O PROCESSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DOCENTE NO CURSO DE HISTÓRIA DA UECE



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Transcrição:

O PROCESSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DOCENTE NO CURSO DE HISTÓRIA DA UECE Maria de Lourdes da Silva Neta 1 Adriano Cecatto 2 A Didática tem por objeto de estudo o ensino e seus elementos que são as ações de planejar a avaliar um escopo para a aprendizagem. A organização do ensino é, portanto, atividade primordial da Didática. Refere-se ao planejamento e aos seus elementos, como: o conteúdo, os objetivos, a metodologia, os recursos, a avaliação. Consequentemente, a vida prática e as relações desenvolvidas nos espaços educativos são aspectos evidenciados no estudo da Didática, especialmente o cotidiano dos processos de ensino e o relacionamento docente e discente. O objetivo geral deste trabalho é comparar os programas de Didática na formação dos professores de História, no curso de licenciatura ofertado na Universidade Estadual do Ceará (UECE), na cidade de Fortaleza. Temos por objetivos específicos descrever e caracterizar os programas das disciplinas Didática Geral I e Didática do Ensino de História. Utilizamos como metodologia de pesquisa a abordagem qualitativa e a análise documental. Entre as fontes de busca documental, incluímos leis, declarações estatutárias e também os relatos de pessoas sobre incidentes ou períodos, nos quais elas estiveram envolvidas de fato. (MAY, 2004, p.208). Como fontes, analisamos e descrevemos o Projeto Pedagógico do curso de História e os programas das disciplinas da Didática. O texto foi dividido em quatro partes. Relataremos o histórico do curso de História da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Posteriormente, definimos o campo epistemológico da Didática. Em seguida, apresentamos a especificidade da Didática para o ensino de História. Concluímos com a descrição e comparação dos programas das disciplinas Didática Geral I e Didática do Ensino de História. 1. Formação docente em História Histórico do curso 1 Graduada em Pedagogia, especialista em Gestão Educacional e mestranda em Educação (UECE). E- mail: lourdesneta11@yahoo.com.br. 2 Graduado em História (UFPR) e Teologia (PUC-PR), especialista em Metodologias do Ensino de História (UECE) e mestrando em Educação (UECE). E-mail: adriano_tto@yahoo.com.br.

2 Os cursos de licenciatura foram instituídos no Brasil em 1934, iniciando com a criação da Universidade de São Paulo, com o objetivo de oferecer aos bacharéis de diversas áreas os conhecimentos pedagógicos necessários às atividades relacionadas ao exercício de ensino. Estes profissionais lecionavam tendo conhecimento incipiente e as competências desenvolvidas na formação em bacharelados estavam vinculadas ao saber pesquisar, que conforme, Tardif (2008, p. 35), [...] Os educadores e os pesquisadores, o corpo docente e a comunidade cientifica tronam-se dois grupos cada vez mais distintos, destinados a tarefas especializadas de transmissão e de produção dos saberes sem nenhuma relação entre si. Ora, é exatamente tal fenômeno que parece caracterizar a evolução atual das instituições universitárias, que caminham em direção a uma crescente separação das missões de pesquisa e ensino. Então, os professores exibem para os estudantes o conhecimento dos aspectos teóricos, e não das feições didáticas e pedagógicas que norteavam a prática docente necessária ao ensino. O curso de História da UECE iniciou suas atividades, na cidade de Fortaleza no ano de 1956, juntamente com os cursos de Geografia, Letras, Matemática e Filosofia, que compunham a antiga Faculdade Católica de Filosofia do Ceará. A articulação da criação desta Faculdade envolveu setores, como os Irmãos Maristas, o Colégio Cearense (Instalações e Bibliotecas sede provisória), professores da Escola de Agronomia, da Faculdade de Direito, da Escola Preparatória de Fortaleza, do Seminário da Prainha e do Liceu do Ceará (Corpo Docente), da Faculdade Católica de Filosofia do Rio Grande do Sul (modelo administrativo e pedagógico). Em 1947, um decreto presidencial autorizou o funcionamento da Faculdade Católica do Ceará, e naquele mesmo ano, foi realizado o primeiro concurso de habilitação para o magistério dos cursos já citados. Em 1966, a Faculdade foi encampada como autarquia pelo Governo do Estado e passou a chamar-se Faculdade de Filosofia do Ceará (FAFICE), funcionando em sede própria (atual Centro de Humanidades). Nesse período, a História, bem como a Geografia, foram consideradas disciplinas fundamentais para a explicação dos fenômenos sociais em sua gênese, sobretudo pelo fato de, após a II Guerra Mundial, o mundo ter se dividido no modelo bipolar, com grandes campos de atuação político-ideológica. Assim, sintonizado com esta nova realidade, o curso atendia a demandas sociais e intelectuais da sociedade

3 cearense de então, e politicamente foi de fundamental importância para a criação da Universidade Estadual do Ceará. O curso de História originou-se do desdobramento do curso de Geografia e História, autorizado seu funcionamento pelo Decreto de nº 22.974, de 1947. O reconhecimento foi concedido pelo Decreto de nº 28.370, de 1950, e estruturado no ano de 1957. Dados de 1972 relatam o momento das comemorações de 25 anos da FAFICE e davam conta de um curso com funcionamento diurno e noturno. Em 1973, surgiu a Fundação Educacional do Ceará (FUNEDUCE), que teve como missão criar a Universidade Estadual do Ceará. Atualmente, o quadro docente do curso de História em Fortaleza está constituído por 23 professores, dos quais dezenove são doutores, dois mestres, um especialista e um graduado. O currículo em vigor no ano de 1992 sugere a formação do profissional de História para atuar em diversificadas áreas do mercado de trabalho. Conforme descrito nas DCN do curso: O graduado deverá estar capacitado ao exercício do trabalho de Historiador, em todas as suas dimensões, o que supõe pleno domínio da natureza do conhecimento histórico e das práticas essenciais de sua produção e difusão. Atendidas estas exigências básicas e conforme as possibilidades, necessidades e interesses das IES, com formação complementar e interdisciplinar, o profissional estará em condições de suprir demandas sociais específicas relativas ao seu campo de conhecimento (magistério em todos os graus, preservação do patrimônio, assessorias a entidades públicas e privadas nos setores culturais, artísticos, turísticos etc. (2001, p.07-08). Esse aspecto está expresso nas Diretrizes Curriculares dos Cursos de História, documento elaborado para substituir o currículo mínimo dos cursos de graduação em História da década de 1960, que existia no contexto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 4024/61. Entrando em vigor, no ano de 2004, uma matriz curricular do curso de História apresentou exclusão de algumas disciplinas, como, por exemplo, às ligadas à área de Matemática, e inclusão de outras, salientando-se a exigência da elaboração de monografia como requisito para conclusão do curso de graduação em História. O currículo vigente desde o segundo semestre do ano de 2004, referente ao curso de licenciatura de História da UECE, está composto por 51 disciplinas entre obrigatórias e optativas, divididas em três eixos: 37 específicas, seis pedagógicas e oito de laboratório. As aulas são ministradas no turno da noite, somando um total 174

4 créditos e 2.610 horas/aula com o prazo mínimo de conclusão de quatro anos e meio e máximo de sete anos. A missão do curso descrita no Projeto Pedagógico é de propiciar ao licenciado (a) uma visão humanista e crítica acerca da sociedade e da história e ao mesmo tempo instrumentalizá-lo para atuar com competência nos vários campos de trabalho do historiador. (2006, p.17). O curso tem por objetivos: Geral: Formar profissionais aptos a atuar no magistério de Educação Básica e Superior assim como em órgãos e instituições de pesquisa. Específicos: possibilitar ao graduando a compreensão da dimensão tempo e espaço no desenvolvimento das ações humanas; propiciar ao educando domínio teórico/metodológico para o reconhecimento e problematização das principais correntes historiográficas; Estimular nos educandos a aproximação com outras áreas do conhecimento, sem prejuízo da particularidade do ofício próprio do (a) historiador (a); habilitar o educando para o desempenho das funções do magistério, que Habilitar o educando para o desempenho das funções do magistério, que no caso do(a) historiador (a), não pode estar dissociado do domínio da pesquisa; capacitar o educando para atuar nos âmbitos acadêmico e em instituições de ensino, de memória e do Patrimônio Cultural. (PROJETO PEDAGÓGICO, 2006, p.17-18). Esses objetivos estão em consonância com as Competências e Habilidades definidas nas Diretrizes Curriculares dos Cursos de História, elaboradas pela comissão de especialistas para do MEC. No próximo tópico, abordaremos a descrição do campo epistemológico da Didática. 2. O campo epistemológico da Didática O fato de o docente demonstrar conhecimento dos conteúdos específicos na área em que tem formação não significa que consiga desempenhar satisfatoriamente o ato de ensinar e auxiliar os estudantes a aprender. Para ser professor, é imprescindível ensinar, ou melhor, saber ensinar, para que os estudantes aprendam, percebam e valorizem a universidade, a escola e, principalmente, a sala de aula como espaço educativo. Na concepção de Pimenta (2010, p.17), O ensino é uma prática social complexa. Realizado por seres humanos entre seres humanos, o ensino é transformado pela ação e relação entre os sujeitos (professores e estudantes) situados em contextos diversos: institucionais, culturais, espaciais, temporais, sociais. Por sua vez, dialeticamente transformam sujeitos envolvidos nesse processo. O estudo da Educação, da Pedagogia e, consequentemente, da Didática nas diversas áreas de ensino é um fenômeno histórico, complexo, contextualizado, e que instigam diversas pesquisas na sociedade. Afinal o que é Didática e qual o seu objeto de

5 estudo? Procuremos responder com suporte nas concepções de Pimenta, Franco e Libâneo, autores de referência da Didática no Brasil. Para Pimenta (2010, p.17), sendo a Didática uma área da Pedagogia, tem o ensino por objeto de investigação. Considerá-lo uma prática educacional em situações historicamente situadas significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se efetiva. Podemos encontrá-lo nas aulas, nos seminários, nos debates e nas demais situações de ensino das diversas áreas de conhecimento sendo necessário o estabelecimento de nexos entre eles. A Didática é considerada pelos autores Franco e Pimenta (2010) um campo de estudos e pesquisas voltado para a tarefa de fundamentar o processo ensinoaprendizagem como prática social de incorporação e de emancipação política, o que impõe a essa área do conhecimento o papel de refletir com base nas características dessa prática em razão das novas demandas que o mundo atual demonstra. Na concepção de Libâneo (1994, p.25-26), [...] a Didática é o principal ramo da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. A ela cabe converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento da capacidade mental dos alunos. O objeto de investigação da Didática é o ensino, atividade conjunta de professores e estudantes, organizada pelos docentes com o intuito de prover meios e condições nos quais os educandos assimilam ativamente conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções. O objetivo da Didática, consoante Lima (2007, p.01), é promover a reflexão sobre a docência, tendo a prática como ponto de chegada e de partida, na constante busca do desenvolvimento de um trabalho que alie conhecimento cientifico e pedagógico, em uma determinada área de conhecimento. Para entender a Didática, faz-se necessário que sejam considerados a cultura organizacional, os saberes docentes e o locus em que se realizam as questões do coletivo docente, que permeiam as práticas dos professores e constituem um conjunto de ações configuradas como cultura escolar. Nas situações de ensino, os docentes e discentes estão diante de novos desafios, outros problemas, que solicitam resoluções de ordem teórico-prática. Trata-se de um fenômeno que não se resume em ensinar os conteúdos. O fato de ser professor envolve pesquisa, requer conhecimentos específicos da disciplina que está trabalhando, assim

6 como é exigido ao docente conhecimento pedagógico de como ensinar na perspectiva da promoção de aprendizagens. Na lição de Tardif (2008, p.18): [...] o saber dos professores é plural, compósito, heterogêneo, porque envolve, no próprio exercício do trabalho, conhecimentos e um saber-fazer bastante diversos, provenientes de fontes variadas e, provavelmente, de natureza diferente. A formação profissional docente implica o contínuo aperfeiçoamento da teoria e da prática. Segundo Lima (2001, p.11) é necessário aperfeiçoar a formação profissional docente, entendendo a educação como instrumento de ação transformadora na sociedade. E considerando que a sociedade passa por constantes transformações, a educação permite pensar as mudanças e refletir sobre a ação educativa. O ensino é apontado como principal objeto da Didática, mas é importante lembrar que está permeado de aspectos que precisam ser evidenciados, tais como, por exemplo, formação do professor, práticas docentes, planejamento das aulas, os conteúdos, os métodos e o processo avaliativo. O ensino constitui ação permanente, inconclusa que precisa ser repensado. O professor planeja suas aulas, ensina com base nas teorias, amparado pelos métodos e precisa avaliar seu trabalho para replanejar suas ações em sala de aula. Libâneo (2010, p.49) propõe pensar a Didática como contributo da constituição dos conhecimentos e sua mediação entre o que é preciso ensinar e o que é necessário aprender: [...] a especificidade da Didática reside na busca das condições ótimas de transformação das relações que o aprendiz mantém com o saber. A Didática é uma área da Pedagogia que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos obtidos na formação acadêmica, preparo pedagógico e treinamento prático, provendo o comum e indispensável para o ensino das disciplinas escolares seja na Matemática, História, Língua Portuguesa, Geografia e outras. Portanto, a Didática se faz presente no cotidiano do trabalho docente. No tópico a seguir, descreveremos a Didática, com suas especificidades para o nsino de História. 3. A Didática do Ensino de História e as concepções docentes O percurso do ensino de História no Brasil passou por modificações ao longo do tempo, acompanhando as tendências historiográficas no decorrer do século XIX e XX. Na segunda metade do século XX, em função das novas pesquisas promovidas pelos historiadores à frente da revista Escola dos Annales, com a Nova História,

7 ampliou-se as concepções sobre objetos de pesquisa e métodos. Na inteligência de, Burke (1992, p.9), a expressão Nova História surgida na França refere-se ao título de uma coleção de ensaios editada pelo renomado medievalista francês Jacques Le Goff. Enfatizamos a pesquisa, porque há crença de que para ser um bom professor, bastaria ser um bom pesquisador, nesse sentido, o processo de aprendizagem e as metodologias de ensino de História não eram objetos de pesquisa e discussão em simpósios e congressos. Na perspectiva de Fonseca (2003, p.62), entre os estudantes de História perpassava a ideia de que para ser professor de História era suficiente dominar os conteúdos específicos dessa disciplina. Por isso, as disciplinas pedagógicas eram concebidas pelos estudantes como desnecessárias, menos importantes, acessórios para obtenção de créditos exigidos nos cursos de graduação. No que concerne à formação de professores, foi após a década de 1970 que se destinou atenção, a este mister, além do que o ensino de história e seus correlatos, passam a se constituir, como objeto de reflexão, análise e pesquisa, de uma forma mais enfática, no universo dos licenciados, bacharéis e pesquisadores de História, em geral (COSTA; OLIVEIRA, 2007, p.148). Nos anos de 1980, o ensino de História passou por modificações, a considerar as discussões entre os próprios professores da rede pública de ensino do País, inicialmente esse processo se restringiu-se à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Conforme Fonseca (2006, p.60), com as propostas surgidas em outras partes do país, ela propunha um ensino de História voltado para a análise crítica da sociedade brasileira, reconhecendo seus conflitos e abrindo espaço para as classes menos favorecidas como sujeitos da História. Essa proposta pensada no decorrer das décadas de 1980 e 1990 foi marcada pelo viés democrático e participativo. Com esse intuito, além de novas orientações metodológicas, a seleção dos conteúdos foi feita de modo a corresponder aos objetivos de trabalhar o ensino de História na perspectiva do rompimento com os pressupostos tradicionais. (FONSECA, 2006, p.63). Sob à concepção de Cainelli (2008, p.137), [...] no Brasil e, meados da década de 1980 do século XX quando das reformulações do ensino de história, os planos de aula apresentados estavam carregados das discussões em torno de novas linguagens. Os conteúdos tradicionais acabara por perder espaço para as discussões metodológicas que envolviam o uso de filmes, músicas, histórias em quadrinho. Estas escolhas certamente foram determinadas pelas discussões da prática de ensino.

8 Com assento na reflexão de Abud (2003, p.184), a História, como disciplina escolar, também é História. A autora se refere às transformações pelas quais a disciplina passou como campo do conhecimento. Outras linguagens, novas fontes e objetos foram sendo pesquisados pela História, e havemos de destacar as orientações curriculares acerca do uso de novas linguagens. A crítica volta-se para a demora da organização escolar em consolidar essas novas propostas como práticas de ensino nas escolas. A década de 1990 foi marcada pela Nova História. Os programas curriculares e livros didáticos incorporaram essa então recém chegada tendência da historiografia (entre outras a história das mentalidades e história do cotidiano). Efetivamente, a produção editorial passou a refletir as mudanças da historiografia, incluindo a acessibilidade ao livro didático nas escolas. Costa e Oliveira (2007) reconhecem as modificações ocorrentes no âmbito da educação e da própria escola, o modo como se começou a representar o ensino de História dentro dos cursos de graduação. A constituição de espaços nos cursos de licenciatura para a pesquisa da prática do ensino de História é significativa, como foram e ainda o são os laboratórios de Ensino de História das Universidades: Estadual de Londrina, Federal Fluminense e Federal de Uberlândia, entre outras. Muitas dessas pesquisas no ensino de História, contudo, se voltaram, prioritariamente para o livro didático como objeto de pesquisa. As pesquisas na área de ensino de História se restringem a um dos aspectos: ou são sobre livro didático, ou sobre propostas, currículos formais para esse ensino, leis, ou ainda, sobre experiências concretas em sala de aula. (COSTA e OLIVEIRA, 2007, p.155). Ao pensarmos sobre a especificidade da Didática em História, nos remetemos ao conhecimento específico da disciplina: o historiográfico, os objetivos, os conteúdos, as metodologias, os recursos, além da necessidade dos saberes pedagógicos, que diz respeito à organização da atividade educativa: planejamento, ensino e avaliação (FONSECA, 2003). Nas Diretrizes Curriculares para os Cursos de História e, consequentemente, da Universidade Estadual do Ceará, corroboram-se as competências e habilidades que devem ser adquiridas na formação e especificamente aos cursos de licenciatura: a. Domínio dos conteúdos básicos que são objeto de ensino aprendizagem no ensino fundamental e médio;

9 b. domínio dos métodos e técnicas pedagógicos que permitem a transmissão do conhecimento para os diferentes níveis de ensino (DCN, 2001, p. 08). O conhecimento dos métodos e o domínio técnico-pedagógico são habilidades e competências exigidas aos graduandos que exercerão o magistério nessa especialidade do feitio cientifico. O exercício da docência consiste no domínio, na transmissão e na produção de um conjunto de saberes e valores por meio de processos educativos desenvolvidos no interior do sistema de educação escolar. Esse saber docente é, de acordo com a literatura da área, um saber plural, heterogêneo, construído ao longo da história de vida do sujeito. (FONSECA, 2003, p.63). No momento da formação, encontram-se a constituição e o inicio de sedimentação das práticas docentes. O decurso da aprendizagem é ascensional e contínuo, impondo dificuldades, interpondo erros e correções. Acerca dos saberes experienciais, Tardif (2008, p.36) os descreve, assim, como [...] o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (escolas normais ou faculdades de ciências da educação). O professor e o ensino constituem objetos de saber para as ciências humanas e para as ciências da educação. Conforme a descrição do autor précitado, entendemos que a constituição da prática docente do regente de História inicia-se durante o curso de graduação, perpassando toda sua trajetória docente. Isso implica dizer que os sujeitos aprendem a ensinar com seus professores e com seus pares. 4. Os programas da Didática propostos no curso de História A disciplina Didática Geral I ofertada aos estudantes do curso de História da UECE, até o primeiro semestre do ano 2004, foi ministrada por professores do curso de Pedagogia, ofertada no 3º semestre, com a carga didática de 60 horas/aula teóricas, correspondente a quatro créditos. Os objetivos da disciplina informados no programa estão delineados na sequência, Geral: Analisar o processo da comunicação docente objetivando atitudes e formação de professores. Específicos: Analisar os pressupostos teóricos que orientam a ação do docente; Identificar e analisar as diferentes concepções pedagógicas que norteiam a prática escolar; Conhecer e refletir criticamente a organização e dinâmica de ensino na perspectiva de uma educação transformadora diante dos objetivos, conteúdos, recursos, metodologia e avaliação presentes na ação docente; Analisar e discutir a importância, limites e possibilidades do planejamento educativo; uma ação educativa comprometida com a transformação social (2000, p.01).

10 Os conteúdos contidos no programa foram organizados em oito unidades, que são: aspectos introdutórios para o início da atividade docente; educação; comunicação no processo didático; planejamento didático; pressupostos teóricos que fundamentam a ação docente; a relação entre a didática e as diferentes tendências pedagógicas; o planejamento de ensino, de curso, de unidade e de aula, e o trabalho na escola. A metodologia no programa da disciplina foi desenvolvida mediante exposições dialogadas, leituras e discussões de textos, análise e elaboração de material didático, visitas às unidades escolares, exposição e debate de experiências pedagógicas e projeção de filmes para debates. A avaliação da aprendizagem era progressiva, respeitando as disposições legais estabelecidas pela UECE, considerando-se os seguintes aspectos: frequência, pontualidade com as atividades desenvolvidas (aulas e trabalhos), desempenho nas produções escritas e orais, participação nas aulas, seminários e debates, avaliação qualitativa ao final, por escrito, e autoavaliação. Estes eram os itens avaliativos propostos para a disciplina. O programa da disciplina Didática Geral descreve que eram trabalhados os teores pertinentes à educação em seu sentido amplo, considerando em seu foco a aprendizagem e a realidade escolar brasileira em que o futuro professor atuaria na educação básica. Entre outros elementos, destacamos, nessa disciplina, o estudo do próprio planejamento, sua importância, as etapas e as modalidades, tendo em vista os objetivos de ensino. Destacam-se também, o estudo das tendências pedagógicas e a concepção da Didática. A disciplina Didática Geral I foi substituída pela disciplina Didática do Ensino de História, também ofertada no 3º semestre do curso e ministrada por professores licenciados em História, com carga didática de 68 horas/aulas teóricas, corresponde quatro créditos obrigatórios. Os objetivos da Didática do Ensino de História identificados no programa da disciplina são: Geral: Compreender os diferentes aspectos que constroem a ação docente como uma prática profissional fundamentada em saberes historicamente construídos e refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem da História no âmbito do saber-fazer no locus escolar. Específicos: Propõe refletir sobre os diferentes aspectos da história educacional brasileira e o surgimento da didática; identificar os princípios básicos que compõem a didática e sua relevância no processo ensinoaprendizagem; caracterizar a didática na educação histórica; analisar os diferentes aspectos que constroem a ação docente como uma prática profissional fundamentada em saberes historicamente construídos;

11 dimensionar o ensino de História como objeto de pesquisa nos diferentes níveis de ensino e discutir a relação teoria e prática no ensino de História (2010, p. 01). Os conteúdos descritos no programa estão organizados em quatro unidades de trabalho - educação, didática e ensino de história - pressupostos da constituição da Didática do ensino de História, fundamentos teóricos e pedagógicos da organização de História e a Didática na formação do profissional de História. A exposição dialogada, debates e estudo dirigido, reflexões sobre filmes e documentários, trabalhos escritos individuais e/ou em grupo, discussão por meio do método da roda (Pedagogia freireana) e definição de temas geradores foram informados no programa da disciplina como os procedimentos metodológicos utilizados para o ensino. A avaliação da disciplina constituiu-se por meio da concepção mediadora, na qual a frequência e a participação ativa em todas as unidades disciplinares compõem o processo avaliativo. Os instrumentos avaliativos são resumos críticos ou resenhas, debates (exposição oral), prova escrita, elaboração de memorial e autoavaliação de quem ensina, bem como daquele que aprende. A disciplina Didática do Ensino de História contém em seu programa conteúdos específicos da História para o ensino. Se, anteriormente, com a Didática Geral, eram examinados temas abrangentes e necessários à educação e à formação específica do ser professor, com a Didática do Ensino de História, limitou-se a teorias, conteúdos e métodos da História. Do programa da disciplina não constam itens importantes e essenciais ao processo de ensino e aprendizagem, tais como planejamento e avaliação. Ou seja, enfatizou-se a especificidade da formação do professor de História, focando nos saberes historiográficos, necessários ao professor de História. Na compreensão de Fonseca (2003, p.69-70), [...] para ser professor é necessário dominar os conhecimentos específicos da disciplina que vai ministrar, para a qual ele foi especializado. A prática e os saberes práticos não têm estatuto epistemológico, não estão no verdadeiro, estão fora do território da disciplina, logo não são validados, valorizados e tampouco considerados no processo de formação inicial do profissional docente. O ensino em cada área revela particularidades e na História não é diferente, como demonstra Karnal (2003, p. 08), ensinar História é uma atividade submetida a duas transformações permanentes: do objeto em si e da ação pedagógica. Como foi evidenciado por Bloch (2001, p. 24), o objeto da História, é o homem, ou melhor, os

12 homens, e, mais precisamente, homem no tempo. O ser humano possui a capacidade de adaptação, e o faz com origem nos desafios contemporâneos a ele, num determinado tempo e espaço, com as respectivas interferências sociais. Com efeito, a ação didática também se modifica nos espaços de formação, e a universidade é um deles. Considerações finais Estudando o Projeto Pedagógico (2006), percebemos que o profissional formado pelo curso de História da Universidade Estadual do Ceará porta características em que se enfatiza a formação do historiador como pesquisador, demonstrando incipiência em relação à Didática e, consequentemente, com o ensino de História. Considerando que o objeto da Didática é o ensino, e o próprio curso é de licenciatura, percebe-se falta de especificidade na formação no tocante ao ser professor. Com a análise realizada nos dois programas da disciplina Didática ofertada no curso de História da UECE, podemos perceber diferenças significativas entre eles. O programa ministrado pelos professores do curso de Pedagogia oferecia formação específica para a área educacional, com pressupostos teóricos que contemplavam aspectos que privilegiaram a prática dos futuros docentes. Esse programa se caracterizou pelo seu viés didático e pedagógico, sem a preocupação de trabalhar com os teores específicos, pois a Didática perpassava todas as licenciaturas, tendo por objeto o ensino. Com a análise do programa da disciplina Didática do Ensino de História e, mediante a formação específica do professor responsável pela disciplina, podemos verificar a ênfase do ensino dos conteúdos historiográficos, deixando, assim, de nos reportar às dimensões essenciais do ensino, tais como: especificação do planejamento, avaliação, escola (organização), relação professor e aluno. Com as modificações promovidas pelo colegiado do curso de História da UECE, no programa da disciplina Didática do Ensino de História ofertada aos estudantes, pode-se perceber a fragmentação dos conteúdos pedagógicos considerados essenciais para a formação docente. REFERÊNCIAS ABUD, Kátia Maria. A construção de uma Didática da História: algumas idéias sobre a utilização de filmes no ensino. História, São Paulo, v.22, p.183-193, 2003.

13 BLOCH, Marc Leopold Bejamin; prefácio, Jacques Le Goff; apresentação à edição brasileira, Lilia Moritz Schwartcz; tradução, André Telles. Apologia da História, ou, O ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BURKE, Peter (org.). A Escrita da História. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992, p. 07-38. CAINELLI, Marlene Rosa. Os saberes docentes de futuros professores de História: a especificidade do conceito de tempo. Currículo Sem Fronteiras, v.8, n. 2, jul/dez. 2008, p.134-147. COSTA, Aryana Lima; OLIVEIRA, Margarida M. D.. O ensino de História como objeto de pesquisa no Brasil: no aniversário de 50 anos de uma área de pesquisa, notícias do que virá. Saeculum- Revista de História, João Pessoa, n.16, jan./jun., 2007, p.147-160. FONSECA, Thais Nívia de Lima. História & ensino de História. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizados. Campinas, SP: Papirus, 2003. KARNAL, Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. Introdução, p. 07 14. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.. O campo teórico e profissional da Didática hoje: entre Ítaca e o canto das sereias. In: FRANCO, Maria A. S.; PIMENTA, Selma G. (orgs.). Didática: embates contemporâneos. São Paulo: Loyola, 2010. Cap 02, p. 43 73. LIMA, Maria do Socorro Lucena. A formação contínua do professor nos caminhos e descaminhos do desenvolvimento profissional. São Paulo, 2001. Tese (doutorado em Educação). Faculdade de Educação, USP.. A Didática na Formação do Professor. [Fortaleza]. 02 p. 2007. MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processo. Porto Alegre: Artmed, 2004. PIMENTA, Selma Garrido. Epistemologia da prática ressignificando a Didática. In:. In: FRANCO, Maria A. S.; PIMENTA, Selma G. (orgs.). Didática: embates contemporâneos. São Paulo: Loyola, 2010, p. 15 41. SCHIMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELI, Marlene Rosa. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

14 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ. Projeto Pedagógico: Curso de História. Fortaleza, 2006. 30 p. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ. Programa da Disciplina Didática Geral I: Curso de História. Fortaleza, 2000. 03 p. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ. Programa da Disciplina Didática do Ensino de História: Curso de História. Fortaleza, 2010. 04 p. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ. Disponível em: <http://www.uece.br/uece/index.php/graduacao/presenciais>. Acesso em: 13 fev. 2012.