"Por Chile Venceremos" - O discurso de resistência nas canções dos conjuntos Quilapayún e Inti-Illimani na primeira metade do exílio (1973-1980)



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Transcrição:

"Por Chile Venceremos" - O discurso de resistência nas canções dos conjuntos Quilapayún e Inti-Illimani na primeira metade do exílio (1973-1980) RAFAEL RODRIGUES CAVALCANTE 1 Com o seu surgimento em meados da década de 1960 2, a Nova Canção Chilena (NCCh) eclode em meio a um fértil período para o cenário musical da América Latina, concomitantemente com outros notáveis movimentos, como a Nova Trova Cubana e o Novo Cancioneiro Argentino, os quais "reivindicavam a canção popular como patrimônio cultural, mas com o compromisso de atualizar o discurso, isto é, ampliar a temática"(garcia, 2005: 3). Emergindo sob a influência da Revolução Cubana e do Maio de 1968, - importantes marcos da esquerda política mundial - os movimentos da Nova Canção se popularizaram entre diversas camadas da sociedade, como os universitários e os trabalhadores de classe média e baixa, devido a vinculação da canção com o acontecer social. Além disso, a Nova Canção se tornou um fenômeno de massas, sendo, num primeiro momento, incorporada pelo mercado, como exemplifica o musicólogo Rodrigo Torres: Na experiência cultural deste século, a música popular aparece como um fenômeno de força e relevância social. Em si remete a uma variada gama de práticas e gêneros musicais que tem em comum a influência do urbano, do moderno e da massa mediática. Nunca antes a música foi tão cotidiana na experiência social, e nunca também alcançou um grau tão elevado de massificação como objeto de consumo. (TORRES, 2000: 359, tradução nossa) A popularidade da Nova Canção Chilena se faz notável durante o governo de Salvador Allende 3, visto que diversos integrantes do movimento eram filiados ao Partido Comunista Chileno (PCCh) 4 e apoiavam a via chilena ao socialismo, projeto de Allende que pretendia 1 Mestrando ligado ao Departamento de História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP - Franca. rafacaval29@hotmail.com 2 Apesar de não haver um consenso acerca da data que configura o surgimento da Nova Canção Chilena, compartilho da compreensão dos autores Juan Pablo González, Oscar Ohlsen e Claudio Rolle, presente no livro Historia Social de la Música Popular, 1950-1970 de que o movimento se inicia entre os anos de 1963-1969, se incorporando como tal em 1969, com o I Festival de Nueva Canción Chilena. (GONZÁLEZ; OHLSEN; ROLLE, 2009: 371). 3 Allende foi eleito presidente do Chile em 1970 pela Unidade Popular, importante coalização partidária de esquerda que contava com o Partido Socialista, Partido Comunista, Partido Radical, Partido Social Demócrata, Izquierda Cristiana, MAPU Obrero y Campesino, Acción Popular Independiente e o Movimiento de Acción Popular Unitario. 4 Víctor Jara, Ángel Parra e a maioria dos integrantes dos conjuntos Quilapayún e Inti-Illimani eram filiados ao PCCh.

2 alcançar o socialismo no Chile através dos meios eleitorais e de um modo pacífico, sem utilizar da força ou infringir a Constituição. Porém, com o golpe de Estado de 11 de Setembro de 1973, o general Augusto Pinochet depõe o governo de Salvador Allende e dá início à ditadura militar chilena, a qual vigorou até março de 1990. Nessa nova conjuntura, "caracterizada pela forte repressão e violência" (ALVES; CAMARGO, 2011: 216), o regime militar rapidamente tratou de cessar a voz da Nova Canção Chilena com o assassinato de Víctor Jara - um dos maiores representantes do movimento - 5 dias após o golpe, além de promover o exílio de diversos cancionistas, como os irmãos Ángel e Isabel Parra, Osvaldo "Gitano" Rodríguez, Patricio Manns, Charo Cofré e dos conjuntos Quilapayún, Inti-Illimani, Illapu, Aparcoa, entre outros. Com o objetivo de afastar toda a oposição do Chile, Pinochet fez uso de uma importante ferramenta política, o exílio, o qual "tem sido um dos mecanismos centrais de dominação e de exclusão forjados pelas elites políticas latino-americanas a fim de se manterem no poder" (RONIGER, 2010: 92). Assim, devido as suas relações com a esquerda política e a forte associação da imagem dos cancionistas chilenos à Salvador Allende, os músicos da NCCh foram tidos enquanto inimigos do Chile e excluídos de sua pátria, sendo obrigados a seguirem para o exílio. O presente trabalho tem por objetivo averiguar as representações de resistência que a Nova Canção Chilena encontrou durante o exílio através de sua produção discográfica. Para isso, analisaremos dez canções dos conjuntos Quilapayún e Inti-Illimani produzidas durante a primeira metade do exílio, ou seja, até 1980 5. Nossa opção por esses conjuntos se justifica pela importância que ambos tiveram durante a institucionalização da NCCh como representação cultural da via chilena ao socialismo e por terem permanecido ativos musical e politicamente, após o golpe, divulgando no exterior a causa chilena em seus shows e discos. Tanto o Quilapayún quanto o Inti-Illimani alcançaram considerável popularidade na França e na Itália, países que os abrigaram durante o período militar, e realizaram diversas turnês ao redor do mundo. Não temos, neste trabalho, o intuito de discorrer detalhadamente sobre a trajetória artística e pessoal dos conjuntos Quilapayún e Inti-Illimani durante o exílio, e sim compreender como as suas canções se tornaram importantes representações de resistência à ditadura militar chilena, visto que "a música foi uma das mais poderosas formas de oposição ao regime ditatorial chileno, graças a sua rápida difusão entre os grupos sociais." (ALVES; CAMARGO, 2011: 123) 5 O exílio chileno se encerra no dia 01 de Setembro de 1988, com o decreto de lei n 203. (AGUIRRE; CHAMORRO, 2008: 31).

3 O discurso de resistência no Inti-Illimani Hacia la libertad (1975) Após um intenso período inicial de agitação e divulgação da causa chilena em suas turnês, o Inti-Illimani apresenta em 1975 o disco Hacia la libertad, o qual se destaca por ser a primeira produção do conjunto no exílio 6, além de ser responsável pelo surgimento de composições próprias dos músicos, visto que até então, o grupo era essencialmente intérprete de outros grandes nomes da Nova Canção Chilena, como Violeta Parra e Luis Advis. A necessidade em investir nas suas composições próprias se dá na conjuntura do exílio, em que as canções emergem com uma forte carga sentimental devido ao golpe de Estado, o qual promoveu diversas atrocidades, como a morte de Víctor Jara, que foi brutalmente assassinado pelos militares e se transformou em um dos maiores símbolos da resistência à ditadura. Em Canción a Víctor, composta por Jorge Coulón e Horácio Salinas, ambos integrantes do Inti-Illimani, há a descrição da imagem de Víctor Jara enquanto um grande trabalhador que "Caíste allí junto a otros mil" com o golpe de Pinochet. Porém, se faz interessante observarmos como o conjunto se utiliza da imagem de Jara na condição de um grande mártir e símbolo de resistência, sendo representante do povo chileno e sinônimo de luta e amor: "El pueblo así te regará / en un jardín de luz, / serás clarín de lucha y amor / Canto de Chile serás!" A canção Hacia la libertad, homônima ao álbum, talvez seja uma das mais combativas do Inti-Illimani nesses primeiros anos de exílio. Composta pelos já citado Horácio Salinas e José Seves - também integrante do conjunto -, a faixa evoca grande ícones da esquerda chilena, como Salvador Allende e Luis Recabarren - fundador do Partido Obrero Socialista em 1912 - para servirem de motivação na luta contra Pinochet, e se utiliza de um discurso engajado para demonstrar que o Chile é historicamente um país resistente e que não cessa sua luta contra a opressão até alcançar a liberdade: "Naciste combativa / contra los opresores / defendida bandera / de todos los rincones. / Desde los Andes / la llamarada / brilla la independencia / viene la libertad". 6 Apesar dos discos Viva Chile! (1973), La Nueva Canción Chilena (Inti-Illimani 2) (1974) e Canto de pueblos andinos (Inti-Illimani 3) (1975) terem sidos gravados na Itália, a produção dos mesmos já estava finalizada no Chile, tornando Hacia la libertad (1975) o primeiro disco do conjunto que foi completamente produzido durante o exílio.

4 Alcançando o seu clímax no refrão, há na faixa Hacia la Libertad, uma promessa de avanço pela unidade através de um juramento pela liberdade da pátria chilena, a qual só será alcançada através da luta contra a escuridão e a opressão militar: "Es tu historia que avanza / a la nueva unidad nos lleva. / Chile, por ti juramos / no habrá noche que nos detenga. / La patria llama! / vamos con ella / hacia la libertad". Ainda acerca da canção Hacia la libertad, há por parte de Seves e Salinas a intenção de convocar todos os trabalhadores e oprimidos a marcharem contra Pinochet: "A la aurora extendida / marchan los oprimidos / fue el trabajo de todos / y fruto compartido." Para motivar os trabalhadores, o conjunto recorre à Allende, agora na condição de mártir mitificado, sendo um exemplo a ser seguido: " Allende hermano! / cantan los pueblos / tu palabra levanto / tu ejemplo vivirá". Com uma sonoridade melancólica, a faixa Canto a los caídos é reflexo da dor provocada por Pinochet, o qual se tornou inimigo da pátria ao "ferir a bandeira" de seu próprio país, sendo tido como um "tirano" e "traidor" durante toda a canção. Com a intenção de ser um chamado ao povo chileno, que está triste e desesperançoso, Canto a los caídos procura demonstrar que "um novo sol irá nascer" e que nunca se deve desistir de lutar. Por fim, em sua última estrofe, o conjunto realiza uma associação do cobre como símbolo do Chile, demonstrando que a pátria irá vencer e que para Pinochet, o traidor, não haverá perdão: "Un día el cobre se alzará / y en las entrañas del carbon / temblará el grito contenido de la tierra. / Para el traidor no habrá perdón!". Chile Resistencia (1977) Produzido em 1977, Chile Resistencia é um disco do Inti-Illimani em parceira com o músico e compositor Sergio Ortega. Sendo um álbum essencialmente político, Chile Resistecia contém composições de diversos ícones da resistência chilena, como as faixas Luchín e A Luis Emilio Recabarren, compostas por Víctor Jara, além da musicalização de trechos do poema América Insurrecta de Pablo Neruda, presente em Naciste de los leñadores. Na canção No nos someterán, o conjunto Inti-Illimani, juntamente com Sergio Ortega, realiza um discurso de resistência contra a tirania de Pinochet, a qual estaria com os dias contados e haveria de ser derrotada. Ao repetir diversas "No nos someterán", a faixa procura cristalizar a ideia de que o povo não será submisso à ditadura militar, e que através da união "por la tierra, por

5 el cobre, por el mar", - símbolos da pátria chilena - o país alcançará a sua liberdade, conforme podemos observar no refrão da canção, cantado por um coro convicto e combativo: No nos someterán / no nos someterán. / No, no, no, no, / no nos someterán. / Lucha, luche hermano / cada día, cada noche / cada pueblos, cada esquina / cada risa, cada canto / cada uno de nosotros / lucharemos por la vida / por la tierra, por el cobre, por el mar / con la fuerza y la razón de la verdade / cada patria con bandera de unidad / cada patria con su clara libertad. Canción para matar una culebra (1979) Canción para matar una culebra é um disco que se destaca pela parceria entre Horácio Salinas e o músico e escritor chileno Patricio Manns, o qual também estava exilado. Em seu livro memorialístico "La canción en el sombrero. Historia de la música de Inti-Illimani", Salinas destaca a importância que Manns tinha para o conjunto, proporcionando novas oportunidades criativas através da junção dos textos e poemas de Manns com a música de Salinas, resultando na produção de diversas faixas do disco, sendo Vuelvo, um dos frutos dessa bem sucedida parceria. Essa canção, de acordo com Marisol García, possibilitou a sensação do retorno dos músicos ao país, mesmo sem que este tenha se concretizado: "Vuelvo" foi uma canção que vislumbrou o regresso dez anos antes de sua concretização, mas que, nas palavras de Horacio Salinas, "nos permitiu voltar de algum modo, quando nós necessitávamos". É um título crucial na história do conjunto, na poesia de Patricio Manns e para o cancioneiro latino-americano exilado. (GARCÍA, 2013: 191) O amor ao Chile é transmitido através da nostalgia presente durante toda a canção, com o freqüente uso da palavra "vuelvo", demonstrando a angústia que é viver longe de sua pátria e a freqüente ânsia pelo retorno. Porém, mesmo "con cenizas, con desgarros, / con nuestra altiva impaciencia", os músicos resistem e imaginam o regresso ao seu país, configurados enquanto guerreiros, símbolos da resistência: Vuelvo hermoso, vuelvo tierno, / vuelvo con mi esperadura, / vuelvo con mis armaduras, / con mi espada, mi desvelo, / mi tajante desconsuelo, / mi presagio, mi dulzura, / vuelvo con mi amor espeso, / vuelvo en alma / y vuelvo en hueso / a encontrar la patria pura / al fin del último beso.

6 O discurso de resistência no Quilapayún El pueblo unido jamás será vencido (1975) Apesar de estarem exilados na França desde o momento do golpe 7, o primeiro disco do Quilapayún nessa nova conjuntura só foi produzido em 1975, devido as diversas turnês que o conjunto realizou em prol da causa chilena, conforme nos afirma Eduardo Carrasco, integrante e diretor musical do conjunto, sob o pseudônimo de Ignacio Santander: A intensa vida dos primeiros anos de exílio, as viagens e as turnês intermináveis tiveram como conseqüência negativa uma interrupção da criatividade do conjunto que, durante quase dois anos, não gravou nenhum disco. Tivemos que esperar até 1975 para ver aparecer o LP El pueblo unido jamás será vencido, que resume em suas canções o dramatismo esperançoso desses anos de derrota. (SANTANDER, 1984: 91) O álbum El pueblo unido jamás será vencido é um objeto de interessante análise sobre a identidade do Quilapayún, pois através dele podemos observar a estreita relação que o conjunto possuía com a esquerda política e como os seus integrantes utilizavam de suas canções para cristalizar um discurso esquerdista e de resistência frente à Pinochet. Para isso, os músicos se valem da união do povo, descrita como invencível na faixa El pueblo unido jamás será vencido; da luta contra a repressão á esquerda política na canção La represión; e, por fim, no uso representativo de grandes ícones da esquerda latino-americana enquanto exemplos político-sociais, como Salvador Allende em Compañero Presidente. Na faixa Compañero Presidente, escrita por Eduardo Carrasco, há uma vigorosa homenagem ao presidente Salvador Allende, em que o mesmo é tido como um dos principais símbolos de resistência tanto da esquerda política quanto da luta contra Pinochet. Durante 7 No dia do golpe, o Quilapayún se encontrava em Paris para realizar um show no teatro Olympia.

7 toda a canção, o Quilapayún procura reforçar a necessidade da morte de Allende não ter sido em vão, conforme podemos observar no trecho a seguir: Por tu vida lucharemos / por tu muerte con valor / lucharemos por tu ejemplo / compañero, Salvador. / Que terminen los martirios / de tu tierra traicionada / que renazcan las espigas / de la patria liberada. / La uninad del pueblo entero / es la fuerza libertaria / cumpliremos tu palabra / Salvador de la victoria. Ainda acerca de Compañero Presidente, o Quilapayún demonstra as mazelas que o regime militar trouxe ao Chile: "El pan arrebatado / miseria y destrucción, / hambre, tortura, y grillos, / armas de la opresión". Ou seja, há no decorrer de toda a canção uma dualidade entre a figura de Allende, tido como exemplo a ser seguido, e a imagem de Pinochet, considerado o traidor da pátria, que será derrotado através da união e da insurreição que nascerá da alma dos mineiros, proporcionando a libertação do Chile frente ao seu tirano e a possibilidade da revolução: Contra el pueblo chileno / se há alzada la traición / pero la venceremos / no habrá resignación. / En el alma minera / nace la insurrección / se alza su puño altivo / contra la represión. / Por Chile venceremos / por su liberación / por una nueva patria / por la revolución. Na faixa El rojo gota a gota irá creciendo, há uma parceira entre Eduardo Carrasco e Horácio Salinas, em que se desenvolve a temática da resistência através do povo, o qual permitirá que "el rojo, gota a gota, irá naciendo", ou seja, com a luta e união, o comunismo - representado pelo gota vermelha - irá nascer no Chile, país que, mesmo ensangüentado, seguirá unido contra os militares: "Chile territorio ensangrentado / Chile seguirá por siempre unido / Chile luchará contra el tirano / Chile no será jamás vencido". Patria (1976) O disco Patria se destaca pela musicalização de parte do poema Canto General de Pablo Neruda presente na faixa Continuará nuestra luta e também pela produção de quatro canções instrumentais, sendo elas Vals de Colombes, Ventolera, El paso de ñandú e Machu- Pichu, todas compostas por integrantes do Quilapayún. Ademais, Patria também se

8 caracteriza por abordar a resistência à ditadura e elucidar a nostalgia que os músicos sentiam de seu país, demonstrada em Mi Patria e Patria de multitudes. Mi patria, a primeira canção do álbum, se caracteriza pela musicalização do poema Patria, sol y bandera do poeta chileno Fernando Alegría, também exilado pelo regime militar. Nessa faixa, interpretada por vozes tristes e nostálgicas, porém em um tom firme, há a descrição da pátria chilena antes da ditadura militar, em que a mesma era representada de um modo doce: "Mi patria era sauces, alerces y nieve, / canelos oscuros, la flor de Pomaire, / doncella de yeso en azul de los cielos, / aromos flotando entre viejos volcanes, / mi patria era sauces, alerces y nieve". Após descrever o Chile, a canção alcança o seu clímax ao afirmar que apesar da violência sofrida, o país há de se reerguer: "Patria, luz y bandera / de los puños alzados, / volverás a florecer, / volverás a renacer". Em Recitado y Cueca autobiográfica, há a junção de duas canções em uma só faixa. Em Recitado, o Quilapayún recita severas críticas ao governo da China, comandado por Mao Tsé-Tung, o qual reconheceu a legitimidade do regime militar de Pinochet. Assim, os chineses são representados como "cochinhos" 8, "chuecos" 9, "puchas" 10, "oportunistas" e aliados aos militares chilenos, tidos como fascistas: "Con los milicos, sí, / con los fascistas, / puchas los chinos chuecos / y oportunistas. / Oportunistas, sí, / chinos cochinhos, / mejor no le sigo / poniendo pino." Após Recitado, se inicia Cueca autobiográfica, cantada em coro festivo juntamente com a acentuada sonoridade do charango de Hernán Gómez. A canção demonstra a importância do canto enquanto um veículo difusor da resistência, o qual tem a habilidade de alcançar todos os extremos do mundo: "En Australia y en Londres, caramba, / pa' lao y lao / en Tokio y en Caracas, caramba". A faixa também destaca o desejo do cancionista em cantar para o seu povo em todos os lugares possíveis, para assim, difundir a causa chilena: "Pa' cantarle a mi pueblo, caramba, / cruzo los mares, / cruzo el cielo y la tierra, caramba / y otros lugares. / Salto los continentes, caramba, / con la guitarra / colgada en el cogote, caramba, / no hay quien me pare". Patria de multitudes, a última faixa do disco, merece destaque por seu coro e sua harmonia, os quais se iniciam com muita tristeza e melancolia, provocadas pela dor que Pinochet vem causando no Chile. Porém, no decorrer da canção, que contém somente cinco 8 Sujos. Tradução nossa. 9 Traidores. Tradução nossa. 10 Vulgares. Tradução nossa.

9 versos, o coro ganha vivacidade e, quase que como em um tom profético, afirma que a pátria voltará a ser como era antes do golpe militar: "Chile será de nuevo / estrella, surco y mar, / Patria de multides, arado y canción. / Rojas banderas revivirán / las anchas alamedas de la libertad". Conclusão Apesar do exílio, a Nova Canção Chilena se apresenta enquanto um movimento que resiste e que consegue manter importantes ideais criados antes mesmo do período ditatorial, como por exemplo, a ligação entre a canção e a luta popular, em que "o laço que une a canção chilena à luta popular não foi desfeito, ele segue concretamente estabelecido e é o que explica o acontecer concreto da Nova Canção Chilena durante os últimos anos." (SANTANDER, 1984: 116. Tradução nossa) Assim como qualquer exilado, o Quilapayún e Inti-Illimani também enfrentaram dificuldades em seu processo de adaptação ao exílio, como os novos idiomas, culturas e sociedades. Porém, apesar dos obstáculos, o período manteve vivo o espírito de resistência dos conjuntos através da canção, que foi uma importante representação dos sentimentos dos chilenos durante esse período, além de ser portadora de uma mensagem duradoura, conforme nos afirma Marisol García acerca da música do Inti-Illimani: Sua música no exílio transmitiu autoridade, elegância, diferentes referenciais e vivacidade extrema; mas, ademais, foi veículo de uma mensagem imperecível para compreender as mais profundas emoções de milhares de chilenos que olhavam para sua pátria através de uma distância inevitável. (GARCÍA, 2013: 192. Tradução nossa) No decorrer deste trabalho, procuramos elucidar um dos mais importantes veículos de resistência da Nova Canção Chilena durante o exílio: a canção. Através de sua produção discográfica, os conjuntos Quilapayún e Inti-Illimani, importantes representantes da NCCh, conseguiram universalizar a divulgação da causa chilena, denunciar as repressões e violações dos direitos humanos no Chile e defender a memória coletiva do movimento, a qual era ameaçada por Pinochet e pela ditadura militar. BIBLIOGRAFIA

10 ACUÑA, María Elena; REBOLLEDO, Loreto. Narrativas del exilio chileno. Suécia: Ed. GUPEA, 2001. Disponível em: <https://gupea.ub.gu.se/bitstream/2077/3219/1/anales_3-4_rebolledo_acuna.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2014. AGUIRRE, Estela; CHAMORRO, Sonia. "L" Memoria gráfica del exilio chileno 1973-1989. Santiago: Ocho Libros, 2008. ALVES, Rafael Souza; CAMARGO, Cássio Michel dos Santos. Ditadura, repressão e música no Chile. In: Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 112-125, 2011. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficinadohistoriador/article/viewfile/8861/6 471>. Acesso em: 10 jun. 2014. AYALA, María Fernanda Cáceres. El sol Inti Illimani llega a Italia. De jóvenes estudiantes a músicos comprometidos: la música de Inti Illimani como forma de expresión cultural en el exilio. 1967-1988. Cuadernos de Historia Cultural: Revista de Estudios de Historia de la Cultura, Mentalidades, Económica y Social. Viña del Mar: CONICYT, 2012. Disponível em: <http://cuadernosdehistoriacultural.files.wordpress.com/2012/10/11-fernada-cc3a1ceres-solde-illimani.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2014. CERTEAU, Michel De. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. CHARTIER, Roger. A beira da falésia: a história entre certezas e inquietudes. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2002.. "Cultura Popular": revisitando um conceito historiográfico. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 16, p. 179-192, 1995. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2005/1144>. Acesso em: 28 mai. 2014. FAIRLEY, Jan. La nueva canción latinoamericana. In: Bulletin of Latin America research, Caribe, v. 3, n. 2, 1984. Disponível em: <www.jstor.org/stable/333825>. Acesso em 18 jun. 2014. GARCÍA, Marisol. Canción Valiente. 1960-1989 - tres décadas de canto social y político en Chile. Santiago: Grupo Zeta, 2013 GARCÍA, Ricardo. Cantar de nuevo. In: Cuadernos Hispanoamericanos. Madrid: n 482-483. 1990. GARCIA, Tânia da Costa. Nova Canção: manifesto e manifestações latino-americanas no cenário político mundial dos anos 60. In: CONGRESO DE LA RAMA LATINOAMERICANA DE LA ASOCIACIÓN INTERNACIONAL PARA EL ESTUDIO DE LA MÚSICA POPULAR, 6., 2005, Buenos Aires. Actas... Buenos Aires: IASPM, 2005. Disponível em: <www.iaspmal.net/wp-content/uploads/2012/01/costagarcia.pd>. Acesso em: 08 jun. 2014. GONZÁLES, Juan Pablo; OHLSEN, Oscar; ROLLE, Claudio. Historia social de la música popular en Chile, 1950-1970. Santiago: Ed. Universidad Católica de Chile, 2009.

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