Arquivos Catarinenses de Medicina. Antônio Bedin 1, Harry Kleinubing Junior 2, Patrícia Constantini Kreling 3. Abstract



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Arquivos Catarinenses de Medicina ISSN (impresso) 0004-2773 ISSN (online) 1806-4280 ARTIGO ORIGINAL Anestesia para cirurgia experimental em coelhos Anesthesia for experimental surgery in rabbits Antônio Bedin 1, Harry Kleinubing Junior 2, Patrícia Constantini Kreling 3 Resumo Na área da cirurgia experimental, principalmente para fins didáticos, a escolha do animal é de extrema importância, e devem ser considerados aspectos como a praticidade de manipulação e custo operacional. Além disso, para que sejam administradas anestesias seguras e eficientes nesses animais, é necessário que seja conhecida a farmacodinâmica e a farmacocinética das medicações, bem como o emprego de equipamentos anestésicos para a monitorização e ventilação pulmonar. Essa revisão teve como objetivo detalhar as principais possibilidades de combinações de anestésicos a serem utilizadas em cirurgias experimentais em coelhos, bem como as particularidades deste animal. No término do artigo, apontaremos o esquema escolhido por nós para ser empregado na disciplina de Técnica Operatória, Anestesiologia e Enfermagem do curso de Medicina da Universidade da Região de Joinville. Descritores: Anestesia. Modelos animais. Coelhos. Abstract In the area of experimental surgery, especially for teaching purposes, the choice of the animal is of utmost importance, and should be regarded as the practical aspects of handling and operating cost. Moreover, for the administration of safe and efficient anesthesia in these animals, it must be known the pharmacodynamics and pharmacokinetics of drugs, as well as the use of anesthetic apparatus for monitoring and ventilation. This review aimed to detail the main possible combinations of anesthetics to be used in experimental surgery in rabbits, as well as the particularities of this animal. At the end of the article, we consider the scheme chosen by us to be used in the discipline of Surgical Techniques, Anesthesiology and Nursing at the School of Medicine of the University of Joinville Region. Keywords: Anesthesia. Models animal. Rabbits. 1. Mestre. Professor Adjunto. Disciplina de Técnica Operatória, Anestesiologia e Enfermagem. Curso de medicina- UNIVILLE, Departamento de Medicina. Joinville/ SC, Brasil. E-mail: abjoimailbox-univ@yahoo.com.br. 2. Doutor. Professor Titular. Disciplina de Técnica Operatória, Anestesiologia e Enfermagem. Curso de medicina- UNIVILLE, Departamento de Medicina. Joinville/ SC, Brasil. 3. Acadêmica do 5º ano de Medicina da Universidade da Região de Joinville UNI- VILLE, Departamento de medicina. Joinville/SC, Brasil. 33

Introdução A anestesia tem sido motivo de preocupação para profissionais nos campos biomédicos, médico e veterinário, no que tange a pesquisa com a utilização de coelhos (Figura 1). Para que sejam administradas anestesias seguras e eficientes, é necessário que seja conhecida a farmacodinâmica e a farmacocinética das medicações, bem como o emprego de equipamentos anestésicos para a monitorização e ventilação pulmonar, desde os mais simples até os mais sofisticados. A escolha do animal a ser usado em experimentação científica é importante, pois é necessário que se leve em consideração a praticidade de manipulação, tipo de ensaio biológico e custo operacional (1). Coelhos são facilmente estressados pelo manuseio pré-operatório e durante a indução com agentes anestésicos voláteis. A combinação do efeito de estresse e anestesia pode resultar em parada respiratória e cardíaca. Em adição ao estresse à presença frequente de infecção respiratória por Pasteurella multocida pode resultar em falência respiratória durante a anestesia. Por este motivo no exame pré-operatório de coelhos devemos prestar especial atenção à presença de corisa, o que pode ser um indicativo de infecção respiratória (1). O ceco dos coelhos pode atuar como reservatório para o anestésico, alterando o efeito da droga. Por isso, é recomendado o cálculo da dose baseando-se no peso metabólico (peso corporal x 0,75). Alguns fatores intrínsecos e extrínsecos podem alterar o efeito das drogas anestésicas, como o sexo, a idade, a raça, a linhagem, o peso corporal e o período do dia. Os coelhos possuem altas concentrações de catecolaminas circulantes, então uma rápida situação de estresse físico ou emocional pode levar ao aumento dessas catecolaminas, podendo causar uma arritmia cardíaca fatal (2). Jejum A suspensão da alimentação é desnecessária em coelhos, já que vômitos praticamente não ocorrem nesta espécie, além de apresentarem altas taxas metabólicas. A presença de um cólon volumoso também faz com que o jejum pré-operatório seja inefetivo para a redução do volume das vísceras abdominais (2,3). Medicação pré-anestésica (MPA) A medicação pré-anestésica tem como objetivo principal reduzir a apreensão, produzir sedação e proporcionar uma indução anestésica sem estresse. Outros objetivos também são desejáveis tais como: bloqueio de reflexo vagal; redução de secreções de vias aéreas; redução de possibilidade de edema de vias aéreas; diminuição de consumo de anestésicos gerais e minimizar a dor pós-operatória (1). Para os coelhos, podemos fazer dois tipos de MPA: uma com o objetivo de simples manipulação, e a outra para atingir a completa quietude do animal. Na primeira, podem ser utilizadas a levomepromazina ou a clorpromazina, em dose de 0,5 a 1 mg.kg-1 por via muscular (IM). Deve-se aguardar de 30 a 45 minutos para qualquer procedimento. Na segunda, utiliza-se a associação de levomepromazina com midazolan, em doses de 0,5mg.kg-1 e 0,2 mg.kg-1, respectivamente, por via subcutânea (SC) ou muscular (4). A atropina é um agente anticolinérgico utilizado para reduzir secreções e reflexo vagal nas doses de 0,05 mg.kg-1 por via subcutânea ou muscular. A acepromazina é um fenotiazínico que produz sedação, potencializa a ação dos agentes hipnóticos, narcóticos e analgésicos. A sedação produzida pela acepromazina pode se estender ao período pós-operatório produzindo um despertar lento e suave. Usualmente a acepromazina é utilizada em coelhos na dosagem de 0,5 a 1 mg.kg-1 SC ou IM. O diazepam é um benzodiazepínico que produz importante sedação, relaxamento muscular e potencializa agentes hipnóticos e opióides. Usualmente é utilizado na dosagem de 0,5 a 2 mg.kg-1 SC ou IM (4). A dexametasona é um glicocorticoide que pode ser útil na redução de edema de vias aéreas e para evitar hipoglicemia na dosagem de 0,15 a 1 mg.kg-1 SC ou IM (5,6). A xilazina é um agonista alfa-2-adrenérgico utilizado como potente sedativo na dosagem de 2 a 5 mg.kg-1 IM, porém em coelhos pode produzir importante depressão respiratória e arritmias cardíacas. Os opióides, como a meperidina, agem nos receptores opióides do sistema nervoso central produzindo moderada sedação e profunda analgesia e geralmente é utilizada em coelhos na dosagem de 0,5 mg.kg-1 SC ou IM. A cetamina é um anestésico geral dissociativo que age inibindo os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) no sistema nervoso central e usualmente é utilizada na dosagem de 15 a 50 mg.kg-1 SC ou IM (3). Anestesia barbitúrica A anestesia barbitúrica é de uso consagrado em leporinos, sendo a dose recomendada de 30 a 50 mg.kg-1, na concentração de 3% por via venosa, com resultados, entretanto, variáveis de animal para animal, o que leva a crer que se deva instituir uma vigilância da profundidade anestésica, através da avaliação da resposta ao pinçamento da orelha, reflexo palpebral e 34

corneano. A discrepância das respostas ao anestésico talvez se prenda à via de aplicação do mesmo, ou às altas concentrações administradas. Há autores que recomendam a via intraperitoneal, a qual apresenta como principal inconveniente a má absorção do fármaco, caso seja injetado inadvertidamente em órgãos da cavidade abdominal, o que retardará o período de latência ou até proporcionará uma anestesia não condizente com a necessidade. Tecnicamente, a via recomendada é a venosa, através da punção da veia marginal da orelha (3,4). Associações anestésicas As associações anestésicas nos leporinos seguem um gradiente de intensidade, pois se consegue desde uma boa manipulação com a imobilização medicamentosa (contenção química) até a anestesia profunda, que permite intervenções que necessitem doses maiores. A simples imobilização pode ser obtida através da aplicação de 0,1 ml para cada 200 gramas de peso vivo da mistura de cetamina e xilazina em partes iguais (4,7). Para uma imobilização mais prolongada emprega-se uma MPA de 1 mg.kg-1 de levomepromazina e 0,01 m.kg- 1 de flunitrazepam por via venosa, ambas na mesma seringa, 15 a 30 minutos antes da aplicação de 0,1 ml para cada 200 gramas de peso vivo (0,5 ml.kg-1) por via muscular profunda da mistura em partes iguais de cetamina e cloridrato de xilazina. Essa imobilização perdurará por um período mínimo de 60 a 90 minutos (4,8). Para uma anestesia mais profunda, emprega-se a mesma MPA supracitada, aumentando-se, porém, a dose da associação de cetamina e cloridrato de xilazina para 0,5 a 1 ml para cada quilo de peso vivo por via muscular profunda (tabela I). Convém lembrar que o período de latência varia de 10 a 15 minutos (3,4). Anestesias locais Além das anestesias gerais em coelhos, pode-se obter um tipo de anestesia prática, desde que se intervenha no trem posterior. Em cirurgia experimental, esse padrão anestésico pode ser necessário em certos ensaios biológicos, especialmente em traumatologia ou para medição de pressão arterial (artéria femoral) com o animal desperto, ou ainda em qualquer intervenção cruenta em membros posteriores, ou mesmo quando o estado físico do animal não permite uma anestesia geral. Diante de tais circunstâncias, recorre-se à anestesia peridural lombossacra com MPA. A dose máxima permitida de cloridrato de lidocaína para essa finalidade é de 7 mg.kg-1 sem adrenalina e 9 mg.kg-1 com adrenalina. As concentrações de 0,5 a 1 % são as mais indicadas, pois concentrações maiores significam menores volumes, o que poderá dificultar a manobra, caso o anestésico não seja depositado exatamente no espaço peridural, que, por sinal, é bem reduzido em coelhos. O volume a ser injetado é de 1 a 3 ml de lidocaína a 0,5% e até 2 ml de lidocaína a 1% sem adrenalina, dependendo do tempo anestésico necessário e do tamanho do animal (3,4). Anestesia volátil A anestesia volátil em coelhos é recomendada em casos de cirurgias ou experimentos de longa duração e quando é desejável a manutenção dos parâmetros fisiológicos mais próximos dos valores basais (9). A técnica consiste em se aplicar a MPA, aguardar 15 minutos e aplicar, também por via venosa 12,5 mg.kg-1 de tiopental a 2,5% lentamente, até o desaparecimento dos reflexos protetores e adaptar a máscara anestésica, conectando-a ao aparelho de anestesia munido de vaporizador. Pode-se utilizar O2 a de 50 a 100% e halotano ou isoflurano de 1 a 2,5 % (figuras 2 e 3) (3,4). Intubação traqueal A intubação traqueal é difícil em coelhos. A visualização da glote com laringoscópio é praticamente impossível. Por este motivo é utilizado a intubação às cegas tendo como orientação a respiração. Muitos pesquisadores utilizam traqueostomia de rotina ou máscara laríngea (3,10). Ventilação pulmonar A anestesia em coelhos pode ser mantida sob máscara de oxigênio e halogenado em respiração espontânea. Em procedimentos em que existe a necessidade de ventilação esta pode ser manual, com a utilização de um sistema de Mapleson D, ou controlada mecânica (4,9). Monitorização A monitorização é principalmente clínica pela observação de frequência cardíaca, frequência respiratória, coloração de mucosas e reflexos oculopalpebrais (tabela II). A utilização de equipamentos tem como rotina estetoscópio precordial e oxímetro de pulso. Os demais monitores devem ser utilizados conforme as necessidades impostas pelo desenho do estudo, desta forma podem ser úteis capnógrafos, ventilômetros, pressão arterial invasiva, entre outros (3). Pós-operatório O período pós-operatório faz parte do protocolo 35

anestésico, sendo fundamentais os cuidados ministrados ao animal neste momento. Complicações como a depressão respiratória, que pode ocorrer durante o ato anestésico se torna fatal neste período. Concluído o procedimento anestésico-cirúrgico os animais devem ser colocados isoladamente em suas gaiolas e em sala própria para a recuperação anestésica. Este local deve ser silencioso, com pouca luz, evitando-se o estresse dos animais com o mínimo de manipulação (3). Eutanásia Quando a eutanásia estiver prevista no estudo as técnicas para este objetivo devem obter inconsciência rápida seguida por parada cardíaca e respiratória e término das funções cerebrais. O ideal significa que a técnica deve minimizar a ansiedade experimentada pelo animal antes da inconsciência. Para coelhos as técnicas mais utilizadas são inalações de CO2, anestésicos inalatórios, barbitúricos e cloreto de potássio venoso, este somente utilizado em animais sob anestesia porque é doloroso à injeção venosa (1). Rotina da Disciplina de TOAE da UNIVILLE Com base nestes dados da literatura tem sido adotado como procedimento anestésico utilizado como rotina pela disciplina de Técnica Operatória, Anestesiologia e Enfermagem do Curso de Medicina da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) para anestesia em coelhos. 1. Identificação e pesagem: a identificação e o registro dos animais são partes integrantes do pré-operatório. Após a pesagem do animal, o mesmo deve ser identificado com um esparadrapo na pata dianteira com seu número e o peso correspondente. 2. Pré-anestésico: acepromazina 1 mg.kg-1 associada a dexametasona 0,2 mg.kg-1 e cetamina 15 mg.kg-1 subcutâneo quinze minutos antes do início da tricotomia. Em termos práticos (aproximando doses): Seringa de 5 ml com dexametasona 1 ml + acepromazina 1 ml + cetamina 3 ml; administrar 1 ml subcutâneo para cada coelho. Se houver necessidade repetir mais 1 ml 20 minutos após a primeira dose. 3. Tricotomia: região anterior do pescoço, abdômen e margem da orelha. 4. Imobilização: sobre a mesa operatória. 5. Cateterização venosa: veia marginal da orelha, com cateter 24 G. Instalação de soro fisiológico 0,9% 250 ml. 6. Anestesia: cetamina 5 a 10 mg.kg-1 venosa. Intubação traqueal com cânula número 2 ou 3. Se houver dificuldade de intubação optar por traqueostomia. 7. Monitorização: estetoscópio precordial (ou esofágico) e oximetria de pulso (se disponível). 8. Anestesia inalatória para manutenção: isoflurano a 1% e oxigênio três litros por minuto sob máscara em sistema Mapleson D. 9. Elaboração da ficha de anestesia: sinais vitais a cada 5 a 10 minutos. 10. Período pós-anestésico: do início da recuperação até o restabelecimento total da consciência e padrões fisiológicos normais. 11. Dor pós-operatória: utiliza-se paracetamol ou dipirona por via oral entre 10 a 15 mg.kg-1, três vezes ao dia. 12. Se o estudo prevê eutanásia esta poderá ser realizada em câmara de CO2 com 10 l.min-1 por 10 minutos. A segunda escolha pode ser o cloreto de potássio a 19,1 % 1 ml.kg-1 venoso, porém com o coelho anestesiado com cetamina 50 mg.kg-1 subcutânea ou muscular quinze minutos antes. Referências 1. Thurmon JC, Tranquilli WJ, Benson GJ. Essentials of small animal anesthesia e analgesia. 1st ed. Baltimore: Wiley-Blackwell; 1999. 2. Damy SB, Camargo RS, Chammas R, Figueiredo LFP. Aspectos fundamentais da experimentação animal - aplicações em cirurgia experimental. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(1): 103-11. 3. Flecknell, P. Laboratory Animal Anesthesia. 2nd ed. San Diego: Academic Press; 2000. 4. Massone, F. Anestesiologia veterinária farmacologia e técnicas. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 5. Kil HK, Kim WO, Koh SO. Effects of dexamethasone on laryngeal edema following short-term intubation. Yonsei Med J 1995; 36(6):515-20. 6. Bichler A, Wiesinger H, Mayr M. Specific glucocorticoid receptor activity in the lungs and concentration of corticosteroids in the plasma of newborn rabbits during the first hours of life. Arch Gynecol 1978; 226(4):307-13. 7. Dellepiane M, Mora R, Salami A. Vestibular and optokinetic nystagmus in ketamine-anesthetized rabbits. Int Tinnitus J 2007; 13(1):15-20. 8. Orr HE, Roughan JV, Flecknell PA. Assessment of ketamine and medetomidine anaesthesia in the do- 36

mestic rabbit. Vet Anaesth Analg 2005; 32(5):271-9. 9. Grint NJ, Murison PJ. Peri-operative body temperatures in isoflurane-anaesthetized rabbits following ketamine-midazolam or ketamine-medetomidine. Vet Anaesth Analg 2007; 34(3):181-9. 10. Morgan TJ, Glowaski MMJ. Teaching a new method of rabbit intubation. Am Assoc Lab Anim Sci 2007;46(3):32-6. Figura 1: Coelho da raça Nova Zelândia. Tabelas / Figuras Tabela I: Agentes utilizados em anestesia, princípio ativo e apresentação. Adaptado de MASSO- NE, 2003. Figura 2: Sistema inalatório Mapleson D. Figura 3: Agente halogenado em vaporizador universal. Tabela II: Parâmetros fisiológicos de animais de laboratório. Adaptado de THURMON et al, 1999. Endereço para correspondência Antônio Bedin Rua Doutor Roberto Koch, 72 - Atiradores Joinville - SC - 89203-088 37