Boas práticas do manejo florestal. Dossel de floresta manejada na Fazenda Cauaxi (PA)



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Transcrição:

42 UNIDADE 2 Florestabilidade Dossel de floresta manejada na Fazenda Cauaxi (PA)

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 43 Unidade 2 Boas práticas do manejo florestal

44 UNIDADE 2 Florestabilidade Programas de televisão, programas de rádio e planos de aulas relacionados a esta unidade: Exibição do programa de TV Programa 4 Planejando o manejo madeireiro Programa 5 Atividades exploratórias do manejo madeireiro Programa 6 Atividades pós-exploratórias do manejo madeireiro Programa 7 Manejo de produtos florestais não madeireiros: castanha Programa 8 Manejo de produtos florestais não madeireiros: borracha Programa 9 Manejo de produtos florestais não madeireiros: copaíba Programa 10 Manejo de produtos florestais não madeireiros: cipó-titica Programa 11 Manejo de produtos florestais não madeireiros: babaçu Programa 12 Manejo de produtos florestais não madeireiros: açaí Programa 13 Manejo florestal de uso múltiplo Programa de rádio Programa 4 Como planejar o manejo madeireiro? Programa 5 Como minimizar os riscos no manejo da madeira? Programa 6 O que fazer depois da colheita das árvores? Programa 7 Por que preferir produtos florestais certificados? Programa 8 Como manter a produtividade dos castanhais? Programa 9 Qual é a história do manejo da seringa? Programa 10 Manejo do cipó-titica: por onde começar? Programa 11 Como se extrai o óleo de copaíba? Programa 12 Como beneficiar o babaçu? Programa 13 é preciso ir tão alto para coletar o açaí? Programa 14 Como se organizar para o manejo de uso múltiplo? Plano de aula Plano de Aula 4 Planejando o manejo madeireiro Plano de Aula 5 Atividades exploratórias do manejo madeireiro Plano de Aula 6 Atividades pós-exploratórias do manejo madeireiro Plano de Aula 7 Manejo de produtos florestais não madeireiros: castanha Plano de Aula 8 Manejo de produtos florestais não madeireiros: borracha Plano de Aula 9 Manejo de produtos florestais não madeireiros: copaíba Plano de Aula 10 Manejo de produtos florestais não madeireiros: cipó-titica Plano de Aula 11 Manejo de produtos florestais não madeireiros: babaçu Plano de Aula 12 Manejo de produtos florestais não madeireiros: açaí Plano de Aula 13 Manejo florestal de uso múltiplo

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 45 Esta unidade aborda a importância do planejamento e das atividades exploratórias e pós-exploratórias de produtos madeireiros e não madeireiros para a manutenção e conservação dos ambientes florestais. Apresenta, ainda, o manejo florestal de uso múltiplo, com destaque para a atividade pesqueira. Produtos florestais madeireiros A extração de madeira na Amazônia Já vimos que o Brasil é um dos países com a maior vocação florestal do mundo, não só pelo fato de 60% de nosso território ser coberto de florestas, mas também pela importância que os ambientes florestais têm em nossa história. O próprio nome Brasil está associado a uma árvore o pau-brasil extraída do chamado Novo Mundo ao bel-prazer dos colonizadores. A exploração predatória da Amazônia se intensificou a partir de 1960, em um momento em que não havia preocupação com o estado de degradação da floresta após a retirada das árvores. Além disso, a exploração era conduzida na mesma área toda vez que uma nova espécie de madeira se tornava atrativa no mercado, de forma que a floresta não tinha tempo suficiente para se recuperar. Após algumas entradas na floresta para a exploração, todas as madeiras que poderiam ser aproveitadas tinham sido exterminadas e não sobrava mais nenhum uso econômico possível para a floresta, a não ser queimá-la e transformá-la em pasto principalmente para a pecuária extensiva de baixa produtividade. Na verdade, muitos proprietários de terras usaram a renda produzida pela madeira para a implantação dos pastos, aproveitando a abundância de financiamentos do governo voltados para a pecuária. Assim como a exploração predatória quase extinguiu o pau-brasil na Mata Atlântica, o mogno, a castanheira e outras espécies de grande valor ecológico e econômico também chegaram à exaustão na Amazônia. Foi um tempo em que, no Brasil, não se praticava o manejo florestal. Como falamos, o manejo passou a ser exigência legal em 1965, quando o Código Florestal determinou que os recursos naturais das florestas, na Amazônia, só poderiam ser explorados por meio de planos de manejo. O Plano de Manejo é uma exigência legal para a exploração de florestas naturais na Amazônia. Deve ser elaborado por um engenheiro florestal habilitado pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), que, por sua vez, se torna responsável técnico pela execução do plano. O Plano de Manejo é apresentado ao órgão ambiental competente para que a atividade seja autorizada. Plano de Manejo Documento técnico que especifica as atividades a serem realizadas na área da floresta que se pretende manejar, incluindo a construção de infraestruturas (alojamento, estradas e pátios), a delimitação das áreas de produção a serem exploradas a cada ano e as técnicas e equipamentos que serão utilizados.

46 UNIDADE 2 Florestabilidade Qual a importância econômica da madeira da Amazônia? A Amazônia brasileira é a terceira maior região produtora de madeira tropical do mundo, tendo à frente, apenas, a Malásia e a Indonésia. É um setor importante para a geração de renda e empregos para trabalhadores da floresta e da indústria de transformação. Além disso, impulsiona, de forma indireta, várias economias de pequenas comunidades na Região Norte. Estudos indicam que mais de 350 espécies florestais madeireiras estão sendo exploradas na Amazônia. Em 2009, estimativas do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostraram que o setor madeireiro gerou cerca de US$ 2,5 bilhões de receita bruta. Não parece muito, mas ele é relevante se comparado ao Produto Interno Bruto (PIB) total da Amazônia nesse mesmo ano que foi de cerca de US$ 61 bilhões (o equivalente a apenas 8% do PIB brasileiro). Polo Área em que ocorre determinada atividade importante ou se concentra um interesse comercial, um grupo de pessoas. Nesse mesmo ano, foram contabilizados 71 polos madeireiros com mais de 2.200 empresas na Amazônia, consumindo cerca de 14 milhões de metros cúbicos de madeira nativa. Mais da metade desses empreendimentos é caracterizada como serrarias simples, sem equipamentos sofisticados de beneficiamento de madeira. As serrarias fixas estão estabelecidas em polos nos arredores de cidades, mas existem também serrarias portáteis, que são montadas no interior da floresta e facilmente removidas de um local para outro. Apenas 15% das empresas instaladas na Amazônia agregam valor substancial à madeira, com processos de secagem e acabamento, transformando-a em produtos como assoalhos, portas, móveis, forros, cabos e janelas. Isso quer dizer que há muito potencial de melhoria dos negócios nesse sentido. Toras de madeira na área de manejo da Cooperativa Mista da Flona Tapajós (PA)

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 47 Após os processamentos primário e final da madeira em tora, o produto amazônico alcança vários mercados. Estudos do Imazon mostram que os brasileiros são os maiores consumidores da madeira processada na Amazônia, cerca de 80%. O estado de São Paulo ainda é o principal mercado, com 17% do consumo registrado em 2009. Cerca de 16% da madeira são consumidos pelos estados da própria Amazônia Legal. Apenas 22% da madeira produzida em 2009 foram exportados, boa parte para países da União Europeia, EUA e China. Outro fator que torna o manejo florestal importante para a Amazônia é o fato de as atividades representarem uma alternativa à conversão das florestas em pastos ou monoculturas, por exemplo. Para os especialistas, embora seja importante manter florestas intocadas sob a forma de áreas protegidas, como parques e reservas biológicas, é impossível manter todas as florestas intactas. Tanto a sociedade quanto o governo têm um papel importante no estímulo à adoção de boas práticas, por meio de políticas, leis e mecanismos de mercado, conciliando o uso racional com a conservação da floresta. Manejo de produtos florestais madeireiros O manejo é uma forma de extrair os produtos da floresta que minimiza os impactos da exploração sobre as espécies de árvores, sobre outras plantas, sobre os animais e sobre os chamados serviços ambientais das florestas. Permite que a floresta se recupere depois da extração e continue gerando benefícios. O manejo florestal é, hoje, a melhor alternativa para aliar a conservação das florestas da Amazônia ao desenvolvimento das comunidades rurais do interior da região. É uma ferramenta importante para gerar renda e empregos. As comunidades amazônicas podem se beneficiar do manejo fazendo uso direto da floresta em suas áreas, contratando empresas idôneas para realizar a exploração ou concorrendo a concessões florestais em áreas públicas. Atualmente, há um déficit enorme de pessoas devidamente treinadas para fazer o correto manejo florestal na Amazônia. A curto prazo, estima-se que esse déficit seja de 10 mil profissionais, podendo chegar a 30 mil nos próximos 20 anos, se não forem intensificadas ações de formação. Ao mesmo tempo que é um desafio para o uso responsável das florestas, essa lacuna de profissionais representa novas oportunidades de carreira, principalmente para os jovens localizados no interior da Amazônia, que podem se especializar na área florestal participando de cursos técnicos ou de curta duração nos centros de treinamento existentes. Com a formação e o devido aprimoramento das práticas de manejo, o que se aprende também com a experiência em campo, é possível a esses profissionais terem um plano de carreira de longo prazo, sem precisar se afastar de suas regiões

48 UNIDADE 2 Florestabilidade Reserva Legal Área particular protegida, localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, na qual a cobertura vegetal nativa deve ser conservada, podendo ser utilizada de forma sustentável mediante Plano de Manejo florestal. Produzir produtos florestais com práticas de manejo é contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade que respeita o ambiente e o trabalhador. de origem, contribuindo, assim, para manter os estilos de vida tradicionais do interior da Amazônia e trazer prosperidade para suas famílias e comunidades. Em termos fundiários, é possível realizar o manejo florestal em áreas privadas ou públicas. Nas áreas privadas, os planos de manejo também podem ser praticados dentro da Reserva Legal da propriedade. Para isso, é necessário que o dono da terra comprove a titularidade do imóvel rural. Nas áreas públicas (florestas nacionais e estaduais), é possível acessar os recursos florestais por meio de concessões. O manejo florestal praticado em áreas de comunidades/populações tradicionais também pode ser considerado público, uma vez que a situação fundiária da maioria dessas áreas é caracterizada como concessão não onerosa, o que permite a execução de planos de manejo. No manejo florestal, é feito um planejamento meticuloso das operações antes do início das atividades de extração. As boas práticas do manejo da madeira visam à extração seletiva de árvores, que são previamente identificadas segundo um diâmetro mínimo de corte, a constituição genética e o valor de mercado da espécie. O manejo madeireiro prevê, ainda, a aplicação de técnicas que previnam acidentes de trabalho e diminuam os danos à floresta e os desperdícios nas operações do empreendimento. Além disso, o manejo pressupõe ações pósexploratórias, que buscam auxiliar a recuperação da floresta e o crescimento das árvores de valor comercial, aumentando a rentabilidade da floresta por ciclos contínuos de exploração. As florestas manejadas adequadamente garantem a conservação dos solos, dos rios, dos igarapés e dos habitats para a fauna e contribuem para o equilíbrio do clima regional e global, sobretudo no tocante à manutenção do ciclo das águas e à retenção de carbono, fator importante para minimizar os efeitos do aquecimento global. Técnicos do Instituto Floresta Tropical (PA) identificam as árvores que foram selecionadas na atividade pré-exploratória

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 49 Quais as etapas do manejo florestal de produtos madeireiros? O primeiro conceito importante é que o manejo florestal é composto de diferentes atividades, que devem ser realizadas antes, durante e após a extração dos produtos florestais. Dessa forma, temos, conforme pode ser visto na Figura 1, as etapas préexploratória, exploratória e pós-exploratória do manejo. PRÉ-EXPLORATÓRIA Macroplanejamento Microplanejamento EXPLORATÓRIA PÓS-EXPLORATÓRIA Figura 1: Etapas do manejo de produtos florestais madeireiros Etapa pré-exploratória Antes de dar início ao trabalho na floresta, é preciso saber aonde se quer chegar. É preciso planejar. Por isso, vamos conhecer, agora, as atividades do macroplanejamento e do microplanejamento. O macropanejamento ajuda a tomar decisões quanto à seleção das áreas aptas ao manejo florestal, à viabilidade econômica do manejo e à implantação da infraestrutura necessária às atividades de manejo, como o acampamento florestal e a estrada principal por onde os produtos serão transportados até os locais de beneficiamento. Pelo Código Florestal Brasileiro, as florestas ao redor de rios e igarapés, morros com mais de 45 graus de inclinação e nascentes de corpos d água são consideradas áreas de preservação permanente (APPs) e não podem ser exploradas. Além disso, nas concessões florestais, por exemplo, uma parte da propriedade deve permanecer inexplorada para que se possa compará-la à floresta manejada. Nessa fase, também é feito um inventário amostral. Trata-se de um levantamento rápido realizado com o objetivo de orientar a elaboração do Plano de Manejo. A partir desse trabalho, é possível fazer uma descrição dos recursos florestais, estimando-se as espécies e os volumes de madeira existentes na área. O inventário amostral também é útil para o manejo de produtos florestais não madeireiros, que serão abordados mais adiante. Selecionar áreas aptas para extração de madeira é um dos primeiros passos para o manejo madeireiro responsável e sustentável.

50 UNIDADE 2 Florestabilidade Ciclo de corte Período de tempo necessário para que a floresta se recupere após a exploração madeireira antes que seja possível uma segunda exploração. Pelas leis brasileiras, o ciclo de corte mínimo deve ser de 25 a 35 anos, se a exploração for feita de forma mecanizada. Para um empreendimento florestal sem o arraste de toras mecanizado, situação típica de comunidades que extraem madeira em volumes menores (menos de 10 m 3 por hectare), o ciclo de corte pode chegar a dez anos, no mínimo. Os resultados do inventário amostral permitem que os gestores da floresta (comunitários, indígenas, proprietários ou concessionários) consigam estimar quanto vão precisar investir na atividade de manejo e o quanto terão de retorno financeiro. É desejável que a área do projeto de manejo possua tamanho suficiente para atender aos objetivos do manejo, respeitando o ciclo de corte, conceitochave do manejo florestal. No macroplanejamento, também são definidas as Unidades de Produção Anual (UPAs). Nessas unidades, será feito o planejamento detalhado do manejo florestal para o período de um ano. Todas essas análises são, geralmente, baseadas em informações de campo complementadas por outras informações geográficas, como mapas da área e imagens de satélite. Atividades pré-exploratórias Selecionar as áreas aptas ao manejo Quantificar o potencial da floresta para o manejo Avaliar a viabilidade econômica do empreendimento Dimensionar e definir as Unidades de Produção Anual (UPAs) Dimensionar e definir as infraestruturas gerais Definir as estratégias de gerenciamento da floresta Inventariar 100% da UPA Mapear detalhadamente o terreno da UPA, incluindo as APPs Cortar os cipós presos às árvores com valor comercial Identificar os recursos humanos necessários à operação

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 51 Na prática Imagine uma área florestal de 15 mil hectares de tamanho, na qual, durante o macroplanejamento, tenhamos encontrado vários rios que atravessam a área. Imagine, ainda, que a área de preservação permanente seja de 30 metros ao longo desses rios, cobrindo uma área de 2.900 hectares. Imagine que tenhamos calculado que a área total a ser coberta por estradas principais, acampamento e por uma serraria seria de 100 hectares. Somando essas duas áreas, teríamos uma área produtiva para manejo florestal igual a 12 mil hectares (15 mil menos 3 mil hectares). Imagine, também, que o macroplanejamento tenha estimado que, com base na intensidade de exploração possível para essa área, tenhamos que praticar um ciclo de corte de 25 anos. No primeiro ano, exploraremos a unidade de produção anual, ou UPA, de número 1. No segundo ano, exploraremos a UPA 2 e assim por diante, até o final das UPAs existentes. No vigésimo sexto ano, finalmente, voltaremos a explorar a mesma UPA 1. Depois de 25 anos sem exploração na UPA 1, a floresta teve tempo de se recuperar, sendo permitida uma nova exploração. Cada UPA, nesse cenário, tem uma área de 480 hectares (12 mil hectares divididos por 25 anos). Reserva Absoluta UPA 13 Portaria Alojamento Estradas UPA 25 UPA 12 UPA 21 UPA 20 UPA 16 UPA 19 UPA 17 UPA 22 UPA 03 UPA 11 UPA 01 UPA 18 UPA 06 UPA 15 UPA 04 UPA 23 UPA 14 UPA 02 UPA 05 UPA 07 UPA 09 UPA 24 UPA 10 UPA 08 Figura 2: A figura mostra a divisão de uma floresta a ser manejada para a produção de madeira. No caso desta figura, existem 25 UPAs, o que significa que o ciclo de corte é de 25 anos. A Reserva Absoluta é uma área representativa dos ecossistemas manejados, delimitada para fins de comparação em empreendimentos certificados e concessões.

52 UNIDADE 2 Florestabilidade O uso de mapas é fundamental para orientar o trabalho no manejo florestal. Após o macroplanejamento, damos início às atividades de microplanejamento. Esta etapa inclui o inventário florestal, que é um levantamento detalhado de todas as árvores comerciais da UPA, com o objetivo de subsidiar a seleção das árvores que serão colhidas futuramente; elas são medidas e indicadas em um mapa. Para a confecção desse mapa são utilizados dados obtidos com aparelhos de GPS (Sistema de Posicionamento Global) e programas de computador. No entanto, muitas comunidades o fazem manualmente. Manejadores do Projeto de Assentamento Agroextrativista Chico Mendes, em Xapuri (AC), medem a circunferência da árvore e anotam a posição em GPS Neste momento, também são mapeadas as características do terreno e as APPs (áreas de preservação permanente) existentes dentro da UPA que não puderam ser reconhecidas na etapa de macroplanejamento. Todas essas ações estabelecem a base para a execução do manejo. É também durante o microplanejamento que se faz o corte de cipós presos às árvores comerciais. Embora seja uma prática simples, o corte de cipós ajuda a reduzir danos e acidentes na hora da exploração, já que os cipós conectam as copas de várias árvores. Para dar resultado, o corte de cipós precisa ser feito, pelo menos, um ano antes da exploração. Conhecendo o potencial florestal, definindo o tamanho das UPAs e conhecendo os equipamentos disponíveis para realizar a operação de manejo, é possível estimar o tipo e o número de profissionais necessários para executar o Plano de Manejo. De maneira geral, estima-se que, para cada 5.000 hectares de floresta a manejar anualmente, sejam necessários 90 funcionários, em se tratando de manejo empresarial. No caso de comunidades, a proporção do número de trabalhadores envolvidos pode ser maior.

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 53 O que define uma espécie de valor comercial De acordo com a Resolução Conama 408/2009, o diâmetro mínimo de árvores de florestas nativas, na Amazônia, deve ser de 50 centímetros para que ela tenha valor comercial. Esse cuidado é importante para a preservação das árvores mais jovens. É importante, ainda, que a árvore não tenha muitas deformações no tronco e não tenha bifurcação antes da formação da copa. As espécies comerciais têm algumas características físicas (cor e textura, por exemplo) ou mecânicas (durabilidade, densidade e resistência, dentre outras) que despertam interesse para certos usos. Com base nas preferências e características, as agências estaduais de meio ambiente criaram listas com as espécies comerciais de uma determinada região. As espécies não comerciais podem se tornar comerciais no futuro. O uso de novas espécies da floresta é interessante, pois diminui a pressão sobre as espécies comerciais, sobretudo as mais valiosas. No entanto, nem sempre é fácil introduzir uma nova espécie no mercado. É preciso demonstrar e convencer compradores e consumidores finais de que a nova espécie é tão boa quanto as já existentes. Para isso, o desenvolvimento de pesquisas pode contribuir para a identificação das características de diferentes espécies. Com o manejo florestal, é possível assegurar conservação, segurança e renda tanto para empresas quanto para comunidades. De acordo com a legislação brasileira, não se pode explorar qualquer espécie. Há algumas que são protegidas em todo o território nacional ou em alguns estados. Um exemplo é a castanha-do-brasil. Embora a madeira tenha valor comercial, o corte da árvore é proibido por decreto federal, por se entender que a castanha é um produto importante para a subsistência de comunidades. O mesmo ocorre com a seringueira. Já o corte da copaíba, por exemplo, é proibido no Amazonas, por decreto estadual. O corte para sangrar a seringueira é permitido. Mas o corte da árvore é proibido por leis estaduais e federais

54 UNIDADE 2 Florestabilidade MOGNO: MADEIRA NOBRE Dentre as espécies mais valiosas de madeiras tropicais, o mogno (Swietenia macrophylla) destaca-se. Estável e fácil de trabalhar, o mogno foi muito usado, principalmente, na construção naval e na fabricação de mobiliário de luxo e de instrumentos musicais. Na Amazônia, o mogno começou a ser explorado na década de 1970, logo no início da construção das estradas federais. Estima-se que, no século XX, 12,6 milhões de metros cúbicos de mogno tenham sido extraídos das florestas da Amazônia brasileira. Mais de 70% dessa produção foi exportada para a Inglaterra e os Estados Unidos. O mogno nasce, naturalmente, em várias partes da América Central e da América do Sul. No Brasil, distribui-se ao longo de um amplo arco de 1,5 milhão de km 2 que se estende do centro-oeste ao leste da Amazônia, cobrindo a totalidade dos estados do Acre e de Rondônia, a porção sul do estado do Amazonas, o norte de Mato Grosso e o centro-sul do Pará. Porém, após quase 40 anos de exploração predatória, grande parte dos estoques naturais maduros da espécie encontra-se exaurida. Além disso, a espécie apresenta grande vulnerabilidade ecológica, por sua baixa taxa de regeneração, o que diminui a sustentabilidade da exploração. O mogno deve ser plantado em pequena escala devido ao aparecimento de uma lagarta, a Hypsipyla grandella, que dizima as plantações. Várias medidas têm sido tomadas pelo governo e pela sociedade brasileira e internacional para proteger o mogno. Em 2001, o governo federal incluiu a espécie no Sistema de Contingenciamento de Madeira (SCM), impondo uma cota máxima de exportações da espécie. Em 2002, a espécie foi incluída no Anexo II da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES), o que implica um controle mais rigoroso do comércio. Em agosto de 2003, o governo estabeleceu, para a exploração do mogno, regras específicas mais rigorosas do que as vigentes para outras espécies.

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 55 Etapa exploratória A fase exploratória, também chamada de exploração de impacto reduzido, ou EIR, envolve o planejamento iniciado um ano antes da exploração, propiciando uma extração otimizada, com menos danos e desperdícios e sem vítimas de acidentes de trabalho. Mas, é bom lembrar que EIR não é sinônimo de manejo florestal, apenas um de seus componentes fundamentais. Na EIR, os tratores de esteiras abrem estradas sinalizadas em direção aos pontos nos quais serão construídos os pátios que vão receber as toras, também escolhidos minuciosamente, para evitar áreas com árvores de grande porte. A abertura de estradas e pátios é feita, preferencialmente, um ano antes da exploração. Outro ponto importante é que, na EIR, os trabalhadores usam equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs, que servem para aumentar a segurança durante a operação. É uma postura totalmente diferente da adotada na exploração convencional ou predatória, em que os trabalhadores não usam EPIs, estradas e pátios são abertos sem planejamento, sem minimizar os danos à floresta, e as árvores são cortadas às pressas por motosserristas pouco treinados. Atividades exploratórias Abrir estadas em direção aos pátios que vão receber as toras Fazer testes para verificar se a árvore é oca Cortar as árvores respeitando o diâmetro mínimo, 50 cm, do tronco Arrastar as toras para os pátios de estocagem Identificar as toras para garantir a rastreabilidade

56 UNIDADE 2 Florestabilidade A vida acima da produção De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a segurança do trabalho nas atividades florestais é um pré-requisito para o manejo florestal ambientalmente adequado e para a boa utilização dos recursos naturais. Em cada etapa, devem ser usados equipamentos de proteção individual (EPIs). Os principais EPIs para o manejo madeireiro são: botas, luvas, capacetes e protetores auriculares. De acordo com a atividade e, principalmente, para os motosseristas, recomenda-se o uso de capacete com visor, protetor auricular e calça com camadas de fibras, que se enroscam na correia da serra, parando-a instantaneamente, se ela encostar na perna do operador. Capacete com viseira Protetor auricular Capacete Luvas Colete de sinalização Óculos de proteção Figura 3: Principais EPIs para o trabalho no manejo florestal. Botas

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 57 Na exploração de impacto reduzido, as equipes de trabalho cortam as árvores mapeadas e selecionadas na etapa de pré-exploração, respeitando um diâmetro mínimo do tronco. Antes do corte das árvores, é feito um teste para verificar se a árvore é oca. Se a árvore estiver oca, ela é deixada em pé, pois continuará prestando serviços ambientais. Se não apresentar ocorrência de oco, a árvore é extraída segundo técnicas especiais, com um corte direcionado para minimizar o desperdício da madeira, facilitar o arraste das toras para fora da floresta e evitar prejuízos às árvores que permanecerão na área. Depois do corte, é a vez do arraste das toras. Em operações mecanizadas, o ideal é que seja usado um tipo diferente de trator, o skidder, desenvolvido especialmente para o arraste de madeira em florestas de terra firme, de forma a minimizar os danos ao solo. É equipado com pneus largos, que compactam menos o terreno durante a operação. As toras são, então, levadas para os pátios de estocagem, nos quais, depois de empilhadas, aguardarão seu carregamento em caminhões até a indústria. Rastreabilidade Capacidade de traçar a trajetória de um produto ou bem na cadeia de produção o que (o produto ou bem), de onde (a origem) e para onde (destino) por meio de uma identificação numérica. Cadeia de produção Sucessão de atividades ou operações que transformam a matériaprima em produto, desde a extração até o beneficiamento e sua comercialização no mercado consumidor. Já é consenso que uma boa EIR pode ir além dessas práticas. É preciso haver um sistema que demonstre a rastreabilidade da madeira, desde o toco da árvore que permanece na floresta até os pátios das serrarias. Hoje em dia, requer-se que cada empreendimento adote um controle formal da produção que permita identificar a origem de uma tora. Assim, no pátio, as toras são identificadas com um número que permite sua rastreabilidade. É a garantia que o comprador tem de que a madeira foi extraída conforme a legislação florestal. Com esse procedimento, é possível traçar o caminho de volta na cadeia de produção da madeira, associando a tora da serraria ao toco da árvore correspondente na floresta.

58 UNIDADE 2 Florestabilidade O corte Ceará Valderez Vieira, o Ceará, é instrutor-operador do Instituto Floresta Tropical (IFT). Nasceu no Ceará, em 1953, e iniciou sua atividade na área florestal em 1979, em Goiás. Em 1982, migrou para Paragominas, no Pará, para exercer a função de operador de derrubada de árvores para a formação de pastos. Três anos mais tarde, foi para Almeirim, também no Pará, para trabalhar, no Projeto Jari, como operador de motosserra no corte de florestas plantadas e, mais tarde, no corte de florestas nativas, explorando a maçaranduba. Nesse trabalho, Ceará tinha que cumprir meta de produção, o que lhe rendia, além do salário fixo, uma gratificação proporcional ao metro cúbico de madeira explorada sem rachadura. Para alcançar sua meta, aprimorou as técnicas de corte para evitar rachaduras no tronco. Em 1994, Ceará começou a utilizar duas técnicas de corte especiais, por ele desenvolvidas: os chamados Corte Escada Ceará e Corte Escadinha. Em 1998, foi contratado pelo IFT, tornando-se instrutor e disseminando, dessa forma, suas técnicas pelo Brasil e pelo mundo. Detalhes técnicos desse corte ganharam um capítulo no Manual Técnico 2, do IFT Manejo de florestas naturais da Amazônia: corte, traçamento e segurança. As técnicas desenvolvidas por Ceará são recomendadas para o corte de espécies que racham com facilidade e para árvores que contenham uma inclinação do fuste em relação ao solo superior a 20 graus. O fuste é a porção inferior do tronco de uma árvore na qual não há galhos e que tem valor comercial. Essas técnicas minimizam o desperdício de madeira e dão mais segurança aos operadores.

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 59 Etapa pós-exploratória Nesta etapa, faz-se o gerenciamento da área de manejo florestal visando a sua conservação para os próximos ciclos de corte. As medidas que serão tomadas dependem muito das características de cada empreendimento. Do ponto de vista legal, é preciso encaminhar à agência do governo um relatório pós-exploratório, com um mapeamento e resumo do que foi executado durante a exploração. Outra medida é a manutenção das estradas secundárias utilizadas na exploração, nivelando-as e reparando as imperfeições causadas pela extração. Trabalhos de manutenção também devem ser feitos em pontes e pátios de estocagem, pois eles serão utilizados num próximo ciclo. Com isso, evitam-se custos de reconstrução. Há também medidas que protegem a área explorada contra invasões e ações preventivas contra incêndios florestais, como a colocação de placas de proibição de caça e pesca e monitoramento contra invasões e mau uso da terra, principalmente em regiões com conflitos fundiários. Atividades pós-exploratórias Gerenciar a área de manejo florestal Encaminhar à agência do governo um relatório com o resumo das atividades executadas Reparar estradas utilizadas nas atividades de exploração Manter estradas principais, pontes e bueiros Colocar placas de proibição de caça e pesca nas áreas exploradas Monitorar as áreas exploradas contra invasões e mau uso da terra Avaliar os danos e desperdícios causados durante a exploração Monitorar o crescimento e a regeneração da área explorada

60 UNIDADE 2 Florestabilidade É fundamental fazer uma avaliação dos danos e desperdícios causados durante a exploração. Essa avaliação permite realizar ações corretivas na próxima exploração, como observar se as árvores extraídas causaram danos irreversíveis em árvores vizinhas, a quantidade de toras esquecidas e de toras ocas eventualmente derrubadas, a altura dos tocos e a existência de toras rachadas. Tais problemas podem ser corrigidos por meio de treinamento das equipes. Afinal, os danos e desperdícios causam prejuízos ao empreendimento, na medida em que representam perda de receita no manejo atual ou futuro. Parcelas permanentes Delimitações feitas com piquetes dentro da floresta, geralmente correspondendo a uma área de um hectare para cada 250 hectares de floresta manejada. Silvicultura Ciência que estuda métodos naturais e artificiais de regeneração de florestas. Outra ação importante é o inventário contínuo, que é a mensuração da floresta explorada, com o objetivo de monitorar seu crescimento e sua regeneração natural. Neste sentido, foram criadas diretrizes para a instalação e medição de parcelas permanentes (PPs) em florestas naturais da Amazônia. Segundo essas diretrizes, a primeira medição de PPs deve ser feita antes da exploração; a segunda, um ano depois da exploração e a terceira, três anos mais tarde. Depois disso, as medições podem ser realizadas a cada cinco anos. O tratamento por meio da silvicultura também é uma medida que pode ser adotada depois da etapa da exploração. Esses tratamentos buscam aumentar o crescimento da floresta ou beneficiar espécies sensíveis exploradas que poderiam ficar mais raras ou desaparecer das florestas manejadas. Essas espécies podem ser plantadas nas áreas abertas pelas árvores extraídas ou mesmo em outras áreas, como pátios de estocagem e ramais de arraste. Espécies como o ipê (Tabebuia), o jatobá (Hymenaeacourbaril) e a maçaranduba (Manilkara) são alguns exemplos usados nos tratamentos silviculturais. A sensibilidade à exploração dessas espécies ocorre porque são poucos os indivíduos jovens e muitos os adultos dispersos na floresta e, geralmente, a remoção das árvores comerciais mais velhas dificulta a geração de novas mudas. Floresta manejada para produtos madeireiros, onde se indentificam pátios e estradas

FLORESTABILIDADE UNIDADE 2 61 A equipe do manejo madereiro Conheça, na tabela a seguir, algumas das funções essenciais ao manejo responsável da madeira. Profissional Função Qualificações Administrador do empreendimento (proprietário ou extrator) Engenheiro florestal Técnico florestal ou gerente de exploração Operador de motosserra Ajudante de corte Realiza os investimentos necessários para o manejo (equipamentos, máquinas, EPIs, etc.). Faz a conexão da floresta com a indústria. Coordena questões administrativas do manejo. No caso do manejo comunitário, podem ser os próprios produtores individuais ou a coordenação da associação ou cooperativa. Elabora planos de manejo e planos de operação. Supervisiona a operação. É o administrador do projeto em campo, incluindo os aspectos de segurança. Confecciona o cronograma de exploração de acordo com as necessidades do administrador. Propõe correções no caso de problemas. Coordena as atividades junto aos trabalhadores em campo e executa o que está determinado nos planos de manejo e planos de operação. Cuida da logística e distribuição de pessoal. É responsável pela aplicação, em campo, do plano de saúde e segurança no trabalho, controle de ocorrências e controle de qualidade do manejo florestal. Executa atividades de corte e traçamento de árvores. Decide quais árvores cortar com o uso do teste do oco e a realização da queda da árvore na direção em que cause menos danos e facilite o arraste. Pode auxiliar em outras atividades, dependendo do empreendimento. Auxilia nas operações de corte e em demais atividades, dependendo do empreendimento. Na prática, é um aprendiz de operador de motosserra. Deve ter um bom conhecimento do mercado, das necessidades da exploração e dos trabalhadores na floresta. Deve ter o espírito empreendedor e buscar, continuamente, aprimoramentos no manejo, além de boa capacidade de negociação. Deve ter, pelo menos, uma ideia geral da legislação ambiental cabível à exploração. Bacharelado em engenharia florestal. Experiência e capacitação em manejo florestal. Na maioria dos casos de manejo comunitário, os engenheiros não são funcionários do empreendimento, mas são contratados para redigir e acompanhar o Plano de Manejo. Formado em técnico florestal. Experiência e capacitação em manejo florestal. No caso do manejo comunitário, a função pode ser exercida por um trabalhador com muita experiência na execução do manejo, que faz o papel de gerente da exploração. Capacitado como motosserrista (curso de NR 12). Experiência e treinamento em manejo florestal e domínio das técnicas mais adequadas. Deve, também, conhecer muito bem as rotinas de manutenção de motosserras. Nenhuma formação é requerida, mas deve conhecer como o manejo funciona e como sua função influencia nas demais atividades. Deve, também, identificar situações arriscadas a si mesmo e ao operador. Finalmente, deve ter conhecimentos básicos de manutenção de motosserras.