PALEONTOLOGIA DA FORMAÇÃO JANDAÍRA, CRETÁCEO SUPERIOR DA BACIA POTIGUAR, COM ÊNFASE NA PALEOBIOLOGIA DOS GASTRÓPODOS



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA PALEONTOLOGIA DA FORMAÇÃO JANDAÍRA, CRETÁCEO SUPERIOR DA BACIA POTIGUAR, COM ÊNFASE NA PALEOBIOLOGIA DOS GASTRÓPODOS RITA DE CASSIA TARDIN CASSAB Rio de Janeiro 2003

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA PALEONTOLOGIA DA FORMAÇÃO JANDAÍRA, CRETÁCEO SUPERIOR DA BACIA POTIGUAR, COM ÊNFASE NA PALEOBIOLOGIA DOS GASTRÓPODOS RITA DE CASSIA TARDIN CASSAB Rio de Janeiro 2003

ii PALEONTOLOGIA DA FORMAÇÃO JANDAÍRA, CRETÁCEO SUPERIOR DA BACIA POTIGUAR, COM ÊNFASE NA PALEOBIOLOGIA DOS GASTRÓPODOS Rita de Cassia Tardin Cassab TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO REQUISITO PARCIAL À OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS Área de concentração III: Paleontologia e Estratigrafia Orientadores: Prof. Dr. Narendra Kumar Srivastava Dra. Maria Eugênia de Carvalho Marchesini Santos Orientador Acadêmico: Prof. Dr. Ismar de Souza Carvalho APROVADA POR Prof. Dr. Antonio Carlos Sequeira Fernandes / Museu Nacional - UFRJ Prof. Dr. Arnaldo Campos dos Santos Coelho / Museu Nacional UFRJ Profª. Dra. Maria Dolores Wanderley / Instituto de Geociências UFRJ Prof. Dr. Rodolfo Dino / Faculdade de Geologia da UERJ Profª. Dra. Vera Maria Medina da Fonseca / Museu Nacional UFRJ Rio de Janeiro 2003

iii Prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. (Raul Seixas)

iv Esta tese é dedicada a meus filhos Eduardo e Tiago, meus bens maiores. E a minha mestra, Maria Eugênia de Carvalho Marchesini Santos, pelo muito que me ensinou de geociências e de artes.

v FICHA CATALOGRÁFICA CASSAB, RITA DE CASSIA TARDIN Paleontologia da Formação Jandaíra, Cretáceo Superior da Bacia Potiguar, com ênfase na paleobiologia dos gastrópodos. [Rio de Janeiro, 2003] xix, 184 p., 29,7 cm (Instituto de Geociências - UFRJ, D. Sc. Programa de Pós-Graduação em Geologia, 2003) Tese, Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizada no Instituto de Geociências Programa de Pós-Graduação em Geologia 1. Gastropoda. 2. Formação Jandaíra. 3. Bacia Potiguar. 4. Paleobiologia. 5. Cretáceo. 6. Brasil. I- IG/UFRJ II - Título (Série)

vi AGRADECIMENTOS À Dra. Maria Eugênia de Carvalho Marchesini Santos pela orientação prestada durante a realização desta tese, que é o resultado de uma parceria iniciada em 1990, durante os trabalhos do Projeto 242, Cretáceo da América Latina, do Programa Internacional de Correlação Geológica. Ao Prof. Dr. Narendra K. Srivastava, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cujo apoio foi fundamental durante os trabalhos de campo e nas visitas às coleções paleontológicas de diversas instituições do Estado do Rio Grande do Norte. Agradeço também à sua esposa Mariceli pela atenção recebida e a acolhida durante nossas estadas em Natal. Ao amigo e Prof. Dr. Ismar de Souza Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, orientador acadêmico, que não poupou esforços para a conclusão desta tese. Aos coordenadores do Programa de Pós Graduação do Departamento de Geologia do IGEO, Prof. Dr. Claudio Limeira Mello e Prof. Dr. Gerson Cardoso da Silva Jr., e a secretária Christina Barreto Pinto pelo apoio prestado durante a realização do curso. Ao chefe do Museu de Ciências da Terra, geólogo Diogenes de Almeida Campos, pela infra-estrutura proporcionada e pela sempre proveitosa troca de idéias. À Sra. Wilza Maria de Aguiar, secretária deste Museu, em especial, à amiga e secretária do Setor de Paleontologia, Jacira Murat da Silva, pela presteza e carinho com que desempenhou as mais variadas tarefas, facilitando a realização deste trabalho. À geóloga Vanessa Mamede Cavalcanti, do 10 º Ds. do DNPM, de Fortaleza, que nos acompanhou nos trabalhos de campo realizados naquele estado. À Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, pelo apoio financeiro fornecido para a realização deste trabalho. À amiga e paleontóloga Dra. Marise Sardenberg Salgado de Carvalho, da Divisão de Paleontologia, do Departamento de Geologia da CPRM, pelas infinitas leituras, discussões e o apoio recebido. Aos paleontólogos Dr. Rodolfo Dino (Cenpes / Petrobras) e Dra. Maria Dolores Wanderley (IGEO/UFRJ) pelas análises realizadas para pesquisa de palinomorfos e nanofósseis e ao geólogo Paulo Tibana (FG/UERJ), pelo exame das lâminas de calcário. Aos paleontólogos Dra. Vera Maria Medina da Fonseca (MN/UFRJ), Dra. Maria da Glória Pires de Carvalho (AMNH), Dra. Deusana Maria da Costa Machado (UNI-RIO), Dra. Maria Célia Elias Senra (UNI-RIO), Dr. Wagner de Souza Lima (E&P-SEAL, Petrobras),

vii Prof. MSc Maria Helena Zucon (UFS), Dr. Leonardo Borghi de Almeida (IGEO/UFRJ), Dra. Norma Maria da Costa Cruz (DIPALE/DEGEO/CPRM), Dra. Lílian Paglarelli Bergqvist (IGEO/UFRJ), Dra. Cibele Schwanke (Dep. Ensino/UERJ) que sempre estiveram disponíveis, com palavras de carinho, estímulo e companheirismo, colaborando das mais variadas formas. Aos estagiários do Setor de Paleontologia, Vanessa Gomes Souza, Diogo Jorge de Melo, Aline Marise Cardoso Ribeiro, Renata Croner Gicquel da Silva e à MSc Fernanda Siviero (IGEO/UFRJ), que durante a elaboração da tese colaboraram em várias atividades. À Milena Salgado de Carvalho e Flávio Veloso Neves da Silva, que gentilmente realizaram serviços fotográficos e a Luiz Antônio Sampaio Ferro, responsável pela confecção gráfica das figuras do trabalho. Ao Departamento de Geologia do Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE, representado pela Profª Dra Maria Somália Sales Viana e Profª MSc Sonia Maria Agostinho, que facilitaram o acesso às coleções paleontológicas dessa instituição, fundamentais para o desenvolvimento dessa tese. Ao Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional e Instituto de Geociências, da UFRJ, onde também efetuou-se o exame dos fósseis de seu acervo. À minha família, cúmplices e incentivadores de todas as minhas atividades, minha mãe Arleida, meus irmãos Maria Aparecida e Carlos Alberto, meu cunhado Paulo Roberto, meus queridos sobrinhos Mariana, Clarice, Lucas, Gabriela e André e ao amigo Paulo Victor.

viii RESUMO DA TESE APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA / UFRJ COMO REQUISITO PARCIAL À OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS Paleontologia da Formação Jandaíra, Cretáceo Superior da Bacia Potiguar, com ênfase na paleobiologia dos gastrópodos Rita de Cassia Tardin Cassab Fevereiro de 2003 Orientadores: Prof. Dr. Narendra Kumar Srivastava Dra. Maria Eugênia de Carvalho Marchesini Santos Orientador Acadêmico: Prof. Dr. Ismar de Souza Carvalho Área de concentração III: Paleontologia e Estratigrafia O Cretáceo foi um período de grandes transformações na história da Terra: novos oceanos se formaram, ocorreram variações do nível do mar, modificações climáticas e uma redistribuição das áreas marinhas e continentais, propiciando uma intensa evolução biológica. A Bacia Potiguar, situada na costa Nordeste do Brasil, foi formada sob essas condições, e os fósseis preservados nos sedimentos da Formação Jandaíra registraram essas transformações que ocorreram na biosfera. O estudo da paleobiologia dos gastrópodos mostrou que durante a transgressão ocorrida no Turoniano inferior, houve a instalação da fauna pertencente ao Domínio Tetiano. A fauna de gastrópodos é característica do Cretáceo, destacando-se os representantes das famílias Nerineidae, Naticidae e Aporrhaidae, bem como do gênero Trochactaeon. Os animais carnívoros predadores estavam em desenvolvimento neste período, entre eles os gastrópodos, que estão representados na formação pelos naticídeos, destacando-se entre eles o gênero Tylostoma, pela abundância de exemplares. O conhecimento dos processos tafonômicos foi fundamental para a identificação das espécies. Os fósseis que ocorrem na fácies de planície de maré apresentam-se muito deformados, dificultando a identificação das espécies, enquanto que os da fácies de laguna sofreram destruição dos caracteres internos. O estudo da paleobiologia dos gastrópodos e da fauna associada permitiu

ix identificar duas seqüências deposicionais durante o Turoniano inferior. A primeira, transgressiva, pertencente à um trato de mar alto e a segunda, regressiva, correspondente a um trato de mar mais baixo, culminando com sedimentos indicadores de exposição subaérea. A seqüência transgressiva foi datada no Turoniano inferior pela presença do inoceramídeo Mytiloides submytiloides, (Seitz, 1935), que representa um evento biológico global de distribuição geográfica ampla e a regressiva, pela continuidade da fauna. Outras duas seqüências sedimentares transgressivas foram identificadas com base na ocorrência de cefalópodos e são datadas no Coniaciano superior e no Campaniano superior.

x ABSTRACT OF THE THESES PRESENTED TO POST-GRADUATE PROGRAM IN GEOLOGY / UFRJ AS A PARTIAL REQUIREMENT FOR THE OBTAINING THE DEGREE OF DOCTOR IN SCIENCES. PALEONTOLOGY OF UPPER CRETACEOUS FROM JANDAIRA FORMATION OF THE POTIGUAR BASIN, WITH EMPHASIS AT A PALEOBIOLOGY GASTROPODS Rita de Cassia Tardin Cassab February, 2003 Supervisors: Prof. Dr. Narendra Kumar Srivastava Dra. Maria Eugênia of Carvalho Marchesini Santos Academic advisor: Prof. Dr. Ismar of Souza Carvalho Area of concentration III: Paleontology and Stratigraphy The Cretaceous was a period of great changes transformations in the of the Earth's history, new oceans were formed, significant variations of the sea level, climatic modifications and a redistribution of the sea and continental areas, allowing an intense biological evolution. The Potiguar Basin, situated on the Northeast coast of Brazil, was formed under these conditions, and the fossils preserved in the sediments of the Jandaíra Formation registered such transformations which took place in the biosphere. The study of the gastropod paleobiology showed that during the Lower Turonian transgression, a fauna belonging to the Tethyan Domain, a tropical paleobiogeographic province, was installed. The gastropod fauna is characteristic of that time, signaled by the representatives of the families Nerineidae, Naticidae and Aporrhaidae, as well as of the genus Trochactaeon. The carnivorous predators were well established during this time. The gastropods, which are represented in the formation by the naticids, standing out among them the genus Tylostoma due to their abundance. The knowledge of the taphonomic process was fundamental for the identification of the species. The fossils of the tidal- plain- facies are highly deformed, masking the identification of the species, but those of the lagoonal -facies suffered destruction of the internal characters. The study of gastropod paleobiology and of the associated fauna permitted the identification of two depositional sequences during the Lower Turonian. The first, a transgressive, belonging to

xi a high sea-level tract and the second a regressive one, corresponding to a lower sea-level tract, culminating with the sediments indicating a subareal exposure. The transgressive sequence was dated as belonging to the lower Turonian due to the presence of the inoceramid Mytiloides submytiloides, which represents a global biological event. Other two transgressive sedimentary sequences were identified on the basis of the occurrence of cephalopods and are dated in upper Coniacian and in upper Campanian.

xii SUMÁRIO Ficha catalográfica... Agradecimentos... Resumo... Abstract... Sumário... Índice de figuras... Índice dos quadros... v vi viii x xii xvi xix 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS... 1 1.1 INTRODUÇÃO... 1 1.2 OBJETIVOS... 2 2. MÉTODOS E MATERIAIS... 3 2.1 MÉTODOS... 3 2. 1. 1 Levantamento de dados... 3 Os trabalhos de campo e análises... 3 2.1.2 Análise e interpretação dos dados... 4 2.1.3 Síntese... 6 2.2 MATERIAIS... 6 As coleções... 6 Os mapas... 6 2.3 SIGLA DAS INSTITUIÇÕES... 7 3. GEOLOGIA DA BACIA POTIGUAR... 8 3.1 EVOLUÇÃO DAS BACIAS DO NORDESTE... 8 3.1.1 Megasseqüência continental... 11 a. Fase pré-rifte I sin-rifte I... 11 b. Fase sin-rifte li... 11 c. Fase sin-rifte III... 14 3.1.2 Megasseqüência transicional... 14 3.1.3 Megasseqüência marinha... 14 3.2 EVOLUÇÃO DA BACIA POTIGUAR... 14 3.2.1 Rifte Potiguar... 16 3.2.2 Estratigrafia da Bacia Potiguar em sua parte emersa... 18

xiii FORMAÇÕES CRETÁCEAS... 18 a. Formação Pendência... 18 b. Formação Alagamar... 18 c. Formação Açu... 20 d. Formação Quebradas... 20 e. Formação Jandaíra... 20 FORMAÇÕES PÓS-CRETÁCEAS... 20 4. FORMAÇÃO JANDAÍRA... 22 4.1 ESPESSURA E DISTRIBUIÇÃO... 22 4.2 CONTATO ENTRE AS FORMAÇÕES AÇU E JANDAÍRA... 22 4.3 LITOLOGIA... 22 4.4 IDADE... 25 4.5 AMBIENTE DE SEDIMENTAÇÃO... 26 5. HISTÓRICO DAS PESQUISAS PALEONTOLÓGICAS NA FORMAÇÃO JANDAÍRA... 36 6. MACROFÓSSEIS DA FORMAÇÃO JANDAíRA... 41 6.1 ASPECTOS TAFONÔMICOS... 41 6.2 CONCHOSTRÁCEOS... 42 6.3 ANTOZOÁRIOS... 44 6.4 BRIOZOÁRIOS... 44 6.5 ICNOFÓSSEIS... 44 6.6 VERTEBRADOS... 44 6.6.1 PEIXES... 44 6.6.2 TETRAPODAS... 45 6.7 PLANTAS... 45 6.8 ALGAS CALCÁRIAS... 45 7. CLASSE BIVALVIA... 47 7.1 SUPERFAMÍLlA OSTREOIDEA... 47 7.2 FAMÍLIA INOCERAMIDAE... 47 7.3 FAMÍLIA LIMIDAE... 49 7.4 FAMÍLIA CARDIIDAE... 49 7.5 RELAÇÃO DAS ESPÉCIES... 52 7.6 CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA DE BIVALVIA... 52

xiv 8. CLASSE CEPHALOPODA... 66 8.1 CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA DOS CEPHALOPODA... 66 9. CLASSE ECHINOIDEA... 71 9.1 CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA DOS EQUINÓIDES... 71 10. PALEOBIOLOGIA DOS GASTRÓPODOS DA FORMAÇÃO JANDAÍRA... 77 10.1 CONCEITO DE PALEOBIOLOGIA... 77 10.2 GASTRÓPODOS DO MESOZÓICO... 78 10.3 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA CLASSE GASTROPODA... 79 10.3.1 Aspectos morfológicos... 79 10.3.2 Gastrópodos predadores... 81 10.4 GASTROPODOS DA FORMAÇAO JANDAIRA... 83 10.4.1 Classificação sistemática... 83 Família NERITIDAE Rafinesque, 1815... 85 Família CERITHIIDAE Férussac, 1819... 87 Família CASSIOPIDAE Kollmann, 1979... 88 Família POTAMIDIDAE H. & A. Adams, 1854... 89 Família TURRITELLlDAE Woodward, 1851... 90 Família APORRHAIDAE Gray, 1850... 94 Família NATICIDAE Forbes, 1838... 99 Família CERITHIOPSIDAE H. & A. Adams, 1853... 99 Família VASIDAE H. & A. Adams, 1853... 100 Família ARCHITECTONICIDAE Gray, 1850... 101 Família BULLOIDEA Rafinesque, 1815... 101 10.5 GENERO TYLOSTOMA Sharpe, 1849... 103 10.5.1 O gênero Tylostoma na Formação Jandaíra... 104 10.5.2 Descrição das espécies... 105 10.6 FAMÍLlA NERINEIDAE... 113 10.6.1 Representantes da família Nerineidae na Formação Jandaíra 116 10.6.2 Descrição das espécies... 116 10.7 GENERO TROCHACTAEON Meek, 1863... 127 10.7.1 O gênero Trochactaeon na Formação Jandaíra... 128 10.7.2 Descrição das espécies... 128

xv 11. SEQÜÊNCIA ESTRATIGRÁFICA E ASSOCIAÇÕES FOSSILÍFERAS DA FORMAÇAO JANDAÍRA... 134 Estratigrafia de seqüências... 134 Eventos biológicos ou bioeventos...... 134 11.1 TRABALHOS ANTERIORES... 135 11.2 TRANSGRESSÕES E REGRESSÕES MARINHAS NO CRETÁCEO SUPERIOR... 135 11.3 PRIMEIRA ASSOCIAÇÃO FOSSILÍFERA - TURONIANO INFERIOR 136 11.3.1 Evento biológico 1... 137 11.3.2 Evento biológico 2... 137 11.3.3 Evento biológico 3... 138 11.3.4 Evento sedimentológico Evaporitos... 139 11.3.5 Evento biológico 4... 139 11.3.6 Evento biológico 5... 140 11.3.7 Evento sedimentológico Caliche... 140 11.3.8 Evento biológico 6... 141 11.4 SEGUNDA ASSOCIAÇÃO FOSSILÍFERA - CONIACIANO SUPERIOR... 141 11.4.1 Evento biológico 7... 141 11.5 TERCEIRA ASSOCIAÇÃO FOSSILÍFERA - CAMPANIANO SUPERIOR... 142 11.5.1 Evento biológico 8... 142 12. PALEOGEOGRAFIA... 144 12.1 Correlações entre as bacias brasileiras... 144 12.2 Correlações com a África, América do Norte e Caribe... 144 12.3 Domínio Tetiano... 145 12.3.1 Fauna do Domínio Tetiano... 145 12.3.2 Limites do Domínio Tetiano... 146 13. CONCLUSÕES E RESULTADOS... 151 13.1 Conclusões... 151 13.2 Resultados... 153 14. REFERENCIAS BIBLlOGRÁFICAS... 155

xvi ANEXO I - Localidades fossilíferas da Formação Jandaíra e seus respectivos fósseis... 164 ANEXO II - Ocorrências das espécies de moluscos e equinóides nas diversas áreas da Formação Jandaíra... 181 INDICE DAS FIGURAS Figura 1 - Localização dos principais afloramentos visitados... 5 Figura 2 - Mapa geológico da Bacia Potiguar, parte emersa... 9 Figura 3 - Bacias que compõem o Sistema de Riftes do Nordeste Brasileiro... 10 Figura 4 - Fase sin-rifte I. Formação do Domo Borborema e das depressões Afro- Brasileira e Araripe-Potiguar na Província Borborema... 13 Figura 5 - Ambiente deposicional da fase sin-rifte 11 - Formação Pendência... 13 Figura 6 - Ambiente deposicional da megasseqüência transicional - Formação Alagamar... 15 Figura 7 - Ambiente deposicional da megasseqüência marinha. (A) Unidade Transgressiva. (B) Unidade regressiva... 15 Figura 8 - Arcabouço estrutural da Bacia Potiguar... 17 Figura 9 - Coluna cronoestratigráfica da Bacia Potiguar, parte emersa... 19 Figura 10 - Extensão da transgressão do Turoniano - Campaniano na Bacia Potiguar... 23 Figura 11 - Mapa de isópacas da Formação Jandaíra... 23 Figura 12 - Contato entre as formações Açu e Jandaíra na borda sudoeste da Chapada do Apodi... 24 Figura 13 - Camadas de folhelhos intercalados com calcários, próximas do contato com a Formação Açu (UP-01)... 24 Figura 14 - Superfícies de carstificação, na localidade de Lajedo da Soledade (AP-01)... 27 Figura 15 - Modelo de paleofisiografia de baía... 27 Figura 16 - Fácies de planície de maré. Borda sudoeste da Bacia Potiguar (AÇ-01). Calcários com birdseyes intercalados com margas... 29 Figura 17 - Margas intensamente bioturbadas (UP-02)... 29 Figura 18 - Fácies de planície de maré (MO-03). Esquema do perfil... 30

xvii Figura 19 - Pedreira da fábrica de cimento Nassau (MO-02). Carbonatos com estruturas sigmóides; da fácies de planície de maré... 31 Figura 20 - Calcários margosos da fácies de planície de maré (MO-02)... 31 Figura 21 - Bioturbações encontradas no topo da mesma seqüência (MO-02)... 32 Figura 22 - Fácies de laguna, Pedreira Carbomil, município de Limoeiro, Ceará (LI-01)... 32 Figura 23 - Camadas da parte superior da pedreira (LI-01), onde ocorrem bioturbações, grãos de ferro e sílex... 33 Figura 24 - Detalhe dessas bioturbações da parte superior da pedreira (LI-01)... 33 Figura 25 - Perfil da localidade LI-01... 33 Figura 26 - Gastrópodos com deformações pelomórficas... 43 Figura 27 - Tipos de preservação... 43 Figura 28 - Superfamília Ostreoidea... 48 Figura 29 - Família Inoceramidae... 50 Figura 30 - Plagiostoma laevissima e Anomia barbadinhica... 51 Figura 31 - Família Cardiidae... 51 Figura 32 - Pachydiscus sp.... 67 Figura 33 - Coilopoceras lucianoi Oliveira, 1969... 67 Figura 34 - Phymosoma tinocoi Santos, 1960... 74 Figura 35 - Petalobrissus cubensis (Weisbord, 1934)... 74 Figura 36 - Rosadosoma riograndensis (Maury, 1925)... 74 Figura 37 - Caracteres gerais dos gastrópodos... 80 Figura 38 - Hábitos desenvolvidos pelos gastrópodos predadores para capturar a presa... 82 Figura 39 - Otostoma assuana e Pseudomesalia (Pseudomesalía) sp.... 86 Figura 40 - Família Turritellidae... 86 Figura 41 - Pyrazus rioassuanus... 93 Figura 42 - Cerithium mirimense e Monroea mossoroensis... 93 Figura 43 - Concha completa de Drepanocheilus sp. e Aporrhaidae sp. c... 93 Figura 44 - Aporrhaidae sp. b... 98 Figura 45 - Aporrhais baixaleitensis; Aporrhais sp.; Aporrhaidae sp. d... 98 Figura 46 - Pterocerella? mossorosensis... 98 Figura 47 - Fósseis de Tudicla (Pyropsis) sp. e Cylíchna delícia... 102

xviii Figura 48 - Molde internos de gastrópodos não identificados... 102 Figura 49 - Tylostoma brasilianum. a) Molde interno deformado. b) Molde interno não deformado... 106 Figura 50 - Fósseis de ostreídeos e anomiídeos sobre moldes internos de Tylostoma sp.... 106 Figura 51 - Caracteres morfológicos das conchas do gênero Tylostoma... 106 Figura 52 - Características dos morfotipos atribuídos ao gênero Tylostoma... 107 Figura 53 - Tylostoma brasilianum... 109 Figura 54 - Tylostoma rochai... 111 Figura 55 - Holótipo de Tylostoma mauryae... 111 Figura 56 - Características morfológicas das conchas dos nerineóideos... 114 Figura 57 - Chave de classificação de Nerineidae sensu latu... 115 Figura 58 - Principais características das espécies de Nerineidae na Formação Jandaíra... 117 Figura 59 - a) Diozoptyxis baixado/eitensis; b) Nerinea (Ptygmatis) riograndensis; c) Diozoptyxis bip/icata; d) Diozoptyxis sp.... 119 Figura 60 - Nerinea coutinhoi; Nerinea sp. a... 119 Figura 61 - Nerinea brasiliana... 121 Figura 62 - Plesioptygmatis mossoroensis; P. rosadoi; P. upanemensis; Plesioptygmatis sp. a... 125 Figura 63 - Caracteres morfológicos das conchas do gênero Trochactaeon... 129 Figura 64 - Esquema das espécies de Trochactaeon da Formação Jandaíra... 129 Figura 65 - Trochactaeon burkhardti... 132 Figura 66 - Fósseis da Bacia do Cabo... 132 Figura 67 - Trochactaeon elongatus... 133 Figura 68 - Trochactaeon silvai... 133 Figura 69 - Trochactaeon sp. a... 133 Figura 70 - Seqüência estratigráfica da Formação Jandaíra... 143 Figura 71 - Áreas de ocorrência das associações fossilíferas da Formação Jandaíra... 144 Figura 72 - Domínio Tetiano durante o Cretáceo Superior, O Megatethys... 149 Figura 73 - Organização das localidades fossilíferas por área... 166

xix INDICE DOS QUADROS Quadro 1 - Etapas da evolução das bacias do Nordeste durante o Cretáceo, com as respectivas formações da Bacia Potiguar... 12 Quadro 2 - Espécies de biválvios que ocorrem na Formação Jandaíra... 53 Quadro 3 - Espécies de cefalópodos que ocorrem na Formação Jandaíra... 70 Quadro 4 - Espécies de equinóides que ocorrem na Formação Jandaíra... 76 Quadro 5 - Relação das espécies de gastrópodos da Formação Jandaíra... 84 Quadro 6 - Famílias de gastrópodos que ocorrem na Formação Jandaíra... 147

1 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 1.1 INTRODUÇÃO O período Cretáceo foi um tempo de grandes transformações na história da Terra. A abertura de novos oceanos em decorrência da fragmentação do Pangea possibilitou o surgimento de muitos biótopos, favorecendo a expansão de diversas populações de organismos marinhos. Ocorreram variações no nível do mar, modificações climáticas e uma redistribuição das áreas marinhas e continentais, terminando por propiciar uma intensa evolução biológica. Essa movimentação das placas tectônicas ocasionou uma mudança nos padrões de circulação oceânica, alterando as antigas rotas de migração dos organismos, possibilitando o surgimento de uma fauna moderna, que colonizou os novos territórios. Além dos gastrópodos, outros grupos como peixes teleósteos, crustáceos braquiúros e cefalópodos coleóideos, passaram por modificações, que refletiam as mudanças que estavam ocorrendo na litosfera. Os depósitos marinhos cretáceos brasileiros possuem muitos elementos que testemunham essa evolução. No que diz respeito aos invertebrados, os melhores registros estão na região Nordeste, cujas bacias Potiguar, Sergipe-Alagoas e Pernambuco-Paraíba são as mais representativas. Os moluscos e equinodermos que ocorrem nessas bacias são característicos do Cretáceo Superior e apresentam afinidades com representantes de outras faunas tropicais sincrônicas que viveram dentro dos limites do Domínio Paleobiogeográfico Tetiano. Na Formação Jandaíra da Bacia Potiguar, preservou-se uma rica e diversificada associação fossilífera desse período. Gastrópodos, biválvios e equinóides são os elementos mais abundantes, com grande diversidade de espécies. Os amonóides são raros, mas os exemplares encontrados contribuíram de maneira eficaz para a datação dos sedimentos. Estão presentes também conchostráceos, corais, icnofósseis, alguns peixes e uma tartaruga, enquanto as algas calcárias informaram sobre as condições ambientais reinantes durante a deposição dos sedimentos. Os macrofósseis representados nos calcários aflorantes da Formação Jandaíra são potencialmente capazes de serem utilizados para obtenção de informações

2 paleobiológicas e cronoestratigráficas. Já os microfósseis que ocorrem com maior freqüência são foraminíferos bentônicos e ostrácodos, que não fornecem datação. 1.2 OBJETIVOS Os objetivos desta pesquisa foram o estudo da paleobiologia dos gastrópodos preservados nos carbonatos da Formação Jandaíra, Cretáceo Superior da Bacia Potiguar, a análise das associações fossilíferas e a identificação dos eventos biológicos ocorridos.

3 2. MÉTODOS E MATERIAIS O desenvolvimento do projeto ocorreu em três fases: levantamento de dados, análise e interpretação dos dados e síntese dos resultados. 2.1 MÉTODOS 2.1.1 Levantamento de dados Foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre a Geologia e Paleontologia da parte emersa aflorante da Bacia Potiguar, com ênfase nos trabalhos publicados sobre a Formação Jandaíra. Tinha como objetivo o conhecimento da evolução da bacia, desde a deposição dos primeiros sedimentos cretáceos até os holocênicos. Foram identificados os eventos geológicos mais significativos para compreensão das modificações ocorridas a nível local, regional e global durante o Cretáceo. Essas informações estão reunidas no capítulo três. Foram levantados também os mapas topográficos e geológicos da área de ocorrência da Formação Jandaíra nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará para utilização nos trabalhos de campo e na confecção de modelos explicativos. A partir desses levantamentos foram organizadas duas listagens com os fósseis de invertebrados da Formação Jandaíra. A primeira, por localidade fossilífera, com a relação das espécies que ocorrem em cada afloramento (ANEXO 1). Na segunda estão listadas as espécies de moluscos e equinóides e as localidades onde eles ocorrem (ANEXO 2). Os trabalhos de campo e análises Três trabalhos de campo foram efetuados para reconhecimento da geologia regional, observação e coleta de fósseis. Foram obtidas informações sobre os afloramentos, a litologia, os aspectos tafonômicos e paleoecológicos, e ainda, foram descritas duas seções geológicas. Algumas amostras coletadas foram encaminhadas para análises de palinomorfos e nanofósseis, e sedimentológicas complementares, visando possíveis reconstituições paleoambientais. Os trabalhos de campo tiveram como objetivo o reconhecimento da geologia da bacia e a coleta de material para estudo. São poucos os afloramentos na Chapada do Apodi em que se podem coletar fósseis e fazer observações mais detalhadas. Os

4 calcários que a capeiam são muito duros e os melhores locais para estudo e coleta estão em cortes de estradas e pedreiras ativas. Atualmente poucos fósseis são encontrados nos afloramentos, de modo que grande parte do estudo sistemático só pôde se realizar com material depositado nas coleções. Na primeira viagem foram visitados oito afloramentos da Formação Jandaíra. Parte das amostras coletadas foram entregues ao Prof. Dr. Rodolfo Dino, do Cenpes - Petrobras, para análises palinológicas. Os resultados das análises foram negativos. No segundo trabalho de campo outros três novos afloramentos foram visitados. Procedeu-se a novas coletas, contando-se desta vez com a ajuda dos alunos do curso de Geologia da UFRN. Nessas duas viagens o orientador da tese, professor Dr. Narendra Kumar Srivastava, acompanhou o desenvolvimento dos trabalhos. No terceiro trabalho de campo foram visitadas as pedreiras da região de Limoeiro, na borda leste da bacia, no Estado do Ceará. As atividades foram orientadas pela geóloga Vanessa Mamede Cavalcanti, do 10 distrito do DNPM, em Fortaleza, Ceará. Lâminas de seis amostras de calcários desta pedreira foram examinadas e descritas pelo Prof. Dr. Paulo Tibana, da Faculdade de Geologia da UERJ. Onze amostras de pontos variados da formação foram analisados pela Prof a. Dra. Maria Dolores Wanderley, do Instituto de Geociências da UFRJ, para pesquisa de nanofósseis. Os resultados dessas análises também foram negativos. Os afloramentos visitados durante os trabalhos de campo estão localizados no mapa da figura 1, onde cada afloramento recebeu uma sigla de acordo com a região em que se encontra. 2.1.2 Análise e interpretação dos dados Nessa segunda fase de desenvolvimento da pesquisa procedeu-se à análise das informações obtidas a partir da bibliografia levantada e dos trabalhos de campo. Após o exame dos dados, foram selecionados os elementos da fauna mais significativos para a realização de estudos paleobiológicos, cronoestratigráficos e paleobiogeográficos.

LI Figura 1 - Localização dos principais afloramentos visitados (Modificado de SANTOS & CASSAB, 1994).

6 2.1.3 Síntese A terceira e última fase foi a da síntese dos resultados obtidos durante as pesquisas com a integração dos dados paleobiológicos e estratigráficos e a redação final do texto. 2.2 MATERIAIS As coleções Toda a pesquisa foi desenvolvida com material fossilífero proveniente de coleções de várias instituições, principalmente as do Museu de Ciências da Terra do DNPM, do Laboratório de Paleontologia do Departamento de Geologia do Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE e de coletas feitas durante os três trabalhos de campo realizados na Bacia Potiguar nos anos de 1999, 2000 e 2001. Foram examinados ainda, os fósseis do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional-UFRJ, do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da UFRJ, do Museu Câmara Cascudo da UFRN e do Museu de Paleontologia da Escola Superior de Agronomia de Mossoró. A Coleção de Invertebrados Fósseis do Museu de Ciências da Terra, do DNPM/RJ é a mais representativa. Ali estão depositados exemplares coletados no início do século 20, que hoje são locais inacessíveis, em margens de rios ou dentro do perímetro urbano. As coleções foram organizadas entre 1909 e 1961, por Roderic Crandall e L.P. Sigaud, em 1909, Luciano Jacques de Moraes, em 1923 e 1952, William Kegel, em 1956, Llewellyn Ivor Price, em 1957, Rubens da Silva Santos e Lélia Duarte, em 1961. É uma coleção com expressivo número de exemplares e contém os fósseistipo utilizados por Carlota Joaquina Maury em sua monografia de 1925. Na coleção do Laboratório de Paleontologia do Departamento de Geologia do Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE estão depositados os fósseis utilizados por Karl Beurlen em suas pesquisas sobre a geologia e paleontologia da Formação Jandaíra (BEURLEN, 1961a; 1964a; 1967). Os mapas Os mapas que forneceram subsídios para este estudo foram: Mapa Geológico da Bacia Potiguar, elaborado pelo geólogo Fernando Parentes Fortes, da Petrobrás, escala 1:100.000. São 17 folhas abrangendo toda a parte emersa da bacia, cuja base utilizada para confecção foi a 1 a. edição dos mapas

7 topográficos feitos por Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul, em 1971 (Não publicado). Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo Folha Jaguaribe (SA-24) e Folha Fortaleza (SB-24) (BRASIL, 1974). Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Norte, com escala 1:500.000 (BRASIL, 1998). 2.3 SIGLA DAS INSTITUIÇÕES AMNH DGM DNPM/RJ DG CTG MCTer MCT MN-UFRJ UERJ UFPE UFRJ UFRN USNM American Museum of Natural History Divisão de Geologia e Mineralogia do DNPM Departamento Nacional da Produção Mineral / Rio de Janeiro Departamento de Geologia do Centro de Tecnologia e Geociências Museu de Ciências da Terra do DNPM/RJ Museu de Ciências da Terra (sigla utilizada para identificação dos fósseis da coleção) Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal de Pernambuco Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte United State National Museum

8 3. GEOLOGIA DA BACIA POTIGUAR A Bacia Potiguar localiza-se na interseção da Margem Continental Equatorial com a Margem Continental Leste Brasileira, ocupando a metade setentrional do Rio Grande do Norte e a região nordeste do Ceará. Sua área total está estimada em 60.000 km 2, dos quais 21.000 km 2 estão na parte emersa (Figura 2). É uma bacia de rifte, formada a partir do Neojurássico, durante a separação das placas sul-americana e africana. Sua origem está ligada à formação do Oceano Atlântico Sul e está relacionada a uma série de bacias neocomianas, intracontinentais, que compõem o Sistema de Riftes do Nordeste Brasileiro, segundo MATOS (1992). Na Bacia Potiguar já foram perfurados 4.200 poços e realizadas aproximadamente 115.000 km de seções sísmicas de reflexão, pela Petrobras, visando a prospecção de hidrocarbonetos. Da interpretação destes dados obteve-se a definição da litoestratigrafia da bacia, possibilitando o reconhecimento da evolução e o modelo deposicional das diversas formações. 3.1 EVOLUÇÃO DAS BACIAS DO NORDESTE A Província Tectônica Borborema forma o embasamento da região Nordeste do Brasil. Subdivide-se em pequenas unidades tectônicas, constituídas por faixas de rochas de naturezas variadas, separadas entre si por falhas e lineamentos estruturais. O Sistema de Riftes do Nordeste Brasileiro, descrito por MATOS (1992), é composto de várias bacias sedimentares mesozóicas, ilustradas na figura 3. Estas bacias tiveram a mesma evolução estratigráfica e sedimentológica durante o Cretáceo. O padrão evolutivo geral dessas bacias é o resultado do estiramento da litosfera associado à subsidência em dois estágios: rifteamento mecânico seguido de contração térmica. Na figura 3, estão as principais características geológicas da Província Borborema com os maciços, as faixas de dobramentos pré-cambrianos, as bacias de riftes neocomianos, de riftes aptianos e os sedimentos do Cretáceo Superior e Terciário. Na Bacia Potiguar, os resultados acima foram amplificados pelo empilhamento flexural dos sedimentos. O clima, as flutuações eustáticas e o suprimento sedimentar foram outros fatores que também tiveram influência nos diferentes estágios de desenvolvimento das megasseqüências estratigráficas (CASTRO, 1990).

Figura 2 - Mapa geológico da Bacia Potiguar, parte emersa (Modificado de S ANTOS et al., 1994).

Ca Figura 3 - Bacias que compõem o Sistema de Riftes do Nordeste Brasileiro (Modificado de M ATOS,1992). C - Ceará. P - Potiguar. I - Iguatu. S - Sousa. A - Araripe. R - Recôncavo. T - Tucano. J - Jatobá. SA - Sergipe-Alagoas. PP - Pernambuco-Paraíba. Ja -Jacuípe. Ca - Cabo.

11 Em linhas gerais toda a sedimentação mesozóica pré-aptiana é de origem continental; os ambientes francamente marinhos instalaram-se somente a partir do Albiano. O quadro 1 apresenta resumidamente as principais etapas da evolução ocorrida com as bacias marginais e intracratônicas do Nordeste durante o Cretáceo. Ela está baseada nos trabalhos de CHANG et al. (1988) e CASTRO (1990). Três megasseqüências sedimentares caracterizam essa evolução: uma fase continental, seguida de uma transicional e por fim uma fase marinha, com a formação de uma plataforma carbonática, com eventos transgressivos e regressivos. Foram relacionadas apenas as formações da Bacia Potiguar. 3.1.1 Megasseqüência continental Está associada à fase rifte e envolve espessa sedimentação flúvio-eólica, deltaica, lacustre rasa e lacustre profunda. Formou-se a partir do Neojurássico estendendo-se até o Neocomiano. CHANG et al. (1988) identificaram três etapas tectônicas nesta megasseqüência, denominando-as de sin-rifte I, II e III. PONTE & APPI (1990) separam em duas fase, pré-rifte e rifte. a. Fase pré-rifte / sin-rifte I Segundo LIMA FILHO et al. (1999), durante o estágio tafrogênico sin-rifte I (prérifte), a crosta sofreu um processo de arqueamento na parte central da Província da Borborema e subsidência nas áreas periféricas originando duas depressões isoladas, paralelas, que seriam a Afro-Brasileira e Araripe-Potiguar (Figura 4). Desta fase resultaram sedimentos terrígenos, avermelhados, provenientes de ambientes aluviais ou lacustres, que já foram reconhecidos nas bacias do Recôncavo, Tucano, Jatobá, Araripe, Sergipe e Alagoas. A idade é atribuída ao Andar Dom João (Portlandiano, Jurássico Superior). Não há registros desta fase na Bacia Potiguar. b. Fase sin-rifte II Nesta etapa ocorreu o estiramento da crosta provocando a formação de riftes com grabens assimétricos, preenchidos inicialmente por depósitos gravitacionais de lago profundo e depois por lobos deltaicos progradantes (Figura 5). Esta fase teria ocorrido durante os andares Rio da Serra a Aratu, cuja idade corresponde ao Berriasiano-Hauteriviano. Na Bacia Potiguar estão representados pelos

Quadro 1 - Etapas da evolução das bacias do Nordeste durante o Cretácio, com as respectivas formações da Bacia Potiguar.

Figura 4 - Fase sin-rifte I. Formação do Domo Borborema e das depressões Afro-Brasileira e Araripe-Potiguar na Província Borborema. (Segundo LIMA F ILHO et al., 1999). Figura 5 - Ambiente deposicional da fase sin-rifte II - Formação Pendência (Segundo B ERTANI et al., 1990).

14 sedimentos da Formação Pendência e constituem-se em rochas geradoras e bons reservatórios de petróleo (BERTANI et al., 1990). c. Fase sin-rifte III Representa a colmatação final do lago por sedimentos deltaicos e aluviais. A idade é Buracica-Jiquiá, correspondente ao Barremiano. Na Bacia Potiguar, os sedimentos desta fase preservaram-se na Formação Pendência, mas somente na parte submersa da bacia (BERTANI et al., 1990). 3.1.2 Megasseqüência transicional Esta megasseqüência está limitada na base por uma discordância que peneplanizou a topografia herdada do rifte continental. São depósitos terrígenos de leque aluvial, lagos efêmeros ou fan-deltas lacustres na parte inferior, sucedidos pelo estágio evaporítico na parte superior. Estes evaporitos estão presentes em todas as bacias da margem leste (Figura 6). A idade é aptiana (Andar Alagoas) e está representada na Bacia Potiguar pelos sedimentos da Formação Alagamar (BERTANI et al., 1990). 3.1.3 Megasseqüência marinha Nesta fase se deu o desenvolvimento de extensas plataformas rasas de sedimentação carbonática. Nas bacias da margem norte e nordeste, as condições salinas eram normais e favoreceram o desenvolvimento de calcários bioclásticos e bioconstruídos. Os depósitos terrígenos de retaguarda dos bancos carbonáticos estão relacionados aos sistemas de fan-deltas, como na Bacia Sergipe-Alagoas ou flúvioestuarinos, como na Bacia Potiguar (Figura 7). Esta megasseqüência marinha apresenta fases transgressivas e regressivas. A primeira fase está representada na Bacia Potiguar pelos sedimentos das formações Açu, Jandaíra e Quebradas. A fase regressiva é representada por parte da Formação Jandaíra e pelas formações Tibau e Guamaré (BERTANI et al., 1990). 3.2 EVOLUÇÃO DA BACIA POTIGUAR O primeiro pulso tectônico que culminou com a formação do rifte Potiguar ocorreu durante o Titoniano. Os inúmeros diques alojados nas fraturas E-W (extensão N-S

Figura 6 - Ambiente deposicional da megasseqüência transicional - Formação Alagamar. (Segundo B ERTANI et al., 1990). Fm. Figura 7 - Ambiente deposicional da megasseqüência marinha. (A) Unidade transgressiva (B) Unidade regressiva. (Segundo BERTANI et al., 1990).

16 contemporânea), datam do período 150-120 Ma e fazem parte do Magmatismo Rio Ceará-Mirim (BRASIL, 1998). 3.2.1 Rifte Potiguar O arcabouço estrutural do rifte Potiguar é bem definido para a porção emersa da bacia. A parte submersa não apresenta o mesmo detalhamento, embora a continuidade dos elementos estruturais entre as duas partes já tenha sido constatada. Na porção emersa, o rifte alinha-se segundo a direção ENE-WSW formando grabens assimétricos, limitados à sudeste por falhas que ultrapassam 5.000 m de rejeito e por flexuras na borda oposta. São os grabens de Apodi, Umbuzeiro, Boa Vista, Pendências e Guamaré, separados por cristas alongadas de embasamento, dispostas paralelamente à direção do eixo principal do rifte, denominados de altos internos. Estas feições estruturais estão ilustradas na figura 8, onde também estão representados o alto de Quixabá, Canudos, Macau, Serra do Carmo e Mossoró. Margeando os lados do rifte ocorrem duas plataformas rasas do embasamento: a de Aracati, à oeste e a de Touros, à leste (CREMONINI et al., 1996). O rifte Potiguar formou-se com uma ruptura em rochas do embasamento cristalino pré-cambriano, pertencentes à Província Borborema. A formação inicia-se no Neocomiano durante a reativação tectônica desta província, ocasionada pela separação das placas sul-americana e africana. Vários modelos tectônicos têm sido propostos para a formação deste rifte. Existe uma grande controvérsia entre os autores sobre a orientação dos esforços e os mecanismos que atuaram na época de sua geração. No trabalho sobre as implicações tectônicas deste rifte, CREMONINI et al. (1996) corroboraram o modelo proposto por MATOS (1992), descrito a seguir. A evolução do rifte ocorreu em duas fases. A primeira foi responsável pela formação da bacia e estaria associada ao seu preenchimento mais expressivo, que ocorreu entre o Eoberriasiano e o Eobarremiano (andares Rio da Serra e Aratu). Esta fase, denominada de sin-rifte II, originou-se de esforços distensivos máximos de direção WNW-ESSE, segundo modelo proposto por FRANÇOLIN & SZATMARI (1987). A segunda ocorreu do Neobarremiano ao Eoaptiano (andares Buracica e Jiquiá), através de uma nova fase de rifteamento, denominada de sin-rifte III. Foi causada por

G. MESSEJANA G. FORTALEZA Rifte Rio da Serra-Aratu Rifte Buracica-Jiquiá- Alagoas Inferior G. JACAÚNA Rifte Buracica-Jiquiá- Alagoas Inferior sobreposto ao Rifte Rio da Serra-Aratu Horst BAIXO DE ARACATI F. PESCADA A. TOUROS G. TOUROS F. UBARANA B. GROSSOS PLATAFORMA DE ARACATI F. MACAU G. BOA VISTA A. MOSSORÓ A. SERRA DO CARMO G. BOA VISTA G. BOA VISTA A. MACAU G. GUAMARE G. PENDÊNCIAS PLATAFORMA DE TOUROS F. CARNAUBAIS G. UMBUZEIRO A. CANUDOS G. APODI F. BAIXA GRANDE 0 25 km Figura 8 - Arcabouço estrutural da Bacia Potiguar (Segundo C REMONINI et al., 1996).

18 esforços distensivos máximos segundo a direção aproximada E-W, com ruptura principalmente na porção submersa da bacia (Figura 8). 3.2.2 Estratigrafia da Bacia Potiguar em sua parte emersa ARARIPE & FEIJÓ (1994a), dividiram a estratigrafia da Bacia Potiguar, em três grupos: Areia Branca, constituído pelas formações Pendência e Alagamar; Apodi, com as formações Açu, Quebradas e Jandaíra e o terceiro, Grupo Agulha, reunindo as formações Ubarana, Guamaré e Tibau. No Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Norte (BRASIL, 1998), foram utilizados apenas os grupos Areia Branca e Apodi e introduzido o Grupo Barreiras, uma vez que só trata da área da bacia localizada na parte emersa. Sua coluna cronoestratigráfica está ilustrada na figura 9, onde a ocorrência da Formação Jandaíra foi ampliada até o Campaniano Superior, devido à ocorrência de cefalópodos característicos desse época, estudados por OLIVEIRA (1957).! FORMAÇÕES CRETÁCEAS a. Formação Pendência A idade absoluta do rifteamento foi calculada em 140 Ma (Berriasiano). Os sedimentos mais antigos depositados no rifte estão associados à parte basal desta formação e foram datados pela presença de pólens característicos do andar Rio da Serra. Em sua maior parte está em subsuperfície, só aflorando ao sul da bacia. Estes sedimentos constituem-se de rochas vulcanoclásticas contemporâneas a rochas siliciclásticas, passando a arenitos finos, argilosos, intercalados com siltitos e folhelhos ricos em matéria orgânica. Estes sedimentos foram depositados em ambiente lacustre associado a deltas progradantes e planícies aluviais (DELLA FÁVERA, 2001). Essa unidade chega a alcançar 5.000 m junto à falha de Carnaubais. O modelo deposicional proposto para as seqüências da Formação Pendência, baseia-se no obtido para os lagos do sistema de riftes da África Oriental. BRASIL (1998), registra pela primeira vez a ocorrência da formação em superfície, ao sul da Bacia Potiguar. b. Formação Alagamar Constitui-se de arenitos finos a grossos, intercalados com folhelhos lagunares ricos em matéria orgânica, depositados em ambiente transicional. Também ocorrem

Figura 9 - Coluna cronoestratigráfica da Bacia Potiguar, parte emersa. (Modificada de B RASIL, 1998).

20 camadas de carbonatos fossilíferos, depositados sob influência marinha restrita. Ocorre somente em subsuperfície (BRASIL, 1998). c. Formação Açu São camadas espessas de arenitos finos a grossos, esbranquiçados, intercalados com folhelhos, argilitos e siltitos, especialmente em direção ao topo. Foram identificados sedimentos provenientes de leques aluviais e de sistemas fluviais entrelaçados e meandrantes e ainda uma transgressão estuarina. As datações com palinomorfos apontam uma idade albiana-cenomaniana para estes estratos, mas na parte emersa devem atingir também o Eoturoniano (SOUZA, 1982). d. Formação Quebradas Outra unidade de subsuperfície, constituída por um folhelho síltico-arenoso, com finas camadas de carbonatos. Ocorre na faixa norte da Bacia Potiguar e grada lateralmente para o nível superior da Formação Açu (BRASIL, 1998). e. Formação Jandaíra Seção carbonática, sobreposta concordantemente aos arenitos da Formação Açu. Pelo seu conteúdo fossilífero é datada do Turoniano ao Eocampaniano. É composta por calcarenitos e calcilutitos bioclásticos, cujas cores variam do cinza claro ao amarelado, com um nível evaporítico na base. A ocorrência de foraminíferos bentônicos, de algas verdes, a presença de marcas de raízes e gretas de contração são características que apontam para um ambiente de planície de maré, embora em alguns locais predominasse uma plataforma rasa (ARARIPE & FEIJÓ, 1994a).! FORMAÇÕES PÓS-CRETÁCEAS Um contínuo basculamento regional ocorreu no decorrer do Terciário, em conseqüência da subsidência da bacia causada pelo resfriamento térmico da litosfera e da carga litostática das seqüências marinhas. Neste tempo depositaram-se os arenitos continentais da Formação Serra do Martins, que são associados a sistemas fluviais, de idade eocênica.

21 Acima destas rochas estão os sedimentos do Grupo Barreiras que ocorrem interdigitados com a Formação Tibau. A primeira associada a sistemas fluviais e a segunda a leques aluviais costeiros. A Formação Tibau, por sua vez, apresenta-se interdigitada com a Formação Guamaré, de subsuperfície, composta de calcarenitos bioclásticos depositados em ambientes de plataforma e talude. Os sedimentos quaternários ocorrem sob a forma de paleodunas e paleocascalheiros, datados do Pleistoceno. Do Holoceno são os depósitos de aluvião associados aos sistemas fluviais atuais e depósitos de planícies e canais de maré, lagoas e praias. Estas apresentam dunas móveis, arenitos e conglomerados com cimento carbonático, formando cordões de beach rocks (BRASIL, 1998).

22 4. FORMAÇÃO JANDAÍRA A Formação Jandaíra é uma seqüência de sedimentação carbonática, de idade eoturoniana-eocampaniana, que se caracteriza pela predominância de carbonatos marinhos, de águas rasas e agitadas, tanto em superfície como em subsuperfície. A área de ocorrência da formação está ilustrada na figura 10 (TIBANA & TERRA, 1981). 4.1 ESPESSURA E DISTRIBUIÇÃO Em superfície, os afloramentos se estendem na direção W-E, por quase toda a Chapada do Apodi, com exceção da zona litorânea, onde são cobertos por sedimentos terciários e por aluviões e dunas quaternárias. Em subsuperfície, vão desde a parte emersa da bacia até a plataforma continental. A maior espessura desta unidade é estimada em 600 m e as menores estão localizadas nos extremos leste e oeste da bacia, como ilustra o mapa de isópacas da figura 11 (TIBANA & TERRA, 1981; SOUZA, 1982). 4.2 CONTATO ENTRE AS FORMAÇÕES AÇU E JANDAÍRA A entrada do mar na bacia é marcada pela presença de um arenito calcífero, considerado estratigraficamente como a parte superior da Formação Açu. Representa a transição entre os arenitos da Formação Açu e os calcários da Formação Jandaíra. Sua espessura varia muito dependendo do ponto da bacia, podendo apresentar 30 m nas proximidades da cidade de Upanema ou ser muito reduzido, como na região de Apodi. O contato entre as formações Jandaíra e Açu pode ser observado nos afloramentos localizados nos cortes de estradas de rodagem, nos limites meridionais da bacia. As figuras 12 e 13 mostram esse contato. A ocorrência de camadas de folhelhos intercaladas com os primeiros sedimentos calcários é também uma característica dessa fase de transição, como ilustra a figura 13. 4.3 LITOLOGIA Na área localizada entre o limite ocidental da Formação Jandaíra até o rio Açu, predominam calcários creme-claros, com textura detrítica, variando de calcarenítica a oolítica, tanto em afloramento como em poço. Ocorrem também calcários microcristalinos, às vezes nodulosos ou coquinoidais, com bancos fossilíferos, podendo

ÁREAS DE OCORRÊNCIA DAS SEQÜÊNCIAS CARBONÁTICAS DA BACIA POTIGUAR 38º 37º 36º 35º MAPA DE SITUAÇÃO 4º BRASIL ARACATI SEQÜÊNCIA TURONIANA / CAMPANIANA 5º MOSSORÓ MACALI S. BENTO DO NORTE TOUROS AÇU APODI 0 10 20 km NATAL Figura 10 - Extensão da transgressão do Turoniano-Campaniano na Bacia Potiguar (Modificado de T IBANA & T ERRA, 1981). 575 650 750 850 950 km 9600 km BACIA POTIGUAR ISÓPACAS FM. JANDAÍRA IC = 200m 0 40 km??? 9500 ARACATI? 0 200 CONVENÇÕES POÇO EMBASAMENTO 400 600 9400 400 200 MACAU AÇU??? TOUROS 200? 0 NATAL 9350 Figura 11 - Mapa de isópacas da Formação Jandaíra (S OUZA, 1982).

Figura 12 - Contato entre os arenitos da formação Açu e os calcários da Formação Jandaíra na borda sudoeste da Chapada do Apodi (GD-03). Figura 13 - Camadas de folhelhos intercalados com calcário micrítico, próximas do contato com a Formação Açu (UP-01).

25 apresentar intercalações de folhelho preto e carbonoso. Arenitos cinzentos, argilosos, calcíferos, contendo abundantes fragmentos de conchas de moluscos, são encontrados na área a leste do rio Açu. Uma fácies dolomítica pode ser observada nos calcários que afloram na parte central da bacia, na área situada entre o rio Açu e um pouco além da margem leste do rio Amargoso. Essa mesma fácies ocorre abaixo dos sedimentos cenozóicos, na região próxima à cidade de Macau (SAMPAIO & SCHALLER, 1968). Ao norte da cidade de Upanema, logo após o topo da cuesta que limita a Chapada do Apodi, ocorrem bancos calcários com foraminíferos miliolídeos, principalmente Quinqueloculina, intercalados com calcários compactos, muito recristalizados e espessos. Os calcários variam de branco ou amarelo até acinzentado. A estratificação não é distinta, podendo apresentar-se em alguns locais como lajeada ou nodulosa. Tratam-se de calcários detríticos, onde a presença dos miliolídeos indicam águas quentes e pequenas profundidades. A presença de calcários oolíticos aponta para uma fácies de águas mais agitadas, mas esse tipo de calcário é raro na formação (BEURLEN, 1967). Na região de Soledade, próximo à cidade de Apodi, a análise dos calcários revelou baixo teor de dolomita e ausência de argila e areia. Essa última característica poderia indicar que a área próxima ao litoral era plana, sem relevo acidentado ou então predominava um clima semi-árido, impossibilitando a formação de grandes rios transportadores de materiais provenientes do intemperismo continental (BEURLEN, 1967). O calcário dessa região apresenta-se com superfícies de carstificação, como mostra a figura 14, na localidade de Lajedo da Soledade (AP-01). 4.4 IDADE MAURY (1925, 1934a), datou os fósseis no Turoniano, após comparar o material estudado com o de outras faunas sincrônicas da Venezuela, Colômbia e México. KEGEL (1957) dividiu a Formação Jandaíra em três partes, uma parte inferior, que teria a idade Turoniano-Coniaciano, uma parte média, datada no Santoniano-Campaniano e uma parte superior, que considerou como Maastrichtiano. BEURLEN (1961a, 1964a, 1967) subdividiu a Formação Jandaíra, denominando a parte inferior de Formação Sebastianópolis, de idade turoniana e a parte superior, de Formação Jandaíra, com sedimentos do Campaniano-Maastrichtiano. Considerou a ocorrência de duas transgressões, uma no Turoniano e outra no Campaniano-Maastrichtiano,

26 com um hiato entre elas, correspondendo à fase regressiva. Restringiu a primeira à Chapada do Apodi, do vale do rio Açu para oeste, até os seus limites ocidentais no Ceará, mas ausente à leste de Macau e a transgressão do Campaniano-Maastrichtiano teria ocorrido pela parte oriental, da faixa litorânea do Rio Grande do Norte até as proximidades de Natal. As idades atribuídas pelos autores acima foram baseadas em macrofósseis. Somente SAMPAIO & SCHALLER (1968) utilizaram-se de microfósseis para fazer uma datação dos sedimentos da parte emersa da Formação Jandaíra. Segundo eles, a idade estaria entre o intervalo de tempo Turoniano-Santoniano, devido à ocorrência associada do foraminífero Syphogenerinoides cf. dentata Chenouad, de Klasz & Meijer e do ostrácodo Brachycythere (Brachycythere) sapucariensis Krömmelbein, cuja amplitude conjunta vai do Turoniano ao Santoniano. TIBANA & TERRA (1981) dataram a seqüência carbonática que compreende a Formação Jandaíra no Turoniano-Maastrichtiano. SOUZA (1982), considerou como mais provável o intervalo Turoniano-Campaniano inferior, em virtude do Maastrichtiano pertencer a uma seqüência sismoestratigráfica superior, em relação àquela concernente à Formação Jandaíra. Neste trabalho, os sedimentos da parte aflorante da Formação Jandaíra foram datados como tendo sido depositados durante o intervalo Turoniano inferior -Campaniano superior. 4.5 AMBIENTE DE SEDIMENTAÇÃO Na parte emersa da bacia predominam as fácies de laguna e de planície de maré, caracterizadas por calcarenitos com bioclastos de moluscos, algas verdes, briozoários e equinóides, calcarenitos com miliolídeos, calcilutitos bioclásticos e calcilutitos com birdseyes. Apenas em uma faixa estreita foi encontrada fácies de plataforma rasa aberta, caracterizada pela presença de algas vermelhas (TIBANA & TERRA, 1981; SOUZA, 1982). CORDOBA et al. (1996) estudaram os carbonatos da borda sudoeste da bacia, na região próxima à cidade de Apodi. Estabeleceram um modelo deposicional de um sistema de planície de maré integrando as zonas de supra-, inter- e inframaré, em uma paleofisiografia de baía (Figura 15). Segundo os autores, as relações faciológicas e a baixa diversidade biótica indicam que houve condições de restrição à vida marinha na

Figura 14 - Superfícies de carstificação, na localidade de Lajedo da Soledade (AP-01). BARRAS DE MARÉ DEPÓSITOS DE FUNDO DE LAGUNA DEPÓSITOS DE SUPRA A INTERMARÉ Figura 15 - Modelo de paleofisiografia de baía, segundo CORDOBA et al. (1996).

28 área estudada. Identificaram cinco fácies deposicionais nos carbonatos, sendo três atribuídas à sedimentação em barras de maré, uma em fácies de planície de maré e uma em laguna. Na fácies de planície de maré identificada na localidade AÇ-01 (Figura 16), podem ser observadas delgadas camadas de calcários com birdseyes alternados com margas, demonstrando as oscilações do nível do mar no início da fase transgressiva. No afloramento UP-02, da mesma fácies (Figura 17), encontram-se uma espessa camada de margas intensamente bioturbadas. O afloramento MO-03, nos arredores da cidade de Mossoró, também exemplifica a fácies de planície de maré. Apresenta uma seqüência de calcários biomicríticos, margas e calcários bioesparitos. Há um banco de ostreídeos preservado in situ, gastrópodos de grande porte, biválvios fossilizados com as conchas fechadas e duas espécies de equinóides. Ao lado do banco de ostras registrou-se a presença de uma camada de caliche, que são crostas calcárias formadas por dissolução e reprecipitação do CaCO 3. A formação do caliche ocorre quando uma superfície fica exposta durante um longo tempo, em regiões de clima árido e semi-árido, onde os sedimentos sofrem exposição subaérea. Na figura 18 estão a foto e um esboço do perfil deste afloramento. A fácies de planície de maré foi observada também na pedreira da Fábrica de Cimento Nassau, a 7 km do centro de Mossoró (afloramento MO-02). Na figura 19 estão os carbonatos com estruturas sigmóides, na figura 20 os calcários margosos atribuídos à planície de maré e na figura 21, bioturbações encontradas no topo da seqüência. A fácies de laguna ocorre na localidade LI-01, na região de Limoeiro, Ceará, lado ocidental da bacia. A foto da figura 22 mostra a frente de extração de calcários para fabricação de cimento e nas figuras 23 e 24, as camadas do topo da formação. Um perfil deste afloramento é apresentado na figura 25, com a posição das lâminas que foram examinadas. A análise das lâminas do perfil da pedreira LI-01 revelou: Lâmina 02 Foraminíferos miliolídeos (interior da plataforma) e textulariídeos; presença de ostrácodos; lama micrítica, com processo de dolomitização incipiente, com muita matriz; baixa energia. Lâmina 01 Calcários com miliolídeos, dentro e fora dos oncólitos, estruturas algálicas; gastrópodos; sedimentação precoce; ambiente marinho raso, lagunar; mais energia que o anterior.

Figura 16 - Fácies de planície de maré. Borda sudoeste da Bacia Potiguar (AÇ-01). Calcários com birdseyes intercalados com margas. Figura 17 - Margas intensamente bioturbadas (UP-02).

Bioesparito Caliche Margas com ostreídeos Biomicrito Equinóides Inoceramídeo Gastrópodos Biválvios Figura 18 - Fácies de planície de maré (MO-03).

Figura 19 - Pedreira da fábrica de cimento Nassau (MO - 02). Carbonatos com estruturas sigmóides, da fácies de planície de maré. Figura 20 - Calcários margosos da fácies de planície de maré (MO-02).

Figura 21 - Bioturbações encontradas no topo da mesma seqüência (MO-02). Figura 22 - Fácies de laguna. Pedreira Carbomil, município de Limoeiro, Ceará (LI-01)

Figura 23 - Camadas da parte superior da pedreira (LI-01), onde ocorrem bioturbações, grãos de ferro e sílex. Figura 24 - Detalhe dessas bioturbações da parte superior da pedreira (LI-01).

solo de massapê LI-01 grãos de calcita (Lâmina 05) pelotas de ferro, sílex (Lâmina 04) bioturbações com preenchimento de argila sedimento grosso a conglomerado calcilutito a calcisiltito, maciço acamamento de 20 cm, intercalados com níveis milimétricos de argila fósseis muito recristalizados ( Nerinea e Trochacteon) Calcirrudito (Lâmina 03) tempestito e ondulações cruzadas (Lâmina 01) calcarenito calcilutitos a calcisiltitos, maciços (Lâmina 02) 0,25 m estilólitos níveis de argila gastrópodos bioturbações Figura 25 - Perfil da localidade LI-01.

35 Lâmina 03 Foraminíferos textulariídeos em maior quantidade do que os miliolídeos; microgastrópodos; calcirrudito muito bioturbado com matriz e cimento; intraclastos e rudáceos. Lâmina 04 Lamito bioturbado, dismicrito?, com menos miliolídeos e textulariídeos que as anteriores; gastrópodos. Lâmina 05 Dismicrito com miliolídeos; raros ostrácodos; laguna muito rasa; ressecamento da bacia.

36 5. HISTÓRICO DAS PESQUISAS PALEONTOLÓGICAS NA FORMAÇÃO JANDAÍRA A menção mais antiga aos fósseis do Rio Grande do Norte foi feita por Frederico Burlamaqui, em 1855, quando assinalou a ocorrência de três conchas fósseis coletadas na Chapada do Apodi, pelo médico francês Jacques Brunet. Esse médico viajou pelo interior das províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará em viagem de estudos organizada pelo governo da Paraíba e trouxe uma coleção de fósseis, entre os quais, estavam as três conchas citadas. Em seu trabalho, F. Burlamaqui diz que examinou o material e destacou que aqueles seriam os primeiros moluscos fósseis brasileiros a fazer parte da coleção do Museu Nacional (MORAES, 1953). As rochas calcárias da Bacia Potiguar foram descobertas em 1886, por João Martins da Silva Coutinho, naturalista do Museu Nacional do Rio de Janeiro, durante sua participação em uma expedição ao Vale do Rio Mossoró, na Província do Rio Grande do Norte (MORAES, 1953). A primeira citação sobre a presença de rochas cretáceas no Rio Grande do Norte foi feita na Monografia 1, de 1887, do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Neste trabalho, Charles Abiatar White, paleontólogo norte-americano, publicou os resultados de suas pesquisas sobre os fósseis cretáceos da Bahia, Sergipe, Pernambuco e Pará. Destacamos o texto abaixo da página 10 da monografia, que mostra as previsões sobre a provável ocorrência de rochas cretáceas no Rio Grande do Norte. No longo trecho da costa entre a localidade do Rio Piabas (sic) e o cotovelo setentrional do continente, no Cabo de São Roque, nenhuma rocha cretácea é definitivamente conhecida, mas é provável que elas apareçam aí. Orville Adelbert Derby, que na época era diretor da Seção de Mineralogia e Geologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro, foi o editor desta monografia de White e aproveitou a oportunidade para divulgar a descoberta das rochas cretáceas previstas pelo autor. Na mesma página, em nota de rodapé, ele publicou o seguinte texto: Esta suposição foi confirmada em 1886 pela descoberta do Dr. Silva Coutinho de uma bacia cretácea na Província do Rio Grande do Norte no Vale do Rio Mossoró.

37 Hermann von Ihering, era diretor do Museu de São Paulo quando recebeu um molde interno de um grande gastrópodo proveniente da região de Mossoró. O fóssil lhe foi enviado pelo naturalista Francisco Dias da Rocha, proprietário do Museu Rocha, em Fortaleza, no Ceará. Denominou a nova espécie de Tylostoma rochai em homenagem ao naturalista cearense, descrevendo formalmente o primeiro fóssil da Formação Jandaíra (MORAES, 1953). Roderic Crandall e Horace E. Williams, geólogos norte-americanos, vieram ao Brasil a serviço da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas e realizaram uma viagem, em 1909, para reconhecimento geológico no Estado do Rio Grande do Norte. Visitaram várias localidades e organizaram uma grande coleção de fósseis, que hoje se encontra depositada no MCTer / DNPM. No relatório feito por CRANDALL (1910), está a citação do encontro de rochas fossilíferas nos arredores de Mossoró, com uma fauna exclusivamente marinha, onde predominavam gastrópodos e biválvios bem característicos, aparentando ter idade cretácea. Constatou que eles eram diferentes dos moluscos encontrados em outras bacias do Nordeste, como a do Araripe e de Sergipe- Alagoas. Os fósseis foram estudados pela paleontológa Carlota Joaquina Maury, da Universidade de Cornell. Em 1911, a Universidade de Stanford, na Califórnia, organizou a Stanford Expedition to Brazil que tinha como principal objetivo a coleta de material zoológico nos arredores da cidade de Natal. O geólogo Olaff Pitt Jenkins, integrante da expedição, aproveitou a oportunidade para estudar a geologia da região. Ressaltou a ocorrência de vários tipos de calcários, alguns com fósseis mal preservados, sob a forma de moldes internos ou impressões. Identificou 11 espécies de moluscos, uma de crustáceo e algumas folhas, que foram comparadas com as das palmeiras atuais. Entre as espécies de gastrópodos estudadas, havia uma que foi considerada como sendo a mesma que ocorria na Formação Maria Farinha, em Pernambuco, datada na época como eocênica, o que levou o autor a datar os fósseis de Natal no Terciário Inferior. Uma parte da coleção foi enviada para ser examinada pelo prof. Gilbert Harris, especialista em moluscos fósseis da Universidade de Cornell. Após o estudo afirmou que com exceção dos gastrópodos do gênero Nerinea, característicos do Cretáceo, os outros fósseis identificados pertenciam a gêneros atuais. Mesmo assim, datou os fósseis como eocênicos, levando em conta a presença da espécie que Jenkins julgava ser a mesma que ocorria na Formação Maria Farinha (JENKINS, 1913).

38 Em 1923, Luciano Jacques de Moraes, realizou estudos geológicos na costa do Rio Grande do Norte e registrou a ocorrência de fósseis de biválvios e gastrópodos nas camadas calcárias encontradas na base do penhasco da Ponta da Gameleira, ao norte de Natal. Nesta expedição foram organizadas duas coleções, uma enviada ao Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, no Rio de Janeiro e outra enviada aos Estados Unidos, mas ambas se extraviaram (MORAES, 1945). As associações fossilíferas da Formação Jandaíra tornaram-se conhecidas somente a partir dos trabalhos de Carlota Joaquina Maury (MAURY, 1925, 1934a e b). O trabalho de 1925 foi feito com exemplares das coleções organizadas anteriormente por Roderic Crandall, procedentes de diversas localidades da bacia. A autora ressaltou que apesar das diferenças na composição das faunas, havia sempre um fóssil característico do Cretáceo. Comparando o material estudado com o de outras faunas sincrônicas da Venezuela, Colômbia e México, concluiu que os calcários deveriam ser datados no Turoniano. Chamou a atenção para a ausência de espécies em comum com as outras faunas cretáceas das bacias costeiras do Nordeste. Essa coleção faz parte do acervo do Museu de Ciências da Terra / DNPM-RJ. Em 1934, C.J. Maury publicou um importante trabalho onde identificou 17 espécies de biválvios, 12 de gastrópodos e sete de equinóides, provenientes de sete localidades de vários pontos da bacia. Os fósseis foram coletados e enviados pelos geólogos da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (MAURY, 1934a). Nesse mesmo ano, descreveu um novo gênero de equinóide da formação (MAURY, 1934b). Os fósseis utilizados nesses dois trabalhos ficaram depositados na coleção do Americam Museum of Natural History, de Nova York. Com relação aos microfósseis, merecem registro dois trabalhos pelo seu valor histórico, o de MORAES (1953), o primeiro registro de foraminíferos em afloramentos da região de Mossoró e o de KEGEL (1957), com informações sobre a idade e a natureza dos microfósseis coletados na região de Macau. Neste último trabalho, Ivan de Medeiros Tinoco, foi o responsável pelas pesquisas, apresentando as primeiras análises feitas em testemunhos de sondagens da Formação Jandaíra. Alguns dos foraminíferos e ostrácodos identificados já haviam sido registrados em rochas do Maastrichtiano da Holanda, ajudando a datar os sedimentos naquela área. KEGEL (1957) visitou vários afloramentos situados na região ao sul de Macau e dividiu o Calcário Jandaíra, preliminarmente, em três partes. A parte inferior, datada no

39 Turoniano-Coniaciano, a parte média, no Santoniano-Campaniano e a parte superior, no Maastrichtiano. O estudo detalhado dos amonóides Sphenodiscus Meek, 1871 e Pachydiscus Zittel, 1884 coletados por KEGEL (1957), foi feito por OLIVEIRA (1957). Esse mesmo autor descreveu mais tarde outra espécie do mesmo grupo, de idade turoniana, pertencente ao gênero Coilopoceras Hyatt, 1903. (OLIVEIRA, 1969). DUARTE & SANTOS (1961) visitaram vários afloramentos da formação, relatando os fósseis encontrados e dando maiores detalhes sobre as ocorrências. Coletaram moluscos, equinóides, restos de vegetais e peixes. REBOUÇAS (1962) estudou as jazidas de gipsita da região de Gov. Dix-Sept Rosado. Nelas, a gipsita ocorre intercalada com delgados níveis argilosos, onde se preservaram fósseis de conchostráceos, peixes e restos de plantas. Os conchostráceos foram estudados por LANA & CARVALHO (2001) e os restos de peixes por SANTOS (1963). Grande contribuição à Paleontologia da Formação Jandaíra foi dada pelos trabalhos de Karl Beurlen. Como professor da Escola de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco realizou várias excursões com seus alunos na Chapada do Apodi, ampliando o conhecimento sobre a Geologia da região. A primeira excursão foi realizada em 1960 e suas observações sobre a Geologia e Paleontologia da formação foram publicadas em BEURLEN (1961a, 1964b). BEURLEN (1961a) estudou os amonóides encontrados durante os trabalhos de campo, possibilitando datar com segurança os sedimentos no Turoniano. BEURLEN (1964a), descreveu várias espécies novas de moluscos e equinóides, além de revisar ou comentar sobre todas as espécies descritas anteriormente por MAURY (1925 e 1934a), comparando-as com faunas de outras localidades do Cretáceo Superior. Em 1967, apresentou um panorama sobre a Geologia e Paleontologia da região de Mossoró, reconhecendo duas seqüências sedimentares. A primeira, denominada de Formação Sebastianópolis e a segunda, de Formação Jandaíra. Na identificação destas duas seqüências foram levadas em conta as diferenças estratigráficas, sedimentológicas e paleontológicas existentes entre as duas unidades. Ao final do trabalho, registrou ainda seis novas espécies de moluscos e organizou uma lista dos fósseis que ocorriam em cada seqüência (BEURLEN, 1967). TIBANA & TERRA (1981) estudaram as seqüências carbonáticas da Bacia Potiguar caracterizando as fácies de cada uma delas. Consideraram os carbonatos da Formação Jandaíra como sendo datados do Turoniano ao Maastrichtiano.

40 O encontro de amonóides neoconiacianos em Mossoró permitiu marcar um limite cronoestratigráfico nos sedimentos da parte emersa da Bacia Potiguar. Esses fósseis foram descritos por MUNIZ & BENGTSON (1986). SANTOS & CASSAB (1990) e SANTOS et al. (1994) identificaram cinco níveis cronoestratigráficos na superfície da Bacia Potiguar, com base nas interações existentes entre a distribuição dos fósseis na bacia e sua correlação com eventos geológicos e paleontológicos de âmbito regional e global. As áreas foram delimitadas por SANTOS (1992), com as diferentes associações fossilíferas, cujas idades variam do Turoniano ao Maastrichtiano, a primeira nos arenitos da Formação Açu e as outras quatro nos calcários da Formação Jandaíra. O estudo dos biválvios foi recentemente retomado por SENRA (1994, 1997, 2000), e SENRA & SILVA E SILVA (2001), que fizeram uma revisão completa da superfamília Ostreoidea, estudando sua paleobiologia e aspectos bioestratinômicos das conchas. ROHR & BOUCOT (1989) usaram a espécie Dendostrea ramicola (Beurlen, 1964), ostreóideo característico da formação, para apresentar um modelo de substrato biológico e discutir outras interações paleoecológicas. Os gastrópodos dos gêneros Tylostoma e Trochactaeon, da superfamília Nerineoidea foram objeto de estudo de CASSAB (1999, 2001, 2002). Foram abordados aspectos relativos à sistemática, paleogeografia e tafonomia destes moluscos. Os equinóides da Formação Jandaíra foram descritos por MAURY (1925, 1934a e b) e mais tarde por SANTOS (1960), BRITO (1980, 1981a, 1981b) e BEURLEN (1964a). SMITH & BENGTSON (1991) ao estudarem os equinóides do Nordeste do Brasil, fizeram uma revisão de algumas espécies da Formação Jandaíra. Outros trabalhos sobre fósseis da formação foram feitos por MUNIZ & OLIVEIRA (1982), que divulgaram as primeiras observações icnológicas na Formação Jandaíra, FERNANDES & WANDERLEY (2000) que estudaram dois exemplares de corais e PRICE (1954), que descreveu um quelônio. As algas calcárias têm sido estudadas por SRIVASTAVA (1982, 1984, 1999) e DINIZ & SRIVASTAVA (1981).

41 6. MACROFÓSSEIS DA FORMAÇÃO JANDAÍRA Os moluscos e os equinóides são os macrofósseis mais abundantes e diversificados da Formação Jandaíra, e são apresentados em capítulos distintos. Além destes invertebrados, há na literatura registros de conchostráceos, briozoários, corais e poliquetos e entre os vertebrados, três espécies de peixes e uma de tartaruga. Com relação às plantas, foram assinalados restos vegetais muito carbonizados e algumas folhas, atribuídas à dicotiledôneas. Os icnofósseis estão presentes por toda a formação, encontrados no topo dos afloramentos, indicando o final do ciclo de sedimentação. Os fósseis preservados nos calcários da Formação Jandaíra, quando analisados em sua totalidade, apresentam-se bastante diversificados. Mas pontualmente, há uma baixa diversidade de espécies, com predominância numérica de uma ou duas delas. 6.1 ASPECTOS TAFONÔMICOS A deposição dos carbonatos ocorreu em ambientes de planície de maré e laguna, mas em alguns locais foram encontrados indícios de uma sedimentação em águas mais agitadas. Segundo BEURLEN (1964a), na localidade de Gangorrinha (GD-01) ocorre uma maior variedade de espécies, selecionadas por tamanho. Uma grande concha de cardiídeo, proveniente de Barbadinha (SA-04), fossilizou-se com pequenas conchas de moluscos aninhados, demonstrando que sofreram exposição e transporte antes do soterramento. Outra amostra, proveniente das proximidades de Mossoró (MO- 03), continha alguns gastrópodos orientados segundo uma determinada direção. Mas, o que predomina tanto na fácies de planície de maré como na fácies de laguna são depósitos autóctones, com os indivíduos preservados em posição de vida. Nos bancos constituídos por gastrópodos não há orientação das conchas por correntes nem seleção por tamanho. A maioria dos fósseis de biválvios e gastrópodos da fácies de planície de maré encontra-se sob a forma de molde interno. Os gastrópodos dos gêneros Tylostoma Sharpe, 1849 e do gênero Trochactaeon Meek, 1863 apresentam-se externamente sob a forma de moldes internos, mas quando o exemplar é secionado observa-se a concha completamente substituída por cristais de calcita. Com isso, a espessura da parede da concha e algumas características da ornamentação ficaram mascaradas. Outras vezes a

42 concha original foi substituída, mas a ornamentação externa ficou conservada, como os gastrópodos do gênero Otostoma d Archiac, 1859. Nos ostreóideos a concha está sempre preservada e a fossilização se deu através do processo de mineralização. Segundo SENRA (1997) algumas delas apresentam vestígios da coloração original. Isto deve-se ao fato de suas conchas serem predominantemente formadas de calcita, com pouco teor de aragonita, portanto sofrendo menos desgaste. Os organismos que viviam sobre elas, como os briozoários e serpulídeos, estão igualmente bem conservados (Figura 27a). Os fósseis que ocorrem na fácies de planície de maré, cujos sedimentos margosos apresentam natureza mais plástica, encontram-se bastante deformados. Essas deformações, consideradas como pelomorfose por BEURLEN (1964a), foram definidas por BABIN (1990), como um achatamento sem rupturas, com ondulações e que resultam no alongamento do indivíduo (Figura 26). De um modo geral, os fósseis preservaram-se no ambiente em que viveram. Na fácies de planície de maré, os biválvios encontram-se com as conchas fechadas, em posição de vida (Figuras 27a e b) e há ocorrências de bancos de ostras intactos. Os equinóides apresentam as carapaças completas, alguns até com espinhos preservados (Figura 27c), indicando curto tempo de exposição antes do soterramento. Os gastrópodos apresentam-se com as conchas completas, inclusive aquelas que possuem espiras longas, com muitas voltas, como é o caso dos turritelídeos. Na fácies de laguna, as conchas de gastrópodos apresentam-se inteiramente recristalizadas, com as características externas preservadas, mas as internas foram destruídas pela formação de grandes cristais de calcita. Nas pedreiras observamos os fósseis esparsos nos calcários, mas no afloramento próximo à borda oeste da Chapada do Apodi, no Ceará, foram encontrados blocos formados somente por conchas de nerineídeos, sem alinhamento, indicando que houve um tempo de exposição antes do soterramento. 6.2 CONCHOSTRÁCEOS REBOUÇAS (1962), registrou a ocorrência de uma fauna de conchostráceos, quando estudava os depósitos gipsíferos da Pedreira Espadilha, no município de Governador Dix-Sept Rosado Maia. Os fósseis eram abundantes, bem conservados e foram atribuídos ao gênero Estheria. Nos níveis argilosos em que os conchostráceos

a b Figura 26 - Gastrópodos com deformações pelomórficas. a) DGM 2.062 - I b) DGM 2.064 - I. 1cm 1cm a b c Figura 27 - Tipos de preservação: a) Ostreóideo fossilizado com organismos epibiontes. (DGM 6.925 - I) b) Molde interno de um cardiídeo preservado em posição de vida. (DGM 6.907 - I) c) Equinóide com espinhos, indicando curto tempo de exposição antes do soterramento (DGM 4.562 - I).