Artes e Ofícios é uma actividade que tem por objectivo colocar as crianças e os jovens em contacto directo com vários profissionais, de modo a conhecerem melhor profissões de ontem e de hoje. Concha de Baptismo - Prata - 20 gramas João Borges
NOTA BIOGRÁFICA João Manuel Pereira Borges nasceu a 29 de Dezembro de 1953 na Póvoa de Varzim. Fez a instrução primária na Escola Nova, tendo concluído o 1º ciclo, no ano de 1964. Depois de um interregno nos seus estudos, em 2004, prosseguiu, fazendo o ensino recorrente para adultos, promovido pela Câmara da Póvoa de Varzim, e mais tarde, o ensino básico recorrente, nocturno, na Escola Secundária Rocha Peixoto. Em 2012, inscreveu se no curso de electricidade, dando equivalência ao 12º ano de escolaridade. Em 30 de Dezembro de 1977 registou se no Sindicato da Indústria Metalúrgica do Distrito do Porto, na qualidade de ourives de ouro, de 2ª classe. Nos anos de 1986 e 1987, emigrou para o Canadá, na qualidade de Ourives, à procura de uma nova experiência profissional e aperfeiçoando cada vez mais esta arte. Ainda hoje, sente saudades do tempo de trabalho da banca de ourives O seu percurso profissional começou cedo. Em 1967, com 14 anos foi trabalhar para a oficina do Sr. Miguel da Silva Andrade, então, situada na Rua Tenente Valadim, por cima do Restaurante Leonardo, ao lado da Garagem Santos. Nessa altura trabalhavam oito oficiais e seis aprendizes, sob a orientação do mestre e dois encarregados. A execução das peças de joalharia, de ouro e prata, era feita pelos oficiais, e o seu acabamento estava a cargo dos aprendizes. Havia muitos clientes das zonas do Porto, Guimarães e Póvoa de Varzim. No ano seguinte, em 1968, já inscrito na Segurança Social executou outros tipos de trabalho, como cravador de pedras em prata, nos brincos à rainha e laços, cravando pérolas e safiras. Mais tarde, aprendeu João Borges, no processo de fixação de letras outra arte de joalheiro, fabrico de jóias para aplicação de pedras finas, diamantes, esmeraldas e rubis.
ENTREVISTA 1 Como surgiu a ideia de ser ourives e com que idade começou a trabalhar? Comecei a trabalhar como aprendiz de ourives, com a idade de 14 anos, a convite de um colega de escuteiros, que já trabalhava na oficina do Sr. Miguel Andrade, na Póvoa de Varzim. 2 Qual o trabalho diário de um ourives? Que tipo de peças em joalharia mais executa? O trabalho de um ourives joalheiro depende das peças, mas consiste na elaboração do desenho, moldes e montagem, após executar os componentes. As peças mais executadas são anéis, brincos, colares e pulseiras. 3 Que tipo de materiais usa na execução e confecção das peças de joalharia? Os materiais são a prata e o ouro, que podem ser de cor branca, amarelo, vermelho, ou verde, conforme a liga adicionada ao ouro fino. 4 Em termos de ourivesarias e o que elas produzem, a nossa cidade está bem referenciada e bem conhecida? A cidade da Póvoa de Varzim está bem referenciada na produção de joalharia e os comerciantes das ourivesarias quase todos foram ou são mestres, e são visitadas por turistas não só portugueses mas também estrangeiros. 5 O que significa para si trabalhar uma peça de ourivesaria? Sente um afecto especial por cada peça que executa? A execução de uma peça é sempre um desafio, pois além de satisfazer o gosto de quem a vai usar, tem o toque pessoal de quem a faz, e quer sempre fazer o mais perfeito possível. 6 Que balanço faz da sua actividade profissional? Tem algum projecto para o futuro ou alguma peça que deseja executar? O balanço da actividade profissional é muito bom, aprendi com bons profissionais que, para além de ensinarem a arte, ajudaram me a ter gosto pelo que faço. Para o futuro gostaria de ensinar esta arte, e talvez com tempo fazer uma peça, que possa orgulhar a família e a nossa cidade. 7 A arte de ourives é uma arte imaginativa e criativa. Acha que os ourives tendem a acabar? A arte de ourives, como todas as artes artesanais está dependente dos aprendizes e oficinas para executarem as peças. Gostava que se proporcionasse aos jovens a possibilidade de aprenderem esta arte.
8 Que mensagem gostaria de deixar a todos os jovens da nossa sociedade, em constante estado de ebulição tecnológica, para que olhem mais para certas Artes & Ofícios? A mensagem que gostaria de lhes transmitir é que aproveitem ao máximo, a aquisição da formação especializada, mas as Artes & Ofícios que temos na nossa cidade, que muito nos orgulhamos são motivo para incentivar os jovens a APRENDER HOJE, OS OFICIOS DE ONTEM A PENSAR NO AMANHÃ. OURIVES Ourives é a pessoa que repara, fabrica, trabalha e pode vender artefactos, utilizando ferramentas manuais ou mecânicas. A palavra designou sempre o lavrante, fabricador ou vendedor de artefactos de ouro e/ou prata. Com as novas ligas e os processos que permitem fabricar pedras sintéticas, a ourivesaria industrial realiza jóias e bijutarias muito belas. Mas o artesão tem o privilégio de oferecer peças únicas de ouro ou de prata, de pedras preciosas e de pérolas finas. Colares, anéis e brincos, correntes ou caixas trabalhadas à mão têm um carácter inédito e raro que não pode ser igualado pela fabricação em série. A bijutaria, a joalharia e a ourivesaria representam a arte de dar forma a adereços, de engastar diamantes e cinzelar objectos para deles fazer as jóias e os cortes que extasiam o olhar. Operário e artista, o ourives joalheiro realiza as montagens segundo um desenho, fabrica as próprias jóias (objecto precioso de ouro, de prata, de pedraria, que serve para enfeitar). Escolhe o metal que convém e prepara cada elemento separadamente para obter a forma e perfil pretendidos. As peças são marteladas e cinzeladas e, depois, montadas por soldadura e polidas. A cravação das pedras é um trabalho delicado que se faz com o auxílio da broca de ourives e do buril. A fixação deve manter a pedra firmemente, fazendo a realçar. O ourives emprega o martelo de madeira e a cisalha para dar forma aos objectos de metal. O fundidor cinzelador prepara os motivos trabalhados e as formas arredondam se ao torno do cinzelador. Os objectos que saem das suas mãos são maravilhas de perfeição. É preciso um dom natural para executar com arte as jóias e os objectos preciosos.
A JOALHARIA É UMA ARTE Ao longo dos séculos e por todo o mundo, as jóias e os metais de adorno pessoal sempre fascinaram tanto homens como mulheres. A joalharia sempre foi usada como uma demonstração pública de riqueza e de cultura, bem como, sob um aspecto mais íntimo, de gosto próprio e distinto. No entanto, a joalharia implica muito mais do que um simples desejo de revelar riqueza e de estabelecer ou seguir uma determinada moda. Por todo o mundo existem centenas de homens e mulheres especializados, trabalhando em condições e com métodos que pouco variaram ao longo dos séculos. Para alguma desta gente, a sua oficina mais não é do que em cepo de madeira assente em areia e algumas ferramentas muito simples. As técnicas que usam mantiveram se inalteradas ao longo de gerações. É evidente que a tecnologia fez sentir a sua influência. Existem agora máquinas que produzem intrincadas cadeias de diversos comprimentos; laminadores e prensas pesados permitem a obtenção de folhas de metal fino; sistemas complicados de electrodeposição e de fotogravura produzem em minutos aquilo que antigamente levava horas a conseguir se; e técnicas sofisticadas de fundição produzem acabamentos de alta qualidade. Mas esses processos mecanizados não significam de modo algum que o trabalhador manual tenha deixado de ter um papel; limitaram se a fazer com que o mundo da joalharia se tornasse muito mais competitivo. Os métodos tradicionais de produção de joalharia continuam a progredir. Há joalheiros especialistas que desenham e se ocupam de todos os trabalhos, desempenhando um importante papel no movimento de arte e especialização. OURIVESARIA Arte remota e oriunda do Próximo Oriente, que floresceu nas civilizações arcaicas do mundo mediterrânico, a Ourivesaria advém da torêutica (arte de cinzelar ou de esculpir objectos em metal), como distinguida lavrança de metais preciosos ouro e prata. A jóia, é humanamente afeita, como adorno e requinte corporal. Os primeiros ourives surgiram pelo 4.º milénio a.c., ao utilizar os grânulos de ouro das aluviões dos rios, dóceis e maleáveis, martelados a frio, foram reduzindo a lâminas e proporcionaram a factura de diademas (adorno com que se cinge a testa, tipo Coroa), pulseiras e outras jóias. A fusão do aurífero metal, que precede a pesquisa dos filões por mineração, é o processo que desencadeia toda uma metalurgia com as técnicas ainda hoje usadas martelar, laminar, puncionar (furar ou abrir), repuxar, burilar (gravar), cinzelar, soldar adoptando se formas e elementos decorativos ao longo dos tempos. Prata 55 mm, Floresta Negra, Alemanha
FICHA TÉCNICA Título: Artes & Ofícios: Ourives encontro com João Borges 28 de Fevereiro de 2013 Editor: Município da Póvoa de Varzim / Biblioteca Municipal Local e data de edição: Póvoa de Varzim, Fevereiro, 2013 Coordenação editorial: Manuel Costa Capa: Daniel Curval Entrevista, conteúdos e paginação: Rogério Nogueira Fotografias: João Borges Impressão: Município da Póvoa de Varzim Tiragem: 50 exemplares «Devemos pensar no futuro dando formação e incentivando os jovens a aprender hoje, os ofícios de ontem, a pensar no amanhã» Bibliografia consultada - CUENDET, Pierrette - Que profissão irei escolher? Venda Nova : Bertrand Editora, d.l. 1998. p. 42. - Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa : Editorial Verbo, cop. 1963. (volume 14, p. 922). - Grande enciclopédia portuguesa e brasileira. Lisboa : Editorial Enciclopédia, s.d. (volume 14, p. 781). -McGRATH,Jinks- Joalharia: técnicas básicas. Lisboa : Editorial Estampa, 1998. Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim Rua Manuel Lopes 4490-664 Póvoa de Varzim Telefone: +351 252 616 000 Fax: +351 252 617 069 E-mail: biblioteca@cm-pvarzim.pt Site: http://ww.cm-pvarzim.pt/biblioteca Catálogo online: http://catalogobmrp.cm-pvarzim.pt