Breves considerações acerca de modificadores nominais (rentaishuushokugo) da língua japonesa, segundo Yamada a Watanabe



Documentos relacionados
O COMPORTAMENTO SINTÁTICO DOS ELEMENTOS À ESQUERDA 1 Maiane Soares Leite Santos (UFBA) may_leite@hotmail.com Edivalda Alves Araújo (UFBA)

Professor: Gustavo Lambert. Módulo de Português

Base empírica da sintaxe. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

UFRGS INSTITUTO DE LETRAS Curso de Especialização em Gramática e Ensino da Língua Portuguesa 8ª Edição Trabalho de Conclusão de Curso

Journal of Transport Literature

Professora: Lícia Souza

NORMAS PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO ACADÊMICO DE CONCLUSÃO DE CURSO. FORMATO ARTIGO CIENTÍFICO (com base na ABNT NBR 6022)

PLANEJAMENTO ANUAL DE LÍNGUA PORTUGUESA

LÓGICA DE PROGRAMAÇÃO PARA ENGENHARIA INTRODUÇÃO À LÓGICA DE PROGRAMAÇÃO PARTE I. Prof. Dr. Daniel Caetano

Formador: Carlos Maia

GUIÃO DE EXPLORAÇÃO DA APRESENTAÇÃO DE:

7 INTRODUÇÃO À SINTAXE

A TEORIA DA PROPOSIÇÃO APRESENTADA NO PERIÉRMENEIAS: AS DIVISÃO DAS PRO- POSIÇÕES DO JUÍZO.

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão dos Assuntos Jurídicos PE v01-00

Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Matemática versus Estágio Supervisionado

ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DO PAPER NO ACOMPANHAMENTO ESPECIAL DE TODAS AS DISCIPLINAS

Gramática e ensino do português

5 Considerações finais

UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE UNINORTE AUTOR (ES) AUTOR (ES) TÍTULO DO PROJETO

Introdução ao Controlo Numérico Computorizado I Conceitos Gerais

3 Pressupostos Teóricos

PRACTICO LIV! FINANCEIRO DRE DEMONSTRATIVO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO

NBR 8196 (Ago 1992) Conceito Escala é a relação entre as medidas do desenho de um objeto e seu tamanho real:

Palavras-chave: Historiografia; Paraná; Regime de Historicidade; História Regional

Renata Aparecida de Freitas

3.1 Definições Uma classe é a descrição de um tipo de objeto.

MD Sequências e Indução Matemática 1

Daniele Marcelle Grannier, UnB Tércia A. F. Teles, UnB. Introdução

ferramentas de produtividade

,QWURGXomRDR(GLWRUGH $SUHVHQWDo}HV3RZHU3RLQW

INSTITUTO CAMPINENSE DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE ENFERMAGEM. NOME DOS ALUNOS (equipe de 4 pessoas) TÍTULO DO PROJETO

LÍNGUA PORTUGUESA MATEMÁTICA

A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS PERTINENTES NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

4 Metodologia e estratégia de abordagem

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA À DISTÂNCIA SILVA, Diva Souza UNIVALE GT-19: Educação Matemática

11.1 EQUAÇÃO GERAL DOS BALANÇOS DE ENERGIA. Acúmulo = Entrada Saída + Geração Consumo. Acúmulo = acúmulo de energia dentro do sistema

Gerenciamento de Projetos Modulo II Clico de Vida e Organização

MATEMÁTICA FINANCEIRA BÁSICA

9 Como o aluno (pré)adolescente vê o livro didático de inglês

Medição tridimensional

Resenha: SEMPRINI, Andrea. A Marca Pós-Moderna: Poder e Fragilidade da Marca na Sociedade Contemporânea. São Paulo : Estação das Letras, 2006.

Estruturando o Pré Projeto

CEFET-MA/COPEAC Seletivo Técnico 2008 Língua Portuguesa e Matemática 0

POLISSEMIA E HOMONÍMIA: EMPRÉSTIMOS DENTRO DA PRÓPRIA LÍNGUA

Organização em Enfermagem

Base Nacional Comum Curricular Lemann Center at Stanford University

CURSO: TRIBUNAL REGULAR ASSUNTOS: CONCORDÂNCIA NOMINAL / CONCORDÂNCIA VERBAL SUMÁRIO DE AULA DÉCIO SENA

Processamento de Linguagem Natural (PLN)

Densímetro de posto de gasolina

Olimpíada Brasileira de Raciocínio Lógico Nível III Fase I 2014

COLÉGIO AFAM SÃO MIGUEL Conteúdo Processo Seletivo 2014

Apresentação. Cultura, Poder e Decisão na Empresa Familiar no Brasil

O MÉTODO HÚNGARO PARA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE OTIMIZAÇÃO

Fração como porcentagem. Sexto Ano do Ensino Fundamental. Autor: Prof. Francisco Bruno Holanda Revisor: Prof. Antonio Caminha M.

Prova Escrita (Código 21) / 2015

Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. F 609 Tópicos de Ensino da Física I

PLANO DE AULA OBJETIVOS: Refletir sobre a filosofia existencialista e dar ênfase aos conceitos do filósofo francês Jean Paul Sartre.

UMC Cotas em desenho técnico (Módulo 2) Componentes gráficos de uma cota: Linha de cota Linha de chamada Setas de cota

Marília Gottardi 1 Rodrigo Altério Pagliari 2 Rosemary Gelatti 3 FEMA 4

I OS GRANDES SISTEMAS METAFÍSICOS

GESTÃO DA QUALIDADE. Palavras-chave: Qualidade. Gestão da Qualidade. Definições da Qualidade.

DEPRECIAÇÃO E OBSOLÊNCIA

III SEMINÁRIO EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Desafios Educacionais

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

A distribuição complementar entre a perífrase estar +gerúndio e o. presente do indicativo em português e espanhol

Trabalho 3: Agenda de Tarefas

Análise e Projeto de Software

QUANTIFICADORES. Existem frases declarativas que não há como decidir se são verdadeiras ou falsas. Por exemplo: (a) Ele é um campeão da Fórmula 1.

ADMINISTRADOR LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUÇÕES

ANÁLISE DE DIFERENTES MODELOS DE ATRIBUIÇÃO DE NOTAS DA AVALIAÇÃO INTEGRADORA (AVIN) DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DO UNICENP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - Comissão Permanente do Vestibular PROCESSO SELETIVO PARA ADMISSÃO POR TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA

Vestibular Comentado - UVA/2010.2

A QUESTÃO DO CONHECIMENTO NA MODERNIDADE

INGLÊS. 1. Objeto de avaliação INFORMAÇÃO PROVA DE EQUIVALÊNCIA À FREQUÊNCIA. Prova

Cotagem de dimensões básicas

O E-TEXTO E A CRIAÇÃO DE NOVAS MODALIDADES EXPRESSIVAS. Palavras-chave: texto, , linguagem, oralidade, escrita.

DOURADO SCAVAZZA MONTEIRO GT:

Modelagem Matemática Aplicada ao Ensino de Cálculo 1

Roteiro para elaboração do Projeto de Monografia do Curso de Graduação em Ciências Econômicas Rio de Janeiro

CASOS PARTICULARES S + S + A Obs:

Revista Filosofia Capital ISSN Vol. 2, Edição 4, Ano EAD E O PROCESSO AVALIATIVO: BREVE ENSAIO SOBRE UMA PEDAGOGIA EM CONSTRUÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA POLO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO CCE LETRAS-LIBRAS BACHARELADO

Doutorado em Educação em Ciências e Matemática Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática REAMEC.

Capítulo 7. Topologia Digital. 7.1 Conexidade

O Princípio da Complementaridade e o papel do observador na Mecânica Quântica

O DESPACHANTE, O AJUDANTE E A RFB. Domingos de Torre

Elaboração de perfis longos dentro do projeto Memória Visual através da fotografia: revitalização do Cais Mauá

Os PRINCíPIOS FUNDAMENTAIS DE

Período composto por subordinação

Reflexão sobre a organização paradigmática da pessoa na conjugação: um estudo comparativo entre português, francês e lingala

Pode-se assim obter uma comparação entre o que foi previsto e o que realmente foi executado.

Metadados. 1. Introdução. 2. O que são Metadados? 3. O Valor dos Metadados

COMO ENSINEI MATEMÁTICA

SINTAXE. ISJB - Colégio Salesiano Jardim Camburi. Profa. Me. Luana Lemos. llemos@salesiano.org.br

PREDICADOS COMPLEXOS. Maria José Foltran* Preliminares

Faculdade Sagrada Família

Módulo 9 A Avaliação de Desempenho faz parte do subsistema de aplicação de recursos humanos.

Transcrição:

Breves considerações acerca de modificadores nominais (rentaishuushokugo) da língua japonesa, segundo Yamada a Watanabe Junko Ota Centro de Estudos Japoneses Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - Universidade de São Paulo (USP) Av. Prof. Lineu Prestes, 159 05508-900 São Paulo SP Brasil cejap@usp.br Abstract. Following the purpose of the Inter-institutional Group of Japanese Language Studies (GRIELJ) of studying the theoretical approaches of modern Japanese grammarians, Yoshio Yamada, Shinkichi Hashimoto, Motoki Tokieda and Minoru Watanabe, the present paper has as aim discuss the mentioned authors concepts about the question of name modifying (rentaishuushoku) of Japanese language. Keywords. Japanese language; noun modifyer; nominal adjuncts; relative clauses; Japanese grammarians Resumo.Dentro da proposta do Grupo Inter-institucional de Estudos da Língua Japonesa (GRIELJ), de estudar as abordagens teóricas dos gramáticos japoneses modernos, Yoshio Yamada, Shinkichi Hashimoto, Motoki Tokieda e Minoru Watanabe, o presente trabalho tem como objetivo tecer breves considerações sobre os conceitos dos referidos estudiosos em torno da questão de modificação nominal (rentaishuushoku) da língua japonesa. Palavras-chave. língua japonesa; modificador nominal;, adjunto adnominal; oração adjetiva, lingüistas japoneses. Rentai(que se liga ao nome) shuushoku(que determina) go(palavra) é a terminologia em japonês que designa palavras, locuções e mesmo orações que determinam o substantivo, o que corresponde a adjuntos adnominais e orações subordinadas adjetivas, razão pela qual o traduzimos modificadores nominais. Um dado que merece destaque na comparação com o português é sua posição sintagmática dentro da sentença: os modificadores nominais, assim como os verbais, ocupam sempre a posição anterior ao elemento modificado/complementado. Uma vez escrito em vertical, os modificadores posicionam-se acima do substantivo modificado, e em horizontal, à esquerda do mesmo. Seguem-se abaixo as considerações tecidas restritamente em torno dos modificadores nominais pelos gramáticos japoneses modernos, Yoshio Yamada, Shinkichi Hashimoto, Motoki Tokieda e Minoru Watanabe, seguindo a ordem cronológica. Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 498-502, 2005. [ 498 / 502 ]

Yoshio Yamada (1873-1958) Yamada chama o modificador nominal de rentai-kaku, ou seja, a parte da oração com a função de modificar os nomes, definindo-o como aquele que esclarece o significado dos nomes, posicionando-se acima dos mesmos, levando em conta a escrita em linhas verticais, tradicionalmente adotada no Japão. Nota-se nas considerações de Yamada a percepção tanto à função sintática quanto à posição sintagmática da referida parte da oração. O gramático ainda descreve os elementos constituintes de modificadores nominais. São os nomes (taigen) com a partícula no, marcador de modificador nominal; os numerais e pronomes; os predicativos (yôgen) com ou sem os seus complementos; e os advérbios(fukushi). Segundo Yamada, a sentença se caracteriza pela presença de um pensamento no interior da cadeia de palavras, unificadas pela ação concatenadora (tôkaku sayô) que ocorre através da força predicativa (chinjutsu) dos chamados predicadores ou yôgen. O gramático não menciona, porém, a questão da força predicativa em yôgen quando este faz parte do modificador nominal, dando-nos a entender que a ação de concatenação de idéias se constata essencialmente nos predicados posicionados na parte final da sentença. Essa questão, como veremos mais adiante, é retomada posteriormente de outra forma pelo gramático Tokieda. Shinkichi Hashimoto (1882-1945) Em suas obras, Hashimoto considera que, diferentemente de modificadores verbais, que se subdividem em sete, os modificadores nominais são de um tipo só, sendo simples e sem problemas. Mas observamos um problema de consideração se levarmos em conta a questão de modificação nominal à luz de seus conceitos acerca da menor unidade significativa da sentença, ou seja, bunsetsu. Hashimoto conceitua o bunsetsu como a menor unidade significativa da sentença, tendo como princípio de separação a pausa de som entre uma unidade e outra. Cada unidade de bunsetsu, separável entre si pela pausa de som, é constituída de um elemento nocional e um relacional ou então por um elemento que é ao mesmo tempo nocional e relacional. Em outras palavras, a sentença como: Sakura-no / hana-ga / saku. cerejeira -Genitivo / flores -Nominativo / florescem As flores de cerejeira florescem. é dividida em sakura-no de cerejeira / hana-ga as flores /saku florescem. Consideramos que a divisão de bunsetsu está perfeitamente de acordo com o que o gramático propõe, que é a unidade divisível do ponto de vista sonoro. Porém, não se pode considerar que uma unidade bunsetsu sempre modifica a outra, como fazem supor as afirmações de Hashimoto. Principalmente em se tratando da relação de modificador e o nome modificado, não se pode dizer que uma unidade bunsetsu modifique a outra Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 498-502, 2005. [ 499 / 502 ]

seguinte toda, mas sim apenas parcialmente, uma vez que a relação se estabelece entre uma unidade sakura-no e uma parte da outra unidade, hana, sem levar em consideração o marcador de nominativo ga, que se liga a todo o sintagma nominal sakura-no hana flor de cerejeira e não somente a hana flor. Em outras palavras, não se podem considerar no mesmo nível as unidades sakurano ( cerejeira -Genitivo) e hana-ga ( flores -Nominativo), uma vez que ali opera a ligação sintática entre sakura-no e hana, e somente após essa formação do sintagma nominal como um todo (sakurano hana flores de cerejeira ), pode-se atribuir a função sintática de sujeito, através da partícula ga. Nesse sentido, devemos dizer que o conceito de bunsetsu de Hashimoto não contempla de forma satisfatória pelo menos a relação e identificação do modificador de nome e o nome modificado. Motoki Tokieda (1900-1967) Tokieda foi o lingüista que aprofundou a teoria da divisão das palavras japonesas em palavras conceituais (shi) e gramaticais(ji), existente desde o século XIII. De acordo com a concepção do gramático, os princípios da sintaxe residem na junção de shi e ji, sendo que shi é vocábulo de conteúdo que passa pela etapa da conceptualização e ji, vocábulo gramatical que expressa o julgamento subjetivo do falante. Considerando o predicador (yôgen) como palavras conceituais (shi), Tokieda vê anexado ao mesmo um ji oculto, chamando-o de elemento concatenador de idéias (chinjutsu). Nesse quesito, Tokieda se distingue de Yamada, que enxergava em yôgen um elemento que incorporava a função concatenadora de idéias da sentença. Em outras palavras, atribuindo a palavras gramaticais (ji) essa função concatenadora de idéias, a parte subjetiva e portanto mais importante da língua, Tokieda vê a importância de se denominar o ji oculto de Zero Kigô ou Rei Kigô Signo Zero. Se, para Yamada, yôgen era elemento essencial para desenvolver esse conceito de chinjutsu concatenação de idéias, para Tokieda, o elemento ji era o que amarrava as idéias trazidas pelo shi daí a atribuição de importância a yôgen e a ji, respectivamente, para os respectivos gramáticos. Para Tokieda, o Signo Zero que acompanha o yôgen (para ele, shi, expressão apenas de conceito) faz parte não somente dos predicados, partes finais da frase, como afirmava Yamada, mas também dos modificadores de nome. Segundo Tokieda, os predicadores ou yôgen que fazem parte do modificador nominal também assumem a força concatenadora, o que pode ser compreendida como força modalizadora. O conceito de que a oração adjetiva ou relativa pode conter a força modalizadora tem suscitado polêmica, uma vez que não se incluem dentro de modificadores nominais expressões modais, tais como os morfemas finais yo, ne e ka. Minoru Watanabe (1926-) Watanabe publica a obra Kokugo Kôbunron (Teoria de Sintaxe da Língua Japonesa) em 1971, onde desenvolve sua concepção teórica de análise da língua, baseada em funções Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 498-502, 2005. [ 500 / 502 ]

(shokunô) que as palavras desempenham na frase, não se restringindo a sintáticas, mas também as semânticas e discursivas. Ainda nesse livro acima mencionado, o gramático tece considerações sobre modificadores nominais comparando-os com os verbais, uma vez que os modificadores, em japonês, shuushokugo (palavras que especificam), são subdivididos em rentai (que se ligam ao nome) e ren yô (que se ligam ao verbo). É a partir da gramática de Hashimoto que se estabelece a Gramática Escolar, onde os dois modificadores são considerados como se tivessem características paralelas. Watanabe afirma, entretanto, que enquanto os modificadores verbais são constituídos de nome e morfema indicador de vários casos, os nominais se resumem numa só forma, de nome e o morfema no, que extrapola qualquer especificação da relação lógica. Do ponto de vista de sua concepção de sintaxe da língua japonesa, os modificadores verbais e nominais não possuem características similares, uma vez que a junção das partículas em dois modificadores se dá de uma forma extremamente distinta, comparando apenas a constituição de nome + partícula(s). Por outro lado, o yôgen (traduzido como predicador ) que faz parte do modificador nominal, segundo Watanabe, não tem a força concatenadora (chinjutsu) da frase como teorizou Tokieda, e sim uma concatenação proposicional (tôjo), que tem um encadeamento enquanto modificador nominal, o que o gramático chama de rentaitenjo. Dessa forma, Watanabe distingue o tôjo (concatenação proposicional), que ocorre dentro do modificador nominal, do chinjutsu (concatenação de idéia), que se realiza na parte final da frase. Vale acrescentar ainda que Watanabe, que levou em conta os aspectos semânticos, apontou a questão da restrição semântica existente entre o modificador e o nome modificado. Mesmo que de um lado exista o modificador de um lado e o nome a ser modificado, a relação de modificação não se constitui sem a proximidade semântica entre os dois elementos. Assim, só os elementos seguintes podem estabelecer a relação de modificador e nome modificado: Sakura-no (de cerejeira) ki(árvore), hana(flor), miki(caule), iro(cor), geta(tamanco japonês) Kawa-no(do rio) nagare (correnteza), fukasa (profundeza), mukô (para lá), sakana (peixe); Não há, portanto, a mesma relação entre os elementos abaixo: Sakura-no (de cerejeira) fukasa (profundeza), sakana (peixe), ha (dente), jishin (terremoto) Kawa-no (do rio) miki (caule), geta (tamanco japonês), ha (dente), jishin (terremoto). Pode-se dizer que Watanabe foi o gramático que abordou com maior acuidade a questão da semântica entre o nome modificado e os elementos constituintes de modificador nominal, o que nos mostra o grau de maturidade teórica em comparação aos seus predecessores, equilibrando as considerações morfológicas, sintáticas e semânticodiscursivas. Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 498-502, 2005. [ 501 / 502 ]

Nas breves explanações dos gramáticos acima descritos, vemos que Yamada introduziu o conceito de chinjutsu (concatenação de idéia) da sentença, mas sem visualizar o mesmo no modificador nominal. Tokieda passou a adotá-lo ampliando seus limites, visualizando seu efeito até na parte do modificador nominal. Watanabe, por fim, então, passou a conceber como distinto o conceito da concatenação no final da sentença daquela que ocorre no modificador nominal, separando a noção de chinjutsu da de tôjo. Hashimoto, por sua vez, não chega a discutir a respeito da concatenação de idéias, sendo o gramático que levou em consideração a parte formal, a separação da sentença em unidades significativas de bunsetsu. Bibliografia DOI, E. T. et al. As teorias gramaticais de japonês: Yamada e Hashimoto. Estudos Lingüísticos. Taubaté: Unitau. 2003. CD-ROM. MORALES, L.M. et al. As funções lingüísticas em Watanabe Minoru. Anais do XIV Encontro Nacional de Professores Universitários de Língua, Literatura e Cultura Japonesa. Assis: Unesp/Assis, 2003. OTA, J. et al. Ação concatenadora (tôkaku sayô) e força de predicação (chinjutsu) na frase da língua japonesa segundo Yamada. Texto apresentado em XVI Seminário do CELLIP. 2003. SUZUKI, T. et al. Classificação mórfica binaria SHI e JI da língua japonesa. Estudos Lingüísticos. Campinas: Unicamp. 2004. CD-ROM. TOKIEDA, M. Nihonbunpô kôgohen. Tóquio: Iwanami Shoten, 1980. WATANABE, M. Kokugo kôbunron. Tóquio: Shima Shobô. 1971. YAMADA, Y. Nihon kôgohô kôgi. Tóquio: Hôbunkan. 1970 (edição restaurada de 1922). Estudos Lingüísticos XXXIV, p. 498-502, 2005. [ 502 / 502 ]