1 Comunicação X Saúde = Possibilidades Elizabeth Regina Jesumary Gonçalves Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino de São João da Boa Vista - UNIFAE. Resumo A idéia que norteia este estudo é a de colocar a importância da comunicação da saúde na região de São João da Boa Vista. A pesquisa foi realizada entre alunos de 15 municípios, que viajam diariamente para cursarem a graduação no UNIFAE. Foi comprovada a incomunicação entre usuários e agentes no sistema de saúde destas cidades, e detectados conflitos, barreiras e ruídos. Constatou-se, também, a carência de veículos comunicacionais que trabalhem a questão da saúde do cidadão nesses municípios. Palavras-Chave: comunicação, saúde,barreiras,ruídos,conflitos,possibilidades. Introdução Para abordarmos o tema saúde, precisamos ir muito além das técnicas da comunicação social. Por tratar-se de um assunto multidisciplinar, exige a cooperação de uma universidade de conhecimentos, arcabouços de conhecimentos e técnicas. E, dentro do temário proposto para a IX Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde( COMSAÚDE), um dos desmembramentos temáticos que nos atraiu foi A (in) comunicação entre usuários e agentes nos sistemas de saúde : barreiras,ruídos,conflitos, que caiu como uma luva para a pesquisa realizada em 2005, no UNIFAE, atendendo ao pedido da Diretoria de Saúde do Município de São João da Boa Vista. Uma vez que os Direitos Humanos, decorrentes da própria humanidade, apregoam que saúde é um dos direitos inerentes à dignidade das pessoas, a saúde é uma condição indispensável para que os seres humanos gozem de seus outros direitos como: estudar, trabalhar, informarse e ter uma vida digna. De acordo com a Constituição Federativa do Brasil, a saúde é direito de todos e dever do Estado, enquanto acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da mesma. "São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado". Concomitantemente, existe, ainda, o
2 irrefutável direito do cidadão à informação, assegurado pela Constituição Federal, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5º, inciso XIV). "É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional". De acordo com o art. 5º, inciso XXXII, "todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas nos prazos da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Oferecer boa qualidade de informação e satisfazer às necessidades de consumo do cidadão com um produto fidedigno. Ter ética, no que se refere à saúde, é ter um compromisso firmado com a manutenção e preservação da vida dos cidadãos e informar em prol do bem. É preciso ser funcional. Por em prática, informação, prevenção, educação e utilidade pública com intuito de prevenir e erradicar doenças da população. Sabe-se que pessoas bem informadas sobre saúde se cuidam mais e procuram fazer mais consultas médicas, seja pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por convênios particulares. Com o acesso à informação, há uma preocupação maior por parte da população com a qualidade de vida e, conseqüentemente, uma significativa diminuição no número de mortes causadas por desconhecimento. Portanto, esta iniciativa em mensurar informações básicas sobre saúde e sistemas de saúde, passou a ser um primeiro passo da Diretoria de Saúde do município onde está instalado o Centro Universitário UNIFAE. Objetivos Comprovar a (in) comunicação entre usuários e agentes nos sistemas de saúde da região de São João da Boa Vista, através de uma amostra significativa (estudantes universitários do UNIFAE), ausência de informação sobre saúde pela mídia regional. Metodologia Em setembro de 2005, realizamos o primeiro estudo exploratório que veio mensurar o conhecimento de (66) acadêmicos do UNIFAE, dos cursos de Comunicação Siocial-habilitação em Publicidade & Propaganda e Jornalismo; Educação Física; Fisioterapia sobre como é comunicada a saúde em 15 cidades de procedência dos mesmos. Em primeiro lugar foi realizado um levantamento bibliográfico relativo ao tema, para a identificação e conceituação do problema. Em seguida foi aplicado um questionário com dezessete questões que versaram sobre o conhecimento básico do Sistema Único de Saúde
3 SUS, as mídias que abordavam o tema saúde em suas cidades e a possível existência de projetos midiáticos sobre o tema pesquisado. No curso de educação física aplicamos os questionários em alunos dos 3º anos ( noturno e diurno) e nos alunos do 6º e 8º semestres de iniciação científica. Alunos do 2º semestre noturno e 4º semestre matutino do curso de Fisioterapia ; Alunos do 1º ano de Publicidade & Propaganda e Jornalismo do curso de Comunicação Social. A maioria dos questionados, utilizavam serviços médicos do Sistema Único de Saúde- SUS, não possuindo plano particular.as suas cidades de origem foram: Poços de Caldas-MG; São João da Boa Vista SP; Itapira-SP; Andradas-MG; Vargem Grande do Sul-SP; Mogi Mirim-SP; Mogi Guaçu-SP; Casa Branca-SP; São Sebastião da Grama-SP:1 aluno; Mococa-SP:1 aluno;aguaí-sp:1 aluno ; Caldas-MG:1 aluno ;Tambaú-SP: 1 aluno; Arceburgo-MG; Águas da Prata-SP.Provenientes dos cursos de Comunicação Social-habilitação em Publicidade & Propaganda e Jornalismo; Educação Física e Fisioterapia, a faixa etária dos alunos pesquisados variou entre 17 e 40 anos de idade, ambos os sexos. Em seguida, os dados foram agrupados, analisados e percentualizados. Os gráficos abaixo mostram claramente os resultados obtidos com esta pesquisa.
4 Verificação do número absoluto de Jornais (com artigos regulares sobre saúde) citados pelos alunos entrevistados, em cada município 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Aceburgo Águas da Prata Aguaí Andradas Caldas Casa Branca Itapira Mogi-Guaçu Mogi - Mirim Poços de Caldas S.S da Grama Mococa Tambaú Vargem gde SJBV
5 Percentual de alunos que conhecem e desconhecem a sigla SUS 15,15% 84,85% Conhecem Desconhecem
6 Percentual da existência de Programas de Rádio sobre Saúde nas cidades dos alunos entrevistados 12,12% Apenas 1 programa (público - alvo: donas de casa) 87,88% Existe Não soube
7 Percentual da existência de Programas de TV sobre Saúde nas cidades dos alunos entrevistados 6,06% Programas : - Saúde - Região 2000 93,94% Existe Não existe
8 Verificação do entendimento dos alunos entrevistados a respeito do direito de atendimento no SUS (em porcentagem) 7,57% 9,10% 83,33% Universal Apenas a população carente Os que não possuem Plano de Saúde
9 Verificação do entendimento dos alunos entrevistados a respeito da competência das esferas de manutenção do SUS (em %) Governo Municipal 1,52% Governo Estadual 1,52% Governo Federal 15,15% As três esferas 81,81% 0% 20% 40% 60% 80% 100%
10 Verificação do conhecimento dos Serviços oferecidos pelo SUS nos municípios dos alunos entrevistados (em porcentagem) 16,64% 83,36% Conhece Desconhece
11 Verificação do conhecimento dos alunos a respeito da sigla PSF e funcionamento do serviço (em porcentagem) 18,19% Conhece 81,81% Desconhece
12 Verificação do conhecimento dos alunos a respeito das situações de procura da Unidade de Saúde e do Pronto-Socorro (em %) 28,78% 71,22% Conhece Desconhece
13 Verificação a respeito dos meios de comunicação que informam sobre o Sistema Municipal de Saúde (em porcentagem) 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 40,90% 40,90% 12,12% 3,04% 3,04% Nenhum Internet Impressos Rádio e TV Boca a boca
14 Verificação do percentual de alunos que comentaram ou não sobre a Comunicação da Saúde em seu município Comentários : -deficiente - precária - vergonhosa - péssima 37,88% 62,12% Não comentaram Comentaram
15 Percentual de alunos que tinham sugestões sobre Comunicação da Saúde em seus municípios 28,78% Sugestões: - Pressionar esferas Governamentais - Divulgação via mídia 71,22% Nenhuma sugestão - Parceria com Universidade - Promoção de palestras em Escolas de 1º e 2º grau Alguma sugestão
16 Verificação da utilização do SUS pelos alunos entrevistados (em porcentagem) 32% 50% 18% Uso regular Não usam Uso esporádico CONCLUSÕES: A interpretação dos dados obtidos nesta pesquisa feita entre alunos universitários do UNIFAE, estudantes do terceiro grau, revelou-nos o seguinte: -Na verificação do número absoluto de 45 jornais dos 15 municípios aparecem artigos regulares sobre saúde, entretanto, 15,15% destes alunos desconhecem a sigla SUS. Apenas 84,85% dos alunos entrevistados mostraram-se conhecedores. -Em relação a programas de Rádio que abordem o tema saúde, 12,12% responderam que conheciam apenas 1 programa, dirigido às donas de casa e 87,88% dos alunos desconheciam qualquer programa de rádio sobre saúde na região. -Sobre programas de TV veiculados na região, 6,6% declararam a existência de pouquíssimos, mas 93,94% afirmaram a não existência. -Surpreendeu-nos o resultado da verificação do entendimento a respeito do direito de atendimento no SUS, principalmente por tratar-se de um público universitário. Portanto, 7,57% dos alunos entendiam que apenas os que não possuíam planos de saúde tinham direito de
17 recorrer ao Sistema Único de Saúde.Um total de 83,33% respondeu que todo mundo tem direito e 9,10% entende que só a população carente tem direito. -Sobre a competência das esferas de manutenção do SUS 1,52% atribuíram apenas ao Governo Municipal as responsabilidades. E, 1,52%,apenas ao Governo Estadual, bem como, 15,15% apenas ao Governo Federal. Os 81,81% atribuíram às 3 esferas as responsabilidades da manutenção do SUS. -A verificação do conhecimento a respeito da sigla PSF e sobre o funcionamento dos serviços revelou que 81,81% desconhecem totalmente o que é e como se processa, e 18,19% dos entrevistados demonstraram conhecimento. -Quanto às situações de procura da Unidade de Saúde e do Pronto Socorro, 71,22% dos alunos universitários do UNIFAE declararam desconhecer o procedimento de utilização adequada das Unidades de Saúde e dos Prontos Socorros. E, 28,78% afirmaram conhecer as maneiras e procedimentos corretos de utilização. -A verificação a respeito dos meios de comunicação que informem sobre o Sistema Municipal de Saúde é o seguinte: 3,04% afirmaram que o método boca-a-boca é o mais usual; Rádios e emissoras de TV foram apontadas por 12,12% dos pesquisados. 40% dos alunos citaram os impressos; 3,04% mencionaram a internet e 40,90% responderam que nenhum meio mencionado informa sobre questões de saúde e sobre o Sistema Único de Saúde. -Ao serem estimulados a comentar sobre a comunicação da saúde em seus municípios, 37,88% afirmaram ser deficiente e até mesmo péssima. E 62,12% optaram por não comentar. Deixaram a questão em branco. -Para aqueles que tinham sugestões a fazer, 28,78 % sugeriram: pressionar as esferas governamentais, divulgar os problemas e soluções pela mídia, promover palestras em escolas de primeiro e segundo grau e pedir ajuda para Universidades locais na melhoria da comunicação da saúde. Mas, dentro do mesmo questionamento, 71,22% deixaram esta questão em branco, levantando possibilidades e hipóteses a serem pesquisadas ainda mais. -Apenas para concluirmos o cenário, 50% dos entrevistados dependem totalmente e usam o SUS por não possuírem nenhum convênio médico para si e seus familiares. Por outro lado, 32% usa esporadicamente, quando precisam de alguns serviços apenas, e 18% possuem convênio médico particular e, portanto não usam.
18 Referências bibliográficas CONSTITUIÇÂO FEDERAL DO BRASIL. BELTRAN,L.R.La importância de la comuicación em la promoción de la salud.comunicação & Sociedade.São Bernardo do Campo:PósCom-Umesp,n.35,p139-158,2001. BUENO, Wilson da Costa. Comunicação para a saúde: uma experiência brasileira. São Paulo, Editora Plêiade/Unimed Amparo, 1.996. EPSTEIN, Isaac. Mídia e saúde. Adamantina/SP, Unesco-UMESP/FAI, 2.001. de uma relação delicada. São Paulo, T. A. Queiroz, 2002. KUCINSKI, B.A ética na informação da saúde.comunicação e saúde comunitária. Anais da ComsaúdeII-1999.Adamantina:Cátedra Unesco-Umesp/fAI-Faculdades Adamantinenses Integradas,2001.No prelo.