A CATIRA COMO INSTRUMENTO DE SOCIABILIDADE E BEM ESTAR



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A CATIRA COMO INSTRUMENTO DE SOCIABILIDADE E BEM ESTAR Juliana alves machado 34 juliana_jam@hotmail.com RESUMO Catira ou cateretê dança da cultura popular brasileira em que o ritmo musical é marcado pela batida dos pés e mãos dos dançarinos. De origem hibrida e com influencia indígena, africana e europeia, hoje é praticada em (Mato Grosso, Norte do Paraná, Minas Gerais, Goiás, interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul). Nas escolas onde são desenvolvidos trabalhos com danças populares tais como a catira, os índices de criminalidades e evasão escolar tendem a diminuir quando os jovens se interessam e sentem como parte integrante desse processo. Tem-se como resultados melhoria e convivência social, integração e apego social, além de sua importância como manifestação cultural e componente básico na sociabilização do individuo trazendo benefícios para a saúde dos praticantes. PALAVRAS CHAVES: Catira. Sociabilidade. Regionalização. Educação. INTRODUÇÃO A catira é vista pelos participantes como uma forma de interagir e conhecer outras pessoas além de referenciar algum santo se for à época de folia. Os praticantes sentem um enorme bem estar tanto físico, quanto emocional; ninguém dança por dançar e sim com o coração, com a alma. Nesse texto apresenta-se uma breve discussão a respeito dessa dança e seus benefícios terapêuticos, de sociabilidade, bem como educativos. Também mostra a importância das três matrizes: indígena, africana e europeia na formação cultural brasileira e sua influencia na composição da catira relatando que os jesuítas trouxeram alguns santos e suas comemorações e que hoje são encontrados em festas comunitárias. A influência espanhola na catira recebida do flamenco, abordando um pouco da catira, do ludum que é 34 Graduanda do Curso de Geografia da UNUCSEH-UEG; Orientadora: Profª Drª Maria Idelma Vieira D Abadia 231

encontrada em Minas Gerais. A catira também sofreu na sua formação influencia da dança do fado praticada em Portugal, que tem em sua característica a formação de pares, os instrumentos utilizados, a coreografia, bem como da cultura indígena que faz sua dança em circulo. O passo mais utilizado é o Serra Abaixo que se assemelha bastante com as danças indígenas, pois ela é praticada em círculos. Para a estruturação metodológica recorremos as pesquisas bibliográficas, vídeos, pesquisa de campo em Alexânia(GO), e entrevistas não estruturada com os catireiros e com o publico. A CATIRA COMO INSTRUMENTO DE SOCIABILIZAÇÃO E BEM ESTAR A sociedade cultural brasileira está composta da variante lusitana da ação civilizatória Europeia Ocidental, diferenciados pelos coloridos herdados dos índios americanos e dos negros. Não há, porém uma uniformidade; mesmo porque temos que observar diversas forças atuando sobre este povo, a ecológica, a econômica e a social que veio contribuir mais tarde com novos elementos culturais e contingentes humanos formando assim esta diversidade cultural encontrada hoje em nosso país. Como exemplo dos sertanejos, caboclos, crioulos, caipiras, gaúchos, ítalo-brasileiros, teuto-brasileiros. Os grupos indígenas encontrados no litoral, pelos colonizadores, eram principalmente os Tupinambás, que subiram desde o Sul do Brasil por toda a Costa Brasileira e chegando ao Nordeste abriu-se outro tronco este indo até a Amazônia. Já tinham, portanto toda uma referência e organização. Era o grupo predominante, pois, nesta migração iam dominando e subjugando outras etnias culturais dizem que eram por volta de um milhão de indivíduos divididos em dezenas de grupos, Portugal na época tinha a mesma população ou pouco mais. Criaram-se confederações regionais que realizavam alianças com os portugueses, franceses e lutavam contra o domínio dos Calvinistas e Jesuítas. Esses grupos eram os Tamoios, Tupinambás, Carijós, Goitacás, Aimorés e Potiguaras, lutavam contra a reforma e a favor dela, sendo dominados pelos inimigos vindos da Alemanha. 232

Muitas outras etnias indígenas atuaram na formação do povo brasileiro e sua cultura, alguns até como escravos preferenciais por sua familiaridade com a tecnologia dos antigos paulistanos. Sendo assim o povo brasileiro influenciado pela Europa extingui milhares de povos nativos, com suas línguas e culturas próprias e singulares que por sua vez também influenciaram e dobraram os europeus assim como os africanos, nascendo assim uma macro etnia, maior e mais abrangente que jamais se viu (RIBEIRO, 2001). Pode-se ver na dança indígena um ritual largamente utilizado como forma de religião, poder e entretenimento. As maiorias das coreografias são circulares marcadas pela batida dos pés, das mãos e cantos. Cada grupo com suas danças, características que registra a importância do grupo, o respeito pelos mortos, o poder vindo das entidades ali cultuadas com e objetivo de receberem bênçãos de boa colheita e saúde. Os instrumentos utilizados são flautas, chocalhos, guias. Com forte influencia socioeconômica, a invasão portuguesa tinha como meta impor a ideologia crista dividida em duas versões Católica e Protestante que destruíram as bases da vida social indígena negando todos os seus valores. Em cativeiros muitos índios morriam de tristeza, certos que não mais haveria futuro para eles (RIBEIRO, 2001). Candido, (1989) mostra a transição das mudanças da vida caipira diante da expansão econômica capitalista que causa um grande impacto provocando uma crise e obrigando a elaboração de um novo ajuste ecológico, mostrando que a cultura caipira está caminhado para o fim. Sobre esse povo caiu à pregação Missionária Jesuíta, eles desenvolviam danças com violas que pelo som encantava os índios e dessa forma se aproximavam tornando-se assim um convívio mais pacífico. Os Jesuítas trouxeram na bagagem os Santos e as festas dedicadas á adoração dos mesmos, hoje encontrados nas festas comunitárias de todo o Brasil. A catira é uma dança que está presente nas festas dos meses de maio, junho e julho, nos quais são louvados os santos católicos que são: Divino Espirito Santo, São João, São Pedro e Santo Antonio. Nas manifestações populares a dança da catira ou cateretê em Tupi é um sapateando executado com forte influência da dança portuguesa como o Vira conhecido 233

como uma tradicional dança portuguesa, das mais antigas, normalmente dançada com vários pares em roda evoluindo no sentido anti-horário; rapazes e moças vão evoluindo alternadamente ao centro da roda batendo os pés, e braços levantados. O nome é provavelmente do verbo virar, a dança é acompanhada por violões, acordeões e cantos que falam dos aspectos da vida no campo e relacionamentos amorosos. Outra dança que se assemelha bastante a catira é o Fado, formada de pares soltos em fileiras que se defrontam, duas violas e um pandeiro fazem o acompanhamento musical. Enquanto se desenvolve a coreografia que se da sapateando em pares nas fileiras iniciais, evolução por fora e posteriormente por dentro, retomando aos lugares primitivos, troca de pares um a um, nas fileiras opostas e balanceio simultâneo dos demais em seus lugares, é também dançada aos pares de tamancos, seguros nas mãos compõe-se de três partes: Coritiba (roda de pares em caracol), Roda morena (roda de pares dois a dois) e Fado (quadrilha) (DA MATTA, 1983). Também pode- se notar uma grande influencia espanhola na dança da catira, a maior parte da população brasileira no século XIX era composta por negros e mestiços. Para povoar o território, suprir o fim da mão de obra escrava e também para branquear a população e culturas brasileiras, foi incentivado à imigração da Europa para o Brasil durante os séculos XIX é XX. A presença espanhola no Brasil acontece desde a colonização porem só se torna efetiva a partir do século XIX, assim vieram principalmente da Galícia e Andaluzia. Os espanhóis introduziram dentre outras coisas a criação de gado, tornando-se concentrada nos Pampas, fundiu-se costumes espanhóis, portugueses e indígenas, que deram origem ao tipo regional gaucho. Nas danças espanholas podemos citar o Flamenco, que por suas características de batidas de pés e palmas também tiveram influencias ativas na catira brasileira. O flamenco é um estilo musical, um tipo de dança fortemente influenciado pela cultura cigana com raízes mais profundas na cultura musical mourística, influência árabe e judeu (VEBLEN, 1983). Originalmente o flamenco consistia apenas de canto sem acompanhamento, depois vieram à guitarra, violão, palmas e sapateados. Um dos ritmos do flamenco mais rápido e chamado de Buleria, onde o bailarino sapateia em ritmo cadenciado muito próximo a passos 234

da catira goiana e paulista identificada pelo nome de Rojão. Outro ritmo do flamenco é o Farreia, difundido pelo filme Carmen, onde o bailarino sapateia com as pontas dos pés, cujos passos são muito lembrados no estilo da catira lundum mais encontrado na região de Minas Gerais. Outra dança a chula dança típica do Rio Grande do Sul, de influencia espanhola se assemelha com os passos da catira lundum, que é dançada em desafio praticada apenas por homens. Uma vara de madeira denominada lança medindo cerca de 4 metros de comprimento é colocada no chão, ao som da gaita gaúcha os bailarinos executam diferentes sapateados avançando e recuando sobre a lança, as sequencias se seguem alternadamente, assim vencerá o dançarino que não perder o ritmo e não encostar na vara. A dança do cateretê tem varias denominações como catira (a mais conhecida), xiba, bate pé e fandango. A dança da catira além de ser rica em estilos e coreografias, é uma dança passada de pai para filho, nas festas religiosas da comunidade e utiliza-se da técnica de observação, demonstração e de participação seguindo o ritmo da viola. De fácil acesso e rotineiro não exige local especifico para os ensaios e ainda pode ser praticado por homens, mulheres e crianças. A catira esta presente nas manifestações culturais como Folia dos Reis e Festas do Divino, mas não tem uma data certa para acontecer ela pode ser dançada em qualquer época do ano. Segundo historiadores a dança da catira teve sua origem no caminho das bandeiras praticada por peões dos bandeirantes nos acampamentos, outros dizem que veio da África com os negros ou ainda de origem Ibérica, o certo é que ela adquiriu características africanas, europeias e indígenas. Hoje é praticada em (Mato Grosso, Norte do Paraná, Minas Gerais, Goiás, interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul). Catira ou cateretê dança da cultura popular brasileira em que o ritmo musical é marcado pela batida dos pés e mãos dos dançarinos, onde duas fileiras de dançarinos se defrontam frente a frente fazendo evoluções. Antes só participavam homens, atualmente fileiras mistas, ou até mesmo só de mulheres, exemplo: catireiras de Ituiutaba. No triângulo mineiro, fazem a coreografia acompanhada pela música de viola executada por tocadores que além de serem os únicos a cantar, comandam a sequência de passos e a batida dos pés, também participando vez ou outra 235

desse sapateado. Cinco pares de dançarinos compõem essas duas fileiras, postado à frente de uma delas fica o violeiro cantador que é o responsável pela primeira voz e na outro o que faz a segunda voz, uma terça a baixo, há também o tirador de palmas e um tirador de sapateado funções essas podendo ser desempenhadas por uma só pessoa. Em algumas regiões como Paraná, Angra dos Reis e Rio de Janeiro o catira era dançado com o uso de tamancos de madeira e em outras regiões como Goiás, Barretos, São Paulo e sul de Minas Gerais usavam esporas chilenas para se obter melhor som. O violeiro procura sempre sincronizar a batida das cordas com a batida dos pés. Os temas cantados variam sobre o dia a dia, o trabalho, os amores e outros assuntos, enquanto se canta os dançarinos permanecem sem sair do lugar apenas movimentando o corpo. Acabada a moda os catireiros fazem uma roda e giram batendo os pés e mãos finalizando com os dançarinos em seus lugares iniciais. O catira se encerra com o recortado, os catireiros repetem as batidas dos pés, mãos e pulos. Na catira, como já foi dito, um dos passos mais utilizados é o chamado Serra Abaixo, esse passo se faz presente com o grupo se deslocando em círculo e com uma batida de pé que marca o compasso da dança e mostra a forte influência indígena no seu bailado. Existem dois tipos de catireiros, aqueles que têm um grupo que se apresentam em concursos todos uniformizados com botas, chapéus, camisa xadrez, nesse grupo é só homens ou só mulheres raramente se misturam, e o outro tipo de grupo é o que se aproxima do lado religioso, que se apresenta em pousos de folias, não são uniformizados, nesse grupo pode dançar homens, mulheres, e crianças. Pode-se ter certeza, que onde tem catira tem muita comida, musica, bebida e gente feliz. Pois quem dança fica feliz e quem vê também fica feliz. Na primeira metade do século XX, quando ainda tínhamos boa parcela da população brasileira residindo no campo a catira era vista como um modo de divertimento no qual vizinhos, amigos e parentes se reuniam no fim de semana para cantar e dançar as modas de viola com o famoso sapateado e batida dos pés, trazendo um pouco de alegria para as pessoas que estavam cansadas da lida na roça. A importância da mistura étnica cultural existente no Brasil resultou em ritos, danças e musicas é uma forma nova de se relacionar com a vida, a catira é uma dessas manifestações 236

resultantes do processo de miscigenação. É bom lembrar que, como a catira, outras expressões populares vêm sofrendo com a entrada de novas formas de diversão e entretenimento. Um bom exemplo são as redes sociais nas quais, cada vez mais os jovens se prendem em frente a uma maquina, e as relações se tornaram de certa forma desassociada do contato físico, do estar presente, do compartilhar, do desenvolver algo coletivo, fatores esses indispensáveis na cultura de um povo, pois fortalece as relações entre os indivíduos compondo assim a unidade desse povo. As culturas populares cumprem bem este papel de fortalecimento social e cultural, sobretudo no auxilio da parte motora do individuo, pois é desenvolvida a parte rítmica com a dança intercalada com sapateado e palmas, a parte da musica propõe uma maneira de se relacionar com o meio social e a vida. No entanto, boa parte da cultura popular vem sendo desprezada por influencias importadas, por isso a necessidade de fortalecer e divulgar mais estas manifestações populares, pois cada vez mais o que vemos é o empobrecimento cultural do povo brasileiro. Povo que cada vez mais consome culturas enlatadas, descartáveis, um povo sem cultura própria é também um povo sem identidade própria. Apesar de sermos formados por uma miscigenação temos que valorizar em primeiro lugar o resultado dessa miscigenação. Catira uma dança pagã ou religiosa? Depende do ponto de vista de quem vê e quem pratica, pois muitos só vão para beber, para competir, ver qual grupo dança melhor, já outros vão pelo espírito religioso as musicas quase sempre retratam o cotidiano. A questão é que a catira está quase sempre presente nas festas religiosas isso fica clara nesta citação (PESSOA, 2005, p. 39). A festa popular é o grande e fecundo momento a nos ensinar que a arte de viver e de compreender a vida que nos envolve está na perfeita integração entre o velho e o novo. Sem o novo, paramos no tempo. Mas sem o velho nos apresentamos ao presente e ao futuro de mãos vazias. Hoje em algumas escolas são desenvolvidos trabalhos com danças populares tais como a catira, nessas escolas os índices de criminalidades e evasão escolar tendem a diminuir 237

quando os jovens se interessam e sentem como parte integrante desse processo temos como resultado de melhoria e convivência social, integração e da sociabilidade, temos o exemplo da escola Municipal de Educação Infantil de Mato Grosso do Sul, que formou um grupo de catira infantil para levar as crianças a conhecerem a catira que é uma dança tradicional do Município e descobrir sua origem praticando a dança (AGUIAR, 1994). As escolas desenvolvem o objetivo de resgatar a catira, pois ela está sendo substituída por danças mais modernas, conscientizar os alunos sobre os seus valores, suas raízes, fortalecendo identidades regionais promovendo atividades que ampliem a curiosidade e criatividade dos alunos despertando os interesses pela dança. Alguns alunos não querem participar da dança, pois acha que é coisa de velho, mas quando veem os ensaios, a coreografia, as roupas, os aplausos de quem assisti a apresentação acaba sendo encantado e começa a participar mostrando um ótimo desenvolvimento tanto nos ensaios quanto na sala de aula. Esses alunos que se recusam a participar no primeiro momento são os que mais dão trabalho em sala, mas quando começa a participar a interagir com os outros alunos se mostram super capazes de aprender, ouvir, obedecer e participar sem agredir ninguém. As escolas que tem um incentivo do governo e dos pais dos alunos para promoverem eventos com danças populares como a catira mostram que além de ser uma forma de lazer para os alunos e para a comunidade é um novo jeito de incentivar os alunos a estudarem, não brigar nas escolas e nem nas ruas, de tirar nota boa, tornando-se um aluno melhor com o conhecimento de onde veio, de suas raízes e principalmente de tentar não deixar essa cultura morrer (GOMES, 2004). Por ser uma dança que lembra a vida do campo ela tem que ser preservada mostrando sua importância artística e cultural. Todas as escolas deveriam incentivar mais a cultura popular para motivar os alunos a buscarem suas raízes e não destruir o que resta da famosa cultura caipira como algumas pessoas chamam os catireiros (DUMAZEDIER, 1973). Além de sua importância como dança a catira é um componente básico na sociabilização do individuo, temos ainda estudos de fisiologistas, ortopedistas, fisioterapeutas e médicos vasculares que apoiam e indicam a pratica da catira em qualquer idade. Os 238

benefícios para quem pratica a dança traz desde um condicionamento cardiovascular a um trabalho anti-stress. Hoje a catira é muito procurada nos grandes centros para amenizar os efeitos da vida moderna. CONCLUSÃO Apesar de sermos um povo que resultou de uma mescla de etnias nessa mistura se formou uma coisa única, estamos ainda buscando nossa própria identidade como povo. Valorizamos demais o que vem de fora, importamos até expressões como country, por que não dizer caipira? Por que negamos tanto nossa cultura se ela é tão rica? Pois foi formada a partir de três matrizes fortíssimas: a europeia, a africana e a indígena. Somos o produto dessa mistura e quando entendermos a importância disto, de trazermos toda a carga cultural que se fundi e se recria, quando sentirmos isto e perdermos o complexo de vira lata seremos um povo com sua diversidade cultural valorizada, coesa, não é só dizer somos brasileiros e nunca desistimos, mas sim sentir e saber o que representa isto. Ao longo do tempo o desenvolvimento da catira vem cumprindo um papel na sociabilização e disseminação cultural do nosso país, sobretudo no fortalecimento mental e bem estar de seus praticantes. Faz-se necessário a preservação e incentivo de culturas populares como a catira que só contribuem no fortalecimento do povo brasileiro como uma unidade social mais completa. A alegria de dançar a catira é uma das formas mais simples e bonita de repassar as tradições dos nossos antepassados e mantê-las vivas em nosso meio, a dança é importante porque ela faz parte da nossa historia de vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AGUIAR, Carmen Maria. Educação, Cultura e Criança. Campinas-SP Ed. Papirus, 1994. CANDIDO, Antonio de Mello e Souza. Parceiros do Rio Bonito, Rio de Janeiro: Ed. 34, 2003. DA MATTA, Roberto. Carnavais, Malandros e Heróis. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1983. 239

DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Ed: Perspectiva, 1973. GOMES, Christiane Luce. Lazer, Recreação e Educação Física. Belo Horizonte: Ed Autêntica, 2004. RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro, A Formação e o Sentido do Brasil, São Paulo: Ed Companhia das letras, 2001. VEBLEN, Thorstein A Teoria da Classe Ociosa. Tradução de Olívia Krähenbühl. In. CIVITA, Victor (editor). Veblen. 2ª Ed. São Paulo. Ed: Abril Cultural, 1985. PESSOA, Jadir de Martins. Saberes em Festa: Gestos de Ensinar e Aprender na Cultura Popular. Goiânia. Ed: UCG/ Kelps, 2005, p. 39. 240