RELATÓRIO 1.º Energy Lab de Torres Vedras Data de Realização: 23 de Janeiro de 2013 Local: Auditório da Câmara Municipal de Torres Vedras Hora: 9-13h N.º Participantes: 23 INTRODUÇÃO O Energy Lab de Torres Vedras reuniu um conjunto diversificado de stakeholders da região. Autoridades locais, empresas, associações e instituições do conhecimento tiveram oportunidade de interagir e debater em conjunto o presente e o futuro (desejável) do setor energético de Torres Vedras, dando sequência a um novo paradigma de utilização de energias renováveis e promoção da eficiência energética que tem vindo a ser privilegiado nos últimos anos. À intervenção do Vice-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Dr. Carlos Bernardes, que incidiu nas principais linhas estratégicas do município para as áreas acima referidas, seguiu-se a apresentação, por parte da equipa da INTELI, do contexto, objetivos e resultados esperados do projeto RENERGY. Foi colocada especial enfase no plano de implementação local que será produzido para o território de Torres Vedras no âmbito deste projeto. O plano será apresentado no final de 2014, estando agendado para esse ano um novo encontro de stakeholders em Torres Vedras para uma discussão aprofundada e participada do mesmo. Ainda este ano, os Stakeholders serão convidados a participar no segundo Energy Lab de Torres Vedras (Junho/Julho) com o objetivo de debaterem em conjunto iniciativas europeias relacionadas com as 3 áreas temáticas abrangidas pelo programa (políticas, mercado, comunidade) cuja implementação se revelou um sucesso. Estas iniciativas poderão ser transferidas (com maior ou menor grau de adaptação) para outros territórios. O Renergy promove essa transferência. As intervenções dos stakeholders, que se revelaram muito profícuas, preencheram o resto da sessão. Fizeram-se diversas sugestões, e identificaram-se iniciativas e oportunidades de negócio passíveis de promover, direta ou indiretamente, o aumento da taxa de utilização de energias renováveis e os níveis de eficiência energética. A discussão, dinamizada pela INTELI, ocorreu em torno de 5 temas: 1. Biomassa 2. Biocombustíveis 3. Eficiência Energética 4. Microprodução 5. BioEconomia 1
RESULTADOS DA DISCUSSÃO Abaixo reportam-se as principais ideias e sugestões recolhidas, assim como informação relevante para traçar o diagnóstico energético da região e gizar (eventuais) oportunidade de negócio TEMA ESTRATÉGICO BIOMASSA #1 Informação relevante Existem 100.000 ha de área florestal no território de Torres Vedras dos quais 95% são eucaliptais plantados à cerca de 20/25 anos atrás. Os eucaliptais têm uma duração máxima de 30 anos ao fim da qual inviabilizam os terrenos para a maior parte da produção agrícola e florestal. Supõe-se que os solos dos eucaliptais sejam na sua maioria propriedade privada, arrendados a empresas de celulose que não têm qualquer obrigatoriedade de recuperar esses terrenos. Esta realidade poderá vir a colocar eventuais problemas aos proprietários, sobretudo num cenário de défice de capacidade financeira. Torres Vedras conta já com um projeto para a criação de um parque de biomassa para a produção de pellets. Ideias/Sugestões Necessidade de ter mais informação sobre a procura e oferta interna e externa do mercado de pellets. Estudar a possibilidade de utilizar a sucata vegetal (troços dos eucaliptos ao fim de 5 cortes) para ser valorizada como biomassa, a fim de patrocinar a recuperação e revitalização dos terrenos nesta condição. Calcular a probabilidade e a extensão do impacto da indisponibilidade de biomassa devido à inviabilização dos terrenos de eucaliptais em fim de vida. Investigar as atuais origens da biomassa utilizada no território (perceber de onde vem para se poderem equacionar as possibilidades de aumento da eficiência, assim como de aumento das taxas de utilização e substituição de outras fontes). Promover a utilização da biomassa (autoconsumo) em utilizações agrícolas (estufas) e vinícolas locais. Avaliar os usos alternativos (não energéticos) da biomassa, como por exemplo coberturas para estufas, adubos orgânicos (uma vez que os químicos consomem níveis elevados de energia) e compostagem. Avaliar o seu impacto no total de energia incorporada nos processos produtivos de produtos/processos substituídos assim como a redução da disponibilidade destas mesmas quantidades de biomassa nos eventuais planos de valorização e negócios para uso da biomassa como combustível. Equacionar a possibilidade de desenvolver um piloto de intervenção em zonas florestais, associando o objetivo de valorização energética da biomassa com os princípios de floresta sustentável e respetivos mecanismos de certificação de madeira e do território, extensível ao território nacional. 2
TEMA ESTRATÉGICO BIOCOMBUSTÍVEIS #2 Informação relevante A Câmara de Torres Vedras recolhe óleos usados e entrega-os a uma empresa local que os transforma em biocombustíveis posteriormente utilizados nos consumos da frota da Câmara. Tem-se detetado que a opinião pública revela receios da competição entre a utilização dos solos para as atividades agrícolas (produção de produtos alimentares) e a sua utilização para plantações dirigidas à produção de combustíveis, devido sobretudo ao aumento de preços dos alimentos que daí pode advir. É já proibido plantar eucaliptos em terrenos agrícolas ou com aptidão agrícola. A revitalização destes terrenos para plantação de biocombustíveis poderá resolver as restrições à plantação de culturas energéticas (biocombustíveis) assim como contribuir para a resolução do problema da inaptidão das plantações de eucalipto desativadas. Ideias/Sugestões Identificar e disseminar aos agricultores as características de solo necessárias para a produção de culturas para biocombustíveis. Identificar a percentagem de compatibilidade dos terrenos incultos, e áreas florestais eventualmente recuperadas de eucaliptais em fim de vida, relacionando os temas estratégicos da Biomassa e Biocombustíveis (#1 e #2), promovendo assim uma política integrada do território. Promover a orientação do poder local sobre os biocombustíveis e influenciar a reposição de incentivos adequados ao nível das políticas nacionais. TEMA ESTRATÉGICO EFICIÊNCIA ENERGÉTICA #3 Informação relevante A Barraqueiro Oeste (empresa de transporte público local) dinamizou um programa de condução eficiente na sua frota. Ideias/Sugestões Equacionar formas de contribuir para a revisão do normativo nacional sobre as características dos sistemas de aquecimento e arrefecimento nos edifícios e das diretivas de climatização. Estas diretivas induzem consumos elevados de energia e frequentemente introduzem rigidez nas estratégias de eficiência energética, ignorando as potencialidades de redução de necessidades. Avaliar a capacidade de (e como) influenciar a criação de diretivas mais adequadas às especificidades locais nomeadamente no que diz respeito às exigências regulamentares dos edifícios. Estudar formas de colocar as escolas como exemplos máximos das medidas de eficiência energética e como casos de estudo demonstradores das vantagens e do sucesso das técnicas de redução de energia. Estudar a possibilidade de promover show rooms de inovação energética e centros de literacia energética nas mesmas. Promover o combate ao desperdício energético ou seja às utilizações de energia sem valor útil. 3
TEMA ESTRATÉGICO MICROPRODUÇÃO RENOVÁVEL #4 Informação relevante Impossibilidade de injetar na rede excedentes das produções domésticas, o que limita o recurso a estes sistemas em maior escala. A empresa local Domática desenvolve tecnologia que permite a contabilização dos fluxos de energia consumida/injetada de modo a viabilizar mecanismos de balanço de rede e tarifação/incentivação/venda de energia a partir de produções domésticas. Na região, há alturas em que a EDP desliga as microproduções para balancear a rede uma vez que tem excesso de energia. Ideias/Sugestões Promover a microprodução e sinergias locais de modo a assegurar a independência dos sistemas energéticos regionais. Desmistificar os dogmas instituídos por empresas e interesses económicos que colocam barreiras aos ganhos de eficiência energética e apoiar a produção de legislação com base em princípios, em estudos isentos e expurgada da interferência dos interesses referidos. Estudar a possibilidade de storage local (nomeadamente através de instalações de hidrogénio). Utilizar sistemas domésticos de storage através do funcionamento de equipamentos que já podem guardar energia, como frigoríficos, máquinas de lavar, etc. TEMA ESTRATÉGICO BIOECONOMIA #5 Informação relevante A razão pela qual o investimento nas renováveis e eficiência energética é limitado prende-se com o facto de os cidadãos terem dificuldade em perceber os benefícios individuais e para o planeta que esse investimento pode aportar. A percepção é a de que a maioria dos negócios relacionados com o tema são uma burla suportada pela desculpa de que é bom para o planeta. Ideias/Sugestões Demonstrar os benefícios das tecnologias/iniciativas/conceitos para o cidadão comum e para a economia nacional, nomeadamente em termos de crescimento e criação de emprego. Apoiar/basear as iniciativas e sugestões numa perspectiva de mercado. Criar programas de biodesenvolvimento com foco no desenvolvimento económico. Outros OUTROS Informação relevante No Alentejo todas as casas foram projetadas sem ar condicionado embora a legislação nacional exija que estes sistemas ativos sejam instalados. A legislação em relação à qualidade do ar é fixada nos limites máximos, exigindo gastos exagerados de energia e limitando a utilização de sistemas passivos/alternativos. 4
Ideias/Sugestões Intervir do lado da produção para aumentos da performance ambiental. Promover a autonomia e flexibilização da política regional em relação à política nacional, reforçando a sua importância para a competitividade local. Estudar o equilíbrio entre a legislação nacional e as necessidades locais. Articular a produção de energia renovável na região de Torres Vedras (em escala superior à doméstica) com o eixo ferroviário do Oeste e sua eletrificação. Ao longo deste eixo está instalada a maior concentração de aerogeradores. Equacionar retirar da rede a produção das renováveis ao longo desta linha e canalizar essa produção para a eletrificação da rede ferroviária e das estações de carregamento elétrico da A8. O pico da produção eólica coincide com o pico dos transportes na linha do oeste. Este eixo podia ser um exemplo à escala europeia de uma abordagem integrada entre a utilização de renováveis, as necessidades existentes no sector dos transportes e as especificidades locais, aproveitando em simultâneo a viragem histórica da Europa em favor do ferroviário face ao rodoviário (as redes ferroviárias eletrificadas são muito mais competitivas que as não eletrificados). 5
Tiago Ferrão INTELI CM Torres Vedras Auditório 6