Análise dos 13 contos de Carlos GASPAR



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Transcrição:

Análise dos 3 contos de Carlos GASPAR por André CAMLONG Vamos tratar de analisar os 3 contos de Carlos GASPAR, utilizando o software STABLEX, cujo objetivo é proporcionar uma análise lexical, textual e discursiva. Os 3 contos de Carlos GASPAR, escritor e jornalista maranhense, estão disponíveis na internet, constituem um corpus ideal, já que se trata de textos de dimensão razoável para serem tratados exaustivamente, sem perder de vista o conteúdo narrativo, que pode ser facilmente memorizado. O software STABLEX foi editado e comercializado pela Pirus de São Paulo: pedropaulo@pirus.com.br ou www.pirus.com.br. No mesmo CD, ao lado do software, figura além de um texto de Ajuda à Instalação, um livro de Lexicometria, em que o leitor vai encontrar essencialmente dois tipos de informação: uma informação relativa aos modelos matemáticos explorados e uma informação relativa à utilização da estatística. Que nos seja aqui permitido dizer rapidamente, que a estatística que vamos praticar, é uma estatística paramétrica, objetiva, cientifica e indutiva. Quer dizer uma estatística de descrição e de ajuda à interpretação. Dito disso, o nosso desejo seria que o leitor esquecesse de uma vez a dicotomia entre quantitativo e qualitativo, um barbarismo amplamente difundido e sem nenhum fundamento, nem lógico, nem matemático, nem estatístico, nem lingüístico. Aqui então, no primeiro momento, vamos apresentar os dados estatísticos do corpus inteiro, destacando a ACP, Análise em Componentes Principais, cuja finalidade é salientar a característica fundamental da distribuição das 3 variáveis (ou seja, dos 3 contos), e a seguir modalizar a AFD, Análise Fatorial Discriminante, para podermos aprofundar as estratégias discursivas dos 3 contos. No segundo momento, vamos abordar a análise lexical, textual e discursiva dos 3 contos, deixando-nos guiar pelos dados estatísticos da ACP, que vai salientar a relação dinâmica que existe entre os 3 contos, e da AFD, que vai destacar tanto a estrutura preferencial como a estrutura privilegiada do léxico, da qual depende a estrutura dinâmica do texto e do discurso, que vamos tratar de aprender e compreender no próprio ambiente natural, até entrar na própria intimidade do autor quando elabora os contos.

I. A estatística Os dados estatísticos resultam do levantamento e do tratamento exaustivo dos 3 contos feito com o software STABLEX. Infelizmente, não podemos dar aqui todos os dados destacados pelo tratamento dos textos. Portanto iremos diretamente aos dados fundamentais, as tabelas representativas e aos gráficos correspondentes para ter uma visão exata e adequada da estrutura do corpus e da relação que existe entre os contos. Vale a pena sublinhar com força o papel que a estatística desempenha nesse tipo de análise descritiva, objetiva e indutiva, quer dizer cientifica, ou matemática no verdadeiro sentido da palavra. A estatística dá a conhecer para melhor reconhecer. Ela é útil enquanto instrumento de observação, de descrição, de medição, de avaliação, de identificação, de justificação, de interpretação e de verificação da estrutura fenomenal inerente ao corpus analisado. Ela não diz nada a respeito da essência do fenômeno observado, mas ela faz ver e faz conhecer para fazer reconhecer. Ela é um instrumento ideal utilizado para analisar e interpretar os dados estatísticos fornecidos pelos modelos matemáticos e estatísticos, e possibilitados pela potência de cálculo do computador (no sentido etimológico da palavra).. Dados estatísticos dos 3 Contos No quadro seguinte figuram: - na primeira linha, a classificação dos contos. - na segunda linha, o léxico ou número de ocorrências. - na terceira linha, o vocabulário ou número de palavras diferentes. - na quarta linha, os hapax ou número de palavras de freqüência próprias a cada conto - na quinta linha, o vocabulário de freqüência - na sexta linha, a percentagem do vocabulário de freqüência - na sétima linha, a percentagem de repetição Contos 2 3 4 5 6 7 8 9 0 2 3 Voc 20400 34 99 03 2235 285 6 002 53 70 74 949 324 406 Lex 5682 57 89 642 06 004 630 54 774 806 884 956 677 632 Hapax 3753 27 35 25 42 379 203 76 258 288 360 373 284 228 F= 436 652 544 835 769 52 422 596 60 72 757 58 54 % de F = 76,4 73,2 84,7 78,7 76,6 82,7 78 77 75,7 80,5 79,2 76,5 8,3 % de repetição 23,6 26,8 5,3 2,3 23,4 7,3 22 23 24,3 9,5 20,8 23,5 8,7 A nossa atenção é chamada pelo número elevado dos hapax de um lado, que representam mais ou menos 50% do vocabulário de freqüência ; e, de outro lado, pela alta percentagem do vocabulário de freqüência, que vão sublinhando a importância do pitoresco na narrativa: o autor vai sempre à procura do detalhe, da minúcia, do pormenor. Essa característica deverá ser observada de modo constante na análise dos textos e dos discursos. Apesar de a estatística mostrar uma unidade na escritura e um parentesco evidente entre os contos, desde já podemos observar, através da riqueza do vocabulário, um texto acabado e uma narração elaborada prenunciando um discurso rigoroso e ponderado. 2

A representação gráfica da extensão dos textos dá uma idéia sintética e comparativa do comprimento dos contos: Comprimento dos contos 3 9 7 5 3 0 500 000 500 2000 2500 Todos esses valores são diretamente tirados da primeira tabela de contingência, a TDF, a Tabela de Distribuição das Freqüências..2 Densidades e peso lexical dos 3 Contos A densidade representa o peso de cada conto dentro do corpus. Os dados de densidade que figuram a seguir provêm todos da segunda tabela de contingência, a TDR, a Tabela de Desvios Reduzidos, automaticamente calculados pelo software numa planilha de cálculo, a partir dos cálculos de probabilidades efetuados na TDF. O leitor pode recorrer à definição dos programas inseridos no CD do software STABLEX para aprofundar as características dos cálculos estatísticos automaticamente realizados pelo computador, a partir do levantamento exaustivo do vocabulário dos 3 contos que constituem o corpus analisado. É evidente que não podemos dar aqui o conteúdo integral das duas tabelas, mas podem ser solicitadas e conseguidas de boa graça. Para simplificar a apresentação, damos a seguir o cabeçalho da dita TDR, para poder fixar os valores globais de densidade, assim como o valor do khi2 de Fisher, que define o grau de normalidade da distribuição e fixar os limites de controle da probabilidade. Contos 2 3 4 5 6 7 8 9 0 2 3 Total -4,702-9,490 4,273-4,479-9,236,968-7,257 3,29 4,79 9,873-8,058-0,969 -,50 2,866 Média -0,058-0,7 0,76-0,79-0,4 0,48-0,090 0,62 0,052 0,22-0,099-0,02-0,42 0,035 Khi2 0,95 0,04 0,03 0,032 0,03 0,022 0,008 0,026 0,003 0,05 0,00 0,000 0,020 0,00 O gráfico das densidades sob forma de barras permite discriminar automaticamente as densidades dos 3 contos: 3

Densidade global dos contos 3 9 7 5 3-0,200-0,50-0,00-0,050 0,000 0,050 0,00 0,50 0,200 À esquerda, cor de rosa, os contos cujo valor centrado reduzido é negativo, e, à direita, cor azul, os contos cujo valor centrado reduzido é positivo, conforme a escala que figura em baixo do gráfico. Assim podemos ver que o conto número tem um peso negativo, enquanto o conto número 3, o último, tem um peso positivo. Quanto ao khi2 de Fisher, ele tem um valor altamente significativo de uma distribuição normal, perfeitamente centrada, já que o valor do khi2 = 0,95, com 3 graus de liberdade. De fato, com esse valor, a distribuição é perfeitamente controlada com uma probabilidade de 00%. Qual é a significação desse khi2? Esse grau de probabilidade significa que o corpus é um corpus de alta homogeneidade. Que todos os contos são da mesma veia, da mesma pena ou da mesma autoria. Aliás, quem pode confirmar essa avaliação a não ser o próprio autor Carlos GASPAR? Dizendo isso, deixamos ao leitor toda a liberdade de avaliar o peso da estatística na análise computacional. De fato, no gráfico acima, vemos que os limites são apenas a ± 0,200. Enquanto esses limites seria rejeitados a ± 3,565 com uma probabilidade de 99,5%. Daí resulta, pois, que o corpus dos 3 contos pode ser e vai ser analisado de modo preciso com o método estatístico, que vai permitir abrir os alicerces da análise lexical, textual e discursiva. Infelizmente, aqui também não podemos abordar a observação da TDR, cuja grelha é um tesouro de informação qualitativa sobre o corpus, como vamos ver através da ACP (Análise em Componentes Principais) e da AFD (Análise Fatorial Discriminante). II. A ACP ou a Análise em Componentes Principais Que é a ACP? Ou, mais precisamente, que são os Componentes Principais? 4

Os Componentes Principais, do ponto de vista da estatística, são as variáveis consideradas como sendo uma unidade. No caso do corpus analisado, são os 3 contos, ou seja, as 3 variáveis que são representadas sob a forma de uma nuvem de 3 pontos. Nessa primeira análise, vamos observar a distribuição dos 3 pontos e, sobretudo a representação das distâncias que separam os 3 pontos na configuração especifica da nuvem. Essas distâncias não são medidas de medição, mas medidas de posicionamento, de distância ou distanciamento entre os pontos. É, a partir dos valores de correlação, que a Métrica R vai permitir medir, definir, descrever, identificar e observar as distâncias características do relacionamento entre os 3 contos. Quanto às características do modelo matemático da Métrica R o leitor vai encontrar a descrição no CD que acompanha o software STABLEX. Dito isso, vamos aqui diretamente para os gráficos representativos da configuração espacial da nuvem de pontos. Todos os valores são automaticamente calculados e todos os gráficos automaticamente realizados pelo software. 2. A projeção circular A projeção circular, a partir do co-seno da correlação, permite projetar a nuvem dos pontos no círculo trigonométrico: Projeção circular,00 0,50 3 8 4 0,00-0,50 -,00 -,00-0,50 0,00 0,50,00 A observação é imediata. Excepto o último conto, o número 3, os outros 2 contos são aglutinados, mostrando uma forte proximidade lexical. Assim destaca-se nitidamente a ligeira divergência do último conto, o conto da conclusão. 2.2 A projeção ortogonal 5

A projeção ortogonal, estabelecida a partir do cálculo dos quadrados do seno e do co-seno, em função da inércia total de distribuição, dá uma visão precisa da estrutura analítica da nuvem de pontos, já que o Alfa e o Omega, do primeiro e do último conto, ocupam, à esquerda, um lugar de destaque em oposição aos outros contos. Estes, à direita do circulo, separam-se em dois grupos: o conto 8 com o seno positivo separa-se dos outros contos com um seno negativo. Projeção ortogonal 0,5 0 3 8 9-0,5 - - -0,5 0 0,5 A projeção ortogonal dá assim uma visão mais precisa do posicionamento relativo dos contos dentro do corpus, designando desse modo uma ligação mais fina entre os léxicos, os textos e talvez os discursos. Afinal são quatro grupos: dois à esquerda (os contos e 3) e dois à direita (o conto 8 e os outros praticamente confundidos). A ACP abre assim o caminho da AFD, que não pode deixar de lado essa observação fundamental. Esses resultados analíticos vão condicionar o processo de observação, de medição, de definição, de identificação próprio da análise lexical, textual e discursiva, e afinal garantir o fundamento da avaliação e da interpretação da essência do fenômeno observado. 2.3 A projeção oblíqua A projeção oblíqua dá ainda mais detalhes sobre as características fundamentais da distribuição representados sob um ponto de vista gráfico diferente. 6

Projeção oblíqua 0,3 0,2 3 0,2 0, 0, 0,0 8 7 2 9 23 5 0 6 4-0, -0, -0, 0,0 0,0 0,0 0,0 Nesse caso, vemos nitidamente que o último conto ocupa um lugar de destaque altamente representativo duma diferença que ninguém podia supor à primeira vista, nem depois de uma leitura atenta e perfeitamente memorizada. O alfa e o ômega ocupam um lugar de destaque, cuja importância vai ser definida com a AFD. 2.4 A hierarquia A hierarquia confirma a distribuição dos gráficos precedentes: Hierarquia 0,0-0, 3-0,2-0,3-0,4 8-0,5 4 6 3 7 0 0 5 0-0,6 A distância do último conto, o conto número 3, é altamente significativa do valor conclusivo aí projetado pelo autor. Em que consiste essa conclusão? É preciso entrar na AFD para saber, conhecer e reconhecer de modo preciso. Além disso, esse gráfico mostrar que afinal os contos são diferentes, já que formam uma seqüência abaixo da média (representada pela linha vermelha horizontal), indo do conto 8 praticamente na linha transversal até o conto 4, na última posição. 7

2.5 Os vetores isótropos de resistência Quanto aos vetores isótropos representativos da resistência quando os valores trigonométricos sãos reduzidos à inércia máxima ou à inércia total, eles mostram nitidamente a configuração espacial dos textos, e, além disso, os pontos de focalização do discurso. Resistências isótropas C 0,2 C3 C2 C2 0, C3 C 0,0-0, C4 C0 C5 C9 C6 C8 C7 Os contos C, C8 e C3 projetam-se no exterior do círculo de raio 0, enquanto os outros contos projetam-se no interior do círculo de raio 0. O gráfico sob forma de barras mostra com precisão o comprimento e a orientação dos vetores de resistência com a máxima inércia. Comprimento e orientação do vetores de resistência 3 9 7 5 3-0,050 0,000 0,050 0,00 0,50 0,200 Para destacar ainda mais as diferenças, os vetores positivos de C, C8 e C3 são de cor vermelha, e os vetores negativos dos outros contos são de cor verde. Todos os valores destacados pela ACP têm um ponto de convergência que vai salientando a configuração estrutural do corpus analisado. O método objectivo e indutivo não vai formular nenhuma hipótese de trabalho, com faria o raciocínio dedutivo, raciocínio este totalmente 8

arbitrário, tautológico, artificial e discutível. Pelo contrario, o método indutivo abre todos os caminhos da pesquisa, sem preconceitos, sem prejuízos e sem compromissos. Cada vez que vamos abordar a análise de um conto, já desde o início sabemos onde se situa no concerto das variáveis, qual é o peso, qual é a dimensão, qual é o posicionamento. A partir daquele momento pode-se entrar na análise fatorial discriminante. 2.6 Conclusão De modo provisório, podemos salientar, a modo de conclusão, três pontos:. A estatística não pode ser reduzida ao estatuto (status, palavra etimológica de estatística ) da população analisada. 2. A ACP é o momento primordial na descrição do corpus, já que mostra de modo evidente a relação que existe entre as variáveis: o distanciamento dos componentes. 3. Os modelos matemáticos explorados pela estatística abrem os alicerces do léxico, do texto e do discurso, garantindo a objetividade do percurso analítico da segunda etapa, o da AFD. Podemos então abordar a análise lexical, textual e discursiva de cada conto, já que sabemos perfeitamente qual é o lugar que cada um deles ocupa no conjunto. Para terminar essa conclusão, citaremos essa página de Nauro Machado que acompanha o livro dos contos, intitulado A Invenção do Texto: Carlos Gaspar não busca no trabalho literário um sucedâneo descompromissado ou ameno para o seu duro e sério labor empresarial. As letras, no seu duplo sentido, lhe fornecem as possibilidades para reconciliar criativamente as pendências intercambiáveis da matéria e do espírito. Este é um livro de contos, de crônicas, de reminiscências transfiguradas, ou, tudo isso é mais o resultado de uma invenção verbal necessária para a recriação do universo de quem o escreveu? A começar pelo homem, que é "um invento de Deus", o autor, que acrescenta ser "um invento de meus pais", chega à afirmação conclusiva do conto número 3, com que finaliza no início o seu livro, corroborando o verso eliotiano de que no fim está o começo, na certeza também de que o por ele inventado está latente em si. Este livro de Carlos Gaspar é a revelação daquilo que já intuíam os leitores de seus artigos: o talento para transfigurar lembranças e fatos num contexto propício à sua desenvoltura ficcional. É como se o narrado, ao fazer-se, cumprisse a estratégia não mistificadora a que ele se submete para uma melhor análise das situações, também psicológicas, dos seus personagens. Não é, pois, matéria fácil classificar um livro como este, em que o fazer literário se realiza entre os limites daqueles diversos gêneros e que resulta por isso fora da compressiva uniformidade que se faz erroneamente complexa. O livro se constitui em 2 relatos e o capítulo conclusivo (o conto 3 que principia o livro) de um autor que busca compreender os enredos em que ficcionalmente se envolveu, através de um fazer textual claro e objetivo, para chegar à realização contextual, que soa como metáfora do universo: esta invenção de todos. A facilidade vocabular com que Carlos Gaspar desenvolve o enredo factual destes contos, na elegância de um estilo a denotar a convivência diária com os bons autores, e a montagem dessa 9

matéria, são elementos presentes neste livro, dando ao seu autor a plena posse afirmativa de um estilo pessoal. Essa página levanta muitas perguntas, pelas quais podem ser formuladas várias hipóteses de trabalho que o método, nesse caso sim, permite verificar. Mas tal não é o objectivo fundamental do método indutivo e paramétrico: no primeiro momento, ele, graças à ACP, abre o leque dos componentes estruturais para posicionar todas as variáveis dentro do corpus, e, no segundo momento, graças à AFD, vai abordar a análise (stricto sensu) de cada componente. Dado os resultados dessa primeira fase analítica, começaremos a análise pelo primeiro conto, o alfa, sabendo que o último conto, o conto número 3, é verdadeiramente o conto ómega, aquele que faz a síntese de um discurso que vai abrindo novas perspectivas, já que dá nova orientação à estrutura do corpus. Assim esta na alise vai seguir o seu próprio caminho sem preconceito nenhum, apenas passando pelos caminhos que acabam de ser revelados pela ACP. 0