CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS



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Transcrição:

CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS ( SUPPLY CHAIN REVERSO ) Em artigos anteriores analisamos a tipologia dos canais de distribuição reversos, desde os conceitos básicos que os caracterizam até as dificuldades de estruturação dos mesmos, descrevendo as etapas de desembaraço dos bens pela sociedade, os tipos de captação ou coleta de bens de pós consumo até a disposição final ou seu reaproveitamento, por sistemas de reciclagem ou por reutilização dos mesmos, caracterizando alguns exemplos mais comuns. Nesta nova série de artigos abordaremos os canais reversos sob a ótica das empresas geradoras e utilizadoras dos materiais passíveis de serem reciclados ou reutilizados, examinando suas relações e interdependências com a sociedade e com o governo, no que se convenciona denominar de triângulo interativo. É através de diferentes níveis de interação entre estes agentes que se estabelecem níveis diferentes de estruturação e organização dos canais reversos nos diversos países e regiões. O interesse principal desta nova série será, portanto, o exame das diferentes formas e organizações estratégicas das empresas com relação aos fluxos reversos de materiais, de que forma os fatores econômicos, legislativos, ecológicos e logísticos, entre outros, influem neste posicionamento empresarial, de que forma a responsabilidade ambiental está sendo inserida nesta nova visão estratégica e como se estabelecem as cadeias de suprimentos reversas dos diversos tipos de bens produzidos. Embora o Supply Chain possa ser entendido como a cadeia de suprimentos de um setor produtivo, mais recentemente o termo tem sido utilizado de forma simplificada, incorretamente, com ou sem a palavra Management, para caracterizar o processo de formação de redes de empresas, constituintes dos diversos elos de uma cadeia produtiva, através de parcerias entre si, visando melhorar a eficiência operacional do conjunto da cadeia e consequentemente os respectivos custos nos elos e nas diversas interfaces, repassando-os ao mercado consumidor. A formação deste tipo de parceria, em redes empresariais, normalmente têm origem em estratégias de ganho de participação ou de defesa de posição no mercado consumidor, conduzindo os participantes a um gerenciamento integrado de toda a cadeia, o Supply Chain Management, uma espécie de organização virtual entre empresas sem laços jurídicos necessariamente. Os objetivos de melhoria de eficiência de uma rede de empresas podem variar em cada caso, porem normalmente visam uma evolução nos conceitos de relacionamentos entre os diversos elos da cadeia propiciando aumento de velocidade de resposta e redução de custo final ao mercado consumidor. O Supply Chain Reverso O esquema que a seguir apresentamos resume as principais idéias sobre o Supply Chain Reverso, destacando os principais fatores que condicionam a intensidade do fluxo reverso, os fatores essenciais que tornam possível o fluxo reverso de um canal e os fatores modificadores da estrutura e organização destes canais reversos.

CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS SUPPLY CHAIN REVERSO PÓS- CONSUMO RECICLAGEM REUSO RETÔRNO AO MERCADO CONDIÇÕES DO FLUXO DE MATERIAIS: CUSTOS OFERTA QUALIDADE CONDIÇÕES ESSENCIAIS: TECNOLOGIA LOGÍSTICA MERCADO FATORES MODIFICADORES: ECOLÓGICOS LEGISLAÇÕES

Pode-se imaginar o Supply Chain Reverso como a suporte mercadológico que permite o fluxo dos materiais de pós- consumo até a sua reintegração ao ciclo produtivo, na forma de um produto equivalente ou diverso do produto original, ou o retorno do bem usado ao mercado. Esta rede de empresas industriais e comerciais, normalmente especializadas por natureza de material constituinte dos produtos (ferro, alumínio, plástico, vidro, etc.) ou por setores industriais (máquinas, computadores, automóveis, etc.) garantem os processos de reciclagem ou de reuso dos bens, cessado a utilização original dos mesmos. A intensidade comercial destes fluxos, no canal reverso de um determinado material, será condicionado pela existência de custos agregados, quantidades ofertadas e qualidade dos produtos reciclados ou a serem reutilizados, que permitam uma rentabilidade operacional aceitável aos diversos agentes intervenientes. Desta forma o fluxo será determinado pela etapa que apresente a maior restrição econômica ao longo do canal reverso. Nesta busca de melhores condições de custos, quantidades e qualidade nos materiais, o mercado seleciona naturalmente e prioritariamente certas fontes de pós- consumo, certos produtos de pós consumo, estabelecendo-se concorrência entre os produtos ou materiais de naturezas diferentes e suas fontes primárias de coleta. Desta forma, o mercado esgotará primeiramente as fontes de Resíduos Industriais e coletará os produtos de pós consumo que apresentem melhores condições de valor relativo, transportabilidade, etc., por apresentarem estas características. No caso dos bens descartáveis ( embalagens domésticas, papéis, vidros, etc.) já foi mencionado que a coleta dos pós consumo é uma das fases restritivas ao fluxo reverso dos mesmos e que, por outro lado, as latas de alumínio, utilizadas para bebidas em geral, é um dos produtos de maior fluxo reverso, relativamente às quantidades produzidas ( índice de reciclagem), devido ao seu alto valor comercial. A tecnologia nas diversas etapas, as características logísticas gerais e a existência de um mercado consumidor dos produtos elaborados com os materiais reciclados, ou dos produtos em reuso, redundarão em condições de custos, oferta e qualidade requeridas para que este fluxo se realize. Desta forma o nível de organização e estruturação dos canais de distribuição reversos ou Supply Chain Reverso depende de um encadeamento de fatores de diversas naturezas, atuando direta ou indiretamente, e propiciando interesses econômicos aos diversos agentes envolvidos nestas cadeias. O caso dos principais metais, de alguns tipos de papéis, as latas de alumínio, ficando nestes exemplos mais conhecidos em diversos países e que possuem uma intensidade de fluxo reverso relativamente alto, ilustram estas organização reversa através de economia de mercado. Nos casos em que faltem algumas destas condições ao canal de distribuição reverso, o desenvolvimento e estruturação dos mesmos será menos eficiente, não havendo uma intensidade de fluxo reverso que garanta o desejável equilíbrio entre a produção do bem e a sua disposição final. Nestas condições, fatores modificadores ecológicos ou legislativos, poderão ser criados de forma a desbloquear os gargalos de eficiência dos canais reversos, produzindo nova ordem econômica.

Denominamos fatores ecológicos modificadores das condições de um Supply Chain Reverso aqueles que são motivados por sensibilidade ecológica de qualquer agente: governo, sociedade ou empresas. Iniciativas do próprio governo, pressões sociais induzindo o governo à intervenção, seletividade ecológica da sociedade no consumo de bens, preocupação e responsabilidade ambiental das empresas, poderão modificar condições de um canal reverso. Os fatores modificadores por intervenção governamental, qualificados como de regulamentação, promoção, educação e de incentivos aos aspectos do desequilíbrios destes resíduos sólidos, podem ser motivados como uma alternativa de redução de custos governamentais, para a satisfação de pressões de grupos sociais ou políticos, ou para desbloquear fases do processo reverso no sentido de aumentar o performance do mesmo. O Supply Chain Reverso, ou a rigor, o Reverse Supply Chain Management, embora muitas vezes existentes em alguns casos de cadeias reversas estabelecidas e rentáveis, intensifica-se em função destes fatores modificadores, caracterizando-se pela constituição destas redes de empresas, envolvendo um ou diversos elos das cadeias reversas de produtos para reuso, produtos de pós consumo ou materiais reciclados, objetivando maior eficiência operacional e melhor estruturação dos mesmos. Examinaremos a seguir como os citados fatores modificadores desta estruturação dos canais de distribuição reversos atuam na estratégia das empresas, através da análise de legislações ambientais sobre resíduos sólidos, das tendências de consumo da sociedade e de suas repercussões nas estratégias empresariais. Legislações Ambientais sobre Resíduos Sólidos não Perigosos. Alguns canais reversos se estruturam naturalmente pelas leis de mercado, em função de sua comercialização e reutilização apresentarem condições tecnológicas e logísticas que garantem rentabilidade aos agentes envolvidos em seus diversos elos. Em alguns casos de canais reversos, os custos acrescidos desde a coleta dos pós - consumo até a reintegração ao ciclo produtivo superam as vantagens econômicas de reutiliza-los em substituição às matérias primas originais ou `a utilização de componentes recuperados, sendo necessário criar condições especiais para desbloquear uma das fases reversas para que estes canais reversos se estruturem e apresentem rentabilidade operacional em todos as fases reversas. As legislações ambientais sobre resíduos sólidos normalmente têm suas origens em uma reação aos impactos que os excessos destes resíduos sólidos provocam ao meio ambiente, seja pelas dificuldades crescentes de desembaraço dos mesmos até a disposição final, seja pelo impacto negativo ao meio ambiente, causado pelo desequilíbrio entre a oferta e demanda que estes resíduos provocam. Estas legislações têm sido promulgadas, em diversos países, visando intervir em fases reversas de forma a melhorar estes desequilíbrios, através de modificações nas condições da oferta de materiais reciclados de um determinado grupo de produtos e nas condições de mercado destes materiais ou de seus produtos finais.

Dentre os vários tipos de legislações sobre resíduos sólidos não perigosos, encontrados na literatura atual em diversos países desenvolvidos, destacamos algumas orientações gerais, sem pretensão de categorização jurídica das mesmas e muito menos exaurir todos os aspectos abordados, mas agrupando-as pelo tipo de atuação visada: a) Legislações relativas à Coletas e Disposição Final. - Legislações sobre proibições de aterros sanitários. - Legislações sobre implantação de coleta seletiva. - Legislações sobre a responsabilidade do fabricante sobre o canal reverso de seus produtos ( Product Take- Back ) - Legislações sobre proibição de disposição em aterros sanitários de certos produtos. - Legislações sobre um valor monetário depositado na compra de certos tipos de embalagens. - Legislações sobre índices mínimos de reciclagem. - Etc. b) Legislações relativas ao Marketing - Legislações de incentivos ao conteúdo de reciclados nos produtos - Legislações sobre proibição de venda ou uso de certos produtos. - Legislações sobre proibição de embalagens descartáveis. - Legislações sobre rótulos ambientais. - Legislações sobre incentivos fiscais. - Etc. c) Legislações relativas à redução na fonte. - Legislações de incentivo financeiro. Contrariamente às primeiras legislações do início dos anos 70, cuja tendência era de responsabilizar os governos locais pelo impacto ambiental destes resíduos sólidos, uma das idéias básicas que orientam estas legislações, mais recentemente, é a de responsabilizar os fabricantes, direta ou indiretamente, pelo impacto de seus produtos ao meio ambiente, através de leis dirigidas às etapas de reciclagem dos mesmos ou indiretamente através de proibições de disposição em aterros sanitários, proibições de certos tipos de embalagens plásticas até a devida estruturação dos canais reversos, etc.. Estas legislações tem sua origem nas idéias da denominada filosofia de EPR (Extended Product Responsability).

As empresas fabricantes, principalmente afetadas por este tipo de legislação, através de estratégias diversas, deverão contabilizar novos custos de origem ecológica aos seus produtos, em cumprimento às novas regulamentações e, em alguns casos, beneficiarem-se de novas condições de economia de escala, de novas e melhores condições logísticas, entre outras novas condições decorrentes destas leis, caso não tenham se antecipado a elas. Esta nova distribuição de custos nas diversas etapas de um determinado canal reverso, poderá criar condições de viabilidade econômica, em uma ou algumas etapas reversas, de um determinado material ou de um grupo de produtos de pós- consumo, que anteriormente impediam uma correta intensidade de fluxo reverso e conseqüente melhor estruturação dos canais de distribuição reversos, estabelecendo novas relações de interesse econômico e parcerias entre as empresas no Supply Chain Reverso destes produtos. Será sempre discutível o nível de intervenção governamental sobre o mercado livre, porém nos casos em que as associações de classe de fabricantes e de outros integrantes da cadeia industrial direta não se antecipem, e mesmo colaborem, com a busca de soluções para os problemas destes desequilíbrios causadores de impactos ao meio ambiente, a intervenção governamental se faz necessária Exemplos de legislações mal aplicadas em alguns casos permitem avaliar os cuidados que devem ser tomadas para não provocar desequilíbrios de outra natureza, evitar favorecer um elo ou um setor de etapa reversa, provocar desequilíbrio de preços de materiais reciclados no mercado, entre outras conseqüências possíveis. Muitos autores têm defendido a idéia de que as melhores soluções são encontradas quando o governo, sociedade e as empresas trabalham em conjunto, através da conscientização de seus diversos segmentos, e que a regulamentação governamental revela-se principalmente útil na definição de padrões, normas gerais, deixando ao mercado a liberdade de seu natural equilíbrio. Alguns exemplos de legislações em diversos países. Estados Unidos O país de uma forma geral, tem se revelado muito atuante e intervencionista quanto às legislação sobre resíduos sólidos, acreditando intensamente na reciclagem como solução para os mesmos e orientando legislações responsabilizando principalmente os governos locais para as soluções dos problemas. De 1988 a 1991 foram promulgadas cerca de 400 leis estaduais relativas a redução de resíduos sólidos e reciclagens, e recentemente, mais de 2000 projetos de lei estão sendo discutidos no país, o que praticamente fez com que todos os estados americanos apresentem atualmente elevado grau de intervenção legislativa na área de resíduos sólidos em geral. Legislações sobre Coletas e Disposição Final Todo este movimento legislativo, no sentido de melhorar as condições de coleta ( captação) dos materiais de pós- consumo, se deveu à famosa crise dos aterros sanitários americanos dos anos 80, onde cerca de 70% dos mesmos ou foram considerados saturados ou foram impedidos de receber certos tipos de produtos de pós

consumo, pneus, baterias, listas telefônicas, móveis velhos, etc., (produtos de pós consumo de bens duráveis não eram aceitos há longo tempo nestes aterros). Como conseqüência destas leis sobre aterros sanitários e coletas seletivas obrigatórias, o número de programas de coleta seletiva aumentou de 1000 programas em 1988 a 5404 programas em 1992, possivelmente um número bem maior atualmente. Este expressivo aumento de coletas seletivas em todo o país redundou em disponibilidade considerável de materiais reciclados de todos os tipos, aliás o objetivo principal da legislação, mas desequilibrou a oferta e demanda dos mesmos ocasionando turbulência nos preços do mercado. Estas novas escalas econômicas de negócios, movimentando grandes quantidades de materiais descartáveis como os plásticos, papéis, vidro, metais, modificaram e reestruturaram os diversos aspectos logísticos e tecnológicos nas diversas fases dos canais de distribuição reversos, dando origem a novas parcerias e alianças entre empresas, instalando-se o verdadeiro Reverse Supply Chain Management, adaptando-se às novas condições. As empresas americanas empreeendem parcerias que as possibilitem cumprir as novas legislações, surgindo alianças entre grandes empresas de coleta de lixo e de coletas seletivas com as empresas utilizadoras destes materiais, tais como a da Waste Management Inc. com a Stone Container and American Can e com a Eastman Chemical Co., da Browning Ferris, grande empresa de coleta de lixo com a Wellman, maior fabricante de fibras de poliester a partir de resíduos de pós - consumo de garrafas e de filmes de PET. A conhecida empresa Dupont desenvolve uma rede de parcerias com empresas recuperadoras da prata, presente nos filmes radiográficos descartados após uso, para a coleta de filmes de PET que servem como suporte para este filme, montando uma cadeia reversa de coleta. Esta atividade transformou-se em um novo negócio estratégico da empresa que fornece, atualmente, serviços especializados em Reverse Supply Chain a outras empresas para vários tipos de materiais. As legislações sobre produtos duráveis foram dirigidas, principalmente, aos fabricantes dos mesmos exigindo maior responsabilidade empresarial através de programas de take back de seus produtos. Os fabricantes passam a ser responsáveis pela organização dos canais reversos dos produtos após o seu fim de vida, organizando a coleta, o desmanche e reciclagem ou reuso dos componentes. Produtos como automóveis, eletrodomésticos em geral, mobiliário, baterias elétricas de toda natureza, pneus, listas telefônicas, óleos lubrificantes, etc.. Vários sistemas são utilizados pela rede de distribuição direta dos produtos no sentido de incentivar estes canais, desde o depósito monetário obrigatório na compra do bem, como forma de garantir a devolução após uso, como taxas monetárias para fundos de pesquisa de reciclagem acrescidas ao preço de venda do produto, entre outros. No caso específico dos plásticos, uma série de legislações foram emanadas no país relativas à redução de peso de embalagens, número mínimo de reutilização das embalagens, embalagens com conteúdo crescente de reciclados, chegando até a 50% em 2002, taxas de reciclagem mínimas de 50%, etc..

O aproveitamento de sinergias logísticas na montagem dos canais reversos geram associações entre empresas compartilhando etapas reversas, parcerias com empresas especializadas em logística de distribuição direta para a conversão dos sistemas em reversos, entre outras. Criam-se nestes setores as condições de Supply Chain Reverso, algumas vezes por iniciativa das próprias empresas como forma de responsabilidade ambiental. São bons exemplos de montagem de Supply Chain Reverso, por conta própria ou por terceirização dos serviços, os da empresa Xerox, no caso das copiadoras, da empresa de medicamentos Bristol-Myers Squibb, dos produtos da Helewtt Packard, de empresas automobilísticas. Legislações sobre o Mercado As legislações sobre coleta e disposição final neste país apresentaram resultados tão expressivos que o aumento da oferta de produtos descartáveis superou substancialmente a demanda para os mesmos, o que provocou momentaneamente desequilíbrios nos preços destes materiais e dificuldades conseqüentes no mercado em geral. Para compensar este desequilíbrio de oferta houve necessidade de legislações de incentivo ao uso de reciclados como leis sobre produtos com certo conteúdo de reciclados, governos incentivando as compras destes produtos, etc.. As leis de conteúdo de reciclado dispõem sobre um certo mínimo destes no produto final e estão presentes em grande parte dos estados americanos, principalmente no caso do papel de imprensa e em menor escala para as sacolas de plásticos, vasilhames de plásticos e de vidro, listas telefônicas. O caso do papel de imprensa nos Estados Unidos é interessante, pois com a legislação de aumento do conteúdo do papel reciclado nos jornais americanos houve um enorme crescimento da rede de fábricas especializadas na eliminação de tintas de papéis de pós consumo para a reciclagem dos mesmos. Quando foram promulgadas as primeiras leis nos estados de Connecticut e Califórnia, em 1989, haviam 9 fábricas especializadas neste tipo de operação, e no ano de 1992 este número havia crescido para 27 fábricas e com projetos de mais 12 novas fábricas em curso naquele ano. O uso indiscriminado de etiquetas ambientais nos produtos foi muito utilizado no inicio dos anos 70 causando uma certa dificuldade para o consumidor final distinguir verdades e falsas mensagens mercadológicas na época. Vários organismos americanos como EPA ( Environment Protectio Agency), FTC ( Federal Trade Commission), alguns estados e organizações ambientalistas, procuram definir padrões e termos como reciclável, reutilizável, ambientalmente correto, degradável, com conteúdo reciclado, etc., de forma a melhor orientar o mercado. Parece que atualmente o mais bem aceito guia ambiental, com normas sobre uso da publicidade ambiental, é o da FTC (Federal Trade Commission). Europa Ocidental Contrariamente aos Estados Unidos, onde o ônus sobre os programas de coleta seletiva e seleção dos materiais coube aos governos locais, pelo menos nos casos de coletas seletivas do lixo, subsidiados por incentivos federais, na Europa Ocidental estes programas e toda a legislação sobre resíduos sólidos impõe o ônus da criação e organização dos canais de distribuição reversos, diretamente aos

fabricantes dos produtos, conforme se constatará em alguns exemplos destas legislações, selecionados em alguns países, apresentados a seguir. Alemanha Após a reunificação da Alemanha Ocidental e Oriental, constatouse que grande parte dos resíduos sólidos, perigosos ou não, anteriormente enviados para serem tratados na Alemanha Oriental encontravam-se em aterros sem nenhum tratamento. Em conseqüência foram promulgadas uma série de leis, inicialmente visando a reciclagem de embalagens e posteriormente aos produtos duráveis. As legislações sobre embalagens, por exemplo, obedeceram a um programa de progressivos objetivos de forma a dar tempo aos agentes de organizarem os respectivos canais reversos. Inicialmente, a partir de 1991, as leis sobre embalagens envolviam a responsabilidade de fabricantes e varejistas pela reciclagem das embalagens de transporte dos bens em geral, em 1992 a obrigatoriedade de reciclagem de embalagens secundárias, resumidamente aquelas que envolvem as embalagens primárias ou de contenção dos produtos, e em 1993 a obrigatoriedade de embalagens primárias em geral. Em função destas novas condições, cerca de 400 grandes empresas nacionais e multinacionais tais como Coca Cola, Pepsi Cola, Nestlé, Unilever, Wilkinson Sword, entre outras, formaram em 1992 uma empresa de coleta seletiva, de capital privado, com objetivos de reciclar até 80% de embalagens até 1993, iniciando sistemas de parcerias em um novo Supply Chain Reverso destes materiais. O grande varejista alemão Tengelmann forma parceria com a empresa de embalagem Scholler para desenvolvimento de embalagens retornáveis com duração mínima de 10 anos. No caso de automóveis, este país associa-se com a França e Holanda para definir sistemas de reciclagem passando a responsabilidade de governos para as companhias automobilísticas destes países a partir de 1996. até o ano 2000. Inglaterra Legislação sobre índices de reciclagem de descartáveis de 50% Países Escandinavos A legislação sobre resíduos sólidos está principalmente ligada à redução de embalagens descartáveis de bebidas em geral, através de proibição direta de sua comercialização ou através de taxas sobre os descartáveis. Comunidade Européia Visando harmonizar as diversas legislações nos países da comunidade foi publicado em 1992 o New Approach Standard para reutilização e reciclagem, principalmente voltado para embalagens, adotando um nível objetivo de reciclagem de 60%, níveis de captura de resíduos sólidos de 90%, etiquetas ecológicas, regras de incineração e outras. Japão Considerado um dos líderes em reciclagem de todas as naturezas, este país não apresenta um nível de intervenção governamental importante, mas uma cultura de escassez natural conduziu o país a altas taxas de reciclagem, com média de mais de 60% na maioria dos materiais recicláveis como embalagens, papéis, baterias, etc..