A CAIXINHA EMPRESARIAL PARA FINANCIAR A REPRESSÃO POLÍTICA. A PARTICIPAÇÃO DO CONSULADO DOS EUA Existem muitas denúncias de COMO funcionou a organização da coleta empresarial de recursos para financiar a repressão política. Baseados no consistente trabalho de Elio Gaspari, A DITADURA ESCANCARADA, propomos que sejam ouvidos pela Comissão da Verdade aqueles apontados como organizadores, a começar pelo economista Delfim Netto, ex-ministro nos Governos Militares. A seguir citamos trecho do livro: A reestruturação da PE (Policia do Exército) paulista e a Operação Bandeirante foram socorridas por uma caixinha a que compareceu o empresariado paulista. A bancada achegou-se no segundo semestre de 1969, reunida com Delfim num almoço no palacete do clube São Paulo, velha casa de Veridiana Prado. O encontro foi organizado por Gastão Vidigal, dono do Mercantil de São Paulo e uma espécie de paradigma do gênero. Sentaram-se à mesa cerca de quinze pessoas. Representavam os grandes bancos brasileiros. Delfim explicou que as Forças Armadas não tinham equipamentos nem verba para enfrentar a subversão. Precisavam de bastante dinheiro. Vidigal fixou a contribuição em algo como 500 mil cruzeiros da época, equivalente a 110 mil dólares. Para evitar pechinchas, passou a palavra aos colegas, lembrando que cobria qualquer diferença. Não foi necessário. Sacou parte semelhantes à dos demais1. Dei dinheiro para combater ao terrorismo. Éramos nós ou eles, argumentaria Vidigal, anos mais tarde2. Na Federação das Indústrias de São Paulo, convidaram-se empresários para reuniões em cujo término se passava o quepe. A Ford e a Volkswagen forneciam carros, a Ultragás emprestava caminhões, 1 2 Gastão Vidigal, novembro de 1995. Vidigal mencionou a cifra ( 500 milhões ), mas não se mostrou seguro a seu respeito. Lembrava-se, contudo, que era muito dinheiro. Declaração feita por Gastão Vidigal ao jornalista Silvio Ferraz em 1981.
e a Supergel abastecia a carceragem da rua Tutóia com refeição congelada.3 Segundo Paulo Egydio Martins, que em 1974 assumiria o governo de São Paulo, àquela época, levando-se em conta o clima, pode-se afirmar que todos os grandes grupos comerciais e industriais do Estado contribuíram para o início da Oban.4 Os donativos eram levados ao general Ayrosa.5 As empresas nacionais pagavam de acordo com a vontade de seus diretores. Já as multinacionais americanas procuravam conselhos no consulado dos Estados Unidos. Se a consulta era telefônica, o funcionário encarregado do assunto respondia que ficava a critério de cada um, mas pelo menos um homem de negócios recebeu uma visita complementar de um funcionário do consulado que, satisfeito, enumerou as empresas que já haviam decidido ajudar o combate à subversão.6 A Ditadura Escancarada. Elio Gaspari. - São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 62 63 3 4 5 6 Para os carros da Ford e da Volkswagen, entrevista do ex-sargento Marival Chaves Dias do Canto ao Jornal do Brasil de 17 de novembro de 1970. Para as refeições da Supergel, Francisco Carlos de Andrade, 14 de agosto de 1988. Paulo Egydio Martins, junho de 1988. Paulo Sawaya, janeiro de 1990. A.J. Langguth, A face oculta do terror, p.108
A Cobrasma em 1965 pede informações de funcionários ao DOPS e apresenta seu chefe de segurança
Ficha de registro de empregado enviado pela Tecnoforjas ao DOPS como grevista/agitador
Lista negra dos metalúrgicos do ABC. As informações foram fornecidas pelas empresas (endereço residencial, ocupação e setor)
Ficha de registro de empregado enviado pela Monark ao DOPS como grevista/agitador
O Projeto Memória da OSM-SP apoia o Grupo de Trabalho - 13 Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade. Acompanhe o blog do GT-13 TRABALHADORESGTCNV.ORG.BR Acompanhe a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo RUBENS PAIVA www.comissaodaverdade.org.br Todos os documentos escritos contidos nesse caderno foram recolhidos no fundo DEOPS-SP do Arquivo Público do Estado de São Paulo e as fotografias pertencem ao Projeto Memória da OSM-SP.