Luis Carlos Barbosa dos Santos; contadorbarbosa@hotmail.com; Universidade Federal de Juiz de Fora.



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Transcrição:

Gerenciamento de Resultados versus Essência sobre a Forma: O Paradigma Contábil, sob a Ótica dos Professores de Mestrados em Ciências Contábeis do Brasil. Luis Carlos Barbosa dos Santos; contadorbarbosa@hotmail.com; Universidade Federal de Juiz de Fora. Laura Edith Taboada Pinheiro; ltaboada@face.ufmg.br; Universidade Federal de Minas Gerais. Mateus Rocha Menezes; mateusrochamenezes@gmail.com; Universidade Federal de Minas Gerais. Frank Nero Pena Vasconcelos; frank81nero@yahoo.com.br; Universidade Federal de Minas Gerais.

Resumo Diferentemente da maioria das pesquisas nacionais e internacionais, que utilizam de modelos para detectarem empiricamente a presença de Gerenciamento de Resultados (Earnings Management), no presente estudo, o objetivo foi o de analisar, diante da adoção pela contabilidade brasileira da premissa da essência sobre a forma, se ainda é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados. Dentro da ótica do processo de internacionalização da contabilidade brasileira, observa-se que as normas passam a ser orientadas por princípios e através de um constante julgamento dos profissionais de contabilidade. Diante de duas ou mais opções contábeis, cabe ao profissional contábil à escolha da que melhor represente a essência econômica das operações empresariais. Para tanto, fundamentou-se a temática na teoria da agência, adoção normativa da essência sobre a forma e nas principais situações e modalidades do Gerenciamento de Resultados. Esta pesquisa é caracterizada como descritiva, com abordagem quali-quantitativa e emprego da estratégia de levantamento ou survey. Verificou-se, através questões levantadas junto aos professores dos mestrados em ciências contábeis do Brasil, que é possível fazer o Gerenciamento de Resultados desde que as decisões de se fazê-lo não estejam pautadas exclusivamente em escolhas contábeis que visam atingir determinado resultado empresarial. Ou seja, as escolhas contábeis no Gerenciamento de Resultados devem levar em conta a essência econômica das transações. Palavras-chave: Gerenciamento de Resultados; Essência sobre a Forma; Normas Contábeis; Professores de Mestrados em Contabilidade. Área Temática: Abordagem Contemporânea em Contabilidade. 1 Introdução Pesquisas científicas demonstram que as empresas abertas brasileiras, objetivando alcançar e atender a motivações próprias, têm alterado, de forma intencional, porém não fraudulenta, seus resultados contábeis. Estes manejos recebem o nome de Gerenciamento de Resultados (Earnings Management) e são influenciados por situações exógenas, levando o resultado (Lucro/Prejuízo) na direção que atenda aos executivos das empresas (MARTINEZ, 2001). Até então, esta discricionariedade não reputa a problema algum, uma vez que a teoria contábil, considerando-se, por exemplo, que existem diversos usuários, permite a existência de diferentes resultados. Neste contexto, o gerenciamento de resultados gera um comprometimento da qualidade da informação contábil, podendo criar sérias ineficiências alocativas entre empresas, assim como provocar distribuições de riquezas injustificáveis, com danosas conseqüências para o incipiente mercado de capitais brasileiro (MARTINEZ, 2008). Contudo, Sá (1998), diz que na observação, percepção e no desenvolvimento dos raciocínios sobre fenômenos patrimoniais os profissionais de contabilidade devem-se preocupar com a realidade das operações. A mudança mais relevante vivida pelo Brasil no processo de internacionalização da contabilidade, de acordo Iudícibus et al (2008), pode ser relativa aos seguintes pontos: Primazia da Essência sobre a Forma, onde as normas contábeis passam a ser orientadas por

princípios e não por um enorme conjunto de regras detalhadas, exigindo-se, assim, um maior julgamento por parte dos profissionais de contabilidade. A contabilidade brasileira, através do CPC 00, incorporou em sua Estrutura Conceitual a premissa da prevalência da essência sobre a forma, sendo esta premissa, inclusive, uma bandeira insubstituível das normas do IASB. Atendendo à essência sobre a forma, torna-se, talvez, possível produzir informações relevantes e que expressem adequadamente as transações empresariais, conforme aponta Iudícibus (2007), a essência econômica é uma das principais raízes que nutrem e sustentam toda a árvore contábil. Quando se souber entendê-la profundamente e aplicá-la com propriedade, se chegará, talvez, ao ponto mais alto da evolução contábil, no qual se saberá dosar relevância com objetividade ou subjetivismo responsável. Percebe-se que, em determinadas operações, a essência econômica nem sempre vai ao encontro com suas formas legais e que a utilização de práticas contábeis que atendam à forma não refletem os efeitos comerciais destas operações. Perante da possibilidade de se gerenciar os resultados, tendo as opções de seguir normas contábeis que produzam benefícios à entidade no mercado de capitais ou de respeitar a premissa da essência sobre a forma, exige-se das empresas uma postura que garanta a qualidade da informação para seus usuários. Diante do exposto, surge o seguinte questionamento: É aceitável fazer o Gerenciamento de Resultados (Earnings Management), dentro desse paradigma da essência sobre a forma? O objetivo desta pesquisa foi o de verificar se ainda é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados, dentro desse paradigma da essência sobre a forma. Para atendimento do objetivo proposto, aplicou-se, junto aos professores dos cursos de mestrado em ciências contábeis do Brasil, um formulário-questionário contendo questões que versavam sobre a viabilidade de se fazer gerenciamento de resultados (Earnings Management), dentro desse paradigma da essência sobre a forma. Investigações anteriores sinalizam para a necessidade de estudos complementares. No contexto brasileiro, na tese de Martinez (2001) e nos estudos de Lopes, Pinheiro e Dias Filho (2012) foi constatado que as empresas listadas na BM&FBovespa S.A. utilizam de práticas de gerenciamento de resultados para diminuir a flutuação dos resultados, o que demonstra necessidade de questionamentos sobre essa prática. Diferentemente da maioria das pesquisas nacionais e internacionais sobre o tema, que utilizam de modelos para detectarem empiricamente a presença de gerenciamento de resultados, De Oliveira et al (2012) concluíram, sob a percepção dos alunos de mestrado em ciências contábeis que nenhuma prática de gerenciamento de resultados é considerada como ética ou antiética; o que também sinaliza para a necessidade de novas discussões dentro do prisma da essência econômica das operações. A pertinência do presente estudo é justificada pelo seguinte motivo: O Mercado de Capitais exerce grande influência na economia do país. O seu aprimoramento através de uma legislação societária e de regras que aumentem, cada vez mais, a transparência e a garantia dos acionistas se torna indispensável. E, assim, analisar a percepção dos professores de mestrados em ciências contábeis do Brasil sobre o paradigma contábil da primazia da essência sobre a forma em relação ao Gerenciamento de Resultados pode oferecer subsídios para investigação empírica nessa temática, e também para os organismos reguladores renovarem leis e normas. No presente trabalho, além deste primeiro tópico Introdução -, apresenta-se mais quatro tópicos, estruturados da seguinte forma: no tópico 2 a Fundamentação Teórica,

relacionada com Teoria da Agência (2.1); Primazia da Essência sobre a Forma (2.2); Gerenciamento de Resultados e suas Modalidades (2.3); Principais situações de Gerenciamento de Resultados na modalidade Income Smoothing (2.3.1); no tópico 3 será delineada a Metodologia de Estudo; no tópico 4 a Análise de Dados; e, finalmente, no tópico 5 a Conclusão da Pesquisa. 2 Fundamentação Teórica 2.1 Teoria da Agência Jensen e Meckling (1976) definem a relação Principal-Agente como uma relação contratual em que uma das partes (o principal) atribui a outra parte (o agente) a responsabilidade de desempenhar algum serviço em seu nome, e que envolve uma delegação de autoridade para o agente. Assim, embora os conselhos de administração tenham que aprovar as principais decisões, a verdade é que a administração faz operação, investimento, e decisões de financiamento, como a concepção e execução de uma estratégia de negócio, investimento de capital, e orçamento, bem como a emissão de dividendos e aquisição de dívida e títulos, obtendo, no processo de tomada de decisões, conhecimento superior sobe a economia da empresa (RONEN; YAARI, 2008). De acordo com os citados autores, esse conhecimento privilegiado implica que, visando maximizar seus interesses próprios, a gestão da entidade pode gerenciar resultados para tentar esconder a indesejável verdade empresarial e, consequentemente, comprometem a qualidade da informação contábil. Para Coelho e Lopes (2009), existe ainda outra tendência a ser atendida pelos gestores que seria alcançar a eficiência econômica dos proprietários para maximizar o valor da empresa, cumprindo, desse modo, a delegação de responsabilidade atribuída pelo principal estabelecida em contrato. Para Lambert (2001), a principal característica da teoria de agência é que ela permite incorporar explicitamente os conflitos de interesse, problemas de incentivo e mecanismos para controle de problemas de incentivo. Dentro desse contexto dessa falta de congruência entre os interesses, a evidência sugere que o objetivo da gestão difere dos acionistas por um número de razões: Gestores e acionistas têm diferente acesso as vantagens da empresa, e, ao mesmo tempo, alguns dos investimentos da empresa, e decisões de produção causam custos pessoais aos gerentes; O portfólio de gestão inclui capital humano específico que não pode ser diversificado; O horizonte da tomada de decisão do gestor é diferente do horizonte dos investidores e da firma (RONEN; YAARI, 2008). Nessa relação de interesses conflitantes, pode ser gerado um comportamento oportunista do gestor/empresa através da escolha do método contábil que seja mais apropriado ao alcance dos seus objetivos particulares (HOLTHAUSEN, 1990). Entende-se, desse modo, que os administradores podem desenvolver ações que desviam da melhor decisão (the first best practice) para ajustar os resultados reportados a suas necessidades, gerenciando os resultados contábeis (PAULO, 2007). Dado que a administração sempre foi responsável pelos relatórios financeiros, a nível internacional, em viturde dos grandes escandalos, como o da Enron, novas exigências tem sido feitas pela SOX nos Estados Unidos. Em contexto nacional, também acontecerem grandes escandalos, que levaram à adoção das IFRS, que se baseiam na primazia da Essência

sobre a Forma. Essas regulações apresentam-se como alternativa de minorar os manejos oportunísticos. 2.2 Primazia da Essência sobre a Forma Embora a Lei 11.638/2007, que modificou a Lei das Sociedades por ações, não mencione de maneira expressa a evidência da adoção da Primazia da Essência Sobre a forma, quando ela exige que a normatização contábil seja feita em direção às normas internacionais, demonstra que está abraçando toda essa filosofia (IUDÍCIBUS et al 2008). Essa força legal tem significativa contribuição para a exigência de uma atuação contábil que adote uma postura baseada na adoção dessa filosofia. Contudo, a Primazia da Essência sobre a Forma já havia sido regulada no Brasil através da Estrutura Conceitual Básica de Contabilidade, Deliberação CVM 29/86 (reforçada pela de 488/05), e nos Princípios Fundamentais da Contabilidade definidos na Resolução CFC 750/93. Também, através do Pronunciamento Técnico CPC 00, a contabilidade brasileira incorporou em sua Estrutura Conceitual a premissa da prevalência da essência sobre a forma, sendo esta premissa, inclusive, uma bandeira insubstituível das normas do IASB, que vem sendo adotadas pelo Brasil através de regulação nacional. Blackburn e Souza Filho (1997) definem essência como o elemento básico do ser de uma coisa. Percebe-se, desse modo, que para conhecer o elemento básico na observação, percepção e no desenvolvimento dos raciocínios sobre fenômenos patrimoniais, requer, por parte da contabilidade, a adoção de uma filosofia que compreenda que os registros contábeis devem ser centrados muito mais em princípios e nos objetivos do que, propriamente, num conjunto de regras a serem observadas. Neste cenário, surge um aumento de expressividade no poder e na responsabilidade dos contadores e executivos das companhias abertas, pois o conhecimento da operação contabilizada, da essência econômica e o exercício de julgamento se tornam imprescindíveis na garantia da qualidade da informação contábil. Essa constante utilização da capacidade de julgamento deverá ser atentada, inclusive, no gerenciamento de resultados, que será abordado na próxima seção. 2.3 Gerenciamento de Resultados e suas Modalidades De acordo com Goel e Thakor (2003), o gerenciamento de resultados (Earnings Management) é um artifício da contabilidade que os gerentes utilizam para atender às expectativas de lucro, através da alteração dos relatórios financeiros. Martinez (2001) salienta que o gerenciamento de resultados não é fraude contábil, pois opera dentro dos limites do que prescreve a legislação contábil. Entretanto, em situações específicas, em que as normas facultam certa discricionariedade aos gerentes, estes, atendendo a motivações distintas, realizam suas escolhas não em função da essência econômica dos negócios, levando-os a desejarem a reportar um resultado distinto da realidade. Existe uma crescente evidência de que a manipulação de accruals discricionários não é mais o principal método para o gerenciamento de resultados (ELDENBURG et al, 2011). Para produzir lucros e atingir metas específicas, gerentes têm mudado as atividades e decisões operacionais, alterando o reconhecimento das receitas, prazos de entrega e atrasando o reconhecimento de despesas com pesquisa e desenvolvimento para, assim, manter o nível de gastos (DECHOW; SKINNER, 2000).

No entanto, o método mais comumente usado em gerenciamento de resultados é ajuste de natureza discricionária do lucro/prejuízo, porque é fácil de praticar, tem baixo custo de manipulação, e não é facilmente identificado por leitores dos relatórios financeiros. Para Schipper (1989), a manipulação propositada a fim de intervir na informação financeira e conseguir ganhos pessoais deve ser definida como um tipo de gerenciamento de resultados. As motivações para se fazer Gerenciamento de Resultados podem ser classificadas em três grupos: Vinculadas ao Mercado de Capitais; Contratuais; Regulamentares e Custos Políticos. Estas motivações elencadas estão inseridas dentro do contexto de diversas modalidades de Gerenciamento de Resultados, dentre as quais se destacam: 1) Target Earnings; 2) Income Smoothing; 3) Big Bath (MARTINEZ, 2001). 1) Target Earnings é um tipo de Gerenciamento de Resultados utilizado para aumentar ou diminuir o lucro do período, vislumbrando atender à uma meta de resultado determinada. 2) Income Smoothing é um tipo de Gerenciamento de Resultados utilizado para reduzir a flutuação excessiva dos resultados contábeis. 3) Big Bath Accounting é um tipo de Gerenciamento de Resultados utilizado para reduzir lucros correntes tendo como objetivo ter melhores resultados no futuro. A presente pesquisa tem como foco de estudo a modalidade Income Smoothing, que, como definida, possui a perspectiva de diminuir a variabilidade dos resultados das empresas. Aborda, ainda, três das principais situações em que acontece o Gerenciamento de Resultados nesta modalidade. 2.3.1 Principais situações de Gerenciamento de Resultados na Modalidade Income Smoothing O Gerenciamento de Resultados que visa à redução da variabilidade dos resultados (Income Smoothing) oferece aos acionistas e possíveis acionistas uma segurança no que diz respeito aos riscos do investimento. Nesta modalidade, a empresa pode tomar decisões concretas no sentido de reduzir a flutuação excessiva dos resultados contábeis. Fonte: Martinez (2001). Figura 1 Maneira de Redução da Variabilidade (Income Smoothing)

Conforme se observa na figura 1, para uma redução da variabilidade dos resultados (Income Smoothing), a empresa poderá se utilizar de uma forma intitulada como natural, que está diretamente ligada aos negócios e à decisão real. Bem como, se utilizar de uma escolha intencional, pautada em alternativas contábeis, sem, contudo, estar ligada, exclusivamente, à realidade das operações. Dessa forma, na utilização da forma natural, o Gerenciamento de Resultados pode acontecer através de decisões "reais" (inerentes às operações da empresa, ligadas à essência econômica dos negócios); ou, quando utilizado a forma intencional, o Gerenciamento de Resultados pode acontecer através de decisões "artificiais" (pautadas exclusivamente em escolhas contábeis, sem se preocupar com a realidade das operações) (MARTINEZ, 2001). Visando reduzir a variabilidade dos resultados contábeis (Income Smoothing), a empresa pode tomar decisões como aumentar ou reduzir o montante de Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento, Despesas para Provisão de Devedores Duvidosos e Despesas de Depreciação. Decisões, estas, intencionais e não inerentes aos negócios. A prática de se aumentar ou reduzir o montante de Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento, de forma intencional, pode acontecer através do reconhecimento destas despesas em momentos convenientes que garantam o resultado esperado. O foco é se evitar uma variabilidade excessiva dos resultados contábeis, assim, durante determinado exercício, antecipa ou retarda o reconhecimento dessas rubricas. Já a prática de se aumentar ou reduzir, de forma intencional, o montante de Despesas para Provisão para Devedores Duvidosos pode acontecer através do reconhecimento a maior ou menor destes gastos, baseando-se, exclusivamente, em evitar a variação do lucro líquido em relação a períodos anteriores e no endividamento. Não se observa, desse modo, a qualidade e o montante do crédito a ser recebido para a constituição desta conta. E, por último, a prática de se aumentar ou reduzir, de forma intencional, o montante de Despesas com Depreciação pode acontecer através do reconhecimento a maior ou menor destes gastos, através da utilização de quotas convenientes de depreciação que estejam atreladas, de modo exclusivo, em reduzir a variabilidade do resultado. Não se observa, desse modo, as condições de depreciação de seus bens para aplicação do correto parâmetro. 3 Metodologia O objetivo principal dessa pesquisa, que é analisar se ainda é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados (Earnings Management), dentro desse paradigma da essência sobre a forma. No que se refere à metodologia empregada, a pesquisa classifica-se, quanto ao objetivo, como descritiva, com abordagem quali-quantitativa, com levantamento de dados (survey). Segundo Martins (2007, p. 36), em uma pesquisa descritiva tem-se como objetivo a descrição das características de determinada população ou fenômeno, bem como o estabelecimento de relações entre variáveis e fatos. Para Beuren (2006), ao levantamento de dados, que se busca informações através de respostas baseadas em questionários, dá-se o nome de survey. Para atendimento do objetivo proposto, aplicou-se junto aos professores atuantes dos 18 programas de pós-graduação com mestrado acadêmico e/ou profissional em ciências contábeis no Brasil um formulário-questionário. Com relação ao conteúdo do questionário, o mesmo possuía questões que versavam sobre a viabilidade de se fazer gerenciamento de resultados (Earnings Management), dentro do paradigma da essência sobre a forma. Focou-se na modalidade Income Smoothing;

especificamente no que diz respeito aos manejos efetuados nas seguintes contas: Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento; Despesas para Provisão de Devedores Duvidosos; e nas Despesas de Depreciação. As perguntas, em uma escala Likert, com cinco respostas, visavam medir o nível de concordância ou não concordância às afirmações apresentadas. Para o presente estudo, considerou-se os mestrados acadêmicos/profissionais em ciências contábeis no Brasil aprovados pelo Ministério da Educação e relacionados no portal da CAPES (www.capes.gov.br). O envio foi realizado através de e-mail ao coordenador de cada Programa de Mestrado, solicitando que fosse encaminhado aos professores ligados ao seu programa. Através deste e-mail, era disponibilizado um link que direcionava os profissionais ao questionário. O período de coleta de dados foi de 08/07/2012 a 11/11/2012. 4 Análise dos Resultados Foram recebidos 33 questionários válidos, dos quais 62% foram respondidos por professores que ministram disciplinas específicas da contabilidade e 38% por professores que ministram disciplinas afins da contabilidade, o que demonstra a ligação direta da amostra obtida com o assunto pesquisado, conforme se observa na figura 2. Figura 2 Disciplinas Com relação à linha de pesquisa, do total de professores respondentes, 48% atuam na Controladoria e/ou Contabilidade Gerencial; 24% na Contabilidade Financeira (Usuários Externos); 14% na área de Mercados Financeiros, de Créditos e de Capitais; e o restante, 14%, em outras áreas de pesquisa. A figura 3 demonstra a Linha de Pesquisa dos respondentes. Figura 3 Linha de Pesquisa

Com o intuito de se averiguar a percepção destes sobre o Gerenciamento de Resultados, incluiu-se uma pergunta sobre a sua definição. Observou-se que, do total de professores respondentes, 73% marcaram a melhor opção, de acordo com a definição de Martinez (2001), sobre a conceituação do Gerenciamento de Resultados. Dessa forma, conclui-se que os respondentes têm conhecimento do tema, pois entendem estes profissionais que o Gerenciamento de Resultados é exercido através de escolhas dos gerentes, em situações que as normas permitem uma discricionariedade, para então escolher a melhor prática. No entanto, contrários à definição de Martinez (2001), foram observados os seguintes montantes: 17% dos respondentes consideram que nenhuma das alternativas contidas na questão atendia à definição de Gerenciamento de Resultados; e, ainda, 10% dos entrevistados entendem o Gerenciamento de Resultados como uma fraude contábil. Observou-se ainda nesta pergunta que todos entendem que o Gerenciamento de Resultados, quando realizado, não está sempre ligado à essência econômica das operações, pois nenhum dos entrevistados marcou a opção de escolha que continha esta afirmação. Ou seja, as escolhas contábeis podem estar baseadas no alcance de determinados resultados; corroborando com Holthausen (1990) que afirma que, na existência de interesses conflitantes, pode ser gerado um comportamento oportunista do gestor/empresa visando seus objetivos particulares. A Figura 4 demonstra a resposta dos entrevistados na questão. Figura 4 Gerenciamento de Resultados Na tentativa de se verificar junto aos professores de mestrado qual a opinião dos mesmos de se ter adotado a premissa da prevalência da essência sobre a forma na contabilidade, contatou-se, conforme pode ser observado na Figura 5, que 52% dos entrevistados concordam totalmente, 24% concordam parcialmente, 17% se mostraram indiferentes e 7% discordaram parcialmente. Nenhum dos respondentes discordou totalmente da adoção da primazia da essência sobre a forma. Entende-se, desse modo, que os entrevistados comungam com Iudícibus et al (2008), onde, no registro das operações contábeis, deve-se, diante de um constante julgamento, obedecer à primazia da Essência sobre a Forma, para que seja possível produzir informações relevantes e que expressem adequadamente as transações empresariais. Ademais, no bloco de perguntas que se segue, relacionadas às práticas de Gerenciamento de Resultados comumente utilizadas (gastos com Pesquisa e Desenvolvimento, Provisão de Devedores Duvidosos e Depreciação), percebe-se a coerência da análise anterior, pois os entrevistados discordam do Gerenciamento de Resultados que esteja pautado exclusivamente em escolhas contábeis, sem se preocupar com a realidade das operações.

Figura 5 Premissa da Essência sobre a Forma Para análise do segundo bloco de respostas, agrupou-se os itens (respostas) Likert Concordo Totalmente e Concordo Parcialmente, bem como os itens (respostas) Likert Discordo Parcialmente e Discordo Totalmente. As perguntas e os resultados podem ser observados a seguir. Questão 1: Através do Gerenciamento de Resultados (Earnings Management), visando reduzir a variabilidade dos resultados contábeis (Income Smoothing), a empresa pode tomar decisões concretas como aumentar ou reduzir o montante de Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento. Esta prática intencional (não inerente aos negócios) pode acontecer através do reconhecimento destas despesas de P & D em momentos convenientes. Diante da Primazia da Essência sobre a Forma, sobre esta decisão, você: Figura 6 Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento Constata-se, conforme a figura 6, que 38% dos respondentes concordam com a prática do reconhecimento de Despesas com P & D em momentos convenientes ao controle do resultado contábil, ou seja, que durante determinado exercício, antecipa ou retarda o reconhecimento dessas rubricas. Este percentual é obtido através da soma de 7% mais 31% que representam os percentuais dos que Concordam Totalmente e Concordam Parcialmente, respectivamente. Em contrapartida, 48% dos entrevistados discordam da prática do reconhecimento de Despesas com P & D em momentos convenientes ao controle do resultado contábil. Este percentual é obtido através da soma de 14% mais 34% que representam os percentuais dos que Discordam Totalmente e Discordam Parcialmente, respectivamente. Questão 2: Através do Gerenciamento de Resultados (Earnings Management), visando reduzir a variabilidade dos resultados contábeis (Income Smoothing), a empresa pode tomar decisões concretas como aumentar ou reduzir o montante de Despesas com Provisão para Devedores Duvidosos. Esta prática intencional (não inerente aos negócios) pode acontecer

através do reconhecimento a maior ou menor destes gastos, sem considerar a qualidade e o montante do crédito a ser recebido para a constituição desta conta. Diante da Primazia da Essência sobre a Forma, sobre esta decisão, você: Figura 7 Despesas com Provisão para Devedores Duvidosos Observa-se, conforme figura 7, que 31% dos respondentes concordam com a prática do reconhecimento a maior ou menor de Despesas com Provisão para Devedores Duvidosos, sem considerar a qualidade e o montante do crédito a ser recebido para a constituição desta conta, visando o controle da flutuação do resultado contábil. Este percentual é obtido através da soma de 7% mais 24% que representam os percentuais dos que Concordam Totalmente e Concordam Parcialmente, respectivamente. Em contrapartida, 55% dos entrevistados discordam da prática do reconhecimento a maior ou menor de Despesas com Provisão para Devedores Duvidosos, sem considerar a qualidade e o montante do crédito a ser recebido para a constituição desta conta, visando o controle da flutuação do resultado contábil. Este percentual é obtido através da soma de 24% mais 31% que representam os percentuais dos que Discordam Totalmente e Discordam Parcialmente, respectivamente. Questão 3: Através do Gerenciamento de Resultados (Earnings Management), visando reduzir a variabilidade dos resultados contábeis (Income Smoothing), a empresa pode tomar decisões concretas como aumentar ou reduzir o montante de Despesas com Depreciação. Esta prática intencional (não inerente aos negócios) pode acontecer através do reconhecimento a maior ou menor destes gastos, através da utilização de quotas convenientes de depreciação, sem considerar as condições de depreciação de seus bens para aplicação do correto parâmetro. Diante da Primazia da Essência sobre a Forma, sobre esta decisão, você:

Figura 8 Despesas com Depreciação Constata-se, conforme figura 8, que 38% dos respondentes concordam com a prática do reconhecimento a maior ou menor de Despesas com Depreciação, através da utilização de quotas convenientes de depreciação, sem considerar as condições de depreciação de seus bens para aplicação do correto parâmetro, visando o controle da variação do resultado contábil. Este percentual é obtido através da soma de 10% mais 28% que representam os percentuais dos que Concordam Totalmente e Concordam Parcialmente, respectivamente. Em contrapartida, 55% dos entrevistados discordam da prática do reconhecimento a maior ou menor de Despesas com Depreciação, através da utilização de quotas convenientes de depreciação, sem considerar as condições de depreciação de seus bens para aplicação do correto parâmetro, visando o controle da variação do resultado contábil. Este percentual é obtido através da soma de 24% mais 31% que representam os percentuais dos que Discordam Totalmente e Discordam Parcialmente, respectivamente. Continuando na análise da viabilidade se fazer Gerenciamento de Resultados dentro deste paradigma da essência sobre a forma, procedeu-se com um questionamento baseado nas formas natural e intencional, classificadas por Martinez (2001), que estão dentro do propósito da redução da variabilidade dos resultados (Income Smoothing). A pergunta e o resultado obtido podem ser observados a seguir. Questão 4: De acordo com Martinez (2011), o Gerenciamento de Resultados pode acontecer através de decisões "artificiais" (pautadas exclusivamente em escolhas contábeis, sem se preocupar com a realidade das operações) ou através de decisões "reais" (inerentes às operações da empresa, ligadas à essência econômica dos negócios). Considerando todas estas decisões ("artificiais" e "reais"), diante da Primazia da Essência sobre a Forma, é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados? Figura 9 Gerenciamento de Resultados De acordo com as respostas apresentadas na figura 9, observa-se que 31% dos entrevistados entendem que, dentro da ótica da primazia da essência sobre a forma, é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados. Entretanto, também 31% dos respondentes entendem que somente é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados nas decisões reais, inerentes à realidade (essência) das operações. De acordo com este resultado, percebe-se que o Gerenciamento de Resultado é ainda aceitável, contudo quando realizado de acordo com a essência das transações empresariais.

As outras respostas a este questionamento se apresentaram com os seguintes percentuais: 7% dos professores entendem que não é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados dentro do paradigma da essência sobre a forma; e 14% que ainda é viável somente nas decisões artificiais, pautadas exclusivamente em escolhas contábeis, sem levar em conta a essência das transações. 5 Conclusões O objetivo principal desta pesquisa foi o de verificar se ainda é aceitável realizar o Gerenciamento de Resultados (Earnings Management), dentro desse paradigma da essência sobre a forma. Conseguiu-se, através dos dados apresentados, verificar que os professores dos cursos de mestrado em ciências contábeis concordam com a adoção, por parte da contabilidade brasileira, da premissa da prevalência da essência sobre a forma. Os mesmos ainda entendem que o Gerenciamento de Resultados, quando praticado, nem sempre está ligado à essência econômica das atividades empresariais, podendo estar pautado em escolhas contábeis que visam alcançar determinados resultados, corroborando com Holthausen (1990) que afirma que, na existência de interesses conflitantes, pode ser gerado um comportamento oportunista do gestor/empresa através da escolha do método contábil que seja mais apropriado ao alcance dos seus objetivos particulares. Dentro da modalidade Income Smoothing de Gerenciamento de Resultados, através de perguntas isoladas que envolviam situações comumente utilizadas da prática desta modalidade, tornou-se possível inferir que os respondentes não concordam com os manejos efetuados nas contas de Despesas com Pesquisa e Desenvolvimento, Despesas para Provisão de Devedores Duvidosos e nas Despesas de Depreciação que visam exclusivamente controlar o resultado empresarial, sem se preocupar com a realidade (essência) das operações. Entende-se, dessa forma, que os entrevistados comungam com Iudícibus et al (2008), onde, no registro das operações contábeis, deve-se, diante de um constante julgamento, obedecer à primazia da Essência sobre a Forma, para que seja possível produzir informações relevantes e que expressem adequadamente as transações empresariais. A luz da Primazia da Essência sobre a Forma, pôde-se inferir, através das repostas dos professores (31%), que é possível fazer o Gerenciamento de Resultados. Contudo, diante do mesmo percentual apresentado (31%) à resposta somente nas decisões reais, inerentes à realidade das operações, conclui-se que, o Gerenciamento de Resultados deve estar necessariamente alinhado ao paradigma da essência das operações. Ademais, quando se confronta a questão anterior com as perguntas relacionadas às práticas de Gerenciamento de Resultados comumente utilizadas em situações que envolvem gastos com Pesquisa e Desenvolvimento, Provisão de Devedores Duvidosos e Depreciação, percebe-se que são coerentes entre - si, pois os entrevistados discordam do Gerenciamento de Resultados que esteja pautado exclusivamente em escolhas contábeis, sem se preocupar com a realidade das operações. Conclui-se, assim, através da percepção dos professores de mestrado em ciências contábeis do Brasil, dentro do paradigma da essência sobre a forma, que é possível fazer o Gerenciamento de Resultados desde que as decisões de se fazê-lo não estejam pautadas em escolhas contábeis que visam exclusivamente controlar o resultado empresarial. As escolhas contábeis no Gerenciamento de Resultados devem levar em conta a essência econômica das operações.

Como limitação da pesquisa, apresenta-se o número pequeno de respondentes. Sugerese, então, futuras linhas de investigação, com aumento dos entrevistados e mudança da amostra, para que as presentes considerações possam ser checadas. REFERÊNCIAS BEUREN, Ilse Maria (Org.). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e pratica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006. BLACKBURN, Simon; SOUZA FILHO, Danilo Marcondes de. Dicionário Oxford de filosofia. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1997. CHEN, Ming-Chia; TSAI, Yuan Cheng. Earnings management types and motivation: a study in Taiwan. Social Behavior & Personality: An International Journal 2010, Vol. 38 Issue 7, p955 8p. COELHO, Antonio Carlos Dias; LOPES, Alexsandro Broedel. Avaliação da Prática de Gerenciamento de Resultados na Apuração de Lucro por Companhias Abertas Brasileiras conforme seu Grau de Alavancagem Financeira. Revista de Administração Contemporânea, 2a. Edição Especial 2007, p. 121-144, 2007. CFC Conselho Federal de Contabilidade. Resolução CFC 750/93. Disponível em: < http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/res_750.doc> Acesso em: 07 jul. 2012. CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Conceitual Básico Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/cpc00_r1.pdf> Acesso em: 07 jul. 2012. CVM Comissão de Valores Imobiliários. Deliberação CVM 29/86. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/asp/cvmwww/atos/exiato.asp?tipo=d&file=/deli/deli488.htm> Acesso em: 07 jul. 2012. CVM Comissão de Valores Imobiliários. Deliberação CVM 488/05. Disponível em: <Disponível em: <http://www.cpc.org.br/pdf/cpc00_r1.pdf> Acesso em: 07 jul. 2012.> Acesso em: 07 jul. 2012. OLIVEIRA, M.; MARQUES, V.; CUNHA, J. V. A.; MÁRIO, P. C. O enfoque ético no gerenciamento de resultados. Revista Contemporânea de Contabilidade, Local de publicação (editar no plugin de tradução o arquivo da citação ABNT), 9, dez. 2012. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/article/view/2175-8069.2012v9n18p119>. Acesso em: 28 Fev. 2013. DECHOW, Patricia M.; SKINNER, Douglas J. Earnings management: Reconciling the views of accounting academics, practitioners, and regulators. Accounting Horizons, v. 14, n. 2, p. 235-250, 2000. ELDENBURG, Leslie; GUNNY, Katherine; HEE, Kevin; SODERSTROM, Naomi. Earnings management through real activities manipulation: Evidence from nonprofit hospitals. AAA

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