BACIA DO RIO PIRACICABA (SP), BRASIL - GÊNESE DAS VARIAÇÕES PLUVIAIS E REFLEXOS NA DESORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO



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Transcrição:

BACIA DO RIO PIRACICABA (SP), BRASIL - GÊNESE DAS VARIAÇÕES PLUVIAIS E REFLEXOS NA DESORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO Ary Menardi Junior * João Afonso Zavatini ** Abstract: Many of the natural, social and economical aspects of the basin of the Piracicaba river have already been studied. However, the integration of every piece of information has not been brought about yet. Considering the way this basin has been organized, we will try to reveal in which moments the disorganization has occured, due to the atmospheric dynamic and the types of weather that generates rain or not. Key-words: basin of the Piracicaba river - spatial disorganization - integration of information - atmospheric dynamic - rain Introdução Dentre os recursos naturais mais promissores que o Brasil possui, temos as bacias hidrográficas, num total de nove, sendo seis autônomas e três agrupadas. Favorecido pelos regimes pluviais do tipo equatorial e tropical, que alimentam os cursos d água de maneira regular, e porque não dizer abundante, ao longo do ano, como é o caso da bacia Amazônica, o aproveitamento econômico deste recurso não se faz de maneira convincente. A má distribuição da população brasileira está associada a inúmeros fatores. Entre eles o mau uso de nossos rios, através de sua pouca utilização como meio de transporte inter-regional de mercadorias ou como fonte de energia em espaços ainda pouco ocupados, como a região Norte. A bacia hidrográfica que apresenta o maior aproveitamento dos fatores a pouco mencionados é a do rio Paraná, responsável pela drenagem da porção ocidental do planalto meridional e numerosas quedas d água e onde se instalou a maior usina hidroelétrica do mundo, Itaipu. Tida até os dias atuais como a de maior potencial hidroelétrico em operação, a bacia do Paraná apresenta entre seus afuentes o Tietê, que drena uma importante área do seu setor oriental. Selecionamos um afuente deste importante rio paulista - o Piracicaba, como tema do nosso projeto de pesquisa que estamos desenvolvendo junto ao Curso de Pós-Graduação em Geociências - UNESP - Rio Claro/SP. * Aluno do Curso de Pós-Graduação em Geociências - Área de Concentração em Geociências e Meio Ambiente - Nível Doutorado. ** Orientador - Departamento de Cartografia e Análise da Informação Geográfica. Instituto de Geociências e Ciências Exatas - UNESP - Universidade Estadual Paulista. Avenida 24-A, 1515 - Bela Vista - Cx. Postal, 178 - fonefax (019) 524-9622 13.506-900 - Rio Claro (SP) - Brasil e-mail: ary@ceapla.uesp.ansp.br 1

A bacia hidrográfica do Rio Piracicaba abrange uma área de 12.400km² e é composta por quarenta e quatro municípios, dos quais quarenta em território paulista, junto a região administrativa de Campinas, e quatro municípios mineiros (NEGRI, 1992). Ainda segundo o mesmo autor, as taxas populacionais desta bacia apresentam uma crescente urbanização, sendo que em 1970 a população era de 1.460.000 habitantes; em 1980 de 2.286.000 habitantes; e em 1991 de 3.011.000 habitantes. Essa bacia apresenta boas manchas de solo que favorecem a agricultura da região. Segundo o relatório elaborado pela Coordenadoria de Planejamento Ambiental - CPLA - ligada a Secretaria do Meio Ambiente, intitulado Bacia do Piracicaba - Estabelecimento de Metas Ambientais e Reenquadramento dos Corpos D água (1994), vamos encontrar os seguintes tipos de lavoura numa área equivalente de 761.350ha: cana-de-açúcar, citros, milho, café, arroz, hortaliças, etc. O elemento solo de per si não corresponde, sozinho, a maior ou menor produção agrícola. Outros elementos somados, como as chuvas por exemplo, influenciam nos altos e baixos rendimentos agrícolas (SANTOS, 1979). Vale ressaltar que o estudo da dinâmica atmosférica regional favorecerá o entendimento dos períodos em que habitualmente ocorrem as chuvas permitindo melhores ajustes no calendário agrícola da região. Segundo MONTICELI (1992) num estudo intitulado - Atuação do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos rios Piracicaba e Capivari,... como resultado do desenvolvimento econômico, ocorre demanda crescente de água para uso urbano, industrial e agrícola (...) as vazões dos rios nos períodos de seca são baixas e a carga poluidora tão alta que os tratamentos d água em algumas cidades estão seriamente ameaçadas.do ponto de vista climático a bacia do Piracicaba enquadra-se nas zonas de transição climática (MONTEIRO, 1973) cujo controle dos climas zonais é feito por massas tropicais e equatoriais, ao norte, e por massas tropicais e polares, ao sul. Quanto ao clima regional, ainda segundo o mesmo autor, esta porção do território paulista apresenta moderada precipitação à passagem das três grandes correntes da circulação regional. SANT ANNA NETO (1995) utilizando séries pluviométricas de períodos quase seculares cobrindo todo o Estado de São Paulo, encontrou aumento das precipitações por todo o território paulista, inclusive nas unidades pluviais, por ele definidas, que compõem a bacia em estudo. As variações do ritmo pluvial se fazem presentes ligadas a dinâmica atmosférica. Todas essas constatações estão intimamente ligadas aos fluxos polares para o inverno (MONTEIRO, 1969) e para a primavera-verão (TARIFA, 1975). Dois estudos foram realizados enfatizando a dinâmica atmosférica sobre a bacia do rio Corumbataí, principal afluente do Piracicaba: BRINO (1973) que oferece uma contribuição à definição climática dessa bacia e adjacências com ênfase à caracterização dos tipos de tempo e ZAVATINI & CANO (1993) que analisaram as variações do ritmo pluvial. A bacia do rio Piracicaba já foi abordada em vários de seus aspectos e inúmeros autores: SANTOS (1979) tratando da importância da variação do regime pluviométrico para a produção canavieira na região de Piracicaba; PROCHNOW (1990) faz uma análise ambiental da sub-bacia do rio Piracicaba, fornecendo subsídios ao seu planejamento e manejo; CHRISTOFOLETTI (1991) estuda a sazonalidade da 2

precipitação em toda a extensão da mencionada bacia. Porém, em nenhum desses trabalhos há menção à dinâmica atmonsférica. Por outro lado, não há nesses estudos a preocupação com a integração de dados, combinando topografia, climatologia, vias de transporte, etc. Considerando as estreitas relações entre a dinâmica atmosférica e variações do ritmo pluvial, faremos uma análise detalhada da sucessão dos estados atmosféricos, suas relações com a gênese e a distribuição das chuvas e os reflexos na desorganização do espaço, tais como: problemas com o abastecimento urbano de água, estiagens afetando as atividades agrícolas, interrupção do tráfego em rodovias ou ferrovias, etc. Metodologia Adotaremos a concepção climática criada por SORRE (1951), combinando-a com a análise rítmica de MONTEIRO (1971), onde a representação das variações diárias dos elementos climáticos aparece associada à circulação atmosférica regional. A variabilidade temporal e espacial das precipitações sobre a área em estudo será realizada sob o ponto de vista da dinâmica atmosférica, em seus diferentes ritmos de sucessão dos tipos de tempo, com base nos tipos de fluxo de invasão polar, propostos por MONTEIRO (1969) para o inverno e por TARIFA (1975) para a primavera-verão. A abordagem climática tradicional se faz presente através da contribuição dos gráficos de retas de tendências pluviométricas anuais, sazonais e mensais. Com base nos trabalhos de DINIZ (1971), SANCHEZ (1972) e TAVARES (1976), que usaram critérios de grupamento adotados por JOHNSTON (1968), serão escolhidos os anos-padrão, possuidores de ritmos atmosféricos e resultados pluviais diferenciados, ou seja, ano com pluviosidade habitual, excepcionalmente seco e úmido. A partir da análise de cartas sinóticas e de imagens de satélite serão estabelecidos os índices de atuação geral das correntes atmosféricas regionais, bem como aqueles geradores ou não de chuvas, nos anos-padrão escolhidos. A demonstração da distribuição espacial das chuvas será feita através das cartas de isoietas para os referidos anos. Para cruzar os elementos ligados ao estudo desta bacia uso do solo, declividade, rede de drenagem, vias de circulação, etc., usaremos os sistemas de informação geográfica, definido por TEIXEIRA et alli (1995) como sendo o conjunto de programas equipamentos, metodologias, dados e pessoas (usuário), perfeitamente integrados, de forma a tornar possível a coleta, o armazenamento, o processamento e a análise de dados georreferenciados, bem como a produção de informação derivada de sua aplicação. Material e Técnicas Através de dois órgãos públicos - o Departamento Nacional de Meteorologia, ligado ao Ministério da Agricultura e Reforma Agrária e o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE - São Paulo - SP), procuraremos obter o maior número possível de informações sobre dados pluviométricos da bacia do rio Piracicaba. A partir daí efetuaremos os seguintes cálculos estatísticos: média, desvio-padrão, coeficiente de variação, construção de árvores de ligação, escolha dos anos representativos, construção de retas de tendências (anuais e sazonais) e construção de gráficos de análise rítmica (MONTEIRO, 1971). 3

Durante esta fase da pesquisa serão utilizados programas de computador elaborados por ZAVATINI & FLORES (1988; 1990), desenvolvidos inicialmente em linguagem Basic e, posteriormente, atualizados para Turbo C, estando agora incorporados ao SIC (FLORES, 1995). Para análise dos sistemas atmosféricos, efetuaremos a análise dirária de cartas sinóticas do tempo e de imagens de satélite meteorológico, obtidas no Departamento Nacional de Meteorologia (DNMET) ou no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Com isto será possível efetuarmos o balanço dos sistemas atmosféricos atuantes sobre a bacia e ao longo dos anos escolhidos, bem como identificarmos sistemas geradores de chuva. A integração dos dados espaciais referentes a bacia do Piracicaba (uso do solo, declividade, rede de drenagem, vias de circulação, núcleos urbanos, etc.), será realizada através de SIGs (IDRISI, GEO-INF+MAP, dentre outros). Assim, através do cruzamento e integração das informações, obtidas nas obras mencionadas, com as que serão extraídas de cartas topográficas em diferentes escalas, obtidas no IBGE ou na mapoteca do Departamento de Cartografia e Análise da Informação Geográfica - IGCE - UNESP - Rio Claro, acreditamos que nosso estudo contribuirá para uma visão de conjunto da bacia do rio Piracicaba. Partindo da maneira como a mesma encontra-se organizada (atividades agrárias, indústrias, cidades, etc.) procuraremos demonstrar em que momentos ocorre a desorganização deste espaço, em função da dinâmica atmosférica atuante, dos tipos de tempo geradores ou não de chuvas, e dos impactos que estes períodos são capazes de provocar na área. Resultados parciais Até o presente momento estão sendo digitalizados em mesa os layers altitude, rede hidrográfica e vias de circulação (auto-estrada, estrada pavimentada, estrada sem pavimentação com tráfego permanente), a partir de trinta e sete cartas do IBGE, das quais trinta e duas estão na escala 1:50.000 e cinco, na escala 1:250.000, pertencentes à mapoteca do Departamento de Cartografia e Análise de Informação Geográfica - IGCE - UNESP - Rio Claro (SP). Para a digitalização do layer altitude está sendo empregado o sistema SGI do INPE. Os demais layers estão sendo digitalizados através do software Auto-CAD. As figuras a seguir ilustram parte das atividades acima descritas. Para a construção das mesmas selecionamos uma área próxima ao município de Campinas-SP, localizada dentro da bacia em estudo. 4

Figura 1 5

Figura 2 6

Figura 3 7

Bibliografia Citada. BRINO, W.C. Contribuição à Definição Climática da Bacia do Corumbataí e Adjacências (SP), Dando Ênfase à Caracterização dos Tipos de Tempo. FFCL, Rio Claro-SP, 1973. (Tese de Doutoramento) CHRISTOFOLETTI, A.L.H. Estudo sobre a sazonalidade da precipitação na bacia do Piracicaba (SP). USP/FFLCH, São Paulo, 1991. (Dissertação de Mestrado). DINIZ, J.A.F. Classificação de uma variável e sua aplicação na Geografia in Boletim de Geografia Teorética nº 1, Rio Claro, 1971. FLORES, E.F. Sistema de Informação Climatológica: desenvolvimento e inserção no Sistema de Informação Geográfica GEO-INF+MAP. UNESP, Rio Claro, 1995. (Dissertação de Mestrado) JOHNSTON, R.J. Choice in classification: the subjectivity of objective methods in Annals of the Association Geographers, vol. 58, nº 3, 1968. MONTEIRO, C.A. de F. A Frente Polar Atlântica e as Chuvas de Inverno na Fachada Sul-Oriental do Brasil. USP/IG, São Paulo, 1969. Análise Rítmica em Climatologia. USP/IG, São Paulo, 1971. A Dinâmica Climática e as Chuvas no Estado de São Paulo. USP/IG, São Paulo, 1973. PROCHNOW, M.C.R. A Qualidade das Águas na Bacia do Rio Piracicaba. UNESP, Rio Claro, 1981. (Dissertação de Mestrado) Análise Ambiental da sub-bacia do Rio Piracicaba: Subsídios ao seu Planejamento e Manejo. UNESP, Rio Claro, 1990. (Tese de Doutorado) SANCHEZ, M.C. A problemática dos intervalos de classe na elaboração de cartogramas in Boletim de Geografia Teorética 4, Rio Claro, 1972. SANT ANNA NETO, J.L. As Chuvas no Estado de São Paulo. USP/FFLCH, São Paulo, 1995. (Tese de Doutorado). SANTOS, M.J.Z. dos. A importância da variação do regime pluviométrico para a produção canavieira na região de Piracicaba (SP). USP/IG, São Paulo, 1979 (Série Teses e Monografias, 35). SORRE, M. Les fondements biologiques in Les Fondements de la Géographie Humaine, Tomo I. Armand Colin, Paris, 1951. TARIFA, J.R. Fluxos Polares e as Chuvas de Primavera-Verão no Estado de São Paulo. USP/IG, São Paulo, 1975. 8

TAVARES, A.C. Critérios de escolha de anos padrões para análise rítmica in Geografia nº 1, Rio Claro, 1976. TEIXEIRA, A.L.de A. et alli. Qual a Melhor Definição de SIG in Fator GIS 11, Sagres Editora, Curitiba, PR. Out./Dez. 1995, ZAVATINI, J.A. & FLORES, E.F. Gráfico de Análise Rítmica - Aplicações e Adaptações in Resumos, IV Simpósio de Quantificação em Geociências, 1:13-15. UNESP, Rio Claro, 1990. ZAVATINI, J.A. & CANO, H. Variações do ritmo pluvial na bacia do rio Corumbataí (SP). in Boletim de Geografia Teorética, 23(45-46). AGETEO, Rio Claro, 1993. 9