CONHECIMENTOS, PRÁTICAS E PERCEPÇÃO DO USO DO LASER NA FISIOTERAPIA Janaína de Moraes Silva 1, Ana Paula de Sousa Pereira 2, Ana Carolina Lacerda Borges 3, Denise da Costa Nunes Montoni 3, Renata Amadei Nicolau 4 1 Universidade Vale do Paraíba (UNIVAP)/Doutoranda em Engenharia Biomédica, Av.Shishima Hifumi, 2911 Urbanova - São José dos Campos SP, fisiojanainams@gmail.com 2- Fisioterapeuta graduada pelo Centro de Ensino Unificado de Teresina (CEUT), Av. dos Expedicionários, 699 CEP 64020-290, Teresina PI, aninha_sousa_fisio@hotmail.com 3-Graduandas em Fisioterapia, Laboratório de Engenharia de Reabilitação Sensório Motora, Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) Av. Shishima Hifumi, 2911, Urbanova, CEP 12244-000, São José dos Campos-SP, carolborges.fisio@gmail.com 4 Professora Doutora, Programa de Doutorado em Bioengenharia Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Av. Shishima Hifumi, 2911, Urbanova, CEP 12244-000, São José dos Campos-SP, rani@univap.br Resumo- A terapia Laser de baixa intensidade é um recurso terapêutico luminoso que possui propriedades especiais capazes de interagir com os tecidos biológicos. Na área de Fisioterapia, utiliza-se o Laser de tendo como base, a presença de uma considerável quantidade de conteúdo sobre o tema. O propósito deste trabalho foi avaliar a percepção dos fisioterapeutas sobre o Laser e sua utilização. A população abordada é composta por fisioterapeutas, localizados na cidade de Teresina-PI, que fazem uso de Laserterapia na sua prática clínica. Esta pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa e observacional. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado uma entrevista semi-estruturada com questões abertas. As unidades temáticas estabelecidas foram: denominação, propriedades, parâmetros, tipos e efeitos biológicos, fisiológicos e terapêuticos, assim como suas técnicas de aplicação. Evidenciamos que os fisioterapeutas consideram importante em seu plano de tratamento a utilização da laserterapia (80%), porém (10%) utilizam essa terapia isoladamente (10%), apesar do uso, (98%) não fizeram cursos específicos para o manuseio do Laser e que apesar de reconhecer a necessidade do aparato de proteção, na prática clínica (100%) não fazem uso dos mesmos. Palavras-chave: Laser, Laserterapia, Fisioterapia Área do Conhecimento: Fisioterapia. Introdução A denominação LASER é o acrônimo de Luz Amplificada por Emissão Estimulada de Radiação (Light Amplification by the Stimulated Emission of Radiation). A emissão estimulada consiste na absorção de luz incidente por um átomo que faz saltar um dos elétrons do nível energético fundamental para o nível superior. Este átomo em estado metaestável recupera num breve tempo os estados fundamentais, emitindo um fóton e uma radiação de luz de comprimento de onda definido. (BUSARELLO et al, 2011). Pode-se dizer que o LASER é uma luz potente, de uma só cor e se pode dirigir e ajustar sua potencia de precisão. Este proporciona uma forma de emissão de radiação luminosa de características especiais. Dentre estas estão: a monocromoticidade, a coerência e a polarização. (ARRUDA et al, 2007) Dentro da área médica, podemos dividir em LASER de alta e baixa potência. E são utilizados fundamentalmente por três tipos de emissores: sólidos, como o neodímio YAG; com tudo de gás, como o Hélio Neon, CO2 ou Argônio; ou por meio de um diodo, como AsGa e AsGaAl (ROCHA,2004). Na área de Fisioterapia, utiliza-se o LASER de baixa potência. Estes não elevam a temperatura tissular, senão que sua ação esteja baseada principalmente nos efeitos fotoquímicos.( SILVEIRA et al, 2009) A interação da radiação LASER com os tecidos se realiza nas interfases, mediante os fenômenos de reflexão e refração e, no interior do meio, onde tem lugar a transmissão, fato que depende principalmente dos fenômenos de absorção e dispersão. Sendo que a absorção e a 1
transmissão da radiação Laser dependem fundamentalmente de dois fatores: o comprimento de onda e a natureza absorvente.( SILVEIRA et al, 2009)) A dosificação deve ser expressa em joules para cada cm 2 da pele do paciente (J/cm 2 ), denominada densidade de energia, que significa a quantidade de energia depositada numa superfície determinada. Esta densidade energética está diretamente relacionada ao tempo de exposição da radiação que, deverá ser calculado para definir a dose exata. (TAVARES et al, 2005) Os efeitos da radiação Laser sobre os tecidos dependem da absorção de sua energia e da transformação desta, em determinados processos biológicos. Para descrever estes é habitual seguir um esquema segundo o qual a energia depositada nos tecidos produza uma ação primária ou direta, com efeitos do tipo fototérmicos, fotoquímicos e fotoelétricos. Estes efeitos locais provocam outros, os quais constituem a ação indireta (estímulo a microcirculação, aumento do trofismo). (MAIA & VIEIRA, 2009;LINS et al, 2011) Apesar dos efeitos benéficos, a radiação LASER pode oferecer riscos de seus usuários e pacientes, sendo necessário o conhecimentos das normas de segurança.(pansini, 2001) Metodologia Estudo exploratório, descritivo e transversal, com estratégia de coleta e análise de dados de forma qualitativa e quantitativa. A pesquisa foi realizada no período de agosto a setembro de 2012. A coleta de dados ocorreu através do envio, através de carta ou email, de um questionário semi-estruturado com questões abertas, aos fisioterapeutas que estivessem em plena atividade profissional, que trabalhassem em clínicas, hospitais e domicílios da cidade de Teresina, estado Piauí, que fizessem uso da laserterapia na sua prática clínica e que aceitassem participar do estudo assinando um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme determina a Resolução nº 196/1996 do CNS/MS. Foram excluídos os fisioterapeutas que não responderam completamente o questionário, e os que, por qualquer motivo, se recusaram a participar do estudo. Foi iniciada a coleta de dados através da aplicação do questionário enviado por carta ou email, com a finalidade de avaliar o conhecimento, a prática da utilização do Laser pelos fisioterapeutas, composto de dez perguntas a respeito dos fundamentos básicos da laserterapia. Depois da coletados os dados, foram analisados através do programa Microsoft Office Excel 2007 e apresentados em forma de gráficos e/ou tabelas. Resultados O estudo sobre conhecimentos, práticas e percepções sobre a utilização do LASER na Fisioterapia foi realizado na cidade de Teresina, estado do Piauí com 50 fisioterapeutas sendo, 30% (n=15) do sexo masculino e 70% (n=35) do sexo feminino. A média de idade mínima de 23 e a máxima de 42 anos. E média de formação de 4 anos. Foram questionados há quanto tempo usavam o LASER como terapia, mostrando que 84% (n=42), utilizavam a laserterapia há mais de 2 anos, sendo que 80% (n=40) na área de traumatoortopedia e 20% (n=10) na área de Dermatofuncional (estética) e 10% (n=5) na área de Neurologia. (Gráfico 1) Área de atuação Neurologia Dermatofuncional Traumato-Ortopedia 0 20 40 Gráfico 1: Dados acerca do uso do LASER segundo a área de atuação fisioterapêutica. De acordo com os 50 fisioterapeutas entrevistados 82% (n=42) afirmaram saber manusear o Laser completamente, porém 100% (n=50), não realizaram curso específico para isso, sendo o conhecimento prático obtido na graduação ou durante estágios extracurriculares. Apenas 30% (n=15), dizem ler artigos sobre a aplicação do LASER. O LASER mais utilizado na prática clínica desses fisioterapeutas consiste no de HeNe, AsGa e Diodo. Dos fisioterapeutas abordados, 100%(n=50) relataram as três principais características e propriedades da luz LASER, porém quando questionados sobre a dosimetria e o numero de sessões para obtenção dos efeitos terapêuticos 100%(n=50) afirmaram usar em dias alternados, baseados na indicação no manual do equipamento, quanto aos efeitos e estágios do processo inflamatório, além de 90% aplicarem de forma pontual (encostando a ponta da caneta 5 10 40 2
aplicadora na pele), porém sem observarem a distancia entre os pontos de aplicação e 10% em varredura. (Grafico 2) Segundo Silveira et al.,(2008), para dosar corretamente a radiação laser é necessário ter um conhecimento da área da lesão, da potência de emissão (geralmente fornecida pelo fabricante) e do tempo necessário para obter os efeitos desejados. Se a área a ser tratada for maior que um ponto, ela deverá ser calculada através da fórmula: A = (xr², onde A = área, ( = 0,0314 cm² e r² = raio ao quadrado. Para calcular o tempo utiliza-se a fórmula: T(s) = dose desejada(j/cm) x área(cm²). Formas de aplicação 5; 10% 45; 90% Gráfico 2: Dados acerca das formas de aplicação do LASER pelos entrevistados. Dos 50 fisioterapeutas avaliados, n=40 (80%), acharam o LASER eficiente, porém seus efeitos terapêuticos são lentos e sempre devem ser associados com outras terapias.(grafico 3) Eficácia do LASER Aplicação pontual Varredura responderam o aumento da circulação local. (Grafico5) Os efeitos fisiológicos da radiação LASER podem ser classificados como: primários, secundários e terapêuticos. De acordo com Tavares (2005), os efeitos primários são subdivididos em efeito bioquímico, bioelétrico e bioenergético. Como efeitos bioquímicos da radiação laser temos a liberação de substâncias pré-formadas (serotonina, bradicinina e histaminas), modificações das reações enzimáticas normais, estímulo da produção de ATP e também ação fibrinolítica. O efeito bioelétrico principal é a potencialização da bomba de Na/K que consome a energia proveniente do ATP. O efeito bioenergético consiste na existência de uma energia, embora não se saiba qual a sua essência. Os efeitos secundários são conseqüentes dos efeitos primários (que ocorrem diretamente pela absorção da radiação), podendo ser classificados, segundo Silveira, et al.,(2008), como: estímulo a microcirculação (a liberação de histaminas provocada pela radiação irá paralisar os esfíncteres pré-capilares aumentando o fluxo sangüíneo no local) e estímulo ao trofismo celular ( com o aumento da produção de ATP a atividade mitótica é aumentada e, conseqüentemente, ocorre aumento da cicatrização e também melhor trofismo dos tecidos). Em conseqüência das alterações relativas aos efeitos primários e secundários, classifica-se os efeitos terapêuticos como efeito antiinflamatório, analgésico, antiedematoso e cicatrizante.(agne, 2005) Efeitos terapêuticos do LASER 10; 20% 40; 80% 10; 20% 20; 40% 20; 40% Eficaz Ineficaz Analgesia Cicatrização de feridas Depilação Gráfico 3: Eficácia do LASER segundo os entrevistados. Sobre os efeitos terapêuticos do LASER 70% (n=35) lembra-se de imediato que este tem efeitos terapêuticos voltados para analgesia, 40% (n=20) para cicatrização de feridas e 20% (n=10), depilação. Sendo que quando pedidos para citarem algum efeito fisiológico e/ou biológico que justifique o efeito terapêutico 100% (n=50) Gráfico 4: Efeitos terapêuticos dos LASER relatados pelos entrevistados. As tendinopatias são distúrbios comuns com uma variedade de tratamentos e terapias e a Laserterapia aparece como uma alternativa no tratamento dessas patologias na área de traumato-ortopedia. ortopedia. Acredita-se que a ação do laser de baixa potência sobre o tecido está relacionada à possibilidade de inibição do aparecimento de fatores quimiotáticos nos 3
estágios iniciais da inflamação; inibir a síntese de prostaglandinas, além de inibir o esfíncter précapilar, através de mediadores químicos. (SATTAYUT et al., 2000) A laserterapia exerce um importante efeito sobre o processo ulcerativo, resultando na redução do tempo de cicatrização. Este tem um papel essencial na resposta protetora da lesão epidérmica por meio da reparação tecidual. (SULLINS, 2004). Segundo Karu (1987), a exposição ao laser estimula uma atividade eletroquímica mitocondrial extra e um concomitante aumento na síntese de ATP, promovendo assim proliferação celular e citoproteção. Na área de Fisioterapia dermatofuncional o processo do laser na depilação funciona através do efeito térmico, onde ocorre a liberação de energia no folículo piloso e consequentemente destruição deste. A utilização do LASER para remoção de pelos tem sido muito estudada, tendo em vista que este processo vem ganhando cada vez mais espaço, tornando uma alternativa cogitada em relação a outros métodos de depilação. (AVÉ, 2004) Sobre as medidas de segurança, 80% (n=40) fisioterapeutas afirmaram que apesar de conhecerem a necessidade de aparato para proteção, nenhum serviço no qual eles prestam os serviços, disponibiliza de área especial de aplicação para o LASER, óculos protetor e faziam manutenção dos equipamentos. O único cuidado era para não perder a atenção e apontar o feixe para os seus olhos ou para os do paciente. Segundo Pansini, 2001, a laserterapia apesar de mostrar efeitos benéficos, pode também oferecer riscos a saúde de seus usuários e pacientes. Os principais efeitos adversos conhecidos são: para pele, a aceleração do envelhecimento, o aumento da pigmentação, queimaduras, eritemas e o aumento da sensibilidade. E para os olhos: a fotoqueratite na córnea e conjuntiva, a catarata, danos térmicos e fotoquímicos na retina, queimaduras na córnea e no cristalino. (PANSINI, 2001) Conclusão Evidenciou-se que os fisioterapeutas entrevistados afirmam ter conhecimento teórico e prático da utilização do LASER, porém obtidos por meio de livros de graduação ou manuais de equipamentos. Pode-se constatar assim apenas a relevância de caráter técnico da aplicação, e não das evidencias científicas da terapia. Por fim, destaca-se que os fisioterapeutas que usam o LASER apesar de saberem da necessidade de cuidado na sua aplicação, não dispõem de medidas de segurança básicos, expondo assim tanto ele, como os pacientes, ao risco da Laserterapia de baixa potencia. Referências AGNE. J.E. Eletrotermoterapia: Teoria e Prática.São Paulo,ed. Orium, 2005. AVÉ, B.R.C. in KEDE, M.P.V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. São Paulo. Ed. Atheneu, 2004. ARRUDA, E.R.B.; RODRIGUES, N.C; TACIRO, C.; PARIZOTTO, N.A; Influencia de diferentes comprimentos de onda da Laserterapia de baixa intensidade na regeneração tendínea do rato após tenotomia. Rev. Bras. Fisioterapia, São Carlos, V.11, n.4, p 283-288, jul/ago, 2007. BUSARELLO, F.O; ARTIFON, E.L; LOTH, E.A; BERTOLINI, G,R,F. Análise da eficácia do laser de Baixa potência no tratamento da dor tendinea em ratos imunossuprimidos. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, V.18, n.4, p.335-340, out/dez, 2011. FUKUDA T.Y; MALFATTI, C.A. Análise da dose do laser de baixa potência em equipamentos nacionais. Rev. Bras. Fisioterapia, São Carlos, v.12, n.1, jan/fev, 2008. LINS, R.D.A.U; DANTAS,E.M; LUCENA, K.C.R; GARCIA, A.F.G; SILVA, J.S.P. Aplicação do laser de baixa potência na cicatrização de feridas. Odontol. Clin. Cient, suplemento 511-516, out/dez., 2011. KARU T. Photobiological fundamentals of lowpower laser therapy. IEEE J. Quantum Electron. 1987; 23 (10);1703-17. MAIA, P.H.B; VIEIRA, W.H.B. Influencia do Laser no desempenho muscular. Revista da FARN, p.123-133, jan/dez.,2009. PANSINI, M. Avaliação de requisitos de segurança em lasers terapêuticos de baixa intensidade, 2001, 69f. Dissertação (Mestrado em Odontologia) Instituto de Pesquisa Energética e Nucleares. Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001 ROCHA, J.C.T. Terapia Laser, cicatrização tecidual e angiogênese. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, Universidade de Fortaleza Brasil. Ano/vol 17, n:001. P 45-48. 2004. 4
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