Migração Digital entregue à Empresa da Família Pesidencial



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Transcrição:

BOA GOVERNAÇÃO, TRANSPARÊNCIA E INTEGRIDADE A CONSUMAÇÃO DO ALERTA DO CIP CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA MOÇAMBIQUE Migração Digital entregue à Empresa da Família Pesidencial A Assembleia da República e as três bancadas parlamentares assistiram em silêncio o desenrolar e concretização de um negócio promíscuo, apesar do alerta que o CIP fez em 2011 Por: Borges Nhamirre Quando o Ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthise, assinou na tarde do dia 01 de Abril de 2014 o acordo através do qual o Governo entregava o processo de migração digital da radiodifusão em Moçambique, à empresa do grupo chinês StarTimes, estava apenas a concluir uma etapa de um negócio sem transparência, sem integridade e de demonstração da promiscuidade existente entre os negócios do Estado e negócios privados do chefe do Estado. A arquitectação deste negócio foi denunciada pelo CIP há três anos, mas ninguém se moveu para evitar o que agora está consumado. Há três anos o Centro de Integridade Pública (CIP) denunciava através de um artigo investigativo, que o Governo acabara de criar condições para que a migração digital fosse executada pela StarTimes, empresa onde o chefe do Estado Armando Guebuza detém interesses económicos directos. O artigo do CIP foi publicado no newsletter de 11 de Abril de 2011 e referia claramente que a decisão já havia sido tomado. Com ou sem concurso público, a digitalização da radiodifusão em Moçambique seria feita pela StarTimes. Nenhuma entidade de direito se dignou a fiscalizar este negócio. O Newsletter do CIP, onde o artigo foi publicado, está desde à data, disponível no página web (http:// www.cip.org.mz/cipdoc/98_cip_ Newsletter11.pdf) e foi distribuído via e-mail pelos organismos públicos incluindo aos deputados da Assembleia da República e ao público em geral. Em 2012, o estudo da IBIS- Moçambique 1 voltava, dentre vá- 1 MÁRIO, T. V., CUMBANE, J. C e NUVUGA, S. Impacto da Migração Digital da Radiodifusão no Acesso à Informação em Nº 02 Abril de 2014 SUMÁRIO A CONSUMAÇÃO DO ALERTA DO CIP Migração Digital Entregue à Empresa da Família Pesidencial Pág. 1 a 5 REPUBLICANDO ARTIGO DO CIP DE 2011 Um negócio da China para a família Guebuza Pág. 5 a 11 1

rios aspectos, a fazer alerta sobre a exclusão e secretismo com que o Governo estava a conduzir o processo da migração digital. O estudo foi apresentado e debatido, primeiramente em Maputo e depois em todas as capitais provinciais do país. Foi igualmente distribuído pelos organismos públicos, mas pelo sinal ninguém se interessou do mal que era anunciado. Em resumo: de um modo geral, reina um clima de cepticismo e insegurança geral sobre as possibilidades do País concretizar a transição até Junho de 2015, dada a ausência de progressos visíveis na mobilização de financiamentos, instalação da rede única de infra-estrutura, procurement, compra de equipamentos, ensaios técnicos, etc., sendo este Parlamento apático e oposição à margem do debate Depois da publicação do artigo do CIP sobre a falta de transparência na migração digital, em 2011, o Governo foi ao Parlamento, pelo menos, por oito (8) vezes para, entre outros assuntos, (1) responder às questões das bancadas parlamentares e (2) prestar outras informações solicitadas pelas bancadas parlamentares. Em nenhum momento o Governo foi interpelado sobre o processo da migração digital. Dominado pela Frelimo que detém 291 dos 250 assentos parlamentares, o Parlamento passou ao lado dum dos mais importantes debates nacionais: a migração digital. Apenas a sociedade civil (através do artigo do CIP e do Estudo da IBIS/AGIR) é que levantou questões pertinentes à volta da migração digital e com algum eco na Imprensa privada, mas este esforço revelou-se insuficiente para resultar em acções concretas, porque a Assembleia da República optou por alhear-se dum dos mais importantes assuntos públicos da actualidade com grande impacto no futuro do País. Moçambique ; AGIR, Maputo: 2012 um processo cumulativo que não leva menos de três anos 2, referia o Estudo p. 34. Dentre várias recomendações que o referido estudo fazia, estava a necessidade de reforçar a composição da Comissão de Implementação da Migração da Radiodifusão Analógica para a Digital (COMID), tornando-a mais inclusiva, no sentido de permitir a participação do sector privado e de produtoras independentes; conferir a COMID de autoridade deliberativa suficiente. Esta recomendação veio em resposta à constatação de que o Governo não estava a implementar as recomendações da COMID, uma comissão constituída pelo Governo, integrando representantes da sociedade civil e de estações televisivas privadas, cujo papel era de acompanhar e aconselhar o Governo sobre o processo de migração digital no País. O que está errado neste negócio? A condução do negócio que culminou com a concessão do processo da migração digital à StarTimes enferma de irregularidades que em última enstância irão prejudicar o Estado, cidadãos em geral e o sector privado que trabalha na área de rádio e televisão, em particular. Negócio para a família presidencial A primeira grande irregularidade é que o negócio que vai custar 300 milhões de dólares aos cofres do Estado vai beneficiar directamente à empresa da família do chefe do Estado, a Focus 21 Gestão e Desenvolvimento Limitada, doravante designada por Focus 21. A Focus 21 detém 15% do capital social da Startimes Media Company Mozambique, 2 Cfr. Impacto da Migração Digital da Radiodifusão no Acesso à Informação em Moçambique, p. 34 2

Limitada. O restante 85% do capital social da empresa é detido pela SDTV Holdings, firma registada nas Maurícias. A Focus 21 tem 100 milhões Mts de capital social que é distribuído pelos membros da família do chefe do Estado (ele próprio e seus quatro filhos), obedecendo a seguinte estrutura: a) Armando Emílio Guebuza, com 80%, equivalentes a 80 milhões de meticais b) Armando Ndambi Guebuza, com 5% equivalente a 5 milhões de meticais c) Mussumbuluko Armando Guebuza, com 5% equivalentes a 5 milhões de meticais d) Valentina da Luz Gebuza, com 5%, equivalentes a 5 milhões de meticais e) Norah Armando Guebuza, com 5% equivalentes a 5 milhões de meticais Assim, a concessão do negócio de migração digital à StarTimes beneficia directamente a empresa do Presidente da República, Armando Guebuza, e seus filhos, revelando-se a primeira grande irregularidade no tocante à promiscuidade entre a condução dos negócios do Estado e de negócios privados do chefe do Estado. Sem debate e concurso público não há transparênia Contratação de empreitada sem concurso público. O Governo justificou esta opção alegando que se deveu ao modelo escolhido para custear o processo de migração digital, que impunha a indicação de uma empresa do país que financia o projecto. Optámos pelo financiamento do Banco de Exportações e Importações (EXIM BANK) da China e, por isso, vamos trabalhar com a Startimes Software Technology no processo de migração da radiodifusão, disse o ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse, momentos após assinatura do contrato com a Star Times. O Governo não foi transparente em duas importantes dimensões, primeiro, na não disponibilização de informação e promoção de debate público sobre o processo de migração digital, particularmente em relação ao modelo de migração digital incluindo as opções para o financiamento da operação. Segundo, em relação ao procurement para a contratação da empreitada. Neste processo se impunha a realização de concurso público, depois de transparente definição dos termos de referência da operação incluindo a explicitação dos custos para os cidadãos. O certo é que o negócio milionário foi entregue à empresa StarTimes. Atrasar o processo para evitar concurso Uma personalidade ligada ao processo da digitalização da radiodifusão em Moçambique explicou ao Centro de Integridade Pública sobre o braço de ferro que havia no seio do Governo, pelo menos nos organismos ligados às comunicações sobre a necessidade de se proceder ao lançamento de concurso público para seleccionar a empresa responsável pela migração digital. Entretanto, saiu vencedor o grupo que se opunha ao concurso. Assim, foi se arrastando o processo até agora que é tecnicamente impossível lançar concurso público internacional para seleccionar a empresa; mobilizar o financiamento e ainda garantir a transição do sinal analógico para o digital até Junho de 2015. Qualquer exigência, hoje, para se anular a adjudicacão directa à StarTimes e recorrer-se ao concurso público perde a sua plausibilidade pois levaria mais tempo, pressionando ainda mais os prazos, já apertados. Entretanto, este atraso foi propositado, dado que era do conhecimento do Governo as etapas que o processo devia seguir. Estranha exclusão de operadores privados No dia a seguir à assinatura de contrato de adjudicação do processo de migração digital à StarTimes, três empresas públicas procederam à constituição de empresa que será responsável pela distribuição do sinal da televisão digital. Foi 3

no dia 02 de Abril que a Rádio Moçambique, a Televisão de Moçambique e a Telecomunicações de Moçambique todas empresas públicas - constituíram a empresa de transporte e transmissão de sinal digital. Na prática esta será a empresa que vai controlar, no terreno, todo o processo da distribuição do sinal digital. Estranhamente, os operadores privados de rádio e televisão, que são a maioria no país, ficaram excluídos do processo. Desde a participação na Comissão de Implementação da Migração da Radiodifusão Analógica para a Digital (COMID) que foi insignificante (apenas a STV esteve representada na comissão e reclamou falta de espaço para debate) até ao processo da materialização da migração, os privados foram postos de lado pelo Governo, apesar de serem a maioria. Outro grande problema decorrente desta situação é a concorrência desleal. A TVM é concorrente das outras estações de televisão, mas com a migração digital encontra-se numa situação de provedora de sinal aos demais dada a sua participação na empresa criada para o efeito. Esta empresa distribuidora do sinal terá poderes para apagar, bloquear temporariamente, retardar ou mesmo suspender a emissão de todas as televisões. Numa situação de concorrência isto configura-se grave violação dos princípios de mercado livre. Perspectiva-se uso de infraestruturas públicas pela Star Times A constituição de empresa de trasmissão e distribuição de sinal de televisão digital, que integra somente empresas públicas (TVM, RM, TDM) pode ser apenas uma estratégia cuja finalidade é aproveitar-se das infraestruturas destas empresas públicas já existentes para implantar o negócio da StarTimes. Isto não é novo neste país. Ao se consumar esta estratégia que é o cenário mais provável, à StarTimes caberá apenas trazer a tecnologia digital, sem nenhum investimento significativo em infraestruturas de transporte e distribuição do sinal. Isto será uma clara expropriação do Estado para benefício de famílias ligadas ao poder político, como é o caso da família presidencial. Um negócio à moda da Tata Este tipo de negócio não é a primeira vez que se verifica no mandato de presidente Armando Guebuza. Em 2011 o mesmo Ministério dos Transportes e Comunicações, com Paulo Zucula na direcção, chancelou outro negócio do género e sem concurso publico. O Governo adquiriu à Tata Group da Índia, 150 autocarros movidos à gás. Os autocarros destinavam-se ao transporte público de passageiros pela empresa pública TPM Transporte Público de Maputo. Os 150 autocarros custaram 565 milhões de dólares desembolsados pelo Fundo de Desenvolvimento de Transportes e Comunicações (FDTC), como crédito aos TPM. (http://www.canalmoz.co.mz/hoje/19829-empresa-de-guebuza-vende-autocarros-ao-governo. html) A semelhança entre os dois negócios (Tata da Índia e StarTimes da China) é que a Tata Group detém em Moçambique percentagem significativa da Tata Moçambique, empresa também participada pelo chefe do Estado Armando Emílio Guebuza, em 25%. Do mesmo modo a StarTimes da China detém 85% da StarTimes Mozambique, cujos restantes 15% são da Focus 21, empresa da família Guebuza. Juridicamente, a Tata Group que vendeu autocarros ao Governo, sem concurso, é diferente da Tata Moçambique que é participada pelo chefe do Estado, mas do ponto de vista económico o chefe do Estado tem interesses directos nestes negócios. A Tata Moçambique é a única agência de manutenção, reparação e importação de acessórios para os autocarros adquiridos na Índia. E ao fim do primeiro ano depois de terem chegado a Moçambique, mais da metade dos 150 autocarros encontrava-se avariada. 4

Há uma diferença jurídica nas entidades envolvidas no negócio da migração digital mas economicamente irrelevante Juridicamente, há diferença entre a Startimes Media Company Mozambique, Limitada, a empresa participada pela FOCUS 21 (a empresa da família Presidencial) em 15% e a Startimes Software Tecnology, empresa chinesa, a quem o Governo atribiuiu o contrato millionário sem concurso público que, no acto da assinatura do contrato, esteve represetada pelo Sr. Pang Xinxing, presidente da Star Times Group. Mas esta diferença de natureza jurídica das duas entidades é irrelevante do ponto de vista económico. É que as duas Startimes são do mesmo grupo e o trabalho da venda de decoders será executado pela Startimes Moçambique, a empresa participada pela Focus 21 Isto implica que para além deste contrato millionário, a Focus 21 terá negócio milionário de venda de decoders. REPUBLICANDO ARTIGO DO CIP DE 2011 O duplo papel do Governo na migração da radiodifusão do analógico para o digital: Um negócio da China para a família Guebuza Por: Milton Machel* Negócio fechado! A migração da radiodifusão, do padrão analógico para o digital, chegou a Moçambique como um negócio de interesses privados antes de se salvaguardar o interesse público em torno do processo. O Governo de Moçambique, guardião do interesse público, apadrinhou o negócio entre a firma chinesa StarTimes e a moçambicana Focus 21, holding da família empresarial Armando Emílio Guebuza. Com a mão do Governo e a ausência de legislação sobre a radiodifusão digital no País, a StarTimes assume-se em simultâneo como serviço barato de televisão digital por subscrição e operador do sinal digital, num negócio que opera como monopólio há cinco meses. A migração digital é um imperativo global que conferirá uma melhoria da água para o vinho na qualidade das transmissões televisivas e radiofónicas e permitirá a integração de vários serviços (televisão, rádio, internet, telefonia móvel) em um só terminal, seja ele televisor, computador ou telemóvel. No ano de 2006 em Genebra, no concerto da União Internacional das Telecomunicações, foi estabelecido 2015 como meta para o apagão do sinal analógico em todo o mundo e o início da era digital global nas transmissões televisivas e radiofónicas. À semelhança de muitos países africanos, com atraso tecnológico e fragilidade financeira para custear tão oneroso processo, Moçambique comprometeu-se, mesmo assim, a cumprir essa meta global. O duplo papel do Governo: entre o interesse privado e o público No contra-relógio, o Governo Moçambicano está a conduzir o processo jogando dois papéis distintos 5

em simultâneo: adiantou-se em apadrinhar o interesse privado e está a gerir em banho-maria o interesse público que devia estar em primeiro lugar. Primeiro o interesse público: o Executivo mandatou o Instituto Nacional de Comunicações de Moçambique (INCM) para preparar a regulamentação técnica e estabelecer mecanismos de regulação do sector da radiodifusão digital. É o cumprimento das recomendações e directrizes dos organismos internacionais em que o país está filiado - União Internacional de Telecomunicações (UTI), Associação de Radiodifusão da África Austral (SADIBA) e Associação das Autoridades Reguladoras do Sector das Comunicações da África Austral (CRASA). A criação, adopção e estabelecimento dessas regras está em curso: Em princípios de 2010, o país escolheu adoptar o modelo europeu de radiodifusão digital (DVB-T), em harmonia com os seus vizinhos da zona austral; Em Setembro de 2010, o Governo definiu como uma das acções do seu Plano Económico e Social (PES) para 2011 Migrar do Sistema de televisão analógica para Digital, com a meta específica de ter o Sistema de Televisão Digital Instalado a nível Nacional ; No primeiro semestre deste ano, uma comissão inter-sectorial, criada pelo INCM, produziu um draft da estratégia de migração digital, que terá sido entregue ao Governo em Junho passado e está actualmente em debate público desde Julho. A estratégia de migração digital é o documento que orienta o Governo a produzir legislação que determine os papéis e obrigações de todos os intervenientes no processo: Governo, entidades reguladoras, estações televisivas e radiofónicas, consumidores e seus defensores, potenciais operadores do sinal digital, montadores ou vendedores dos conversores e aparelhos de rádio e televisão digital. Neste conjunto, o Governo deve actuar como: Defensor do direito adquirido de acesso à informação por todos os cidadãos que já escutam rádio e têm acesso aos canais de televisão gratuitos; Promotor do alcance do direito de acesso universal (por todos os cidadãos moçambicanos), sobretudo dos serviços públicos de televisão e rádio; Supervisor da qualidade dos serviços e produtos a serem providos (delegando tal poder às entidades públicas legal e tecnicamente competentes); Guardião da livre e sã concorrência entre os eventuais interessados em explorar o negócio como operadores dos sinais de rádio e de televisão digital e vendedores dos aparelhos receptores de tv e rádio na versão digital. Entretanto, enquanto instruía (senão antes de instruir) o INCM a estabelecer as regras e normas que o próprio aprovará, o Governo apadrinhou o negócio entre a firma chinesa StarTimes e a Focus 21, holding da família Guebuza. Em Junho de 2010, o Primeiro-Ministro Aires Bonifácio Baptista Aly chefiou uma delegação governamental que se portou de armas e bagagens para a China, em busca de financiamento a projectos chamados estruturantes para o desenvolvimento económico e social de Moçambique. No 16 de Junho desse ano, enquanto o país celebrava mais um aniversário do Metical, na China o nosso Executivo assegurava mais Renminbis (divisa chinesa) convertidos em dólares para financiar vários projectos e negociava com o EXIM Bank (Banco de Exportação e Importação) da China o financiamento à digitalização da radiodifusão. Conforme reportou na altura o enviado especial do Jornal O País nessa delegação governamental, 6

O EXIM Bank condicionou o financiamento à entrega a firma chinesa StarTimes Software do projecto de digitalização da rádio e televisão em Moçambique. Abril 2011: Li Changchun, dirigente do Partido Comunista Chinês, aperta a mão ao Presidente Guebuza (Foto: Agência Xinhua) O negócio seria consumado no dia seguinte. Atente-se à esta data: 17 de Junho de 2010. O trecho seguinte da reportagem daquele órgão de informação privado elucidava: O Exim Bank está aberto a financiar o projecto de digitalização da televisão e rádio em Moçambique, sob execução de... uma empresa chinesa. A Star Times Software apresenta-se como uma empresa vocacionada à alta tecnologia, com actuação na prestação de serviços básicos de televisão digital, e está interessada em liderar o processo de digitalização da tv e rádio em Moçambique. Para isso, diz ter contactado o Exim Bank para apoio na implementação do projecto, através da sua inclusão na lista de projectos a beneficiarem de créditos concessionais daquele banco público chinês. O Exim, segundo a Star Times Software, aceita dar esse crédito, mas espera somente que o executivo moçambicano homologue o seu pedido do crédito nesse sentido. Casamento em Pequim, registo civil em Maputo No dia 17 de Junho de 2010, em Pequim, o Primeiro-Ministro de Moçambique reunia-se com o presidente da Star Times Group, Xin Xing Pang. Ainda hoje, o primeiro-ministro moçambicano vai encontrar-se com o presidente deste grupo tecnológico, e desse encontro pode depender o futuro da digitalização da tv e rádio em Moçambique, reportava o Jornal O País desse dia (vide, O País online: http://www.opais.co.mz/index. php/politica/63-politica/7031-governo-quer-construir-edificio-para-conselho-de-ministros.html). Em Maputo, nesse dia 17 de Junho de 2010, Dino Mamudo Foi desafiava a habitual azáfama do segundo andar do Prédio Fonte Azul na Baixa e se apresentava à Conservatória de Registo de Entidades Legais como mandatário para o registo de constituição da StarTimes Mozambique Media Company Limitada. Neste registo, declarava-se como sócios da firma: SDTV Holdings, empresa de direito Maurício ou seja oficialmente domiciliada nas Ilhas Maurícias; e Focus 21 Gestão e Desenvolvimento Limitada, holding da família empresarial Armando Guebuza. Dino Foi representava na sociedade a SDTV Holdings, subscritora de 85 % do capital social da StarTimes Mozambique (fixado em 34 milhões de meticais), enquanto que Valentina Guebuza representava a Focus 21, com 15 por cento. Dino Foi é um dinâmico e emergente jovem (36 anos) formado em gestão de negócios (mestrado) e tecnologias de informação (doutorado) em Taiwan, com ligações à China/Taiwan por via de casamento e pela representação de investimentos de capital chinês em Moçambique e não só, quer como consultor quer como gestor de negócios. Desde Fevereiro de 2010 que ele desempenha a função de Director de Desenvolvimento de Negócios 7

da Focus 21, a associada da SDTV Holdings que ele representou na altura da constituição da StarTimes Moçambicana. Valentina Guebuza, filha mais nova de Armando Emílio Guebuza, é uma das sócias da Focus 21 junto com seu pai e seus irmãos Norah Armando Guebuza (primogénita) e Armando Ndambi Guebuza. de 2010 devido a esta coincidência: em Pequim, o número dois do Governo de Armando Guebuza se reunia com o Presidente da StarTimes-mãe; e em Maputo era registada a StarTimes Moçambicana na qual participa a firma Focus 21, da família empresarial Guebuza. Advertimos aos incautos que Maputo e Pequim estão em fusos horários diferentes, com seis horas de avanço para a capital Moçambicana. O que significa que o registo legal da StarTimes Mozambique Media Company ocorreu horas antes ou então na altura em que o Primeiro-Ministro de Moçambique se reunia com o presidente da StarTimes Software em Pequim. Metaforicamente, pode-se dizer que o casamento se celebrou em Pequim e o seu registo civil em Maputo. 17 de Junho de 2010: PM Aires Aly cumprimenta PM chinês Wen Jiabao (Foto: Agência Xinhua) A StarTimes tem como objecto social: a) Serviço básico de televisão digital; b) Serviço de televisão digital por subscrição; c) Digitalização do sinal de rádio e televisão; d) Transmissão do sinal de rádio e televisão; e) Serviços de multimédia móvel; f) Produção de publicidade de televisão; g) Serviço de internet de banda larga; h) Todo tipo de serviços de valor adicional baseado nos sistemas acima mencionados; i) Venda de terminais para televisão digital e internet; j) Serviço de informação do canal; k) Consultoria técnica; e l) Outras actividades subsidiárias e afins a actividade, desde que não contrariem a legislação moçambicana, após deliberação da assembleia geral. Chamámos atenção acima à esse dia 17 de Junho Plano Económico e Social 2011: Migrar do sistema de televisão analógica para digital Com a mão do Governo, aproveitando-se da inexistência de legislação sobre a digitalização da televisão e rádio no país, a StarTimes de Moçambique obteve licença do Gabinete de Informação (GABINFO) para lançar um serviço de televisão digital pré-paga. Este serviço, automaticamente conversor do sinal analógico para o digital, confere-lhe em simultâneo a qualidade de operador (ainda não licenciado) de transporte do sinal digital. O GABINFO subordina-se directamente ao Gabinete do Primeiro-Ministro, lembre-se. Meses depois, em Setembro de 2010, o Governo aprovou o Plano Económico e Social (PES) para 2011. No PES ora em implementação está muito bem definido este Objectivo do Programa de Desenvolvimento de Comunicações: Promover o desenvolvimento do Sector Postal e de Telecomunicações, Visando o acesso Universal, 8

num ambiente competitivo, com qualidade aceite pelos Cidadãos. A Acção/Actividade número um deste programa é precisamente: Migrar do Sistema de televisão analógica para Digital, com a Meta Física o Sistema de Televisão Digital Instalado a nível Nacional (vide página 116 do PES 2011, consultável no portal da Direcção Nacional de Orçamento em: http://www.dno.gov.mz/docs/pes/proposta_ PES_2011%20VERSÃO%20AR.pdf). Assume-se que - pelos princípios gerais de planificação e orçamentação de Estado e boas práticas de gestão e transparência governativa - as Acções previstas no PES têm a sua correspondência no Orçamento de Estado (OE). Abril 2011: PM Aires Aly reunido com líder do PCC em Maputo (Foto: Agência Xinhua) Ou seja, a Migração do Sistema de televisão analógica para Digital tem de ter cabimento orçamental e deve fazer parte da rubrica Despesas de Investimento do OE 2011. Na primeira versão do OE 2011 as Despesas de Investimento foram fixadas em 60 mil milhões de meticais e no OE Rectificativo em 64 mil milhões de meticais. O que isto significa para o assunto em questão? O Governo tem dinheiro para realizar a migração digital, só não se sabe quanto. As questões que daí nascem são: está ou não o Governo a realizar a migração digital, por ora da televisão? Se sim, como o está a fazer? Não estará já a fazê-lo via StarTimes? Conselho de Ministros discute migração digital, StarTimes implementa Recuemos alguns meses no calendário de 2011. Dito melhor, avancemos mais uns meses na cronologia desta matéria: no dia 19 de Abril de 2011, o Conselho de Ministros realizou a sua 13.ª Sessão Ordinária em que discutiu a questão da migração digital. (vide Comunicado do Secretariado do Conselho de Ministros, consultável no Portal do Governo, aqui: http://www.portaldogoverno.gov.mz/comunicados/ Comunicado%20da%2013SOCM11.pdf). Lembram-se da coincidência do dia (17 de Junho de 2010) entre a reunião do Primeiro-Ministro com o Presidente da StarTimes-mãe, em Pequim, e o registo da StarTimes Mozambique, em Maputo? Segue mais uma: coincidentemente, nessa semana da 13ª Sessão do Conselho de Ministros, chegava a Moçambique uma delegação do Comité Central do Partido Comunista Chinês (PCC), Partido- Governo-Estado da China. A que veio essa delegação do PCC, o partido político mais poderoso do mundo? Um informe da pública Agência de Informação de Moçambique (AIM) do mesmo dia 19 de Abril, e publicado no Portal do Governo, permite-nos refrescar a memória. A missão do Partido Comunista da China vinha assinar vários acordos de cooperação nos vários domínios. Recorde o registo na íntegra aqui: http:// www.portaldogoverno.gov.mz/noticias/news_folder_econom_neg/abril-2011/missao-do-partido-comunista-chines-visita-mocambique/. No final da visita, foram seis os acordos de cooperação assinados. Já não sendo mera coincidência, na sexta-feira dessa semana, dia 22, era inaugurada a loja da 9

StarTimes de Moçambique e se lançava o serviço de televisão digital terrestre no país, conforme na altura reportou a generalidade da imprensa nacional e internacional. Quem esteve no evento e quais foram os soundbytes de ocasião? Presenças notáveis: Do lado chinês, chefe da delegação, o membro permanente do Bureau Político do Comité Central do Partido Comunista da China (Li Changchun), o ministro da cultura (Liu Binjie), o vice-ministro do Comércio (Zhong Shane) e outros membros do governo e do PCC; Do lado governamental moçambicano, o Ministro dos Transportes e Comunicações (Paulo Zucula), o Ministro da Ciência e Tecnologia (Venâncio Massingue), a Governadora da Cidade de Maputo (Lucília Hama); Do lado business nacional, Valentina Guebuza, PCA da Focus 21 e PCA da StarTimes Mozambique. Soundbytes? Esperamos digitalizar até 2013 cerca de 75 por cento das televisões em Moçambique ; Televisão Digital é para todos assim foi citada pela imprensa nacional e internacional a incontornável nova figura de cartaz do cenário empresarial moçambicano: Valentina Da Luz Guebuza. Voltamos a perguntar: será que a StarTimes está a implementar a actividade do Plano Económico e Social do Governo para 2011 de digitalizar o sinal da televisão? Será que o Governo (ven)deu aquele objectivo de políticas públicas a este interesse privado? Até hoje o Governo não divulgou publicamente qualquer informação sobre algum tipo de ligação ou acordo com a StarTimes Group (chinesa) ou StarTimes Mozambique, apesar dos encontros de Pequim aqui relatados e a presença governamental no lançamento da firma. Seja como for, a StarTimes diz estar a investir mais de 140 milhões de dólares na digitalização da televisão em Moçambique, convertendo o sinal das estações televisivas nacionais TVM (pública), STV, TIM, Miramar, Maná. Estes canais são parte do bouquet de 30 canais do serviço mais barato de TV digital no país (os outros provedores de TV digital são por cabo e por satélite). Presidente da StarTimes Xin Xing Pang (Foto: Agência Xinhua) Em menos de seis meses de operações, a um custo de 1500 meticais de adesão e uma subscrição mensal de 300 meticais, a auto-intitulada TV pré-paga digital mais económica do mercado já reclama ter mais de 20 mil clientes só em Maputo e tem expectativa de que todas as famílias Moçambicanas conseguirão ter acesso à televisão digital terrestre. Tornaremos acessível para cada família em Moçambique comprar TV digital, utilizar TV digital, fazer o melhor uso da TV digital e desfrutar da conveniência da TV digital - são palavras do Director Geral da StarTimes Mozambique, Wu 10

Yaobin, citado pelo canal de televisão chinês CCT em entrevista-propaganda que explicita a estratégia de marketing da StarTimes (vide: http://newscontent.cctv.com/news.jsp?fileid=110671). Uma vez que o negócio chegou antes da legislação/regulação e tem como padrinho o Governo, cabe-nos questionar: haverá igualdade de oportunidades para (que surjam) outros operadores do sinal digital, conforme recomenda a estratégia de migração digital? Poderá o Governo salvaguardar os interesses do público consumidor na era digital (não exclusão no acesso à informação via rádio e televisão e qualidade do serviço prestado e produtos fornecidos) se estes entrarem em conflito com o negócio da StarTimes? A resposta a estas perguntas significa tão só o Governo cumprir a sua promessa de 2011: Promover o desenvolvimento do Sector Postal e de Telecomunicações, Visando o acesso Universal, num ambiente competitivo, com qualidade aceite pelos Cidadãos. *Milton Machel foi pesquisador do CIP autor do texto publicado em 2011, estando agora desvinculado à organização. Outras leituras e fontes de referência Para entender a Televisão Digital Terrestre em Moçambique, em África e no Mundo: 1. Jornal O País online: Aires Ali coloca migração tecnológica nas prioridades, url: http://opais. sapo.mz/index.php/politica/63-politica/5402- aires-ali-coloca-migracao-tecnologica-nasprioridades.html 2. Jornal @Verdade online: Vai nascer uma nova Televisão: a Televisão Digital Terrestre, url: http://www.averdadeonline.com/tema-defundo/35-themadefundo/15674-vai-nasceruma-nova-televisao-a-televisao-digital-terrestre 3. Jornal O País online: Transição para o digital será feita por zonas, url: http://opais.sapo.mz/ index.php/economia/38-economia/11869- transicao-para-o-digital-sera-feita-por-zonas. html 4. Beyond Broadcasting: the future of stateowned broadcasters in Southern Africa. Guy Berger et alia Fackson Banda, Jane Duncan, Rashweat Mukundu & Zenaida Machado. Highway Africa, September 2009. 5. Draft Plan of Action For Digital Broadcasting Migration in SADC. The Mauritius Working Forum on SADC Digital Broadcasting Migration. September 2009. 6. Resultado da sessão especial sobre normas de Televisão Digital Terrestre. SADC, Lusaka. Novembro 2010 7. Guidelines ICT Consumer Protection In Southern Africa - Bill Of Rights in Southern Africa Draft. CRASA. Lesotho. June 2010 8. Delivering your digital migration strategy - 5th Annual Digital Broadcasting Switchover Forum 2010. Commonwealth Telecommunications Organisation. Sandton, Johannesburg, South Africa. April 2010. 9. Os bastidores da TV digital terrestre em Portugal: actores políticos e económicos. Sergio Denicoli, Helena Sousa. Universidade do Minho. Maio 2008 10. Africa s bumpy road to the digital transition in broadcasting issues that have to be faced. Newsletter Broadcast, Issue no. 108-7 July 2011, url: http://www.balancingact-africa.com/ category/newsletter/newsletter-broadcast 11. MÁRIO, T. V., CUMBANE, J. C e NUVUGA, S. Impacto da Migração Digital da Radiodifusão no Acesso à Informação em Moçambique ; AGIR, Maputo: 2012 12. BR_27_III_SERIE_2o_SUPLEMENTO_2010 13. BR_50_III_SERIE_4.o SUPLEMENTO_2012 11

Anexo 1 12

Anexo 2 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE SECRETARIADO DO CONSELHO DE MINISTROS Aos Órgãos de Informação O Conselho de Ministros realizou, no dia 19 de Abril de 2011, a sua 13.ª Sessão Ordinária. Nesta Sessão, o Governo apreciou e aprovou os seguintes diplomas legais: Decreto que aprova o Regulamento do Exercício da Actividade de Despacho Aduaneiro de Mercadorias. Decreto que aprova o Estatuto da Câmara dos Despachantes Aduaneiros de Moçambique. O Estatuto da Câmara dos Despachantes Aduaneiros de Moçambique dá particular realce aos aspectos relativos aos direitos, deveres, incompatibilidades e deontologia profissional dos despachantes aduaneiros, ao funcionamento democrático dos diversos órgãos sociais da Câmara dos Despachantes Aduaneiros de Moçambique, bem como os respectivos regimes financeiro e disciplinar. Decreto que aprova o Regulamento do Decreto-Lei n.º 2/2010, de 31 de Dezembro, que estabelece as disposições que regem a actividade de Metrologia no País; O Governo apreciou e aprovou, ainda, o Relatório da Comissão Liquidatária do GPZ e a Criação de um Grupo Técnico Multissectorial Permanente para a Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais. Ainda nesta Sessão, o Conselho de Ministros apreciou as informações sobre: A Análise da Sustentabilidade da Dívida; O Projecto Pro-Savana, programa integrado de desenvolvimento agrário, nas Províncias de Nampula, Niassa e Zambézia; A reestruturação da PETROMOC e sobre a operacionalização da CNELEC; O processo de validação da candidatura de Moçambique à Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva (ITIE); A migração do sistema analógico para o digital; A cerimónia de inauguração do Estádio Nacional de Zimpeto; A realização em 2012, em Moçambique, da 22.ª Reunião do Conselho de Ministros do Grupo de Prevenção e Combate ao Branqueamento de Capitais (ESSAMLG). Maputo, 19 de Abril de 2011 13

Boa Governação, Transparência e Integridade FICHA TÉCNICA DFID Department for International Development Director: Adriano Nuvunga Equipa técnica do CIP: Baltazar Fael; Fatima Mimbire; Lázaro Mabunda; Borges Nhamire; Stélio Bila; Edson Cortes; Jorge Matine; Bem Hur; Teles Ribeiro; Nelia Nhacume Layout & Montagem: Nelton Gemo Endereço: Rua Frente de Libertação de Moçambique (ex-pereira do Lago), 354 r/c, Maputo - Moçambique Contactos: Tel.: (+258) 21 492 335, Fax: (+258) 21 492 340, Cel: (+258) 82 301 6391, Caixa Postal: 3266, E-mail: cip@cip.org.mz Website: http://www.cip.org.mz Registo nº 020/GABINFO-DEC/2007 16