AS DIFICULDADES DA PESQUISA HISTÓRICA NOS ARQUIVOS DE NATAL (RN)



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Transcrição:

AS DIFICULDADES DA PESQUISA HISTÓRICA NOS ARQUIVOS DE NATAL (RN) Wellinson Costa de Freitas Universidade Federal do Rio Grande do Norte wellinsoncosta@hotmail.com Dra. Liliane dos Santos Gutierre Universidade Federal do Rio Grande do Norte liliane@ccet.ufrn.br Resumo: Neste relato de experiência apresentaremos as dificuldades que tivemos na busca de fontes para a nossa pesquisa nos arquivos da cidade do Natal (RN) e apontaremos nossas ações para suprir tais dificuldades. Nossa pesquisa busca descrever e analisar o ensino da Matemática no Rio Grande do Norte, no período de 1960 a 1980. Para isso, buscamos em arquivos do RN, fontes que retratem o ensino da Matemática da época, uma vez, que estas nos possibilitam compreender tal momento histórico, entender os processos vividos pelo ensino da Matemática no Estado, identificar os protagonistas que compuseram o ensino neste período e até entrevistar essas pessoas que participaram do ensino da Matemática em nosso Estado. Em nossa trajetória pelos arquivos, deparamo-nos com vários obstáculos que vieram dificultar a nossa pesquisa, entre eles a burocracia para ter acesso aos arquivos e até mesmo o acesso negado a tais arquivos, o que vêm dificultando o andamento da pesquisa. Palavras-chave: Arquivos; História; Educação; Matemática. OS ARQUIVOS Em nossa pesquisa buscamos descrever e analisar o ensino da Matemática no Rio Grande do Norte (RN) nas décadas de 1950 a 1980. Por meio de fontes encontradas em arquivos do RN e de entrevistas a pessoas que elencaram tal momento do ensino no Estado, buscou-se compreender, com bastante detalhe, o que é que professores, directores e estudantes pensam e como é que desenvolveram os seus quadros de referência. Este objectivo implica que o investigador passe, freqüentemente, um tempo considerável com os sujeitos no seu ambiente natural, elaborando questões abertas do tipo descreva um dia típico ou de que é que mais gosta no seu trabalho?, registrando as respectivas respostas. O caráter flexível desse tipo de abordagem permite aos sujeitos responderem de acordo com a sua perspectiva pessoal, em vez de terem de se moldar a questões previamente elaboradas [...]. O material assim recolhido é complementado com outro tipo de dados, como registros 1

escolares, artigos de jornais e fotografias (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.17). Baseando-nos nesta citação de Bogdan e Biklen, iniciamos nossa busca, nos arquivos do Rio Grande do Norte, a vários tipos de registros escritos, como artigos de jornais, diários de classe, notas de aula, certificados de cursos, relatórios, provas, revistas fotografias e outros. O objetivo era reconstruir o cenário educacional matemático de instituições do RN e das pessoas que constituem ou constituíram tal cenário. Traçamos, então, um plano de trabalho, onde listamos e esquematizamos os primeiros passos que seguiríamos no decorrer de nossa pesquisa. Fomos, então, em busca de autorização para pesquisarmos no arquivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), conhecido como o antigo CEFET(RN). Contudo, logo nos deparamos com a primeira das muitas dificuldades que teríamos no decorrer de nossa pesquisa. Figura 01: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - RN (IFRN) Fonte: Arquivo pessoal do autor Ao dirigirmo-nos ao IFRN de Natal para conseguir autorização para realizar nossa pesquisa em seu arquivo, fomos encaminhados ao setor de Recursos Humanos, que não era o responsável por tal autorização. Este setor nos encaminhou ao Gabinete da Diretoria Geral, onde fomos orientados que deveríamos abrir um processo no Protocolo dirigido ao Gabinete, para tal autorização, e assim o fizemos. No protocolo, nos pediram uma declaração que comprovasse a pesquisa e nosso vínculo com a Universidade, e esta declaração teria que ser original. Ao receberem nossa declaração, colocaram-na entre tantos outros papéis e não nos deram nenhum retorno. 2

Após cinco dias retornamos ao IFRN, com o intuito de ver a autorização. Fomos direto ao protocolo, onde nos pediram o número do protocolo que não nos havia sido dado na abertura deste há dias. Então, como não nos deram foram procurá-lo. E depois de alguns instantes, acharam-no numa espécie de ata. Contudo, pediram-nos outra declaração, a carimbaram-na e nos mandaram para o Gabinete da Diretoria. Lá, disseram que o protocolo tramitava em outro lugar por nome de PROFAD, e naquela imensidão do IFRN, fomos procurar mais este setor. O responsável que se encontrava nesse setor disse-nos que não eram responsáveis pelos arquivos da instituição e que nosso protocolo só estava lá porque na declaração falava de educação matemática, salientando a falta de competência dos que nos enviaram até lá. Ele fez algumas ligações a fim de dar-nos a autorização e disse que voltássemos outro dia que ele resolveria isso para nós, com o nosso protocolo cheio de carimbos por onde passou. Conseguida a autorização, iniciamos nossa busca às fontes no arquivo do IFRN e nos deparamos com mais dificuldades: salas abafadas, úmidas, arquivos desorganizados, mofo. Figura 02: Arquivo do IFRN Fonte: Arquivo do IFRN Bacellar (2005, p. 49) fala da difícil tarefa de situar informações nos arquivos: aventurar-se pelos arquivos é sempre um desafio de trabalhar em instalações precárias, 3

com documentos mal acondicionados e preservados, e mal organizados. Essa afirmação de Bacellar nos faz perceber a difícil tarefa que teríamos em nossa pesquisa. Encontramos ainda os vários documentos que estavam se perdendo, quase que ilegíveis pela sua má conservação, os quais, muitas vezes, são danificados por infiltrações. Isso pode ser visto na imagem a seguir. Figura 03: Ofícios circulares recebidos em 1970, oriundos do MEC. Fonte: Arquivo do IFRN Nesta imagem podemos ver o quanto esses ofícios foram danificados pelas infiltrações, que acarretaram no grande acúmulo de mofo. As dificuldades, todavia, não se resumiram ao arquivo do IFRN. Quando fomos ao Arquivo Público do Rio Grande do Norte encontramos um ambiente mais adequado para a realização de uma pesquisa, mas em contrapartida, ao perguntarmos aos funcionários responsáveis pelos arquivos da década de 1960 ou do final da década de 1950, eles nos respondiam que era difícil e que muitos arquivos foram queimados. Por isso, nos traziam algum jornal da época e diziam que só havia ali alguns exemplares dos anos 60 e outros 4

poucos dos anos 70. Assim, nos remetemos a Gutierre (2008, p. 34) quando a autora fala que ao realizar sua pesquisa em arquivos, teve muitas as dificuldades impostas por alguns funcionários, tais como: a falta de gentileza, por parte dos funcionários, no tratamento pessoal; a falta de vontade em fornecer as fontes; a não permissão da entrada (no interior do arquivo) para a escolha das fontes. No entanto, à medida que fomos criando amizade com alguns funcionários, estes foram nos permitindo pesquisarmos em documentos que antes nos havia dito que não existiam. Fomos também a dois jornais do município de Natal para pedir autorização para realizar nossa pesquisa em seus arquivos: o Diário de Natal e a Tribuna do Norte. Em um deles a pesquisa não foi autorizada, pois nos alegaram estarem em processo de mudança, e disseram-nos que tentássemos autorização no outro ano; no outro jornal nos cobraram uma meia-taxa de R$ 5,00 por dia, por que somos estudantes e mais R$ 1,50 por cada foto tirada por nós, o que inviabilizou nossa pesquisa no local. Outro local, visitado por nós foi o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte onde fomos muito bem atendidos. Mas os materiais encontrados estavam, muitas vezes, incompletos, faltando páginas, muitas das folhas estavam recortadas e incompletas, o que dificultava a leitura. Dentre tantas dificuldades, a maior delas foi a falta de documentos sobre o ensino de Matemática. Somente depois de muita insistência é que conseguimos encontrar materiais significativos para a nossa pesquisa, como: revistas, relatórios do Curso de Treinamento para Professores Leigos do RN, provas, justificativas deste curso, fotos. Um vasto material, que junto com os depoimentos de alguns entrevistados por nós, esclarece e reconstrói parte da história da Educação Matemática no Rio Grande do Norte. AS FONTES Dos documentos supracitados nos remeteremos aos relatórios do Curso de Treinamentos para Professores Leigos que aconteceu na cidade de Mossoró-RN, a 285km de Natal, nas décadas de 193, 1964 e 1965. Nestes relatórios estavam registrados a finalidade do Curso, as dificuldades, o programa de cada matéria a ser ministrada, a 5

duração do Curso, os participantes, os professores que ministraram as aulas, os assuntos estudados e a metodologia de cada professor. A análise desse material está sendo realizada, mas já podemos identificar que houve a introdução de novos métodos no ensino de matemática no RN por meio deste curso, como o método da descoberta. Ainda sobre este método se remeteram as professoras Teresinha Garcia de Melo e Nancy Gomes dos Santos, que entrevistamos e participaram desse processo, a primeira foi professora de Matemática neste Curso e a segunda foi coordenadora geral do Curso. Não é nosso objetivo neste artigo nos remeter as falas das professoras sobre este Curso e sim relatar as dificuldades que tivemos na busca de fontes numa pesquisa histórica. Encontrar essas professoras e entrevistá-las não foi tão difícil, pois conseguimos o contato delas com uma pesquisadora do nosso grupo e como elas já sabiam da existência da pesquisa, colaboraram conosco prontamente. Ainda entrevistamos o Professor Max Cunha de Azevedo, que foi chefe da Inspetoria Seccional do Ensino Secundário no RN e fez parte da chefia da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES). Com ele entendemos o funcionamento da CADES no RN, bem como a finalidade do exame de suficiência a que eram submetidos os professores do RN para terem a licença e ensinar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Buscamos partilhar com a comunidade científica os caminhos percorridos em nossa pesquisa, entendendo que nossas experiências deixam consideráveis contribuições àqueles que se aventuram ou pretendem se aventurar em pesquisas em arquivos. Afinal, não podemos desistir, quando temos em mente que podemos colaborar com a reconstituição histórica de algum lugar, pessoas, instituição ou outro. Portanto, apesar das grandes dificuldades da pesquisa, os resultados fazem valer a pena cada esforço, especificamente, no nosso caso para contribuir com a História da Educação Matemática no RN, somando assim nossos esforços aos poucos estudos que existem a esse respeito. 6

REFERÊNCIAS BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. BOGDAN, Roberto C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação. Tradução: Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos, Telmo Mourinho Baptista. [S.l.] Porto Editora, 1994. Gutierre, Liliane dos Santos. O ensino de matemática no Rio Grande do Norte: trajetória de uma Modernização (1950-1980). Tese doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008. 7