C (HVC) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) patologias que podem ser fatais. O tratamento geral dado ao problema é a adoção de medidas de biossegurança, que procuram prevenir o contato das pessoas contra fluídos corporais, valendo-se principalmente do uso de EPI Equipamentos de Proteção Individual, EPC Equipamentos de Proteção Coletiva e de campanhas de sensibilização (treinamentos, cursos, cartazes). O número de acidentes relacionados a instrumentos pérfuro-cortantes é significativo e preocupa autoridades sanitárias do mundo todo, em virtude do potencial de 2 No prédio da administração dos hospitais são mantidos serviços de atendimento médico-odontológico aos empregados dos hospitais, configurando-se, portanto, também como um local de riscos de acidente com instrumentos pérfuro-cortantes para a servente.

22 contaminação relacionado a patógenos transmitidos pelo sangue. A seguir será dada uma visão geral do problema e uma outra específica das unidades hospitalares pesquisadas. 1.4.1. O problema sob o aspecto global A OSHA Occupational Safety and Health Administration calcula que entre 600.000 e 800.000 trabalhadores se acidentam anualmente com algum tipo de material pérfurocortante nos Estados Unidos. Já o CDC Centers for Disease Control and Prevention (1998) estima que ocorram anualmente cerca de 384.000 acidentes desse tipo somente nos hospitais americanos, sem considerar outros locais onde se manipulam instrumentos pérfuro-cortantes, como clínicas médicas e odontológicas. A principal causa de ocorrência desses acidentes com os profissionais que trabalham nos centros de cuidados da saúde humana principalmente médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem é decorrente da própria atividade que esses profissionais têm que desenvolver, ou seja, do contato com secreções corporais de pessoas doentes e principalmente da manipulação de instrumentos pérfuro-cortantes, como agulhas e bisturis, durante as intervenções nos pacientes. Preocupado com essa situação, o governo brasileiro, através do Ministério da Saúde, editou em 1998 o Manual de Condutas em Exposição Ocupacional a Material Biológico, com o objetivo de descrever os cuidados necessários para evitar a disseminação de doenças infecto-contagiosas, principalmente em relação ao vírus da imunodeficiência humana (HIV). As estimativas atuais indicam que o risco médio de se adquirir o HIV depois de um acidente com material contaminado, principalmente sangue, é de 0,3 %, após exposição percutânea e de 0,09% após exposição micocutânea (MS, 1998). Levantamentos estatísticos do NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health (1999) confirmam que o percentual médio de infecção para o vírus do HIV é de 0,3%. O CDC Centers for Disease Control and Prevention (1998) estima ser de 6% a 30% o risco de transmissão para a Hepatite B e aproximadamente 0,7% para contaminação de Hepatite C. Durante o ano de 1999, o CDC já havia cadastrado, até

23 dezembro, 55 casos de infecção pelo vírus HIV e mais 136 casos de possíveis contaminações. A contaminação por perfuração depende de alguns fatores, que podem contribuir para aumentar o risco de infecção depois da exposição, entre os quais: o tipo de patógeno envolvido (a possibilidade de contrair a Hepatite B é bem maior do que contrair o vírus do HIV), o sistema imunológico do trabalhador acidentado e a severidade da lesão (a profundidade da perfuração ou da penetração do objeto na veia ou na artéria). O risco de transmissão do HIV aumenta quando o trabalhador foi exposto a uma grande quantidade de sangue do paciente. Em função desses riscos, o Ministério da Saúde (1995) vem divulgando medidas de prevenção denominadas Precauções Universais ou Precauções Básicas, que devem ser utilizadas pelo pessoal da saúde quando manipular sangue, secreções e excreções de pacientes. Isso inclui também o uso de equipamentos de proteção individual e cuidados específicos na manipulação e no descarte de instrumentos pérfuro-cortantes contaminados por material orgânico. As medidas de segurança tentam evitar as conseqüências nefastas que um acidente desse tipo causa nos trabalhadores de unidades destinadas aos cuidados da saúde humana, principalmente hospitais. 1.4.2 O problema específico dos hospitais investigados O objeto deste estudo tem seu foco em uma categoria de trabalhadores que vive o mesmo sofrimento que os profissionais de saúde em relação a esse tipo de acidente, porém com características bastante diferentes daqueles: não desempenham atividades diretamente ligadas aos cuidados da saúde humana e manipulam ferramentas de trabalho completamente diferentes do pessoal de saúde. Esta pesquisa desenvolveu-se sobre o coletivo de trabalhadores da limpeza hospitalar, chamados de serventes de limpeza. A relevância do estudo baseou-se no elevado índice de acidentes cadastrados pela empresa prestadora de serviços, através da Comunicação de Acidente do Trabalho CAT, documento que a empresa, obrigatoriamente, tem que emitir ao Instituto Nacional da Seguridade Social INSS, no prazo máximo de um dia útil após o acidente. Os

24 acidentes devidos a perfurações atingiam, no período em que a pesquisa foi realizada, mais de 30% do total do número de acidentes notificados entre os empregados que prestavam serviços de limpeza na área hospitalar. A TAB. 1, a seguir, mostra o quantitativo desses acidentes cadastrados a partir do ano de 2000: TABELA 1 Número de acidentes por perfuração em relação ao número total de acidentes cadastrados na área hospitalar 2000 a 2002 Total de Acidentes Acidentes por perfuração 400 200 0 2000 2001 2002 TOTAL Total de Acidentes 108 109 68 285 Acidentes por perfuração 40 37 22 99 Fonte: CAT. Acidentes cadastrados até julho de 2002. O principal questionamento sobre o problema dos acidentes com instrumentos pérfurocortantes foi compreender por que uma categoria de trabalhadores que não utiliza ferramentas de trabalho como agulhas, bisturis e escalpes em suas atividades de limpeza tinham seus corpos perfurados com tanta intensidade. O que falhava na prevenção, visto existirem procedimentos e normas rígidos para descarte desses materiais? Por que a contradição entre uma condição idealizada para se ter reduzido o contato com instrumentos pérfuro-cortantes e uma realidade com grande potencial de risco de acidentes? 1.5. Os objetivos do trabalho 1.5.1. Objetivo geral

25 Abordar a gestão de riscos de acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes nas atividades de limpeza das unidades hospitalares investigadas a partir do ponto de vista da Ergonomia. 1.5.2. Objetivos específicos A partir da análise situada da atividade de limpeza e das situações de trabalho buscar elementos para compreender as seguintes questões: Por que o modelo tradicional de prevenção, baseado na prescrição de normas e comportamentos seguros, apresenta-se ineficaz no contexto investigado? Por que a contradição entre uma condição idealizada de prevenção e uma realidade com tantos acidentes? Quais disfuncionamentos estariam causando a fragilização do modelo adotado para gestão de riscos?

26 2. O ATUAL MODELO DE GESTÃO DE RISCOS E AS CONSEQÜÊNCIAS DOS ACIDENTES SOBRE A SAÚDE E A VIDA DO TRABALHADOR Este capítulo abordará a atual forma de gestão de riscos para evitar acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes adotada pelos hospitais investigados e pela empresa prestadora de serviços. Serão abordadas também as conseqüências da perfuração sobre a saúde e a vida da servente de limpeza quando o evento se materializa. 2.1 O atual modelo de prevenção O modelo de segurança adotado para a prevenção de incidentes 3 e de acidentes de trabalho com instrumentos pérfuro-cortantes nas unidades hospitalares pesquisadas baseia-se na forma tradicional, ou seja, na prescrição de procedimentos e comportamentos seguros. A prescrição de procedimentos seguros está baseada na legislação que as empresas têm que cumprir, seja através de normas internacionais de segurança destinadas aos locais que tratam dos cuidados da saúde humana, seja através de normas nacionais ou até mesmo de regulamentos internos, elaborados pelas próprias unidades de acordo com a suas necessidades. No caso específico dos acidentes com instrumentos pérfuro-cortantes, a legislação prevê uma série de recomendações para os estabelecimentos que tratam da saúde humana. Uma das principais é que esses locais adotem práticas conhecidas como Precauções Universais em suas rotinas de trabalho. As Precauções Universais, atualmente denominadas Precauções Básicas, são medidas de prevenção que devem ser utilizadas na assistência a todos os pacientes quando se manipular sangue, secreções e excreções e no contato com mucosas e pele não-íntegra. Isso independe do diagnóstico definido ou presumido de doença infecciosa (HIV/AIDS, Hepatites B e C). 3 Neste estudo, incidente relaciona-se a eventos que não produzem inicialmente danos físicos ou mentais, mas indicam uma possibilidade potencial de geração destes danos, como por exemplo o descarte inadequado de instrumentos pérfuro-cortantes.