ATA DE JULGAMENTO DE RECURSO PREGÃO ELETRÔNICO AA Nº 11/2011 Aos 29 dias do mês de julho de 2011, reuniram-se a Pregoeira e os integrantes da Equipe Técnica de Apoio para análise das razões de recurso apresentadas, no âmbito do Pregão Eletrônico supramencionado, em 18/07/2011, pelo Licitante TOUR HOUSE VIAGENS E TURISMO LTDA., em face das decisões proferidas na Sessão Pública do referido certame que desclassificou sua proposta e, posteriormente, declarou vencedora a sociedade BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA. I. HISTÓRICO Por intermédio da IP AA/DEPAD nº 12/2011, aprovada em 1º/03/2011, pela Decisão de Diretoria nº Dir 194/2011 BNDES, pela Decisão de Diretoria nº Dir 17/2011 BNDESPAR, e pelo Ato nº 483/2011 - FINAME, foi autorizada a realização de Licitação cujo objeto é a contratação de empresa de gerenciamento de viagens (Travel Management Company TMC) para prestação de serviços de viagens executados por meio de ferramenta on line de autoagendamento (self-booking) para atender às necessidades das empresas do Sistema BNDES (BNDES, BNDESPAR e FINAME). Após a definição da modalidade Pregão, e da forma Eletrônica, foi divulgado o certame pelos meios de praxe e agendada a Sessão Pública Inaugural para o dia 05/04/2010 às 10h30, no portal Comprasnet. Na data designada, compareceram 22 (vinte e dois) Licitantes, tendo sido todos classificados para a fase de lances. Finda a etapa de lances, sagrou-se como melhor proposta a ofertada pelo Licitante ITS VIAGENS E TURISMO LTDA - EPP., pelo valor unitário da taxa de transação de R$ 7,77 (sete reais e setenta e sete centavos). Apresentada a documentação constante do subitem 4.13 do Edital, a sessão pública foi suspensa pela Pregoeira para análise da Equipe Técnica de Apoio ao Pregoeiro, sendo reaberta no mesmo dia, 05/04, às 15h. A Equipe Técnica, considerando o valor atualmente pago pelo BNDES para o serviço de gerenciamento de viagens e a pesquisa de mercado realizada para essa licitação, entendeu pela necessidade de demonstração da exequibilidade da proposta da licitante recorrente, através de planilha de decomposição de custos.
Desse modo, concedido à licitante o prazo de 24h para envio da referida planilha, até a reabertura da sessão pública do pregão em 06/04/2011, não tinha sido apresentada qualquer documentação, de modo que a Pregoeira procedeu à desclassificação da licitante ITS VIAGENS E TURISMO LTDA - EPP. do certame, pelo descumprimento ao item 4.5, II do Edital. Em seguida, foi convocado o próximo licitante em ordem de classificação, qual seja, EUREXPRESS TRAVEL VIAGENS E TURISMO LTDA, que após o envio da documentação constante do subitem 4.13 do Edital, foi também comunicado da necessidade de comprovação da exequibilidade de sua proposta, no mesmo prazo de 24h. Foi reaberta a sessão pública em 14/04/2011 para divulgação da avaliação feita pela Equipe, que concluiu pela inexequibilidade da proposta da licitante Eurexpress. Com a desclassificação da licitante Eurexpress, no dia 18/04/2011 foi convocada a próxima classificada para apresentação da documentação constante do subitem 4.13 do Edital, INTERLINE BAHIA VIAGENS E TURISMO LTDA-ME. Constatando que o licitante constava como não logado no sistema, a Pregoeira concedeu prazo para manifestação. Não tendo encaminhado qualquer resposta, nem documentação, a licitante teve sua proposta recusada no sistema. Ato contínuo, foi convocada a próxima licitante, BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA., que, depois de apresentar a documentação exigida, foi convocada a comprovar a exequibilidade de sua proposta, ofertada no valor de R$ 12,58, pelo mesmo prazo de 24h. A sessão foi reaberta no dia seguinte, 19/04/2011. A Pregoeira informou aos licitantes a apresentação da planilha dentro do prazo concedido, e diante da necessidade de análise pela Equipe Técnica, a sessão foi suspensa e reaberta no dia 26/04/2011. Não tendo sido concluída a análise a tempo, a sessão foi adiada para o dia 28/04/2011. Naquela data, a Pregoeira informou aos licitantes o resultado da análise da Equipe Técnica, que entendeu pela exequibilidade da proposta. Dessa forma, consoante o disposto no subitem 4.15 do Edital, a sessão foi suspensa para realização da fase de testes, cuja sessão pública se realizou em 04/07/2011. A sessão pública do pregão foi reaberta no comprasnet em 14/07/2011, com a divulgação da aprovação da licitante na fase de testes. Assim, aceita sua proposta, no valor de R$ 12,58, procedeu-se à sua habilitação, após a apresentação regular da documentação constante do subitem 4.16 do Edital. Os licitantes TOUR HOUSE VIAGENS E TURISMO LTDA. e ITS VIAGENS E TURISMO LTDA - EPP. manifestaram, tempestivamente, a intenção de apresentar razões de recurso, tendo apresentado-as no prazo previsto.
A BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA. apresentou contrarrazões no prazo legal. II. RAZÕES RECURSAIS A recorrente requer a inabilitação da licitante BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA, alegando, em síntese, que: a) A BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA infringiu o Edital ao apresentar documentação de habilitação ora usando o CNPJ da matriz, ora usando o CNPJ da filial, devendo ter apresentado toda a documentação pelo CNPJ da matriz, por meio do qual a empresa se cadastrou no comprasnet; b) O SICAF está vencido em 30/06/2011 no tocante à qualificação econômico-financeira (balanço patrimonial), não tendo a recorrida apresentado documento válido para sua regularização; c) A declaração correspondente ao subitem 4.16.5, II do Edital foi firmada por representante da recorrida que não possuía poderes para assinar pela matriz, apenas pela filial. III. CONTRARRAZÕES RECURSAIS Em suas contrarrazões recursais, o Licitante BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA. rebate as questões trazidas pelo Licitante TOUR HOUSE VIAGENS E TURISMO LTDA., em seu recurso, alegando, em breve síntese, que: a) O Edital não apresenta previsão restritiva para apresentação de atestados de capacidade técnica e demais documentos de qualificação técnica, tendo sido demonstrada a capacidade técnica do licitante, pouco importando se o foi no CNPJ da matriz ou filial, haja vista se tratar da mesma pessoa jurídica; b) A procuração apresentada pela recorrida contém dois poderes distintos, quais sejam: gestão da filial do Rio de Janeiro e participação em licitação, sendo que o segundo autoriza a procuradora a firmar documentos em nome da Matriz no tocante a procedimentos licitatórios; c) O balanço patrimonial juntado pela recorrida busca apenas comprovar o cumprimento quanto aos requisitos consubstanciados no subitem 4.16.4 do Edital, qual seja, de patrimônio líquido mínimo, não havendo, no Edital, requisito restritivo no tocante a forma como o aludido documento deve ser apresentado. Ademais, o referido balanço está em conformidade com o Decreto nº 6.022/2007, que instituiu o Sistema Público de Escrituração Digital SPED.
Ao final, pugna pela manutenção integral da decisão da Pregoeira que habilitou e declarou vencedora a recorrida, devendo ser desprovido totalmente o recurso apresentado pela TOUR HOUSE VIAGENS E TURISMO LTDA. IV. ANÁLISE DAS RAZÕES RECURSAIS Quanto ao primeiro argumento acerca da infringência ao Edital diante da apresentação de documentos de habilitação ora pelo CNPJ da matriz, ora pelo CNPJ da filial, insta ressaltar que foi comprovada a habilitação da licitante, posto que a pessoa jurídica se mostrou apta ao desempenho do objeto da licitação. No âmbito de sua capacidade organizacional, a empresa que é constituída por mais de um estabelecimento, pode, para fins tributários, passar a receber um CNPJ próprio, mas seqüencial ao da matriz, para faturamento e recolhimento de tributos em separado. Isso, todavia, não atribui à filial uma personalidade jurídica própria, de forma que todos os estabelecimentos constituem a mesma pessoa jurídica; o mesmo ente, portanto. Assim, uma vez apresentada a documentação de habilitação jurídica, regularidade fiscal e qualificação econômico-financeira pela matriz, nada obsta que a licitante apresente atestado de capacidade técnica e demais documentos de qualificação técnica pelo CNPJ da filial, posto que, sendo a mesma empresa, está comprovada a capacidade técnica da licitante. Sobre isso, o Tribunal de Contas da União, no seu Manual de Licitações e Contratos 4ª edição, estabelece que os atestados de capacidade técnica ou de responsabilidade técnica possam ser apresentados em nome e com o numero do CNPJ/MF da matriz ou da filial da empresa licitante 1. O referido tribunal tem, inclusive, jurisprudência sobre o caso em questão, assim encerrando a discussão: (...) Conceitua-se matriz aquele estabelecimento chamado sede ou principal que tem a primazia na direção e ao qual estão subordinados todos os demais, chamados de filiais, sucursais ou agências. 10. Como filial conceitua-se aquele estabelecimento que representa a direção principal, contudo, sem alçada de poder deliberativo e/ou executivo. A filial pratica atos que tem validade no campo jurídico e obrigam a organização como um todo, porque este estabelecimento possui poder de representação ou mandato da matriz; por esta razão, a filial deve adotar a mesma firma ou denominação do estabelecimento 1 Licitações e Contratos Orientações e Jurisprudência do TCU. 4ª edição. Brasília, 2010, p. 461.
principal. Sua criação e extinção somente são realizadas e efetivadas através de alteração contratual ou estatutária, registradas no Órgão competente. 11. Deste modo, matriz e filial não são pessoas jurídicas distintas. A matriz e filial representam estabelecimentos diferentes pertencentes à mesma pessoa jurídica, fato corroborado, inclusive, pelo art. 10, 1º, da Instrução Normativa RFB nº 748, de 28 de junho de 2007, in verbis: "Art. 10. As Entidades domiciliadas no Brasil, inclusive as pessoas jurídicas por equiparação, estão obrigadas a inscreverem no CNPJ, antes de iniciarem suas atividades, todos os seus estabelecimentos localizados no Brasil ou no exterior. 1º Para efeitos de CNPJ, estabelecimento é o local, privado ou público, edificado ou não, móvel ou imóvel, próprio ou de terceiro, em que a Entidade exerça, em caráter temporário ou permanente, suas atividades, inclusive as Unidades auxiliares constantes do Anexo V, bem como onde se encontrem armazenadas mercadorias". 12. Conclui-se que o CNPJ específico para a filial decorre somente da obrigatoriedade da citada Instrução Normativa, que impõe à todas as empresas a inscrição do CNPJ de seus estabelecimentos. O número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ é composto de oito algarismos, separado por uma barra do número de ordem do estabelecimento e, por fim, após o hífen, dois dígitos de controle. Desta maneira, o número do CNPJ da matriz e da filial são iguais até a barra separadora. Em seguida, faz-se a diferenciação entre os estabelecimentos: /0001 é sempre para a matriz; /0002 para a primeira filial; /0003 para a segunda filial e assim por diante. Os demais dígitos são os chamados de dígitos verificadores, específico para cada estabelecimento. (...) 20. Pelo exposto, tanto a matriz, quanto à filial, podem participar de licitação e uma ou outra pode realizar o fornecimento, haja vista tratar-se da mesma pessoa jurídica. Atente-se, todavia, para a regularidade fiscal da empresa que fornecerá o objeto do contrato, a fim de verificar a cumprimento dos requisitos de habilitação. (Acórdão 3056/2008 Plenário. Rel. Min. Benjamin Zymler. DOU de 12/12/2008). Grifo nosso.
Assim, pretendendo a licitante executar o objeto da licitação pela matriz, apresentou todos os documentos de regularidade fiscal em seu nome e número de CNPJ, de modo que a habilitação procedida pela Pregoeira, no tocante aos documentos de qualificação técnica apresentados com o CNPJ da filial (atestado de capacidade técnica, declaração de que a licitante dispõe de todo o aparato operacional necessário à plena execução do objeto licitado, inclusive a ferramenta de autoagendamento, e comprovante de registro da licitante na Embratur - agora Cadastur), está em consonância com a legislação e jurisprudência pátrias. A respeito da alegação de apresentação de SICAF vencido, no que tange à qualificação econômico-financeira, para suprir isso bastaria a apresentação do balanço do último exercício da empresa, firmado pelo representante legal e seu contador, sem necessidade de outras exigências, em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas. Nesse sentido, assim disciplina Marçal Justen Filho 2 : O licitante tem de apresentar balanço e as demonstrações contábeis, elaboradas de acordo com as regras próprias. Poderá exibir uma cópia autenticada ou uma via original. Não há motivo razoável para negar-se a validade da exibição de um extrato dos documentos contábeis, contendo o balanço e demais informações, devidamente assinado pelo representante legal da empresa e de seu contador. Grifo nosso. No entanto, nem isso se fez necessário, posto que o Edital do Pregão Eletrônico AA 11/2011 não exigiu como qualificação econômico-financeira a apresentação de balanços ou de índices, mas a apenas a comprovação de capital social ou patrimônio líquido mínimos, considerando a necessidade de comprovação, por parte da licitante, de disponibilidade de recursos econômico-financeiros para a satisfatória execução do objeto da contratação. Nesse diapasão, vale ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Resp nº 402.711/SP (rel. Min, José Delgado, em 11/06/2002) entendeu que não existe obrigação legal a exigir que os concorrentes esgotem todos os incisos do artigo nº 31 da Lei nº 8.666/93. Da mesma forma, o Tribunal de Contas da União reputou válida a comprovação de qualificação econômico-financeira do licitante por meio de outros documentos além do balanço, tendo sido exigidas, no caso concreto, a certidão negativa de falência e Certidão de Registro Cadastral: (...) A comprovação de qualificação econômico-financeira das empresas licitantes pode ser aferida mediante a apresentação de outros documentos. A Lei de Licitações não obriga a Administração a exigir, especificamente, para o cumprimento do referido requisito, que seja 2 Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 13ª edição. Ed. Dialética, São Paulo, 2009, p. 454.
apresentado o balanço patrimonial e demonstrações contábeis, relativo ao último exercício social previsto na lei de licitações (art. 31, inc. I ), para fins de habilitação. 2. "In casu", a capacidade econômico-financeira foi comprovada por meio da apresentação da Certidão de Registro Cadastral e certidões de falência e concordata pela empresa vencedora do Certame em conformidade com o exigido pelo Edital. 109. Reputamos legítimo o ajuste levado a efeito pela Anac, em linha com o deliberado pelo Superior Tribunal de Justiça e aduzindo que a exigência de comprovação de higidez econômico-financeira por meio de indicadores contábeis consta de determinados processos concessórios (e.g. TCs 033.178/2008-9 e 004.467/2010-8), enquanto não se encontra presente em outras (e.g. TCs 002.811/2006-6 e 030.209/2008-3), sendo de opção da entidade responsável por operacionalizar a outorga. (Acórdão 1795/2011 Plenário. Rel. Min. Valmir Campelo. DOU de 11/07/2011). Grifo nosso. Portanto, para comprovação da qualificação econômico-financeira exigida no Edital, bastava a apresentação do contrato social do licitante demonstrando possuir capital social mínimo de 3% (três por cento) do valor estimado para a contratação ou, mediante balanço patrimonial, de patrimônio líquido mínimo referente a esse mesmo quantitativo. No presente caso, a licitante comprovou o atendimento ao Edital com a simples apresentação do contrato social, no qual consta capital social superior ao mínimo exigido, tendo sido apresentado o balanço patrimonial apenas por questão de zelo. Por último, no tocante à alegação de falta de poderes conferidos à procuradora da licitante BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA, percebe-se, da análise da procuração acostada aos autos, que existem no mesmo instrumento dois poderes distintos, como bem ressaltou a recorrida em sua peça de defesa. O primeiro refere-se ao poder de gestão conferido à Sra. Marise para gerir a filial do Rio de Janeiro nos termos do artigo 661 do Código Civil, enquanto que o segundo refere-se à participação em processo licitatório em nome da Matriz, outorgante do instrumento. A procuração firmada pela Matriz autoriza a Sra. Marise em seu nome a participar de licitações e a praticar todos os atos necessários ao fiel cumprimento do mandato. Logo, desprovida de fundamento a alegação da recorrente. V. CONCLUSÃO Pelas razões acima expostas, decide-se por negar provimento ao recurso apresentado pela sociedade TOUR HOUSE VIAGENS E TURISMO LTDA., para manter a decisão tomada
pela Pregoeira na Sessão Pública no sentido de declarar vencedora do Pregão Eletrônico AA nº 11/2011 BNDES a sociedade BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA. Por oportuno, é submetido o presente procedimento licitatório ao Sr. Superintendente da Área de Administração, nos termos do inciso IV, do artigo 8º do Decreto nº 5.450/2005, para julgamento. Rio de Janeiro, 29 de julho de 2011. Priscilla Bonaparte Gaspar de Oliveira Pregoeira AA/DELIC/GLIC2 Lívia Madeira de Menezes Membro da Equipe de Apoio AA/DELIC/GLIC2 Rogerio Abi-Ramia Barreto Gerente AA/DELIC/GLIC2
Ata de Decisão de Recurso Pregão Eletrônico AA 11/2011 BNDES Pelas razões já expostas na Ata de Julgamento de Recurso do Pregão Eletrônico AA 11/2011 BNDES, de 29/07/2011, que passam a integrar a presente decisão, julgo IMPROCEDENTE o recurso interposto pelo licitante TOUR HOUSE VIAGENS E TURISMO LTDA., para ratificar a decisão da Pregoeira que declarou como vencedora do presente certame a empresa BBTUR VIAGENS E TURISMO LTDA. Rio de Janeiro, 01 de agosto de 2011. Carlos Roberto Lopes Haude Superintendente Área de Administração