CRIMINOLOGIA CRÍTICA E ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: breves considerações HEKELSON BITENCOURT VIANA DA COSTA Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Brasília UNICEUB e servidor público federal do Superior Tribunal de Justiça/STJ RESUMO Aponta a evolução histórica da Criminologia e a necessidade de um novo conteúdo conceitual e de objeto dentro da perspectiva de um Estado Democrático de Direito. Ressalta que a criminalidade atual, principalmente a de alta soma, é fruto de incongruências do Estado na prevenção e repressão de crimes e conclui que tal ciência pode ajudar a se ter um sistema penal mais justo e eficaz. PALAVRAS-CHAVES Criminologia; Criminologia crítica; Direito Penal; Estado Democrático de Direito. ABSTRACT It s demonstrates the historical evolution of the Criminology and the need of a new conceptual content and of object inside in the perspective of a Democratic State of Right. Also points out that the current criminality, mainly the one of high adds, it is fruit of incongruities of the State in the prevention and repression of crimes and concludes that such science can help having a fairer and effective penal system.
KEYWORDS state of Right Criminology; Critical criminology; Criminal right; Democratic Sumário: 1. Introdução. 2. Antecedentes históricos. 3. Criminologia Crítica: Objeto e Conteúdo. 4. Estado Democrático de Direito. 5. Conclusão. 6. Notas. 7. Referências bibliográficas 1. INTRODUÇÃO À primeira vista o termo criminologia parece não demonstrar dúvida acerca de seu objetivo, se for, à luz de sua etimologia, realizada uma análise. Assim chegar-se à conclusão de que é a ciência que se ocupa do estudo do crime e de sua gênese. De certo modo está correto! Apenas que a criminologia crítica é uma evolução (como qualquer ciência), que passou por etapas (no caso, Escolas) quais sejam: a Clássica e a Positiva. De maneira introdutória, pode-se dizer que a criminologia estuda tudo o que envolve o Sistema Penal inclusive todas as relações com instituições sociais, nelas compreendidas o Sistema repressivo: polícia e complexo penitenciário e o Sistema Judicial, incluído o parquet. Cremos se fazer necessário antes de se adentrar no título em tela, dar, ao menos em passant, breves considerações a respeito das Escolas que cronologicamente antecederam a criminologia crítica. 2
2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS A Escola Clássica viu o crime como um ente jurídico, porque é dado da razão (mera violação de um direito). A responsabilidade penal foi vista como tendo por fundamento a responsabilidade moral derivada do livre arbítrio do agente, em corolário a pena foi concebida na sua finalidade meramente retributiva. Essa escola usou do método dedutivo. Como representantes tivemos Beccaria, Feurebach e Carrara. A Escola Positiva, por seu turno, teve o crime como fato natural, praticado pelo Homem causamente determinado (porque detentor da conduta anti-social e perigosa). A responsabilidade penal fundamentou-se na responsabilidade social o Homem merece a repressão pois vive em sociedade em conseqüência teve a pena como um meio de defesa social. Usou do método cientifico. Um de seus integrantes, Lombroso - outro integrante foi Ferri - chegou a traçar o perfil antropológico (aparência física) como um padrão de tendência para o crime!. Retornando ao ponto em que se asseverou que a Criminologia Crítica estuda tudo que envolve o Sistema Penal, tem se que ela estuda a própria sociedade, na forma que se organiza, como estão as relações de poder, as formas de ascensão de classes, preconceitos, distribuição de renda etc. Razão pela qual se afirma a que sociedade industrial e mesmo a pós-industrial é um ente criminógeno, pois o desenvolvimento econômico feroz desperta, pela cobiça, o aparecimento da criminalidade mais ardilosa e de escol. Todo movimento de vanguarda, seja ideológico, filosófico ou artístico, é oriundo da crise de seus antecessores, e com a Criminologia Crítica não foi diferente. Ora, os modelos das Escolas Clássica e Positiva já não conseguem dar respostas ao crime inovador e ao aumento da violência nas sociedades capitalistas. Aquela por apenas enxergar o crime como fato jurídico, não centrando-se também no delinqüente, é inábil 3
You are reading a preview. Would you like to access the full-text? Access full-text
6. NOTAS 1 In Criminologia Integrada, 1931, RT, pág. 471 a 473 2 Não por acaso, Dahrendof nomeia este fenômeno de sociedade dividida. 3 Teoria de Robert Merton, ou seja, na proporção em que escasseiam-se os meios legítimos para se alcançar o sucesso, instala-se na proporção direta, uma situação de anomia, de crime, de fraude, etc, onde comportamentos ilegais e eticamente negados, tornam-se comuns. Tal teoria distingue os fins culturais, que são as aspirações que a cultura induz ao homem, das normas - lato sensu - ou seja, dos meios legítimos existentes para buscar esses fins culturais. 4 In Sociologia da Corrupção. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1987 5 Esta forma inspirou o Estado Fascista: Totalitário e ditatorial em que os direitos e liberdades humanas ficam praticamente anulados e totalmente submetidos ao arbítrio de um poder político onipotente e incontrolado, no qual toda participação popular é sistematicamente negada em benefício de uma minoria que controla o poder político e econômico. Nada se pode confundir com Estado submetido ao Poder Judiciário. In José Afonso da Silva, 13ª ed. 6 In Do Estado Liberal ao Estado Social. Apud idem. 7 In Estado de Derecho y Sociedad Democratica. Apud idem 8 Este princípio exprime que o Estado Democrático de Direito se funda na legitimidade de uma Constituição rígida, emanada da vontade popular, que, dotada de supremacia, vincule todos os poderes e os atos deles provenientes, com as garantias de atuação livre de regras da jurisdição constitucional. In José Afonso da Silva. Op. Cit. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do direito Penal. 2ª ed. Freitas Bastos editora, Rio de Janeiro, 1999. COSTA, Hekelson Bitencourt Viana da. Lavagem de Dinheiro Lei 9613/98. Revista de informação legislativa, v. 38, n. 150, p. 121-143, abr./jun. 2001. OLIVEIRA, Frederico Abrahão de. Manual de Criminologia. Sagra DC Luzatto, Porto Alegre, 1996. FERNANDES, Newton e Válter. Criminologia Integrada. RT, 1931. MORAES FILHO, Antônio Evaristo de; LEITE, Celso Barroso; CARVALHO, Getúlio; PACINI, Mário; JOHNSTON, Michael. Sociologia da corrupção. São Paulo: Jorge Zahar Editor, 1981. 14
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 13ª edição. Malheiros. 15