RECURSOS DA INTERNET PARA O USO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE Resumo MATEMÁTICA Ana Paula R. Magalhães de Barros 1 / UNESP Rúbia Barcelos Amaral 2 /UNESP Devido ao aumento da oferta de recursos tecnológicos para o uso pedagógico na internet, tais como softwares, vídeos, objetos de aprendizagem, entre outros, os desafios do professor para fazer uma boa escolha são intensificados. Com o objetivo de observar características em recursos pedagógicos de Matemática, encontrados na internet, que podem propiciar a produção do conhecimento do aluno, trazemos neste artigo a análise de um vídeo, que tomamos como exemplo, fruto da pesquisa de Mestrado realizada pela primeira autora desse artigo. Para a análise aqui apresentada, estivemos pautadas na Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimídia (TCAM) e a pergunta que norteadora foi: Como a TCAM pode auxiliar o professor na escolha de um recurso da internet que será aplicado na aula de Matemática? A TCAM é uma teoria baseada em pesquisas cognitivas de como as pessoas aprendem por meio de palavras e imagens. Com base nessa teoria e em estudos experimentais, Mayer apresentou doze princípios que podem nortear a criação de design de ambientes multimídias e fomentar a aprendizagem significativa. As discussões aqui apresentadas visam estimular reflexões acerca da importância de desenvolver a competência docente de analisar, criticamente, os recursos disponíveis e de como teorias como a TCAM podem auxiliar o professor a realizar suas escolhas e nortear a adaptação deste recurso ao objetivo da aula, em consonância com os objetivos do Subeixo a que nos propomos participar. Palavras chaves: Vídeo. TCAM. Educação Matemática. 1. Introdução A expansão da internet tem transformado todos os setores. Em especial, no setor da educação existe uma grande oferta de recursos pedagógicos na internet que podem ser utilizados no processo de ensino. Barros (2013), a primeira autora deste artigo, em sua pesquisa de Mestrado observou as contribuições de um micromundo 3 composto por recursos da coleção M³ Matemática Multimídia 4 e do software GeoGebra, para a aprendizagem do conteúdo de volume de pirâmides. Tais recursos são livres na internet e podem ser utilizados nas aulas de Matemática. A autora concluiu que o micromundo criou condições para que os alunos, participantes da pesquisa, buscassem construir o seu próprio conhecimento (BARROS; AMARAL, 2013). Além disso, percebeu que o uso da internet fomentou a participação no desenvolvimento das atividades. Com o objetivo de verificar o papel do vídeo, segundo a perspectiva dos alunos, no discurso multimodal na sala de aula de Matemática, Domingues (2013) pesquisou sobre uso de vídeos da coleção M³, do gapminder e do youtube e observou que uns 04048
consistiam em apresentar situações problemas, outros tinham características de aula ou palestra, e alguns foram produzidos pelos próprios alunos. O autor concluiu que há a possibilidade de dialogar com a literatura, pensar com os vídeos, discutir sobre avaliação e sobre a realidade dos alunos. Pesquisas como a de Barros (2013) e de Domingues (2013) apontam potencialidades de recursos tecnológicos encontrados na internet para o uso nas aulas de Matemática. Notamos também que a internet tem alavancado as possibilidades de uso desse tipo de recurso em aulas de Matemática. Logo, entendemos que um embasamento teórico pode melhor direcionar o professor para fazer escolhas e para adaptar o recurso ao propósito pedagógico da aula. Diante deste cenário, com o objetivo de observar características em recursos pedagógicos de Matemática, encontrados na internet, que podem propiciar a produção do conhecimento do aluno, trazemos neste artigo uma análise de um vídeo da coleção M³. Para a análise, estivemos pautadas na Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimídia (TCAM) e a pergunta norteadora foi: Como a TCAM pode auxiliar o professor na escolha de um recurso da internet que será aplicado na aula de Matemática? Assim, na seguinte seção apresentamos a teoria que consideramos para analisar os recursos. 2. Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimídia A TCAM é uma teoria baseada em três suposições sugeridas por pesquisas cognitivas de como as pessoas aprendem por meio de palavras e imagens: canal duplo, conceito que o ser humano tem canais separados (visual e verbal) para o processamento das representações de imagem e representações auditivas; capacidade limitada de suposição, somente parte da informação pode ser processada em um canal; e processo ativo, a aprendizagem significativa ocorre quando o aluno se engaja nos processos cognitivos para selecionar, organizar, representar e integrar a informação ao conhecimento prévio (MAYER, 2009). Para este autor, aprendizagem significativa ocorre quando o aluno se engaja nos processos cognitivos para selecionar, organizar, representar e integrar a informação que recebe ao conhecimento prévio. Este processo ocorre quando o aluno seleciona palavras e imagens relevantes para o processamento da memória verbal e visual, respectivamente. Também, quando o aluno organiza palavras e imagens em um modelo mental verbal e visual, respectivamente. Por fim, quando o aluno integra as 04049
representações verbais e visuais (MAYER, 2009). De acordo com o autor, a representação ou modelo mental é uma teoria pessoal do indivíduo, a respeito de algum conceito ou ambiente. Nessa direção, as condições em que as mensagens multimídias são apresentadas em um material e são manipuladas pelo professor são importantes (BARROS, 2013), impulsionando a criação de ambientes que propiciem experiências que levem os alunos à aprendizagem. Com o objetivo de examinar recursos de design de multimídias potentes para a promoção de aprendizagem significativa, Mayer (2009) apresentou 12 princípios que podem embasar a criação de ambientes com mensagens multimídias, visando à aprendizagem significativa. Esses princípios foram elaborados a partir de estudos experimentais e são fundamentados pela teoria de que as pessoas aprendem a partir de palavras e imagens. Devido à limitação de páginas do artigo, focamos na próxima seção na análise de um vídeo que compôs o micromundo criado pela primeira autora em sua pesquisa de Mestrado e a descrição dos princípios (BARROS, 2013) presentes nesse vídeo. 3. Material analisado Figura 1: Imagem do vídeo A Figura 1 é a imagem do vídeo da coleção M³ que consiste na história de uma adolescente, chamada Vitória, que recebe de seu avô Otacílio caixas com quebracabeças, acompanhadas de um trecho de um poema de Hilda Hilst. Na tentativa de montar estes quebra cabeças, ela consegue perceber a relação entre os volumes de pirâmides e prismas. De acordo com as sugestões que são dadas na própria coleção M³, o uso desse vídeo pode estimular a percepção geométrica de objetos tridimensionais. Os princípios encontrados no vídeo analisado são: de modalidade as pessoas aprendem mais profundamente a partir de imagens e palavras faladas, ao invés de imagens e palavras impressas; de personalização as pessoas aprendem melhor a partir de uma apresentação multimídia quando as palavras estão em estilo de conversação, ao 04050
invés de estilo formal; de multimídia as pessoas aprendem melhor a partir de palavras e imagens, ao invés de somente palavras; de coerência as pessoas aprendem melhor quando as informações que não são importantes para o estudo são excluídas; e de voz as pessoas aprendem melhor quando a narração é falada em voz humana, ao invés de uma voz de máquina. Entendemos que a presença dos princípios é um fator que destaca esse vídeo em relação a outros. A narração do vídeo, por exemplo, é no estilo de conversação, ou seja, a voz não é de máquina. Além disso, o vídeo conta com palavras e imagens, ao invés de somente palavras. Também, o vídeo atende aos princípios de coerência, pois, somente informações relevantes ao conteúdo abordado são tratadas no vídeo, e não existe o que Mayer (2009) chama de sobrecarga de informação em um dos canais (visual ou auditivo). Em determinadas cenas, em que palavras escritas são adicionadas, ainda assim, o princípio da coerência é contemplado. Barros (2013) utilizou em sua pesquisa o vídeo da Figura 1 de forma complementar a alguns applets do GeoGebra que tratavam do mesmo conteúdo Matemático. A autora observou que aos alunos interagirem com os applets do micromundo, eles associavam a determinada cena do vídeo e concluíam que o volume da pirâmide corresponde a um terço do volume do prisma de mesma base e altura, conteúdo principal abordado na pesquisa. Assim, Barros (2013) salienta que os princípios de personalização e de voz presentes no vídeo, ou seja, a narração em forma de conversa e a voz humana fomentaram a conexão que os alunos buscaram entre as multimídias (applets e vídeos). 4. Considerações Finais Entendemos que a vasta disponibilidade de recursos oferecidos pela internet amplia as possibilidades de uso desses, assim como a responsabilidade do professor em fazer boas escolhas. Desse modo, o desafio da utilização da tecnologia nas aulas tornase mais evidente (MALTEMPI, 2008). Nessa direção, acreditamos que uma base teórica pode nortear o professor em suas escolhas, quando esse desafio é enfrentado nas aulas de Matemática. Neste artigo buscamos explicitar as características de um vídeo, que segundo Mayer (2009), podem propiciar a aprendizagem significativa. Também observamos que o uso desse vídeo de forma complementar a applets do GeoGebra, ou seja, a integração de diferentes multimídias, pode ser uma forma de integração nas aulas de Matemática. 04051
Para tanto, teorias como a TCAM podem auxiliar o professor a realizar escolhas de recursos na internet e nortear a adaptação deste recurso ao objetivo da aula. Essa competência docente para seleção e utilização dos recursos tecnológicos, foco também descrito pelo subeixo que nos propomos participar, é um desafio para o professor. Assim, o vídeo que analisamos é apenas um exemplo que pode suscitar essa importante discussão, levando à reflexão e análise crítica dos recursos disponíveis e das possibilidades de utilização. Referências BARROS, A. P. R. M. Contribuições de um micromundo composto por recursos do GeoGebra e da coleção M³ para a aprendizagem do conceito de volume de pirâmide. 2013. 162 p. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013. BARROS, A. P. R. M.; AMARAL, R. B. Um estudo sobre pirâmides em um ambiente de base construcionista, In: XI Encontro nacional de educação matemática: Educação Matemática Retrospectiva e Perspectivas. Anais do XI Encontro Nacional de Educação Matemática Retrospectivas e Perspectivas. Guarapuava, PR: Sociedade Brasileira de Educação Matemática, 2013. Disponível em: <http://sbem.esquiro.kinghost.net/anais/xienem/pdf/3011_1806_id.pdf>. Acesso em 10 ago. 2013. DOMINGUES, N. S. O papel do vídeo nas aulas multimodais de Matemática Aplicada: uma análise do ponto de vista dos alunos. 2013. 125 p. Dissertação (Programa de Pós Graduação em Educação Matemática) Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, Rio Claro, 2013. MALTEMPI, M. V. Educação matemática e tecnologias digitais: reflexões sobre prática e formação docente. Acta Scientiae: Revista de Ensino de Ciências e Matemática, Canoas, v. 10, n. 1, p. 59 67, 2008. MAYER, R. E. Multimedia learning. 2nd ed. New York: Cambridge University Press, 2009. 210 p. 1 Aluna de doutorado pelo Programa de Pós Graduação em Educação Matemática (PPGEM) da UNESP Rio Claro. Membro do GPIMEM Grupo de Pesquisa em Informática, outras Mídias e Educação Matemática (UNESP) e do PECIMAT Tecnologias Digitais e Educação Matemática (UNICAMP). 2 Programa de Pós Graduação em Educação Matemática (PPGEM), Departamento de Matemática, UNESP Rio Claro. Membro do GPIMEM Grupo de Pesquisa em Informática, outras Mídias e Educação Matemática (UNESP) e do PECIMAT Tecnologias Digitais e Educação Matemática (UNICAMP). Professora Colaboradora do Programa de Pós Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM), UNICAMP. 3 Um micromundo é um ambiente composto por elementos do interesse do aluno, por exemplo, design, domínio simples de linguagem, animação, entre outros, e que permite o envolvimento e a interação do aluno com esse mundo interessante, para que ele desenvolva suas habilidades cotidianas de investigação e formule conjecturas sobre os conceitos científicos abordados neste ambiente (BARROS, 2013). 4 Disponível em: <http://m3.ime.unicamp.br/>. Acesso em 04 mar. 2013. 04052