Natural Resources, Aquidabã, v.1, n.1, fevereiro, 2011. ISSN 2237 9290



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Transcrição:

Natural Resources, Aquidabã, v.1, n.1, fevereiro, 2011. RESUMO QUALIDADE SANITÁRIA DE SEMENTES DE LEUCAENA LEUCOCEPHALA (LAM.) DE WIT ARMAZENADAS EM CÂMARA FRIA O objetivo deste trabalho foi identificar a micobiota associada às sementes de leucena armazenadas por 2, 28 e 48 meses e avaliar a transmissão e a potencialidade dessa micobiota em causar doenças nas plântulas. Para identificação da micobiota utilizou-se o teste Blotter, com um lote de 400 sementes dividido em duas amostras, com e sem superficial. No teste de transmissão foram semeadas 100 sementes em caixas de polietileno contendo vermiculita autoclavada e os sintomas avaliados diariamente após o quarto dia de emergência. A colonização latente foi realizada com cortes das plântulas assintomáticas do teste de transmissão, desinfestadas, tratadas com Paraquat e cultivadas em BSArb (batata-sacarose-ágar + rosa bengala); foi observado o crescimento fúngico após o tratamento. No teste de sanidade foram detectados os fungos Arpergillus e Penicillium em todos lotes de sementes. As sementes armazenadas por 2 meses apresentaram maior diversidade de fungos, com a ocorrência de Fusarium, Pestalotiopsis, Acrophialophora e Curvularia. Não foi verificada transmissão dos fungos detectados para as plântulas. Na colonização latente em plântulas provenientes de sementes armazenadas por 2 meses houve maior diversidade de fungos. ISSN 2237 9290 SEÇÃO: Artigos TEMA: Produção Florestal DOI: 10.6008/ESS2237 9290.2011.001.0002 Sandra Santos MENDES http://lattes.cnpq.br/4224578594361396 ssmbio@yahoo.com.br João Basílio MESQUITA http://lattes.cnpq.br/6511928747683924 basilio@ufs.br Regina Helena MARINO http://lattes.cnpq.br/4733224098116941 rehmarino@hotmail.com PALAVRAS-CHAVE: Transmissão; Colonização latente; Patologia de sementes. SANITARY QUALITY OF SEEDS OF LEUCAENA LEUCOCEPHALA (LAM.) OF WIT STORED FOR IN COLD Recebido: 17/02/2009 Aprovado: 19/08/2009 ABSTRACT The work was carried out to know the mycobiota associated to seeds of leucaena storage for three different times (2, 28 and 48 months), and to evaluate the infection as well the potentiality of fungi to cause deceases on seedlings. In case of not infection it was used latent colonization test taking sections of live tissues. In sanity test it was used 400 seeds divided in two samples (with disinfection and without disinfection). The seeds were disposed in gerbox on sterile paper sheets moisture with sterile water added 200ppm streptomycin sulfate. In infection test 100 seeds were distribute on gerbox with vermiculite sterile. The evaluations were carried out daily after the fourth day of emergence focus in symptoms. For the sanity test the Aspergillus and Penicillium genus were detected in two storage seed batches. There was the major diversity of fungi genus on seeds storage for two months, with occurrence of Fusarium, Pestalotiopsis, Acrophialophora and Curvularia. In the patogenicity test it wasn t observed any fungi able to infect the seedlings. For colonization test it was observed in plants with provenance from seeds storage for two months major diversity of fungi genus. KEYWORDS: Transmition; Latent colonization; Sanity test. Publicado Originalmente: MENDES, S. S.; MESQUITA, J. B.; MARINO, R. H.. Qualidade sanitária de sementes de Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit armazenadas em câmara fria. Acta Forestalis, Aracaju, v.1, n.1, p.19 28, 2009. Referenciar assim: MENDES, S. S.; MESQUITA, J. B.; MARINO, R. H.. Qualidade sanitária de sementes de Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit armazenadas em câmara fria. Natural Resources, Aquidabã, v.1, n.1, p.15 22, 2011.

MENDES, S. S.; MESQUITA, J. B.; MARINO, R. H. INTRODUÇÃO A leucena [Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit] é uma leguminosa exótica, originária do México, encontrada em toda a região tropical; ela se mantém verde na estação seca, perdendo somente os folíolos em secas muito prolongadas ou com geadas fortes; esta planta apresenta características múltiplas de utilização, com destaque para o reflorestamento de áreas degradadas, alimentação animal e adubação verde (PRATES et al., 2000). A utilização de leguminosas arbustivas ou arbóreas como a leucena em áreas isoladas ou em consórcio com gramíneas tem se mostrado viável para preservar características importantes do solo. Esta espécie possui a capacidade de manter-se verde, mesmo durante a maior parte da época seca, por apresentar sistema radicular profundo, que propicia a reciclagem dos nutrientes do subsolo além de proporcionar absorção de água das camadas profundas do solo. Outras vantagens, tais como habilidade para crescer em solos de baixa fertilidade, rápida dispersão, ciclo longo, alto valor alimentício e excelente aceitabilidade pelos animais, mesmo no início da fase vegetativa, fazem da leucena uma espécie com potencial para uso em agroecossistemas (LIMA; EVANGELISTA, 2006). Na Região Semi-Árida do Nordeste brasileiro, onde existem limitações para a agricultura dependente de chuva, o desenvolvimento e o manejo dessa espécie vão ao encontro dos interesses do setor agrícola, no qual os benefícios oferecidos são maiores que os riscos de se tornar invasora, contribuindo significativamente para o aumento da produção de lenha e forragem para os animais (KILL; MENEZES, 2005). No Estado de Sergipe, a leucena apresenta ampla distribuição, com potencial de utilização em pequenas propriedades rurais graças ao seu rápido crescimento e aos usos múltiplos como forragem, lenha, celulose, madeira e fertilizante. A sanidade da semente refere-se, primariamente, à presença ou ausência de agentes patogênicos, tais como fungos, bactérias, vírus e nematóides. Entretanto, pode também estar relacionada a anomalias decorrentes de alterações nutricionais e condições climáticas adversas, ocorridas no campo, no processamento ou no armazenamento (BRASIL, 1996). No Brasil, os poucos trabalhos publicados têm apenas relacionado os microrganismos que ocorrem nas sementes de espécies florestais, sem avaliar, contudo, os seus efeitos sobre a germinação e desenvolvimento das plantas. Para a obtenção de uma boa muda é necessário o controle da qualidade sanitária das sementes utilizadas, pois estas poderão servir de veículo de propagação e disseminação de patógenos capazes de dizimar plantações inteiras de agroecossistemas. Outro fator que pode influenciar a produção de mudas é a qualidade fisiológica da semente. A germinação e o vigor são os principais fatores que podem garantir a produção de uma muda de boa qualidade. A avaliação correta desses fatores é imprescindível para se estimar o potencial de desempenho das sementes no campo (VIEIRA; CARVALHO, 1994). Natural Resources v.1 n.1 Fevereiro de 2011 Página 16

Qualidade sanitária de sementes de Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit armazenadas em câmara fria Desta forma, julga-se de extrema importância o fato de que os danos decorrentes da associação de patógenos e a baixa qualidade fisiológica das sementes, não se limitem apenas a perdas diretas de populações de plantas no campo, mas influenciem também em uma série de outras implicações que, de forma mais acentuada, podem levar a danos irreparáveis a todo o agroecossistema (MACHADO, 1988). De acordo com a concepção do manejo de doenças de plantas, dentre as inúmeras medidas que podem ser empregadas pelo agricultor, o uso de sementes sadias ou com qualidade sanitária, dentro de padrões pré-estabelecidos, é de grande importância para garantir a sustentabilidade do agroecossistema. Sabendo-se que as informações sobre sementes florestais são bastante restritas e que o uso de mudas para diversos fins depende sobremaneira da qualidade sanitária e fisiológica dessas sementes, o presente trabalho teve por objetivo conhecer a micobiota associada às sementes de leucena (Leucaena leucocephala Lam.); verificar se essa micobiota é capaz de ser transmitida e sua potencialidade em causar danos às sementes. MATERIAIS E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos na Clínica Fitossanitária da Universidade Federal de Sergipe. As sementes foram coletadas no Campus da Universidade Federal de Sergipe, no verão (dezembro/2001), no inverno (agosto/2003) e na primavera (outubro/2005) e armazenadas, respectivamente, por 48, 28 e 2 meses em câmara fria a 11ºC e a 40% de umidade, embaladas em sacos de papel, até a sua utilização. Levantamento da micobiota associada às sementes de Leucena Para o levantamento da micobiota associada às sementes de leucena, utilizou-se o teste de blotter (DHINGRA; SINCLAIR, 1995). Foram utilizadas duas amostras compostas de 200 sementes de cada lote. A primeira foi desinfestada com solução de hipoclorito de sódio (NaClO) a 1% por 3 minutos e, posteriormente, imersa por duas vezes em água destilada autoclavada. Foram distribuídas 20 sementes em caixas plásticas transparentes tipo Gerbox, em condições assépticas. Cada gerbox foi previamente desinfestado com solução de álcool a 70%, forrado com 3 folhas de papel filtro autoclavadas e pré-umidecidas com água destilada autoclavada contendo 200 ppm de sulfato de estreptomicina. Foram realizadas 10 repetições. A amostra de sementes sem foi apenas imersa em água destilada autoclavada por 3 minutos, sendo este procedimento repetido por mais duas vezes. Após a imersão em água as sementes foram distribuídas nas caixas, como na primeira amostra. Após oito dias de incubação à temperatura ambiente (28 ± 2 C), sob o fotoperíodo de 12 horas, as sementes foram observadas individualmente ao microscópio estereoscópico para Natural Resources v.1 n.1 Fevereiro de 2011 Página 17

MENDES, S. S.; MESQUITA, J. B.; MARINO, R. H. identificação da presença ou ausência de fungos associados às sementes. O exame morfológico dos fungos foi feito ao microscópio de luz, quando necessário, para a observação de detalhes morfológicos, comparando-os com informações disponíveis na literatura (BARNETT, HUNTER, 1986; ELLIS, 1971; SUTTON, 1980). Transmissão dos fungos associados às sementes Duzentas sementes de cada lote foram semeadas em caixas de Gerbox (10 x 30 x 60 cm) contendo vermiculita autoclavada. Após a semeadura, as caixas foram colocadas em bancadas à temperatura ambiente (28 ± 2 C) e umedecidas regularmente até a avaliação. Para avaliar a transmissão dos fungos nas sementes, as plântulas foram observadas diariamente por um período de trinta dias a partir do quarto dia de emergência. As plântulas que apresentaram sintomas foram isoladas em placas de Petri contendo BSA (batata-sacarose-ágar) para a identificação do agente causal do sintoma. Colonização latente de fungos em plântulas de Leucena As plântulas que não apresentaram sintomas no teste de transmissão, após quarenta dias de emergência foram avaliadas pela técnica do paraquat, segundo a metodologia descrita por Cerkausas e Sinclair (1980) e modificada para a verificação quanto à colonização latente por fungos capazes de permanecer no tecido vivo sem causar danos (fungos oportunistas). Para tanto, as plântulas foram retiradas da vermiculita e lavadas com água corrente para a eliminação dos resíduos. Em seguida, fragmentos de aproximadamente 0,5 cm de comprimento foram retirados dos caules e tratadas com hipoclorito de sódio a 1% por 1 minuto e lavadas com água destilada autoclavada. Os fragmentos foram tratados com solução de Paraquat na proporção de 1:40 (1mL de paraquat em 40mL de água destilada autoclavada) por 1 minuto e acondicionadas em placas de Petri contendo meio BSA + 50 mg/l de rosa bengala + 200 ppm de sulfato de estreptominicina e incubadas por 10 dias à temperatura ambiente sob fotoperíodo de 12 horas para a verificação quanto à colonização latente. RESULTADOS E DISCUSSÕES Levantamento da micobiota associada às sementes de Leucena. De acordo com os resultados obtidos no teste de sanidade nos diferentes lotes de sementes, verificou-se que os gêneros fúngicos Aspergillus e Penicilium foram detectados em todos os lotes testados, porém em porcentagens diferentes (Tabela 1). O lote armazenado por 28 meses apresentou a menor porcentagem de Aspergillus niger tanto nas sementes com Natural Resources v.1 n.1 Fevereiro de 2011 Página 18

Qualidade sanitária de sementes de Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit armazenadas em câmara fria (1%) como sem (5%) em relação às sementes armazenadas por 48 e 2 meses, coletados no verão e na primavera. Isso pode ter ocorrido devido a qualidade sanitária das sementes que pode ter sido modificada de acordo com as condições ambientais na ocasião da colheita e de armazenamento. Estes gêneros fúngicos estão associados à deterioração de sementes e já foram relatados em associação com outras espécies florestais (MARTINS, 1991; MEDEIROS ET AL., 1996). Tabela 1. Freqüência (%) de fungos detectados no teste de sanidade das sementes de Leucaena leucocephala (Lam.) armazenadas por 2, 28 e 48 meses. 1 Fungos Com Tempo de armazenamento 2 meses 28 meses 48 meses Sem Com Sem Com Sem Aspergillus niger 12,5 20,0 1,0 5,0 1,0 23,5 Penicillium sp. 5,0 10,0 1,0 26,0 3,5 12,5 Fusarium sp. 8,5 6,5 - - - - Pestalotiopsis sp. - 1,0 - - - - Curvularia sp. - 2,0 - - - - Para todos os lotes testados, pode-se observar que houve uma diminuição na porcentagem de Aspergillus niger (variação de 1 a 23,5%) nas sementes que passaram pela superficial. Pode-se inferir que este método de foi suficiente para reduzir a incidência desse fungo, que provavelmente se encontrava em maior proporção superficialmente em tecido tegumentar, o mesmo ocorreu com as porcentagens de Penicillium sp (Tabela 1). A maior e a menor porcentagem de Penicillium sp. foram detectadas em sementes armazenadas por 28 meses (26 e 1%). Provavelmente esta ocorrência se deu devido ao fato de estas sementes apresentarem os maiores valores de umidade, uma vez que foram coletadas durante o período chuvoso (inverno) proporcionando um ambiente favorável à permanência deste gênero no tecido tegumentar das mesmas (MENDES, 2006). De acordo com os resultados obtidos por Faiad et al. (1995), os fungos Aspergillus niger e Penicillium spp tiveram uma ocorrência de 100% em sementes de Spondias tuberosas não tratadas, sem apresentar sintomas de podridão. Segundo os autores, a presença desses fungos contribuiu para o decréscimo do poder germinativo dessas sementes, já que as tratadas com fungicidas tiveram maiores porcentagens de germinação. Estes autores afirmaram ainda que a contaminação de sementes por fungos saprófitas e de armazenamento ficou bastante evidenciada porque houve uma redistribuição dos fungos entre as sementes durante o período em que estiveram secando sob condições de temperatura e de umidade favoráveis, tal como observado nas sementes coletadas durante o período chuvoso e armazenadas por 28 meses. 1 Table 1. Frequency (%) of fungi found in the test of sanity seeds of Leucaena leucocephala (Lam) stored for 2, 28 and 48 months. Natural Resources v.1 n.1 Fevereiro de 2011 Página 19

MENDES, S. S.; MESQUITA, J. B.; MARINO, R. H. A ocorrência dos fungos Aspergillus, Penicilium, Rhizopus e Trichoderma são comuns em sementes florestais, transportados diretamente do local de colheita para o laboratório (PIÑA- RODRIGUES, VIEIRA, 1988). Já os fungos como Chaetomium, Trichoderma, Penicillium, Aspergillus e Rhizopus são associados à deterioração das sementes e sua ação é dependente das condições físicas e fisiológicas das mesmas, por ocasião do início da armazenagem, e dos fatores ambientais predominantes no decorrer desse período (FILHO et al., 2004). Dentre os gêneros potencialmente patogênicos, principalmente para espécies florestais, Fusarium, Pestalotiopsis e Curvularia foram detectados apenas no lote de sementes armazenado por 2 meses. Segundo Link e Costa (1982) e Carneiro (1990), os fungos Curvularia e Fusarium foram observados em sementes de coníferas e de outras espécies florestais no período da germinação, destruindo-as (tombamento de pré-emergência) ou destruindo as sementes recém emergidas (tombamento de pós-emergência). Neste trabalho, a presença desses gêneros potencialmente patogênicos não interferiu na germinação das sementes de Leucena, porém ficaram latentes nas plântulas como será discutido no próximo item. Transmissão e colonização latente dos fungos associados às sementes Não foi detectada transmissão de fungos pela semente nas plântulas. As plântulas provenientes de sementes com 02 meses de armazenamento apresentaram as maiores porcentagens dos gêneros fúngicos Penicillium, Aspergillus, Curvularia, Fusarium, Nigrospora, Colletotrichum no teste de colonização latente (Tabela 2). Tabela 2. Freqüência (%) de gêneros fúngicos encontrados no teste de colonização quiescente nas sementes de (Leucaena leucocephala Lam.) armazenadas por 2, 28 e 48 meses. 2 Fungos Tempo de armazenamento (em meses) 2 28 48 Penicillium 2,0 - - Aspergillus niger - 2,0 4,0 Curvularia 2,0 11,0 - Fusaruim 22,0 2,0 - Nigrospora - 8,0 - Colletotrichum 24,0 - - Para o lote de sementes armazenadas por 48 meses a porcentagem de fungos encontrada nas plantas foi menor que nos demais lotes de sementes (Tabela 2), provavelmente devido à redução da longevidade dos fungos nas sementes com o aumento do período de armazenamento em câmara fria. Nas plantas dos lotes de sementes armazenadas por 2 e 28 meses observou-se a presença de Fusarium no teste de colonização latente (22 e 2%), sem a presença de sintomas de necroses ou lesões nas plântulas (Tabela 2). Segundo Rodrigues e Menezes (2002), o contrário 2 Table 2. Frequency (%) of fungal genera found in the test of colonization in the seeds of quiescent (Leucaena leucocephala Lam) stored for 2, 28 and 48 months. Natural Resources v.1 n.1 Fevereiro de 2011 Página 20

Qualidade sanitária de sementes de Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit armazenadas em câmara fria foi observado em sementes de caupi (Vigna unguiculata), em que as espécies de Fusarium relatadas causaram inibição na germinação de algumas sementes, e mesmo as que germinaram apresentaram crescimento do fungo sobre cotilédones e folhas primárias, além de necrose na radícula. Também foi observado a ocorrência de Colletotrichum, entretanto, sua presença também não foi capaz de causar nenhum sintoma nas plântulas. CONCLUSÕES Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Pestalotiopsis e Curvularia foram detectados associados a sementes de leucena (Leucaena leucocephala Lam.), quando armazenadas por 02, 28 e 48 meses. Os gêneros Aspergillus, Penicillium, Nigrospora, Colletotrichum e Fusarium colonizaram tecidos vivos de plântulas de leucena, mas não causaram sintomas de doenças e não influenciaram na germinação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARNETT, H. L.; HUNTER, B. B.. Ilustrated genera of imperfect fungi. London: Mcmillan, 1986. 218p. BRASIL. Regras Para Análise de Sementes. Brasília: Ministério da Agricultura. Departamento Nacional de Produção Vegetal, 1996. 445p. CARNEIRO, J. S.. Qualidade sanitária de sementes de espécies florestais em Paropeba-MG. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.15, n.1, p.75-7. 1990. CERKAUSKAS, R. F.; SINCLAIR, J. B.. Use of paraquat to aid detection of fungi in soybean tissues. Phytopathology, St. Paul, v.70, n.11, p.1036-8, 1980. DHINGRA, O. D.; SINCLAIR, J. B.. Basic plant pathology methods. Boca Raton: CRC Press, 1995. 434p. ELLIS, M. B.. Dematiaceous Hyphomycetes. England: C.M.I. 1971. 608p. FAIAD, M. G. F.; SALOMÃO, A. N.; PADILHA, L. S.. Levantamento de população fúngica associada às sementes de Spondias tuberosa Anacardiaceae esua redução através de tratamentos fungicidas. Summa Phytopatologica, Piracicaba, v.21, n.3/4, p.248, 1995. FILHO, R. R. R.; SANTOS, A. F.; MEDEIROS, A. C. S.; FILHO, D. S. J.. Fungos associados às sementes de cedro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 30, n.4, 2004. KILL, L. H. P.; MENEZES, E. A.. Espécies vegetais exóticas com potencialidades para o Semi Árido Brasileiro. Brasília: EMBRAPA Semi-Árido. Brasília. 2005. 340p. LIMA, J. A.; EVANGELISTA, A. R.. Leucena (Leucena leucocephala). Boletim de extensão. UFLA. 2006. Disponível em http://editora.ufla.br/boletim/pdfextensao/bol_64.pdf. Acesso em 30 jan 2006. LINK, O.; COSTA, E. C.. Alguns problemas fitossanitários em viveiros de essências florestais no Rio Grande do Sul. In: SEMINÁRIO SOBRE ATUALIDADES E PERSPECTIVAS FLORESTAIS, 6, 1982, Curitiba, Anais. Curitiba, EMBRAPA, 1982. MACHADO, J. C.. Patologia de sementes: fundamentos e aplicações. Brasília: MEC/ESAL/FAEPE, 1988. 106p. Natural Resources v.1 n.1 Fevereiro de 2011 Página 21

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