IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE: A NECESSIDADE DE TRANSFORMAR PERSPECTIVAS PESSIMISTAS EM POTENCIALIDADES DIDÁTICAS Letícia Mendonça Lopes Ribeiro UFAC/NIEAD Patrícia Carvalho Redigulo FAMETA RESUMO A educação a distância se firmou como processo educacional onde os atores escolares estão separados espacial e/ou temporalmente, mas podem estar interligados por tecnologias. Objetivou-se destacar as percepções pessimistas dos discentes, da licenciatura em educação física e bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, frente aos recursos que a modalidade a distância pode ofertar no desenvolvimento das atividades do referido programa na Universidade Federal do Acre. Os 16 participantes do estudo responderam um questionário no qual muitos deles apontaram benefícios da educação a distância já reconhecidamente destacados pela literatura, como a melhoria na comunicação entre docentes e discentes, a flexibilidade de horários e outras indicações positivas. Porém, alguns acadêmicos não assinalaram quaisquer possibilidades de benefício no uso de ferramentas a distância nas atividades do PIBID e reforçaram a ideia de que o ensino presencial é mais eficaz que o ensino a distância, o que demonstra a clara resistência na escolha desta modalidade como meio de formação para graduandos. A partir destas indicações, percebeu-se a necessidade em investigar e propor ações que persuadam os discentes e motive-os a reconhecer as potencialidades didáticas desta modalidade nas mais diversas oportunidades de formação complementar durante o curso superior e nas propostas de formação continuada durante o exercício do magistério. Na Universidade Federal do Acre, o Núcleo de Interiorização e Educação a Distância é um dos órgãos fundamentais no desenvolvimento e estudos de alternativas mais concisas para, por meio da educação a distância, assegurar a qualidade na formação didática de educadores. Palavras chave: Educação a Distância. Percepções. Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à Docência INTRODUÇÃO Desde a publicação da Lei 9.394 de 1996 até os dias atuais, a Educação a Distância (EAD) conquista cada vez mais espaço no cenário educativo brasileiro e se firma como processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde os atores escolares estão separados espacial e/ou temporalmente, mas podem estar interligados, principalmente por meio da Internet (MORAN, 2002). Dessa forma, é preciso perceber a EAD não como uma modalidade isolada da educação em geral, mas como um espaço privilegiado por democratizar e facilitar o acesso à escolarização sem, contudo, se caracterizar como implantação de sistemas provisórios (ALONSO, 2005). 02599
2 Entretanto, ainda há uma visão essencialmente preconceituosa quanto à escolha desta modalidade como forma principal de escolarização, a qual precisa ser desconstruída pelas grandes IES que ingressam neste desafio tal como a Universidade Federal do Acre (UFAC) agora se aventura. A UFAC passou, em abril de 2014, em processo de credenciamento junto ao Ministério da Educação (MEC), o que a habilitou para a oferta cursos na modalidade a distância, a serem oferecidos especialmente com o suporte do Núcleo de Interiorização e Educação a Distância (NIEAD). Destaca-se que o NIEAD reafirma a coerência da UFAC em promover a expansão da educação superior pública no Estado, o que favorecerá o acesso a novas modalidades de ensino e romperá as barreiras de espaço e tempo, possibilitando o desenvolvimento de novas competências acadêmicas e profissionais (UFAC, 2014). OS GRADUANDOS DA LICENCIATURA NO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA A tônica das propostas, no âmbito da qualificação dos profissionais da educação, abarca as duas dimensões que são consensuais em se tratando da formação do professor: a inicial e a continuada (ALONSO, 2010). Quanto à formação inicial de docentes, destaca-se o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), executado no âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tem por finalidade fomentar a iniciação à docência e contribuir para o aperfeiçoamento da formação de docentes em nível superior, bem como para o acréscimo na qualidade da educação básica pública brasileira (BRASIL, 2010). Uma das ações mais relevantes do PIBID é a inserção do acadêmico, cursista de alguma licenciatura, em escolas da rede pública de ensino. Este acadêmico desenvolverá atividades que beneficiem a aprendizagem dos alunos da educação básica, especificamente na disciplina de sua área de formação, tendo o apoio dos outros estudantes vinculados ao programa e do auxílio didático e pedagógico de seu orientador (SILVA, 2014). Assim, foi proposto um projeto de pesquisa que objetivará conhecer as percepções dos discentes e docentes, vinculados à proposta de fortalecimento de formação inicial de professores indicada pelo PIBID, quanto às potencialidades e às perspectivas da implantação da EAD na UFAC. Ressalta-se que, pelo fato do presente trabalho ser um recorte da proposta de pesquisa referenciada, este objetivou somente 02600
3 indicar estudos e prováveis estratégias que transformem, em boas perspectivas, as percepções pessimistas dos discentes, da licenciatura em educação física e bolsistas do PIBID, quanto ao apoio pedagógico que as ferramentas utilizadas na EAD podem oferecer no desenvolvimento das atividades do referido programa UFAC. A CONSTRUÇÃO METODOLÓGICA Participaram deste estudo, qualitativo e descritivo, 16 estudantes da licenciatura em educação física, todos bolsistas do PIBID e orientados por uma mesma professora, docente vinculada ao NIEAD e participante das propostas de estudo para a efetivação da EAD na UFAC. Os participantes responderam um questionário composto por três questões, sendo a última delas a que foi analisada neste trabalho. Os participantes tiveram o anonimato garantido no apontamento de suas ideias e, por isso, são indicados imparcialmente na ordem em que os questionários foram entregues após a conclusão das questões. Dessa forma, o primeiro participante a entregar o questionário respondido é apontado como Estudante A; o segundo, Estudante B e assim por diante. A análise das ideias expressas pelos participantes foi feita pela técnica de análise do conteúdo, por esta pressupor um adequado tratamento dos resultados obtidos e interpretação de maneira a se tornarem significativos e válidos (BARDIN, 2008). PERCEPÇÕES DOS BOLSISTAS DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA QUANTO AO AUXÍLIO QUE A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PODE OFERECER ÀS SUAS ATIVIDADES A questão aqui analisada interrogou como a EAD poderia te auxiliar na realização das suas atividades enquanto bolsista do PIBID?. A análise das respostas desta questão procurou interpretar as ideias explicitadas pelos participantes. Nesta análise, percebeu-se que muitos participantes apontaram benefícios do uso da EAD nas atividades acadêmicas propostas pelo PIBID, tais como: o uso das ferramentas disponibilizadas pela EAD como facilitadoras em uma boa comunicação entre os bolsistas do PIBID e os docentes orientadores; a flexibilidade de horários, alternativa aos encontros presenciais; a utilização das ferramentas EAD no compartilhamento de materiais e outras indicações positivas. 02601
4 Entretanto, merecem destaque algumas indicações feitas por estudantes que expressaram desconhecer benefícios advindos pela EAD no apoio às atividades didáticas do PIBID. Como exemplo, aponta-se o relato feito pelo Estudante N, que indica: sinceramente não sei, uma vez que prefiro o ensino presencial, com o professor em sala. Supõe-se que esta indicação está essencialmente atrelada às dificuldades em conduzir os cursos presenciais, em qualquer nível de escolarização. Na atualidade são necessários mais momentos de estudo, mais formas de barra a indisciplina, mais estratégias no gerenciamento do tempo e, especialmente, há uma necessidade cada vez maior de interação entre professores e alunos nas aulas, estabelecendo uma relação didática mais próxima. Se estes aspectos caracterizam alguns dos obstáculos da modalidade presencial, é provável que, consequentemente, influenciem na maior resistência do estudante à EAD (ALBERTIN e BRAUER, 2012), uma vez que esta modalidade faz tais exigências com ainda mais rigor. CONSIDERAÇÕES E PROPOSTAS FUTURAS Aliada à ideia de democratização, a EAD possibilita também o aprendizado sem fronteiras, nos diversos níveis educacionais, independente do espaço e tempo, o que oferece novas formas de interação didática e de aprendizagem aos novos educandos (GONTIJO, 2008). Porém, mesmo com essa característica de democratização do saber, há críticos à modalidade militando contra seu uso (LITTO, 2014). Apesar disso, é preciso se ter em mente que a boa prática da EAD, bem como a pesquisa e a teoria, dependerão de mais treinamento dos educadores e de outras pessoas desta área (MOORE e KEARSLEY, 2007). É possível que a resistência que os estudantes (e também educadores) tenham diante da EAD esteja essencialmente vinculada ao cenário apresentado pela modalidade presencial, já que esta é a forma de ensino com a qual convivem, sem imaginar as amplas possibilidades educacionais que a EAD oferece caso os atores escolares estejam, de fato, dispostos também a mudarem suas posturas diante das exigências que esta nova modalidade educacional demanda. É bem verdade que a partir das indicações pessimistas apresentadas pelos bolsistas do PIBID no uso de ferramentas ofertadas pela EAD, percebeu-se a necessidade em investigar ações que persuadam os discentes e motive-os a reconhecer as potencialidades didáticas desta modalidade nas mais diversas oportunidades de formação complementar durante o curso superior e nas propostas de formação 02602
5 continuada durante o exercício do magistério. Na UFAC, o NIEAD é um dos órgãos fundamentais no desenvolvimento e estudos de alternativas mais concisas para, por meio da EAD, assegurar a qualidade na formação didática de educadores no cenário acriano e nacional. Dessa forma, assume-se o compromisso de, a partir dos dados aqui apresentados, pesquisar estratégias de sensibilização nesta área e caminhar rumo a ações sólidas para a melhoria profissional de futuros educadores pela EAD. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTIN, A.L.; BRAUER, M. Resistência à educação a distância na educação corporativa. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 46, n. 5, Out. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 25 abr. 2014. ALONSO, K. M. Formação de professores em exercício, educação a distância e a consolidação de um projeto de formação: o caso da UFMT. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.. A expansão do ensino superior no Brasil e a EAD: dinâmicas e lugares. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, Dec. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 20 abr. 2014. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2008. BRASIL. Lei nº. 9394, de 7 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2014.. Portaria nº 260, de 30 de dezembro de 2010. Dispõe sobre as Normas Gerais do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência PIBID. Brasília, 2010. Disponível em: <www.capes.gov.br>. Acesso em: 6 abr. 2014. LITTO, F. M. As Interfaces da EAD na Educação Brasileira. Revista USP, São Paulo, n. 100, p. 57-66, Fev. 2014. Disponível em: <http://www.abed.org.br>. Acesso: em 30 abr. 2014 MORAN, J. M. O que é educação à distância. 2002. Disponível em: <www.eca.usp.br/prof/moran/dist.htm>. Acesso em: 6 abr. 2014. SILVA, G.B. A contribuição do PIBID biênio (2012/2013) para a formação dos bolsistas do curso de licenciatura em Educação Física da UFAC. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação Física) Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2014. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE. Plano de Desenvolvimento Institucional PDI 2011-2014: A UFAC construindo o futuro no cenário da Amazônia Ocidental. Rio Branco: EDUFAC, 2011. 109f. 02603