Química 12º Ano. Unidade 2 Combustíveis, Energia e Ambiente. Actividades de Projecto Laboratorial. Janeiro 2005. Jorge R. Frade, Ana Teresa Paiva



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Efeitos da composição em temperaturas de fusão e de ebulição Química 12º Ano Unidade 2 Combustíveis, Energia e Ambiente Actividades de Projecto Laboratorial Janeiro 2005 Jorge R. Frade, Ana Teresa Paiva Dep. Eng. Cerâmica e do Vidro Universidade de Aveiro

1. Objectivos: - Medir as temperaturas de fusão e de vaporização de algumas substâncias puras. - Verificar que as temperaturas de fusão e de vaporização de substâncias puras não se alteram enquanto persiste a transformação. - Verificar efeitos da composição nas temperaturas de fusão e vaporização. - Verificar variações da temperatura de ebulição durante a vaporização de soluções de dois componentes e relacionar estas variações com a operação industrial de separação por destilação. 2. Fundamentos Uma substância pura funde a determinada temperatura que permanece constante enquanto co-existirem o sólido e o líquido. Por exemplo, a temperatura num recipiente contendo água e gelo permanecerá constante enquanto coexistirem o gelo e a água. De igual modo, um termómetro indicará uma temperatura constante (100ºC) na água em ebulição, independentemente da quantidade de água restante. Contudo, as temperaturas de fusão e de vaporização variam de substância para substância. As soluções contendo dois ou mais componentes apresentam um comportamento mais complexo do que o comportamento de substâncias puras. Por exemplo, a temperatura de vaporização de soluções aquosas de álcool etílico baixa relativamente à vaporização da água pura e depende da % de etanol na solução (Fig.1). Além disso, o etanol é mais volátil do que a água, originando um vapor mais rico em álcool. Este efeito é o princípio da destilação, com larga utilização na indústria química. A adição de solutos não voláteis tais como a sacarose (açúcar de cozinha) ou o cloreto de sódio (sal de cozinha) provoca efeitos bastante diferentes, isto é, i) aumento de temperatura de ebulição, ii) vaporização selectiva da água, e iii) aumento de concentração do soluto. Quando a solubilidade do soluto é limitada, a vaporização do solvente origina precipitação do excesso de soluto. Neste caso, a temperatura de ebulição deixa de variar a partir do instante em que se inicia a precipitação de soluto. O ponto de fusão também se altera com a composição. Por exemplo, a adição de sal de cozinha sobre um cubo de gelo provoca fusão na zona onde se adiciona o sal. Quanto mais elevada for a concentração de sal, mais baixo o ponto de fusão. A adição de etanol exerce um efeito oposto sobre a temperatura de fusão. Por isso, uma bebida com baixo teor alcoólico (p.e. cerveja) congela mais facilmente numa arca frigorífica do que bebidas com elevado teor alcoólico (p.e. aguardentes).

100 Teb (ºC) 95 90 85 80 Líquido vapor 75 0 20 40 60 80 100 % peso Fig.1: Variação da temperatura de ebulição de soluções aquosas de álcool etílico em função da % peso de álcool no líquido residual e no vapor que se vai libertando. 3. Equipamento, materiais e reagentes - Sacarose (ou açúcar de cozinha) - Cloreto de sódio (ou sal de cozinha) - Álcool etílico concentrado (p.e. a 96%) - Vinagre (ou, em alternativa, etilenoglicol a 10%) - Recipientes ou sacos de preparação de gelo - Frigorífico - Termómetro graduado com a gama de -10ºC a 150ºC - Placa de aquecimento - Areia limpa.

4. Procedimento experimental 1. Prepare cada uma das seguintes soluções aquosas: 1a) 100 ml de solução de sacarose (ou açúcar) com concentração 10 g/100ml; 1b) 100 ml de solução de sacarose (ou açúcar) com concentração 20 g/100ml; 1c) 100 ml de solução de NaCl (ou sal de cozinha) com concentração de 5g/100ml; 1d) 100 ml de vinagre, correspondente a uma solução de ácido acético a 6%. 1e) 200 ml de solução de etanol a 48%vol a partir de uma embalagem a 96%Vol (*); 1f) 200 ml de solução de etanol a 24%vol (*); 1g) 200 ml de solução de etanol a 12%vol (*). 2. Encha uma embalagem de sacos de preparação de gelo com água e outras embalagens com cada uma das soluções 1a); 1b) e 1c). Introduza as diferentes amostras num congelador. Deixe congelar durante pelo menos 6 horas, ou até à próxima aula. 3. Introduza água num copo de 100 ml e aqueça com a resistência (ou placa) de aquecimento até que se inicie a formação de bolas de vapor. Adicione uns grãos de areia e verifique que os mesmos favorecem a nucleação das bolhas de vapor. Registe a temperatura com termómetro e verifique que a temperatura de ebulição da água permanece constante. 4. Aqueça cada uma das soluções 1d), 1f) e 1g) até à ebulição, agitando com uma vareta, para homogeneizar a temperatura, e utilizando areia para favorecer a nucleação. Efectue a leitura da temperatura de ebulição logo que se verifique a formação e libertação de bolhas volumosas (i.e., com alguns milímetros de diâmetro. Verifique os efeitos dos solutos e do seu teor na temperatura de ebulição e compare os seus resultados com os dados apresentados na Fig.1, recorrendo à Tabela I para converter as suas % vol. em % peso. 5. Aqueça os 200 ml da solução 1e), com agitação para homogeneizar a temperatura e areia para facilitar a nucleação. Registe a temperatura logo que ocorra formação de bolhas com alguns milímetros. Mantenha em ebulição e faça outras medições de temperatura, com intervalos de tempo de 5 minutos entre medidas, até que o volume da solução diminua para cerca de metade do volume inicial. 6. Verifique que ocorreu variação da temperatura de ebulição durante a vaporização e relacione essa variação com alterações na composição do líquido residual. Verifique que este efeito constitui o princípio fundamental da separação por destilação.

7. Retire a embalagem de cubos de gelo para um copo de vidro, aguarde até que surja líquido e meça a temperatura com um termómetro. 8. Repita as medições de temperatura com intervalos de tempo de 5 minutos e verifique que não ocorre variação significativa da temperatura até à fusão completa do gelo. 9. Repita o passo 7 com amostras das restantes embalagens preparadas no passo 2. 10. Retire um cubo de gelo, coloque-o sobre uma superfície de vidro e disponha a parte inferior de uma linha sobre o cubo, enquanto segura a outra extremidade. Verta sal fino em cima do cubo de gelo, na zona onde se situa a linha, espere cerca de 1 minuto. Verifique que o gelo aderiu ao fio e suspenda-o com o auxílio deste. Explique tendo em conta o efeito do sal na temperatura de fusão da água. Tabela I. Relação entre os valores de % peso e % vol. de soluções aquosas de etanol. %vol %peso %vol %peso %vol %peso %vol %peso %vol %peso 0 0.0 20 16.4 40 33.3 60 52.0 80 73.7 1 0.7 21 17.2 41 34.2 61 53.0 81 74.9 2 1.5 22 18.0 42 35.1 62 54.0 82 76.0 3 2.3 23 18.9 43 36.0 63 55.0 83 77.3 4 3.2 24 19.7 44 36.9 64 56.1 84 78.5 5 4.0 25 20.5 45 37.8 65 57.1 85 79.7 6 4.8 26 21.4 46 38.7 66 58.1 86 80.9 7 5.7 27 22.2 47 39.6 67 59.2 87 82.2 8 6.5 28 23.0 48 40.5 68 60.2 88 83.5 9 7.3 29 23.9 49 41.5 69 61.3 89 84.7 10 8.1 30 24.7 50 42.4 70 62.4 90 86.0 11 9.0 31 25.6 51 43.3 71 63.5 91 87.3 12 9.8 32 26.4 52 44.3 72 64.6 92 88.6 13 10.6 33 27.3 53 45.2 73 65.7 93 90.0 14 11.4 34 28.1 54 46.1 74 66.8 94 91.3 15 12.3 35 29.0 55 47.1 75 67.9 95 92.7 16 13.1 36 29.9 56 48.1 76 69.0 96 94.0 17 13.9 37 30.7 57 49.0 77 70.2 97 95.4 18 14.7 38 31.6 58 50.0 78 71.3 98 96.8 19 15.6 39 32.5 59 51.0 79 72.5 99 98.2 20 16.4 40 33.3 60 52.0 80 73.7 100 100.0