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Diário de Bordo 73 HistAmbZL_2new.indd 73 12/13/04 12:53:20 AM
Visita de Campo 74 HistAmbZL_2new.indd 74 12/13/04 12:53:21 AM
Um passeio cultural Ao levantar no dia 3 de setembro, às 7 horas, me vesti com uma blusa vermelha e uma calça azul-escura quase preta. Me arrumei rapidamente, pois estava atrasada. Saí de casa um pouco preocupada, porque tinha combinado de encontrar com um amigo que ia começar nesse mesmo dia e achei que ele podia não estar lá ou até mesmo ter perdido a hora. Quando cheguei ao ponto de ônibus, ele já estava lá, o cumprimentei e esperamos a perua. Ao entrar nessa condução, não trocamos muitas palavras, apesar de sermos amigos e termos uma amizade muito legal. Ao chegarmos ao Sesc, viemos até a sede social e aguardamos o que fazer. Então, nos avisaram para entrar no ônibus e deram nosso lanche e partimos para um aterro sanitário desativado atrás do Sesc. Lá, encontramos um senhor que contou sobre a história daquele antigo aterro (senhor José Paes). Ao sairmos de lá, fomos à capela de São Miguel, que achei muito interessante. Por sinal, ouvimos muitas histórias dessa capela e fomos embora. Nosso destino era a pedreira, ficamos todos fascinados, porque nunca tínhamos ido em um lugar parecido. Quase não íamos embora. Ficamos ainda mais admirados com a segunda pedreira que visitamos, que estava desativada e serviu como piscinão. Era uma vista linda, apesar do mau cheiro do rio ao lado. Depois, fomos embora com destino ao Parque do Carmo. No Parque do Carmo, paramos um pouco para lancharmos e fomos ao museu que existe lá. Ficamos sabendo de toda a história do parque através de um estagiário. Após entrarmos nesse museu, olhamos o que tinha e fomos embora para o Sesc e lá resolvemos o que tinha para ser resolvido e fomos para casa. Raquel Fontes Avelar Ética e arte 75 HistAmbZL_2new.indd 75 12/13/04 12:53:25 AM
Movimentos sociais 76 HistAmbZL_2new.indd 76 12/13/04 12:53:26 AM
Pró-APA do Carmo: união garante fim de lixão e preservação da mata Trabalho realizado pelos alunos Ricardo Wagner F. da Cruz, Raphael Freire Santos, Ana Elisa J. Mussolino, Suzi Santos de Paula, Fernando dos Santos Braga, Raoni Glauber dos S. Ferreira, Aderval Bastos Q. Silva, Amanda Cordiolli Gênova e Felipe Augusto C. da Silva, sob orientação da professora Valéria F.E. Rocha, da Escola Estadual Profª Apparecida Rahal. Dentre os movimentos pesquisados na região das Bacias do Aricanduva e do Itaquera, dois merecem maior destaque: o movimento dos moradores do Jardim Nossa Senhora do Carmo e do Jardim Nove de Julho, que lutou pela desativação do lixão, e o movimento SOS Mata do Carmo, que se mobilizou pela preservação da Mata do Carmo. Lixão foi a denominação dada pelos moradores ao local onde a prefeitura depositava o lixo da cidade, oficialmente denominado de aterro sanitário. A partir de depoimentos de moradores da região, apuramos que o lixo era depositado a céu aberto, tomado por moscas e ratos, tornando-se um incômodo devido ao mau cheiro. Esse lixão funcionou de 1984 a 1985, quando os moradores dos Jardins Nossa Sra. do Carmo e Nove de Julho mobilizaram-se contra seu funcionamento. Acampados em sua entrada, conseguiram, com incansáveis negociações, passeata e protestos, interromper definitivamente as atividades do aterro sanitário. Já o movimento SOS Mata do Carmo surgiu em 1988, a partir de remanescentes do acampamento que, ao entrarem em contato com o espaço do lixão, observaram que não se tratava de um problema de saúde pública somente; ia muito além. Esse movimento despertou a consciência ecológica. Assim decidiram pressionar as autoridades e lutar pela criação de uma área de proteção ambiental. Para entendermos melhor essa questão, entrevistamos a socióloga Maria Lúcia Rocha, professora titular de Educação Infantil da Prefeitura Municipal de São Paulo e assessora da Coordenadoria de Educação de Itaquera. Maria Lúcia é moradora e líder comunitária do Jardim Nossa Senhora do Carmo há mais de 20 anos. Participou do acampamento pela desativação do lixão e do Movimento SOS Mata do Carmo, como articuladora e porta-voz dos moradores nas negociações com a prefeitura e o governo estadual de São Paulo. foto do fundo Carina Teixeira Junqueira Jeane C. Benevides Como era o funcionamento do aterro sanitário de São Mateus? Na década de 80 existiu a crise do lixo, (pois) na cidade de São Paulo você tem uma produção de resíduos muito grande. O prefeito Mário Covas resolveu 77 HistAmbZL_2new.indd 77 12/13/04 12:53:39 AM
instalar o aterro sanitário na região da Rua Afonso de Sampaio e Souza a Ragheb Chohfi, na divisa entre o Parque do Carmo e o distrito de São Mateus, Iguatemi. O aterro, que recebia todo o lixo da cidade, funcionou por um ano e meio a dois anos. O que nos causou mais indignação foi justamente o líquido que sai do lixo porque ocorria o risco de contaminação dos lençóis freáticos. Por um acaso, um amigo nosso foi passear na Mata do Carmo, que na época não tinha esse nome, e viu aquele clarão, um monte de árvores sendo derrubadas e o aterro sendo instalado sem nenhuma consulta à população. Como se deu a organização do movimento para o fechamento do aterro? Os moradores se organizaram e formaram um movimento contra o lixão. Na época foi envolvida toda a sociedade civil, Igreja Católica, os partidos políticos. Nós ficamos acampados 17 dias e 17 noites na porta do lixão. Esse acampamento foi feito após três meses de negociação, (solicitando) ao prefeito Mário Covas que tirasse aquilo. Qual era a nossa justificativa? Ficava bem próximo à favela Nove de Julho, que não existe mais porque tem a Avenida Aricanduva, e de 16 bairros, próximo ao parque e dentro de uma mata. (O prefeito) decidiu fechar o aterro. Nós tivemos também apoio técnico, tanto de médicos sanitaristas como de geólogos que nos ajudaram a fazer a avaliação, dizendo que naquele local era inviável fazer um aterro sanitário. Como institui-se a APA do Carmo? O deputado Roberto Gouveia, do PT, fez uma proposta de lei dentro da Assembléia Legislativa que culminou em outro acampamento, porque o governador Orestes Quércia vetou. Aí foi feita a área de proteção ambiental que hoje é conhecida como APA do Carmo. 78 Qual a importância da lei estadual da APA do Carmo? Deu para a região uma cara de que não é só um bairro-dormitório. A zona leste é programada para ser um monte de gente morando que sai dali para trabalhar a quilômetros. A APA do Carmo veio dizer assim: a população da (região) precisa morar e morar bem. Não é só tirar tudo e fazer moradia. Mas como fica o equilíbrio da região, a qualidade de vida dos moradores? Isso fez pensar um pouco na questão ambiental. HistAmbZL_2new.indd 78 12/13/04 12:53:42 AM
A outra entrevista que realizamos foi com o senhor José de Medeiros Paes, aposentado, presidente da entidade SAL (Sociedade Ambientalista Leste), morador do Jardim Nossa Senhora do Carmo desde 1972. Líder comunitário que participou do acampamento pela desativação do lixão e do Movimento SOS do Carmo. Atualmente por onde passa leva suas experiências sobre reciclagem e coleta seletiva. Quantas pessoas participaram do movimento de desativação do aterro sanitário? A quantidade de pessoas variava muito. Tinha momentos, como a celebração das missas, que chegou a reunir 2 000 pessoas. Durante a semana não sei como foi exatamente, porque como eu trabalhava longe participei mais durante o final de semana. Imagino que ficavam ali cerca de 20 pessoas. Uma espécie de vigília. Vista parcial do lago do Parque do Carmo (1986) Acervo DPH Israel dos Santos Marques Quais os benefícios da desativação do aterro? A diminuição do mau cheiro, de insetos, de ratos. Para as pessoas da favela Nove de Julho acabou com aqueles caminhões transportando lixo e passando na porta deles. Como surgiu a idéia de transformar a Mata do Carmo em APA? Nesses 17 dias de acampamento para fechar o lixão, tivemos muito contato com a vida nativa. A gente percebeu que tinha muitos animais, pássaros em abundância, variedade de plantas nativas da mata atlântica, nascentes do Córrego Aricanduva com água cristalina. Tinha mais coisas a fazer além de fechar o lixão. E aí a gente levou esse conteúdo também para o prefeito. Tem uma área verde de grande importância para a cidade de São Paulo. Começamos a pesquisar e constatamos que a zona leste era a região mais carente da cidade em áreas verdes. Além do objetivo de fechar o aterro, despertou a importância da preservação. Se não tivesse havido o acampamento, possivelmente hoje não existisse a APA do Carmo, mas uma Cohab aí. 79 HistAmbZL_2new.indd 79 12/13/04 12:53:44 AM
O professor bibliotecário Armando Batista Nascimento Jr. é professor titular de cargo e, readaptado, exerce a função de bibliotecário. No entanto, se auto-intitula guardião da biblioteca. Ele é muito organizado e exigente consigo mesmo e com os alunos que freqüentam o acervo de livros da instituição. Nasceu em São Paulo, no dia 18 de janeiro de 1953, no Hospital Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Brás. Cursou da 1ª à 4ª séries do primário no grupo escolar de Itaquera, atualmente o prédio da subprefeitura. Estudou piano por cinco anos, pois em sua infância era comum todas as crianças terem aulas desse instrumento musical. Hoje, porém, não gosta nem tem interesse em tocar. Armando passou por um ano de admissão com uma professora japonesa antes de ir para o 1º ano do ginásio. Cursou o ginásio na escola Emília de Paiva Meira e o Ensino Médio na região. Também estudou Matemática na Universidade de Mogi das Cruzes para a formação de professor e começou a lecionar, em 1975, na Escola Estadual Profª Apparecida Rahal. Deixou a escola por um tempo, porém retornou em 1990, trabalhando até hoje como professor que orienta alunos na biblioteca. Ele é enérgico e fala com bastante entusiasmo e orgulho de sua família, pessoas importantes no bairro de Itaquera. Ele afirma que teve pouca ajuda que não fosse de familiares, mas teve como grande aliado um médico, dr. Sílvio, que estudou com seu avô Aureliano Barreiros, farmacêutico renomado de Itaquera, que foi homenageado com uma rua no bairro. 80 Participantes da E.E. Profª Apparecida Rahal HistAmbZL_2new.indd 80 12/13/04 12:53:47 AM