Revista ISSN 2179-5037

Documentos relacionados
O que é câncer? Grupo de doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo.

A situação do câncer no Brasil 1

Área temática: Enfermagem CÂNCER NA ADOLESCÊNCIA: SENTIMENTOS DOS PORTADORES E PAPEIS DE FAMILIARES E ENFERMEIROS

O CUIDADO DA CRIANÇA COM CANCER FORA DE POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS: UM DESAFIO À ENFERMAGEM1

TECNOLOGIA ASSISTIVA DE BAIXO CUSTO: ADAPTAÇÃO DE UM TRICICLO E SUA POSSIBILIDADE TERAPÊUTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

OS EFEITOS DA FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA EM PACIENTES PÓS- CIRURGIA CARDÍACA

DIA MUNDIAL DO CÂNCER 08 DE ABRIL

A importância do palhaço cuidador na assistência à criança em. hospitalização: Relato de Experiência do Projeto PalhaSUS

EMENTAS DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM TERAPIA OCUPACIONAL 1 º PERÍODO

Gráfico 1 Jovens matriculados no ProJovem Urbano - Edição Fatia 3;

Bioética e Cuidados e Paliativos em Oncologia Pediátrica Débora de Wylson F. G. Mattos

A Organização da Atenção Nutricional: enfrentando a obesidade

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO UTILIZANDO A GINÁSTICA LABORAL

INTERVENÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NO SERVIÇO DE CONTROLE DA DOR OROFACIAL E DEFORMIDADES DENTOFACIAIS DO HULW/UFPB

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO MEDICINA SOCIAL ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

INTERNAÇÕES POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS A ATENÇÃO PRIMÁRIA EM DOIS SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA DE MARINGÁ-PR

Jéssica Victória Viana Alves, Rospyerre Ailton Lima Oliveira, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Maria de Fatima de Matos Maia

AS INTERFACES ENTRE A PSICOLOGIA E A DIVERSIDADE SEXUAL: UM DESAFIO ATUAL 1

Doutorado em Ciências da saúde, ciências biológicas ou áreas afins e portadores do título de graduação em curso da área da saúde ou biológicas.

PROVA OBJETIVA. 17 O psicólogo que atua em uma instituição pode fazer. 18 O autocontrole e a disciplina são os elementos que determinam

AFETA A SAÚDE DAS PESSOAS

O IMPACTO DA DOR CRÔNICA NA VIDA DAS PESSOAS QUE ENVELHECEM

1 TÍTULO DO PROJETO. Ame a Vida. Previna-se. 2 QUEM PODE PARTICIPAR?

DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO EM PROFISSIONAIS DA LIMPEZA

Gestão de impactos sociais nos empreendimentos Riscos e oportunidades. Por Sérgio Avelar, Fábio Risério, Viviane Freitas e Cristiano Machado

A ENERGIA DO BRINCAR: UMA ABORDAGEM BIOENERGÉTICA

FADIGA EM PACIENTES COM CÂNCER DE MAMA EM RADIOTERAPIA CONVENCIONAL.

IMPLANTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL: UM ESTUDO PILOTO REALIZADO JUNTO A COLABORADORES DE UM HOSPITAL PRIVADO

IV MOSTRA ACADÊMICA DE ENFERMAGEM DA UFC

Aula 1 Uma visão geral das comorbidades e a necessidade da equipe multidisciplinar

HEMORIO INSTITUTO ESTADUAL DE HEMATOLOGIA ARTHUR DE SIQUEIRA CAVALCANTI

BAILANDO NA TERCEIRA IDADE: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A DANÇA EM UMA ASSOCIAÇÃO DE IDOSOS DE GOIÂNIA/GO

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

Lidando com o paciente oncológico C A M I L A M A N O S S O F U N E S J É S S I C A D E O L I V E I R A S T O R R E R

PARECER Nº, DE RELATORA: Senadora LÚCIA VÂNIA I RELATÓRIO

Gerenciamento de Projetos Modulo VIII Riscos

Programa Sol Amigo. Diretrizes. Ilustração: Programa Sunwise Environmental Protection Agency - EPA

LESÕES DOS ISQUIOTIBIAIS

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Vice-Reitoria Curso de Abordagem da Violência na Atenção Domiciliar Unidade 1 Introdução

4 - SESSÃO RESENHA DE LIVRO. Alessandra Balbi Rita Puga. Livro: Terceira Idade & Atividade Física

Tema: NIVOLUMABE EM ADENOCARCINOMA MUCINOSO DE PULMÃO ESTADIO IV

Hipotireoidismo. O que é Tireóide?

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva. Ações Inclusivas de Sucesso

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE EXERCÍCIO DE IDOSOS COM LOMBALGIA E SUA INTERFERÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA

Tratamento da dependência do uso de drogas

IDENTIFICANDO AS DISCIPLINAS DE BAIXO RENDIMENTO NOS CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS AO ENSINO MÉDIO DO IF GOIANO - CÂMPUS URUTAÍ

ANÁLISE DO CARÁTER E CÂNCER: UMA LEITURA DO HOMEM CONTEMPORÂNEO

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

Monitoria como instrumento para a melhoria da qualidade do ensino em Farmacotécnica

ANSIEDADE E ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Introdução: A ansiedade configura um sentimento que participa da vivência do ser

4. COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO MIELOIDE CRÔNICA (LMC)? E MONITORAMENTO DE LMC? É uma doença relativamente rara, que ocorre

Situação do papel do fisioterapeuta nas unidades públicas de saúde enquanto integrante da equipe multiprofissional no município de Jataí-GO.

ATENÇÃO PRIMÁRIA (SAÚDE COLETIVA, PROMOÇÃO DA SAÚDE E SEMELHANTES)

ATENDIMENTO DOMICILIAR FISIOTERAPEUTICO PARA PORTADOR DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL NO ESTÁGIO AGUDO

CAPÍTULO 12 BIOLOGIA SOCIAL DA DOENÇA FALCIFORME

Enfermagem em Oncologia e Cuidados Paliativos

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PRÁTICAS DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NO LAGO JABOTI

INDICADORES SOCIAIS E CLÍNICOS DE IDOSOS EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO

RISCOS E VULNERABILIDADES NA ADOLESCÊNCIA PARA O USO DE DROGAS. PAPEL DO ENFERMEIRO NA PREVENÇÃO

PERFIL EMPREENDEDOR DOS APICULTORES DO MUNICIPIO DE PRUDENTÓPOLIS

ATENDIMENTO A MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Especial Online RESUMO DOS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO. Fisioterapia ISSN

Atividade física: pratique essa ideia.

CURSO DE PSICOLOGIA. Trabalho de Conclusão de Curso Resumos

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

O RESULTADO GENÉTICO INCONCLUSIVO PODE DIFICULTAR O DIAGNÓSTICO E A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES

1 Introdução maligno metástase

VIII Jornada de Estágio de Serviço Social. Prática profissional de Serviço Social na APROAUT - Associação de Proteção aos Autistas

Aulas de Inglês implementando técnicas de Yoga na Educação (T.Y.E.)

FISIOTERAPIA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES POR MEIO DE ATIVIDADES DE PROMOÇÃO, PREVENÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

ÁREA TEMÁTICA - SAÚDE DA MULHER

PERFIL DOS PRINCIPAIS CÂNCERES EM IDOSOS NO BRASIL

ENFERMAGEM EM ONCOLOGIA. Renata Loretti Ribeiro Enfermeira COREn/SP

MEDICINA PREVENTIVA SAÚDE DO HOMEM

ANÁLISE DO EMPREGO E DESEMPREGO A PARTIR DO CADASTRO DA CAT Andréia Arpon* Adriana Fontes *

LUTAS E BRIGAS: QUESTIONAMENTOS COM ALUNOS DA 6ª ANO DE UMA ESCOLA PELO PROJETO PIBID/UNIFEB DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Novas curvas de avaliação de crescimento infantil adotadas pelo MS

PERFIL DO CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA SOBRE A FIBROMIALGIA

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

Mudanças demográficas e saúde no Brasil Dados disponíveis em 2008

ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA 3º E.M.

CUIDADOS PALIATIVOS DIRECIONADOS A PACIENTES ONCOLÓGICOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

OFICINAS PEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO UM COMPORTAMENTO SAUDÁVEL E ÉTICO EM CRIANÇAS COM CÂNCER

DESENVOLVIMENTO INTEGRAL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

FIBROSE PULMONAR. O que é a fibrose pulmonar?

Guia para usar o Toolkit

A PERCEPÇÃO DE JOVENS E IDOSOS ACERCA DO CÂNCER

Considerada como elemento essencial para a funcionalidade

PACIENTES COM RISCO DE SUICÍDIO: A COMUNICAÇÃO ENTRE EQUIPE, PACIENTES E FAMILIARES NA UNIDADE DE EMERGÊNCIA

SAÚDE DO HOMEM. Alex Veloso Mendes Enfermeiro Mestrado em Saúde Coletiva Gerente de Unidade Básica da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

ERGONOMIA, QUALIDADE e Segurança do Trabalho: Estratégia Competitiva para Produtividade da Empresa.

O OLHAR DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E DA TEORIA DE BASE PSICANALÍTICA SOBRE PACIENTES HIPERTENSOS NO CONTEXTO HOSPITALAR

Este manual tem como objetivo fornecer informações aos pacientes e seus familiares a respeito da Anemia Hemolítica Auto-Imune.

DIRETRIZES E PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS DE CURSOS NOVOS DE MESTRADO PROFISSIONAL

Revista Perspectiva. 2 Como o artigo que aqui se apresente é decorrente de uma pesquisa em andamento, foi possível trazer os

ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO/LINHAS DE PESQUISA

Transcrição:

182 A CONTRIBUIÇÃO DA FISIOTERAPIA NOS CUIDADOS PALIATIVOS EM CRIANÇAS COM LEUCEMIA Gabrielle Silva de Souza Freitas¹ Cíntia Gonçalves de² Maria Izabel Dias Miorin de Morais³ RESUMO: Este artigo teve como objetivo apontar as principais ações do fisioterapeuta nos cuidados paliativos para o restabelecimento da qualidade de vida da criança com leucemia. Este estudo apresenta caráter teórico, exploratório com abordagem qualitativa. Através dos resultados obtidos a fisioterapia pode ser benéfica nos cuidados paliativos de crianças com leucemia, pois conta com um arsenal extenso de técnicas como a cinesioterapia, eletroterapia e hidroterapia, que possibilitam ao paciente passar menos tempo hospitalizado e mais tempo com a família e amigos. Palavras-chaves: câncer; leucemia infantil; fisioterapia. ABSTRACT: This article aims to point out the main actions of the physiotherapist in palliative care for the restoration quality of life in children with leukemia. This study presents theoretical, exploratory qualitative approach. The results obtained physical therapy can be beneficial in palliative care for children with leukemia, because it has an extensive arsenal of techniques such as therapeutic exercise, electrotherapy and hydrotherapy that allow patients to spend less time in hospital and more time with the family and friends. Keywords: cancer; childhood leukemia; physiotherapy. 1 INTRODUÇÃO O câncer está sendo visto como a doença do século e poderá tornar-se a causa de maior mortalidade no mundo (VARELLA et al., 2014). Estimativas demonstram que o número de novos casos vem aumentando, em 2014 foram 11.370, sendo 5.050 em homens e 4.320 em mulheres (INCA, 2014). O câncer pediátrico representa de 0,5% a 3% de todos os tumores diagnosticados mundialmente (REIS, 2007), sendo os tumores do Sistema Nervoso Central (SNC), sarcomas, linfomas e a leucemia os tipos de câncer com maior incidência em crianças (SIEGEL et al., 2015, pp. 5-29). A leucemia é uma doença maligna originada na medula óssea, local de produção das células sanguíneas, que formam o tecido hematopoiético do organismo. As células acometidas são os leucócitos (glóbulos brancos). Ocorre a proliferação desordenada de leucócitos imaturos, ocasionando competição subsequente por elementos metabólicos. Isto prejudica a produção de células sanguíneas normais. Desta forma, as células jovens anormais passam a substituir os glóbulos brancos

183 maduros, as hemácias e plaquetas gerando infecções frequentes, anemias e tendência hemorrágica, principais sintomas da doença (VARELLA et al., 2014) (CIPOLAT et al., 2011, pp. 229-236). A etiologia desta patologia ainda é desconhecida, porém, existem fatores que influenciam no seu desenvolvimento (PAIÃO, 2015, pp. 153-169), esses fatores podem ser tanto ambientais como genético (LINS, 2005). Este câncer destaca-se como o mais comum em crianças, representando cerca de 94% dos tumores localizados no sistema hematopoiético e reticuloendotelial (INCA, 2011). A maior incidência ocorre em crianças com faixa etária entre 1 a 4 anos, tendo um declínio na faixa etária entre 5 a 9 anos em ambos os sexos, porém, possui maior frequência de acometimento no sexo masculino (REIS et al., 2007, pp. 5-15). O grau de morbidade e taxa de mortalidade vão depender do tipo e do desenvolvimento da doença, da idade da criança e da resposta inicial ao tratamento. Um diagnóstico precoce influencia no prognóstico do paciente, e na leucemia infantil ocorre uma grande dificuldade para realizar esse diagnóstico em uma fase inicial, pois os primeiros sintomas são os mesmos que acompanham grande parte das doenças infantis, tais como fadiga, palidez, anemia, febre e infecções (GOMES et al., 2014, pp. 1-10). O tratamento da leucemia infantil pode ser realizado através da quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e transplante de medula óssea (TMO), sendo este a melhor alternativa clínica para o tratamento das leucemias de alto risco. Porém, quando a doença é descoberta em uma fase mais avançada, a resposta ao tratamento torna-se mais difícil e a ocorrência de óbitos é inevitável (GOMES et al., 2014, pp. 1-10). Com isso, surge a necessidade de inserir os cuidados paliativos para dar assistência aos pacientes em fase terminal (NASCIMENTO et al., 2013, pp. 2721-2728). Entretanto, esses cuidados não se destinam somente a pacientes na finitude. Crianças em condições crônicas ameaçadoras podem beneficiar-se deste tratamento em toda trajetória da doença (SILVA et al., 2015, pp. 56-62), pois o cuidado paliativo é utilizado para a prevenção e o alívio do sofrimento físico, psicossocial e espiritual, buscando proporcionar conforto e melhorar, o quanto possível, a vida do paciente (VARELLA et al., 2014).

184 O envolvimento da equipe multidisciplinar no tratamento oncológico é de extrema importância, pois cada profissional contribui com técnicas específicas nos cuidados necessários para promover uma assistência completa (SILVA et al., 2008, pp. 504-8). O fisioterapeuta atua nos cuidados paliativos principalmente de maneira preventiva, a fim de evitar maiores complicações a partir de uma grande variedade de técnicas, além de contribuir com o aspecto psicossocial, restaurando o senso de dignidade, autoestima, e reinserindo o paciente em suas relações cotidianas (MARCUCCI et al., 2005, pp. 67-77). Em todo o mundo, crianças de 0 a 14 anos são acometidas por diferentes tipos de câncer. Nos Estados Unidos, o câncer é a segunda causa de morte em crianças, sendo ultrapassado somente por acidentes, estima-se que 10.380 crianças serão diagnosticadas com câncer até o final de 2015, entre estas, 1.250 não irão sobreviver. A leucemia é responsável por 30% destes novos casos, dos quais 77% são leucemias linfóides; o cancro no sistema nervoso representa 26%; o neuroblastoma, 6% (SIEGEL et al., 2015, pp. 5-29). Porém, de acordo com o INCA (2014), a leucemia representa uma incidência de 25% a 35% na população infantil, enquanto os linfomas correspondem ao terceiro tipo de câncer mais comum em países desenvolvidos. Já nos países em desenvolvimento, este tipo de câncer é o segundo maior em incidência. Diante do exposto, este trabalho justifica-se por indicar uma atribuição fundamental do profissional de fisioterapia no tratamento do paciente oncológico pediátrico. Portanto, o objetivo deste estudo foi apontar as principais ações do fisioterapeuta nos cuidados paliativos para o restabelecimento da qualidade de vida da criança com leucemia. 2 METODOLOGIA 2.1 Classificação do Estudo Este estudo apresenta caráter teórico, exploratório com abordagem qualitativa, que consiste em se preocupar com as ciências sociais e uma realidade que não pode ser quantificada, aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, não sendo perceptível e captável em equações médias e estatísticas. Porém, os dados quantitativos e qualitativos se complementam (MYNAIO, 2001). O conteúdo reunido e apresentado foi embasado em levantamento bibliográfico.

185 2.2 Pesquisa Bibliográfica As informações aqui contidas foram obtidas a partir de um levantamento bibliográfico em pesquisa de dados, sendo utilizadas as bibliotecas virtuais BIREME, MEDLINE, PUBMED, PERIODICOS CAPES, SCIELO e o site de busca Google Acadêmico para a coleta de dados, abrangendo literatura nacional e internacional sobre o assunto. A pesquisa bibliográfica foi realizada a partir dos seguintes descritores: câncer, leucemia na infância, cuidados paliativos e fisioterapia. Além disso, foram consultados livros disponibilizados na biblioteca da faculdade UNIABEU. Esta pesquisa bibliográfica foi realizada no período de fevereiro a outubro de 2015. 2.3 Análise Estatística As informações pesquisadas, quando possível, foram transformadas em quadros, tabelas e gráficos, a fim de favorecer a organização e a comparação entre dados. Para isto, foi utilizado o programa Excel como ferramenta, tanto para realizar as análises estatísticas que originaram os gráficos quanto para a comparação e ordenação dos dados tabelados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Relevância e sobrevida de crianças acometidas com diferentes tipos de câncer O câncer tem ganhado relevância no Brasil, devido ao perfil epidemiológico que a doença vem apresentando. Desta forma, o tema conquista espaço nas agendas políticas e técnicas de todas as esferas de governo, bem como nas agências de fomento que financiam pesquisas no Brasil. O conhecimento adquirido sobre esta patologia permite estabelecer prioridades e alocar recursos de forma direcionada para a melhoria desse cenário na população brasileira (INCA, 2014). A taxa de ocorrência do câncer varia de acordo com certos fatores, entre estes, o gênero é uma das características de influência, pois alguns estudos comprovam maior frequência da leucemia em crianças do sexo masculino (REIS et al., 2007, pp. 5-15). Além disso, a Síndrome de Down é outro fator que também aumenta a chance do desenvolvimento da leucemia. Segundo Paião (2012), algumas doenças hereditárias ou genéticas podem predispor a criança ao câncer. De acordo com Lins

REGIÕES 186 (2005), a síndrome de Down aumenta em 10 a 20 vezes o risco do desenvolvimento da leucemia na infância, sendo o fator associado mais comum a essa patologia. A incidência aumentada de leucemia linfoide aguda (LLA) também está documentada em outras doenças genéticas como Síndrome de Bloom, Anemia de Fanconi e ataxiateleangiectasia (LICHTVANA, 2007). Nas últimas décadas, o tratamento para leucemias obteve uma progressão considerável. Porém, as taxas de sobrevida possuem grande diferença entre as populações (Fig. 1), devido a diferença no acesso ao tratamento. Entre a população masculina dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, a sobrevida em cinco anos é de 43%, enquanto para o Japão observa-se uma sobrevida de 25%; na América do Sul, 24%; na Índia, 19%; na Tailândia, 15%; e na África subsaariana, 14%. Nos locais com acesso ao tratamento, a sobrevida relativa em cinco anos, em crianças, alcança 80% (INCA, 2014). Figura 1: Taxa de sobrevida de crianças com leucemia em diferentes regiões 14 15 19 24 25 43 43 0 20 40 60 SOBREVIDA (%) ÁFRICA SUBARIANA TAILÂNDIA ÍNDIA AMÉRICA DO SUL JAPÃO EUROPA OCIDENTAL ESTADOS UNIDOS Nos Estados Unidos foi realizado um estudo para avaliar a sobrevida de crianças com diferentes tipos de câncer ao longo de 35 anos (Fig. 2). Os tipos avaliados em diferentes tecidos foram a leucemia linfoide aguda (LLA); leucemia mieloide aguda (LMA); neoplasia de cérebro e sistema nervoso; linfoma de Hodgkin; outros linfomas; neuroblastoma; osteossarcomas, sarcomas e tumor de Wilms. Desses, o que apresentou maior taxa de sobrevida ao longo dos anos foi o linfoma de Hodgkin, seguido do tumor de Wilms, com taxas de 98% e 92%, entre os anos de 2004 e 2010, respectivamente. Os pacientes com LLA apresentavam taxa de sobrevida de 57% entre os anos 1975 e 1977. No entanto, no último período da

187 pesquisa (2004 a 2010), esse percentual subiu para 92%, indicando o progresso científico no diagnóstico e tratamento desse tipo de câncer. Contudo, a LMA não apresentou o mesmo resultado, sendo a sobrevida de 19% em 1975, e de 66% em 2010 (SIEGEL et al., 2015). Figura 2: Perfil de sobrevida (%) de crianças com diferentes tipos de câncer. 3.2 Intervenções Fisioterapêuticas nos Cuidados Paliativos Os dados obtidos no estudo destacam diversas técnicas utilizadas pelos fisioterapeutas nos cuidados paliativos (Tab. 1), porém, neste estudo foram descritas as técnicas mais citadas na pesquisa realizada. O quadro álgico é considerado a segunda maior queixa, entre pacientes que estão em estágio final da doença. Segundo Pena (2008), a dor oncológica ocorre em 54% das crianças hospitalizadas e em 26% das ambulatoriais. Dentre as etiologias possíveis, ela pode ser causada pela própria doença oncológica (37%), pela quimioterapia (41%), aspiração de medula óssea (78%) ou punção lombar (61%). O recurso fisioterapêutico mais utilizado para alívio da dor é a eletroterapia através da Eletroestimulacão Nervosa Transcutânea (TENS), utilizada para o controle da dor aguda e crônica, através de diferentes métodos como o TENS convencional, TENS

188 de acupuntura, TENS breve intenso e TENS Burst. Vários relatos na literatura demonstram a eficácia do TENS na dor oncológica, apresentando respostas positivas ao tratamento desses pacientes. Com vários efeitos benéficos na utilização do TENS, temos também algumas contraindicações para pacientes oncológicos no uso dele: não devemos colocar sobre tecido neoplásico, pele desvitalizada após radioterapia, pacientes incapazes de compreender a natureza da intervenção ou de dar feedback sobre o tratamento (VILLANOVA et al., 2013, pp. 28-33). Outra técnica fisioterapêutica muito utilizada no tratamento da dor oncológica é a cinesioterapia. Segundo Florentino (2012), a cinesioterapia, a qual utiliza movimentos como forma de tratamento, a partir de movimentos voluntários que proporcionam mobilidade, a flexibilidade, a coordenação muscular, o aumento da forca muscular e a resistência a fadiga. Outros sintomas muito comuns que acometem crianças em fase terminal são os de caráter psicofísicos como o estresse e a depressão. Nestes casos, a fisioterapia contribui com técnicas que proporcionam o alívio desses sintomas através da hidroterapia Watsu, a qual consiste em uma técnica usada pelo fisioterapeuta, de forma passiva, com o objetivo de produzir relaxamento através da água aos pacientes com dores crônicas, depressão, estresse, insônia. Segundo Acosta (2010), com base em alongamentos musculares, o Watsu tem o intuito de desbloquear os canais de energia do corpo, podendo ter seus efeitos ampliados dentro da água aquecida, uma vez que a associação de calor e flutuação permite uma diminuição das tensões físicas e emocionais. A hidroterapia Watsu tem algumas contraindicações que devem ser avaliadas pelo fisioterapeuta, como incisões cirúrgicas recentes, alterações cutâneas, doenças de pele, hipotonia muscular severa, febre alta acima de 38ºC (BIASOLI 2006). O sintoma mais prevalente relacionado ao câncer em fase terminal tem sido a fadiga, que pode estar relacionada com uma anemia ou distúrbio metabólico. Segundo Campos (2011), a fadiga relacionada ao câncer (FRC) é um dos sintomas mais prevalentes nesses pacientes, sendo reportada por 50% a 90% dos pacientes durante o curso da doença ou do seu tratamento, impactando na qualidade de vida de forma severa além de diminuir a capacidade funcional diária dos pacientes. Neste caso, o tratamento fisioterapêutico utilizado será o alongamento e massagens de alívio.

189 As atividades lúdicas utilizadas com essas crianças amenizam o sofrimento hospitalar e criam um ambiente mais humanizado. Os recursos lúdicos incluem brincadeiras, jogos, livros, brinquedos, papéis, lápis de cor, música e dança. O brincar é uma estratégia importante para promover uma relação entre o fisioterapeuta e a criança, fazendo com que participem mais ativamente das atividades e se sintam acolhidas e preparadas para enfrentar o tratamento (PEDROSA et al., 2007, pp. 99-106). Quadro 1: Condutas fisioterapêuticas nos cuidados paliativos da criança com câncer. Disfunções Condutas Dor Eletroterapia (TENS e CIV) Terapia Manual Cinesioterapia Crioterapia Termoterapia Estresse Terapia manual Hidroterapia (Watsu) Consciência corporal e relaxamento Depressão Atividade física Apoio emocional Síndrome do desuso Alongamentos Encurtamentos Atividade física Descondicionamento Exercícios ativos com peso leve a moderado Fraqueza muscular Atividades funcionais Fadiga Posicionamento Alterações posturais Mudanças de decúbito Úlceras de decúbito Massagem de alívio Disfunções pulmonares Atelectasias Dispneia Secreção Disfunções neurológicas Plegias e paresias Parestesias Disfunções vesicais Mudanças de decúbito Manobras de reexpansão pulmonar Incentivadores de fluxo Exercícios respiratórios Exercícios de controle respiratório e relaxamento Ventilação não-invasiva Manobras de higiene brônquica Estimulação da tosse Instrumentos de oscilação expiratória Aspiração Exercícios ativos e funcionais Treino sensitivo Fortalecimento de períneo Fonte: Adaptado de PAIÃO, 2012.

190 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A progressão do câncer permanece alta. Em breve será a principal causa de morte no mundo. Contudo, os índices de sobrevida têm melhorado, apesar do diagnóstico ainda tardio em alguns países, por falta de divulgação da doença e acesso ao sistema de saúde, dificultando o tratamento e o prognóstico da doença. A leucemia é o câncer mais comum na infância. Entretanto, esta patologia tem demonstrado melhora nas taxas de sobrevida; os pacientes com LLA e LMA apresentaram, entre os anos de 1975 e 2010, um aumento na taxa de sobrevida de 57% para 92%, e de 19% para 66%, respectivamente. Os cuidados paliativos são inseridos ao tratamento dessas crianças em qualquer fase da doença, sendo as técnicas fisioterapêuticas de extrema importância nesses cuidados. A fisioterapia disponibiliza diversas técnicas, tais como a eletroterapia, hidroterapia, a cinesioterapia e as atividades lúdicas, que melhoram a qualidade de vida, através da prevenção e do alívio de sintomas, com o objetivo de que passem menos tempo hospitalizadas e mais tempo em casa com a família e amigos. Cabe ressaltar que a carência de estudos voltados à relação do fisioterapeuta com crianças terminais dificultou a discussão dos resultados e, por essa razão, sugere-se que pesquisas similares sejam realizadas, contribuindo para a formação de um corpo de conhecimento na área. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACOSTA, A. M. C. Comparação da utilização das técnicas Watsu e relaxamento aquático em flutuação assistida nos sintomas de ansiedade, depressão e percepção da dor. UMESP 2010. Disponível em: <http://ibict.metodista.br/tedesimplificado/tde_arquivos/2/tde-2010-09- 27T161545Z-875/Publico/Antonio%20Maria%20C%20Acosta.pdf>. Acessado em: 16 set. 2015. BIASOLI, M. C., MACHADO, C. M. C. Hidroterapia: aplicabilidades clínicas. Rev. Bras. Med. 2006. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=3288>. Acessado em: 24 set. 2015. CAMPOS, M. P. O., HASSAN, B. J., RIECHELMANN, R., GIGLIO, A. D. Fadiga relacionada ao câncer: uma revisão. Rev Assoc Med Bras 2011; 57(2): 211-219.

191 CIPOLAT, S., PEREIRA, B. B., FERREIRA, F. V. Fisioterapia em pacientes com leucemia: Revisão sistemática. Revista Brasileira de Cancerologia 2011; 57(2): 229-236. FLORENTINO, D. M., SOUSA, F. R. A., MAIWORN, A. I., CARVALHO, A. C. A., SILVA, K. M. A fisioterapia no alívio da dor: uma visão reabilitadora em cuidados paliativos. HUPE, 2012; GOMES, MARIA DO SOCORRO LACERDA. Entre a escola e o tratamento: o dilema das famílias de crianças e adolescentes em tratamento de leucemia no estado do Amazonas. In: II SIMPÓSIO LUSO-BRASILEIRO EM ESTUDOS DA CRIANÇA, 2, 2014, RS. Pesquisa com crianças: Desafios Éticos e Metodológicos. UFRS, 2014. pp. 1-10. INCA, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estimativa/2014 Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA 2014. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa- 24042014.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. INCA, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Informativo Vigilância do Câncer. Rio de Janeiro: INCA 2011. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/inca/arquivos/boletim_vigilancia_1.pdf>. Acessado em: 25 mar. 2015. LICHTVAN, L. C. L. Citogenética nas leucemias linfoides agudas. UFPR 2007. Disponível em: <http://www.pgped.ufpr.br/sites/default/files/documentos/dissertacoes_teses/leniza_costa_ Lima_Lichtcan.pdf>. Acessado em: 01 out. 2015. LINS, M. M. Fatores associados ao retardo no diagnóstico das leucemias agudas na infância em um serviço de referência no Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de saúde maternoinfantil 2005. Disponível em: <http://www.imip.org.br/site/arquivos_anexo/mecneide_mendes_lins;;20061206.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. MARCUCCI, F. C. I. O papel da fisioterapia nos cuidados paliativos a pacientes com câncer. Revista Brasileira de Cancerologia 2005; 51(1): 67-77. MYNAIO, M. C. de S. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. NASCIMENTO, D. M., RODRIGUES, T. G., SOARES, M. R., ROSA, M. L. S., VIEGAS, S. M. F., SALGADO, P. O. Experiência em cuidados paliativos a crianças portadoras de leucemia: a visão dos profissionais. Ciência & Saúde Coletiva 2013; 18(9): 2721-2728. PAIÃO, R. C. N., DIAS, L. I. N. A atuação da fisioterapia nos cuidados paliativos da criança com câncer. Ensaios e Ciência 2012; 16(4): 153-169. PEDROSA, A. M., MONTEIRO, H., LINS, K., PEDROSA, F., MELO, C. Diversão em movimento: um projeto lúdico para crianças hospitalizadas no Serviço de Oncologia Pediátrica do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira (IMIP). Rev Bras Saúde Matern Infant 2007; 7(1): 99-106.

192 PENA, R., BARBOSA, L. A., ISHIKAWA, N. M. Estimulação elétrica transcutânea do nervo (TENS) na dor oncológica uma revisão da literatura. Revista Brasileira de Cancerologia 2008; 54(2): 193-199. REIS, R. S., SANTOS, M. O., THULER, L. C. S. Incidência de tumores pediátricos no Brasil. Revista Brasileira de Cancerologia 2007; 53(1): 5-15. SIEGEL, R. L., MILLER, K. D., JEMAL, A. Cancer statistics, 2015. CA CANCER J CLIN 2015; 65: 5-29. SILVA, E. P., SUDIGURSKY, D. Concepções sobre cuidados paliativos: revisão bibliográfica. Acta Paul Emferm 2008; 21(3): 504-8. SILVA, A. F., ISSI, H. B., MOTTA, M. G. C., BOTENE, D. Z. A. Cuidados paliativos em oncologia pediátrica: percepções, saberes e práticas na perspectiva da equipe multiprofissional. Rev Gaúcha Enferm 2015; 36(2): 56-62. VARELLA, D., BUZAID, A. C., MALUF, F. C. Vencer o Câncer. São Paulo: DENDRIX 2014. VILLANOVA, V. H., FORNAZARI, L. P., DEON, K. C. Estimulação elétrica nervosa transcutânea como coadjuvante no manejo da dor oncológica. Revista Inspirar Movimento & Saúde 2013; 6(5): 28-33. Recebido em: 16 de outubro de 2015. Aceito em: 09 de março de 2016.