Um mergulho em Penha Garcia



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Transcrição:

Um mergulho em Penha Garcia

# Houve Mar em Penha Garcia A origem dos quartzitos de Penha Garcia remonta há 490 milhões de anos, quando os continentes se encontravam unidos no Pólo Sul, formando o supercontinente Gondwana. A região de Penha Garcia encontrava-se então na margem NW deste supercontinente, onde existia um mar pouco profundo onde habitavam as trilobites. As trilobites viveram até ao final do Paleozóico e deslocavam-se, procurando alimento e protecção nos substratos areno-argilosos. 2007, Andrea Baucon Vestígios do mar Ordovícico Em Penha Garcia são vários os registos do mar pouco profundo que banhava a região. É possível encontrar quartzitos (1), que se formaram das areias ricas em quartzo que formavam o fundo deste mar, marcas de ondulação (3,4) marinha que resultam da pela acção de correntes sobre as areias em zonas de pouca profundidade, fendas de sinérese (2), estruturas correspondentes à saída de água salgada contida nos interstícios dos sedimentos e ainda uma grande quantidade de evidências da vida nestes fundos marinhos (fósseis fósseis).

Cruziana Nesta região abundam os vestígios da actividade e comportamento de determinados seres vivos, ou seja, os icnofósseis. As marcas da interacção das trilobites com o substrato puderam, em certas condições, ficar preservadas nas rochas, isto é, nos quartzitos que se formaram da consolidação dos areais. As formas mais abundantes são as Cruziana que correspondem a sulcos essencialmente horizontais, bilobados, com uma crista central e com estrias ornamentais. Estes icnofósseis são atribuídos a pistas de alimentação de trilobites e outros artrópodes análogos. Estas marcas, os icnofósseis, permitem determinar as características do ambiente em que viveram, as condições de vida e os seus comportamentos. Penha Garcia é um local de excelência para a observação destes tipos de fósseis que abundam e apresentam boas condições de preservação. Interpretação das Cruziana Desde sempre os habitantes da aldeia lhes chamaram cobras pintadas e lhe associaram a lenda da Moura Encantada transformada em cobra petrificada. O feitiço poderia ser quebrado se na noite de S. João, enquanto se encontrava na forma original, fosse beijada. Em 1885, Nery Delgado descreve estas estruturas como Bilobites relacionando-as com algas. Um século mais tarde Adolf Seilacher demonstrou que as Cruziana reflectem o comportamento de alimentação das trilobites. Trilobites As trilobites são seres invertebrados exclusivamente marinhos que apareceram há 542 milhões de ano e se extinguiram há cerca de 250 milhões de anos, tendo vivido durante toda a Era Paleozóica. Pertencem ao grupo dos artrópodes, possuindo um esqueleto externo (uma carapça), o corpo divido em três lobos verticais e três partes horizontais, cefalão, tórax e pigídio e todo o tórax dividido em segmentos com apêndices articulados. www.trilobites.info

Na senda de outros icnofósseis de Penha Garcia Em Penha Garcia também se podem encontrar Diplichnites que são atribuídas à actividade locomotora das trilobites. São também visíveis Merostomichnites, séries de impressões originadas pela locomoção contínua paralela à camada com apêndices idênticos, que possivelmente foram produzidos por um grande Phyllocarida. Além destes icnofósseis registam-se níveis de Skolithos, galerias verticais interpretados como uma instalação de uma comunidade de organismos poliquetas ou foronídeos. Outro tipo de galerias vermiformes verticais são os Deadalus. Estas escavações retrabalham o sedimento nas três direcções do espaço, por deslocamento helicoidal, com forma de J. As Arenicolites são outro tipo de estruturas encontradas que se caracterizam por galerias em U, simples orientadas perpendicularmente à camada, produzidas, possivelmente, para a habitação de poliquetas ou pequenos crustáceos que se alimentariam de partículas em suspensão na água. Skolithos Bromley, 1990 Diplichnites www.trilobites.info

Deadalus Seilacher, 2007 Merostomichnites Seilacher, 2007 Arenicolites Bromley, 1990