AMQ e POA: diferenças e semelhanças na avaliação da Estratégia de Saúde da Família



Documentos relacionados
Modelo de Atenção às. Coordenação de Informação

SISTEMA DE AVALIAÇÃO E APOIO À QUALIDADE DO ENSINO A DISTÂNCIA

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

Dúvidas Freqüentes IMPLANTAÇÃO. 1- Como aderir à proposta AMQ?

O USO DA INFORMÁTICA NA REDE BÁSICA E HOSPITALAR DA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO (S.P.)

O PAPEL DO ENFERMEIRO EM UMA ESTRTÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 1

Acesse o Termo de Referência no endereço: e clique em Seleção de Profissionais.

PLANEJAMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. Brasília, outubro de 2011

Programa Pernambuco: Trabalho e Empreendedorismo da Mulher. Termo de Referência. Assessoria à Supervisão Geral Assessor Técnico

Instrumento de Coleta Sistematizado para Visita Domiciliar

DST/Aids e Rede Básica : Uma Integração Necessária. Programa Estadual de DST/AIDS de São Paulo

A IMPORTÂNCIA DAS AÇÕES DE INFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DO CONTROLE SOCIAL NA POLÍTICA ESTADUAL DE SAÚDE

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO CURSO DE ENFERMAGEM DO CESUMAR SOB A ÓTICA DO SUS

ASSISTÊNCIA HOSPITALAR E AS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

A Aliança de Cidades e a política habitacional de São Paulo

A Organização da Atenção Nutricional: enfrentando a obesidade

Sessão 4: Avaliação na perspectiva de diferentes tipos de organizações do setor sem fins lucrativos

5 Considerações finais

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DE NOVOS CONHECIMENTOS 1

Módulos QM de sistemas ERP ou MES X Sistemas LIMS?

IMPLANTAÇÃO DOS PILARES DA MPT NO DESEMPENHO OPERACIONAL EM UM CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE COSMÉTICOS. XV INIC / XI EPG - UNIVAP 2011

REGULAMENTO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA FACULDADE DE APUCARANA FAP

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

P4-MPS.BR - Prova de Conhecimento do Processo de Aquisição do MPS.BR

NOTA TÉCNICA REDE DE CUIDADOS À PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO ÂMBITO DO SUS

PROGRAMA DE SAÚDE NA ESCOLA

RELATÓRIO DO TRABALHO DE CAMPO

INSTRUTIVO PARA O PLANO DE IMPLANTAÇÃO DA ESTRATÉGIA AMAMENTA E ALIMENTA BRASIL

Estratégia Nacional para a Alimentação Complementar Saudável

IMPLANTAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA CEARÁ

PROGRAMA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DO SERVIDOR DO IPAMV: COMPROMISSO COM A VIDA

4 Proposta de método de avaliação de desempenho em programas

A DEMANDA POR SAÚDE PÚBLICA EM GOIÁS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO PROJETO BÁSICO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM PRODUÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE CONTEÚDO NA EAD CURSO PARA DOCENTES DA UFOP

Oficina Cebes DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E SAÚDE

Planejamento e Gestão Estratégica

Como a sociedade participa na gestão do SUS:

NORMA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE TÉCNICA DO SETOR PÚBLICO NBCT (IPSAS)

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 2783 PARA CONTRATAÇÃO DE PESSOA FÍSICA PROCESSO DE SELEÇÃO - EDITAL Nº

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE GESTÃO, ARTICULAÇÃO E PROJETOS EDUCACIONAIS

Caminhos na estratégia. de saúde da família: capacitação de cuidadores de idosos

Trabalho resgatado da época do Sinac. Título: Desenvolvimento de Recursos Humanos para a Comercialização Hortigranjeiro Autor: Equipe do CDRH

Porque estudar Gestão de Projetos?

Questionário de Avaliação de Maturidade Setorial: Modelo de Maturidade Prado-MMGP

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO MEDICINA SOCIAL ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

A GESTÃO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO NA INCUBADORA TÉCNOLÓGICA UNIVAP

MERCER 360 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

PROJETO: AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA BÁSICA NO ESTADO DO CEARÁ

Ministério da Saúde Gabinete do Ministro PORTARIA Nº 122, DE 25 DE JANEIRO DE 2011

IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE

PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 5/2014

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS PROJETO BRA/10/007

Regulação dos sistemas de saúde: segurança do paciente? Panorama mundial.

IV MOSTRA ACADÊMICA DE ENFERMAGEM DA UFC

PLANO OPERATIVO DA POLÍTICA

Auditoria Operacional. A experiência do TCE-BA

PORTARIA No , DE 7 DE NOVEMBRO DE 2013

(MAPAS VIVOS DA UFCG) PPA-UFCG RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO DA UFCG CICLO ANEXO (PARTE 2) DIAGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO


Roteiro SENAC. Análise de Riscos. Planejamento do Gerenciamento de Riscos. Planejamento do Gerenciamento de Riscos

REGULAMENTO INSTITUCIONAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO E NÃO OBRIGATÓRIO CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

DELIBERAÇÃO Nº 969/2012

O QUE É UMA POLÍTICA DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR (PSST)?

O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições,

REGULAMENTO OPERACIONAL DA CENTRAL DE REGULAÇÃO CENTRAL DE CONSULTAS E EXAMES ESPECIALIZADOS

REGULAMENTO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO

IMPLANTANDO O ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS NA REDE ESTADUAL DE ENSINO

Sumário 1 APRESENTAÇÃO LINHAS GERAIS Diretrizes Básicas Objetivos Público-Alvo... 4

PREFEITURA MUNICPAL DE VALENÇA Secretaria Municipal de Saúde PROGRAMAÇÃO ANUAL DE SAÚDE

COMO AVALIAR UM CURSO DE EAD EM SAÚDE? UMA EXPERIÊNCIA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ NA ÁREA DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

473 A gestão de custos no contexto da qualidade no serviço público: um estudo entre organizações brasileiras

Ações de Promoção da Saúde na Autogestão de Saúde Suplementar

DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS DE GESTÃO DA INICIATIVA

ORGANIZAÇÃO DOS MACROPROCESSOS BÁSICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

3 Gerenciamento de Projetos

EDITAL 002/2015 UNICAFES/SENAES-MTE

PLANO NACIONAL DE DANÇA

PORTARIA Nº 1.599, DE 30 DE SETEMBRO DE 2015

Mostra de Projetos Grupo Atitude Vila Macedo

Política de Gerenciamento de Risco Operacional

Curso Introdutório em Gerenciamento da Estratégia Saúde da Família

ID:1919 NOTIFICAÇÕES DE SÍFILIS NA ATENÇÃO BÁSICA: POR QUE É IMPORTANTE FALAR EM SÍFILIS

PORTARIA Nº 122, DE 25 DE JANEIRO DE 2011

TERMO DE REFERÊNCIA. Gestor de Projeto - Brasília PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE CONSULTORIA INDIVIDUAL EM GESTÃO DE

Relatório da Estrutura de Gerenciamento Centralizado de Riscos e de Capital do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) Ano 2013

Associação Brasileira de Educação Médica ABEM PROJETO DE AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DAS MUDANÇAS NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DE SAÚDE CAEM/ABEM

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

RESOLUÇÃO Nº 07, de 1º de setembro de 2010.

XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU Eixo Temático: Gestão de bibliotecas universitárias (GBU)

Fanor - Faculdade Nordeste

TERMO DE REFERÊNCIA Nº 2367 PARA CONTRATAÇÃO DE PESSOA FÍSICA PROCESSO DE SELEÇÃO - EDITAL Nº 143/2013 CONSULTOR POR PRODUTO

Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional - PROFBIO PROPOSTA

Síntese do Projeto Pedagógico do Curso de Sistemas de Informação PUC Minas/São Gabriel

3 Metodologia 3.1. Tipo de pesquisa

ADMINISTRAÇÃO I. Família Pai, mãe, filhos. Criar condições para a perpetuação da espécie

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL

Transcrição:

DOI: 10.5712/rbmfc7(22)298 COMUNICAÇÕES BREVES AMQ e POA: diferenças e semelhanças na avaliação da Estratégia de Saúde da Família AMQ and POA: differences and similarities in the Family Health Program evaluation AMQ y POA: diferencias y similitudes en la evaluación de la Estrategia de Salud Familiar Camila Ament Giuliani dos Santos Franco 1 *, Nilza Teresinha Faoro 2, Maria Terumi Maruyama Kami 3, Ademar Cezar Volpi 4 Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde Avaliação Saúde da Família Keywords: Primary Health Care Evaluation Family Health Resumo Introdução: Instituída pelo Ministério da Saúde (MS), a Avaliação para Melhoria da Qualidade (AMQ) é um instrumento de avaliação e aperfeiçoamento das equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF). A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba conta, desde 2002, com o Plano Operativo Anual (POA) que é uma estratégia de gestão voltada para resultados, aprimoramento, planejamento e avaliação. Este instrumento é composto por 81 indicadores. Assim, o município do estudo conta com duas formas de avaliação de qualidade em todas as suas Unidades de Saúde da Família. O objetivo deste trabalho foi analisar as concordâncias e discordâncias entre o POA e a AMQ nos programas da saúde da criança, adolescente, mulher, diabéticos, hipertensos e saúde mental. Metodologia: Participaram do estudo 12 equipes de Saúde da Família. Para realizar a comparação, foram levantados os indicadores que estavam presentes tanto na AMQ (instrumento 5) quanto no POA-2010. Depois das comparações, foram realizadas porcentagens simples e análise das discordâncias. Resultados: No total, 28 indicadores estavam presentes tanto na AMQ como no POA. No geral houve concordância de respostas em 53,6%. Na avaliação da AMQ, 82% das respostas foram consideradas totalmente adequadas para o item avaliado, enquanto na avaliação realizada pelo POA este índice caiu para 46,4%. Conclusão: Observou-se discordância entre os itens comparados da AMQ e do POA. Alguns fatores podem ser responsáveis pela discordância, entre eles: a utilização de dados recuperados automaticamente através das ações registradas pela equipe no prontuário eletrônico no POA e a obrigatoriedade da sua realização. Além disso, a realização facultativa da AMQ e a não parametrização das respostas (SIM NÃO) podem contribuir para a divergência das respostas. Abstract Introduction: Quality Enhancement Evaluation (QEE) is an instrument established by the Ministry of Health (MH) in order to assess and improve Family Health Program (FHP) teams. Since 2002, the Municipal Secretary of Health of Curitiba relies on the Yearly Operating Plan (YOP), a management strategy directed to results, enhancement, planning and assessment of public health. YOP is a tool comprising 81 indicators. Thus, the city counts on two different forms of quality evaluation at all its Family Health Program units. Objective: The purpose of this article was to analyze the agreements and disagreements between QEE and YOP on the following programs of the Municipal Secretary 1 Secretaria Municipal de Saúde, Curitiba, Brasil. cafranco@sms.curitiba.pr.gov.br 2 Secretaria Municipal de Saúde, Curitiba, Brasil. nifaoro@sms.curitiba.pr.gov.br 3 Secretaria Municipal de Saúde, Curitiba, Brasil. mkami@sms.curitiba.pr.gov.br 4 Secretaria Municipal de Saúde, Curitiba, Brasil. avolpi@sms.curitiba.pr.gov.br *Autor correspondente. Fonte de financiamento: nenhuma. Conflito de interesses: declaram não haver. Recebido em: 20/06/2011 Aprovado em: 23/01/2012 44

Franco CAGS et al. of Health: Children Health, Adolescent Health, Women Health, Diabetes, Hypertensive Condition and Mental Health. Methodology: The study included 12 FHP teams. In order to carry out a comparative study, AMQ (Instrument 5) and POA (2010) indicators were researched. Simple percentage and discordance analyses were calculated after comparison. Results: QEE and YOP totalized 28 indicators. There was an overall response concordance of 53.6%. Eighty-two percent of the QEE responses were considered totally adequate for the assessed item, while the POA index showed 46.4%. Conclusion: Discordance was observed between the compared items of QEE and YOP. Some of the following factors can be responsible for this discordance: the use of data automatically retrieved through the actions registered by the team on the electronic medical record at YOP and the obligation of its completion. In addition, the QEE non-mandatory data recording and the non-parameterization of the (YES/NO) answers may have contributed to the divergence of the responses. Palabras clave: Atención Primaria a la Salud Evaluación Salud de la Familia Resumen Introducción: Establecido por el Ministério de Salud (MS), la Evaluación para la Mejora de Calidad (Avaliação para Melhoria da Qualidade - AMQ) es un instrumento de evaluación y mejora de los equipos de la Estratégia Salud de la Familia (ESF). La Secretaria Municipal de Salud de Curitiba cuenta, desde 2002, con el Plan Operativo Anual (POA) que es una estrategia de gestión orientada para resultados, mejora, planicicación y evaluación. Este instrumento está compuesto por 81 indicadores. De esta forma, el municipio de este estudio cuenta con dos formas de evaluación de calidad en todas sus Unidades de Salud de la Familia. El objetivo de este trabajo fue analizar los acuerdos y desacuerdos entre POA y AMQ en los programas de salud del niño, adolescente, mujer, diabéticos, hipertensos y salud mental. Metodología: Participaron del estudio 12 equipos de Salud de la Familia. Para realizar la comparación fueron levantados indicadores que estaban presentes tanto en la AMQ (instrumento 5), cuanto en el POA-2010. Después de las comparaciones fueron realizados porcentajes simples y análisis de los desacuerdos. Resultados: En total, 28 indicadores estaban presentes tanto en la AMQ como en el POA. En general hubo acuerdo de respuestas en 53,6%. En la evaluación de la AMQ, 82% de las respuestas fueron consideradas totalmente adecuadas para el íten evaluado, mientras en la evaluación realizada por el POA este indice cayó para 46,4%. Conclusión: Se observó desacuerdo entre los ítens comparados de la AMQ y del POA. Algunos factores pueden ser responsables por el desacuerdo entre ellos: la utilización de datos recuperados automáticamente a través de las acciones registradas por el equipo en el registro médico electrónico en el POA y la obligatoriedad de su realización. Además, la realización facultativa de la AMQ y la no parametrización de las respuestas (SÍ NO) pueden contribuir para la divergencia de las respuestas. Introdução A Atenção Primária à Saúde (APS) pode ser definida como um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde 1. Dentro desta ótica de atenção, Starfield 2 coloca como aspectos especificamente pertinentes à prática da APS: o acesso, o tamanho do grupo acompanhado, a variedade de serviços fornecidos, a continuidade e os mecanismos para melhorar o reconhecimento das informações a respeito dos pacientes. Para garantir que estes aspectos essenciais da APS estejam presentes é necessário que ocorram avaliações destes serviços e estas devem envolver, segundo Campos 3, a estrutura, o processo e o nível de qualidade alcançado, incluindo os problemas, as falhas, e a busca de estratégias para a sua correção ou melhoria. A avaliação deve ter o objetivo de qualificar a APS, promovendo a construção de processos estruturados e sistemáticos, coerentes com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) 4. É preconizado pela Política Nacional da Atenção Básica 1 que as equipes devem, durante seu processo de trabalho, acompanhar e realizar avaliações sistemáticas das ações implementadas visando à readequação do seu processo. Desta forma, o Ministério da Saúde desenvolveu um conjunto de iniciativas para a avaliação e o monitoramento dos serviços de saúde 5. Dentro deste panorama a cidade de Curitiba, em 2002, discutiu e criou, por meio de oficinas gerenciais, os Contratos de Gestão que possuem dois instrumentos - Termos de Compromisso (TERCOM) e os Planos Operativos Anuais (POA). Os contratos de gestão são firmados anualmente entre as Equipes das Unidades de Saúde (US) representadas pela Autoridade Sanitária Local (ASL), Supervisor Distrital e Secretário Municipal de Saúde e representantes do Conselho Local de Saúde. O Ministério da Saúde implantou, em 2005, a Avaliação para Melhoria da Qualidade (AMQ) da Estratégia Saúde da Família (ESF) com o objetivo de oferecer aos gestores municipais ferramentas de avaliação e de gestão da qualidade da ESF 7. Este manual foi baseado no modelo proposto por Donabedian (1980 apud Brasil, 2005) 8, que [...] considera os elementos de estrutura, de processo e de resultado, tendo como foco de análise os serviços de saúde e as práticas assistenciais. 8. Assim sendo, mostra um [...] panorama da organização e do funcionamento do serviço de saúde, possibilitando a identificação dos estágios de desenvolvimento e de seus aspectos críticos, assim como das potencialidades e dos pontos 45

AMQ e POA na avaliação da ESF já consolidados. 7, permitindo a construção de um plano de intervenções sistematizado dos problemas encontrados na avaliação. O município de Curitiba aderiu à AMQ em seu primeiro ano de implantação, 2005, tendo, portanto, as duas formas de avaliação estabelecidas e praticadas pelos serviços da ESF. Neste panorama, este trabalho tem por objetivo realizar a análise das concordâncias e discordâncias entre o POA e a AMQ nos programas da saúde da criança, adolescente, mulher, diabéticos, hipertensos e saúde mental em Unidades de Saúde do município de Curitiba-PR. Metodologia Atualmente, a rede municipal de atenção primária à saúde conta com 109 Unidades Básicas correspondendo a 100% da rede básica, sendo 55 Unidades com ESF totalizando 170 equipes. A cidade está dividida em nove distritos sanitários. Para a realização deste trabalho, foram selecionadas todas as US da ESF de um distrito sanitário, contando com 12 equipes da ESF. Para realizar a comparação, foram levantados os indicadores que estavam presentes tanto na AMQ (instrumento 5) 8 quanto no POA-2010. O POA é uma planilha anexa ao TERCOM que relaciona os indicadores de saúde priorizados para o monitoramento durante o ano 6. Tem monitoramento trimestral, proporcionando às equipes o conhecimento permanente dos resultados e favorecendo a criação de estratégias de enfretamento para melhoria dos indicadores pactuados. Possui 81 indicadores de saúde priorizados para o monitoramento no ano de 2010. A AMQ é composta por cadernos dirigidos a atores específicos: gestores, coordenadores, unidades de saúde e equipes. Através da [...] autogestão permite que os próprios atores envolvidos com a estratégia possam avaliá-la de maneira sistêmica e integrada, com vistas ao aprimoramento contínuo do serviço de saúde. 5. Os eixos norteadores do instrumento baseiam-se no ciclo vital (Saúde da Criança, Saúde do Adolescente, Saúde do Adulto e do Idoso) dividindo em cinco padrões de qualidade, que são: elementar, em desenvolvimento, consolidada, boa e avançada 8. O instrumento 5 da AMQ é dirigido às equipes Saúde da Família, especificamente aos profissionais de nível superior, devendo ser respondido pelo médico, cirurgião dentista e enfermeiro, e conta com 90 questões. Dentro do ciclo vital, optou-se por dividir em saúde da criança, saúde da mulher, saúde mental, saúde do adolescente, hipertensão e diabetes, permitindo, desta forma, analisar os itens que são avaliados igualmente na AMQ e no POA. Como instrumentos de comparação, foram selecionadas as fichas de resposta do instrumento 5 e encaminhadas para a Secretaria da Saúde de Curitiba pelas equipes da ESF e as planilhas do POA, que contam com todas as avaliações dos 81 itens no ano de 2010. Foram analisados todos os itens que realizavam a mesma avaliação tanto na AMQ como no POA, realizando leitura comparativa para cada item. O POA contém as respostas em porcentagem da cobertura que foi atingida. Foram atribuídos os mesmos valores para cada unidade de saúde, somando a porcentagem e dividindo pelo número de Unidades, resultando uma média geral. As avaliações da AMQ foram somadas da seguinte forma: SIM representa 100% e NÃO representa 0%. Somaram-se as respostas das 12 equipes e foram realizadas as médias simples. Consideraram-se itens concordantes aqueles que foram avaliados como 100% no POA e a resposta como SIM na AMQ ou diferente de 100% no POA e NÃO na AMQ; e considerados como discordantes quando apresentavam SIM na AMQ e menor do que 100% no POA ou então NÃO na AMQ e 100% no POA. Depois das comparações, foram realizadas porcentagens simples e análise das discordâncias. Resultados No total, 28 indicadores estavam presentes tanto na AMQ como no POA. Foram divididos da seguinte forma: saúde da criança com seis itens; saúde do adolescente e saúde mental com duas questões; saúde da mulher com oito incisos; hipertensão e diabete melito com cinco elementos. No geral, houve concordância de respostas em 53,6%, apresentando a mesma resposta em 15 dos 28 itens avaliados. Dentre os itens avaliados como concordantes, pode-se citar o item 5.6 do instrumento 5 da AMQ, que obteve resposta SIM em todas as avaliações realizadas por todas as equipes, e o item 4.5 do POA que atingiu esta meta em 100% das equipes avaliadas. O item 5.6 do POA propõe que 90% ou mais das crianças da área com até 1 ano de vida estejam com esquema de vacinação em dia, e o item 4.5 do POA indica que cada equipe tenha no máximo 5% das crianças menores de 1 ano acompanhadas com esquema vacinal não adequado. Entre os itens avaliados como discordantes, podemos citar o item 5.61 da AMQ, que foi avaliado como SIM por todas as equipes, e o item 10.3 do POA que evidenciou cobertura de 63% no item avaliado. O item 5.61 do AMQ sugere 46

Franco CAGS et al. que a ESF deve manter acompanhamento do tratamento pela referência dos usuários de álcool e outras drogas, e o item 10.3 do POA propõe cobertura de acompanhamento de todos os usuários inscritos no Programa de Saúde Mental- Dependência Química. O Figura 1 representa as concordâncias entre as respostas encontradas na AMQ e no POA. Na avaliação da AMQ, 82% das respostas foram consideradas totalmente adequadas para o item avaliado (resposta SIM), enquanto na avaliação realizada pelo POA, este índice caiu para 46,4%. O Figura 2 apresenta as correlações entre a adequação da resposta na AMQ e o cumprimento das metas do POA. Dentre os itens avaliados, a AMQ foi considerada como realizando as ações avaliadas plenamente em 5 das 6 grandes áreas avaliadas, em contrapartida o POA não apresentou avaliação de 100% em nenhuma grande área avaliada, conseguindo atingir o item estabelecido em 81% das ações propostas em âmbito geral. Discussão A avaliação em saúde e, em especial, na atenção primária é fonte de discussão em muitos países do mundo. O modelo desenvolvido no Brasil pelo Ministério da Saúde tem Figura 1. Comparações entre as respostas por item avaliado. representação muito semelhante às avaliações realizadas pelo governo português, tendo o mesmo objetivo no resultado das avaliações: Este momento de reflexão crítica vale, acima de tudo, pelo fato de ser plural, isto é, mobiliza e convoca a diversidade de olhares e experiências de todos os membros da equipe, sem exceção, a participarem neste processo de questionamento e de sinalização de evidências demonstradoras das práticas da equipe. 9. Ao comparar os resultados apresentados no POA e na AMQ, observou-se como uma importante dificuldade a forma de avaliação realizada pela AMQ, na qual os atores podem responder somente SIM ou NÃO, gerando impasses para a resposta da equipe de saúde, mesmo considerando que o instrumento apresenta índice explicativo para cada pergunta. Ao realizar comparações com outros índices avaliativos como o MoniQuor 9, observa-se que a resposta de forma escalonada, como no caso de 0-1, facilita a resposta e fornece resultados mais próximos da realidade local das US. Os resultados apresentados mostram uma grande porcentagem de respostas SIM que podem não refletir a real situação da equipe da ESF e sim uma não adequação à resposta NÃO, representando desta forma a melhor opção, porém não a totalmente correta. Ao analisar itens não parametrizados, comparando escalas com respostas SIM ou NÃO, pode-se incorrer no erro da análise estatística, porém apresenta e reforça a necessidade de haver respostas intermediárias para um instrumento de avaliação em saúde. Em contrapartida, o POA nos dá dados fidedignos extraídos do prontuário eletrônico utilizado pelo município, mas não contempla uma avaliação sistemática com planos de intervenção como na AMQ, não tendo seus dados analisados por todos os membros da equipe necessariamente. Em geral, as avaliações realizadas utilizando a AMQ mostraram resultados mais positivos do que os do POA, podendo refletir questões como: a pouca disponibilidade da equipe em priorizar a autoavaliação e planejamento, já que esta não gera cobrança, centrando-se no cumprimento de metas e tarefas determinadas no nível central 10 ; a visão otimista da equipe ou a dificuldade em realizar autoavaliações, lembrando que os profissionais das equipes são formados em um modelo biológico cartesiano em que não são aceitas falhas. Conclusão Figura 2. Resultado referente à avaliação (em %) de cada grupo avaliado entre AMQ e POA. Conclui-se que a utilização das duas formas de avaliação (AMQ e POA) são complementares, devendo ser trabalhadas em todos os âmbitos de gestão para que seus objetivos sejam contemplados e a melhoria da qualidade de serviço seja atingida. 47

AMQ e POA na avaliação da ESF Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política nacional de atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2011. 2. Starfield B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde; 2002. 3. Campos CEA. Estratégias de avaliação e melhoria contínua da qualidade no contexto da Atenção Primária à Saúde. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2005; 5(suppl.1): [online] [acesso em 2011 Abr. 20]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=s1519-38292005000500007&lng=en&nrm=iso. http:// dx.doi.org/10.1590/s1519-38292005000500007 4. Felisberto E. Monitoramento e avaliação na atenção básica: novos horizontes. Rev Bras Saude Mater Infant. 2004; 4(3):[online] [acesso em 2011 Abr. 20]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=s1519-38292004000300012&lng=en &nrm=iso. http://dx.doi.org/10.1590/s1519-38292004000300012 5. Silva JM, Caldeira AP. Avaliação para melhoria da qualidade da estratégia saúde da família e a qualificação profissional.trabeduc Saúde. 2011; 9(1):[online] [acessoem 2011 Jun. 15]. Disponívelem: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1981-77462011000100007&lng=en&nrm=iso. http://dx.doi.org/10.1590/ S1981-77462011000100007 6. Ducci, L. Curitiba firma contrato de gestão com metas para a saúde. Rev Bras Saúde Fam. 2007; 14: 48-57. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Avaliação para melhoria da qualidade da Estratégia Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. 8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Avaliação para melhoria da qualidade da estratégia saúde da família. Brasilia: Ministério da Saúde; 2005. 6 v. (Série B. Textos Básicos de Saúde). 9. Portugal. Ministério da Saúde. Cuidados de Saúde Primário. O processo de auto diagnóstico: metodologia e critérios do autodiagnóstico quantitativo MoniQuor adaptado às USF e qualitativo fichas reservas do MoniQuor USF na avaliação das pré-candidaturaa a modelo B [online]. Lisboa; 2007. Disponívelem:http//www.mcsp. min-saude.pt/engine.php?cat=46 10. Trad LAB, Rocha AARM. Condições e processo de trabalho no cotidiano do Programa Saúde da Família: coerência com princípios da humanização em saúde. Ciênc Saúde Coletiva. 2011; 16(3): [online] [acesso em 2011 Jun 16]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=s1413-81232011000300031&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/s1413-81232011000300031 48