Caracterização de Isoladores Poliméricos Envelhecidos Artificialmente



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Transcrição:

Caracterização de Isoladores Poliméricos Envelhecidos Artificialmente P.C.Inone, F.Piazza e J.Tomioka, Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (LACTEC) J.M.M.Sales, Companhia Energética do ceará (COELCE) RESUMO Isoladores poliméricos de 15 kv, de vários tipos, foram submetidos ao envelhecimento acelerado em névoa salina por 1000 horas. O efeito do envelhecimento sobre as propriedades superficiais dos isoladores foi avaliado através da caracterização dos materiais antes e depois do envelhecimento. Foram feitas inspeções visuais, medidas de ângulo de contato, microscopia eletrônica de varredura e espectroscopia de infravermelho. Os resultados mostraram que, neste ensaio de duração relativamente curta, não ocorrem erosão ou trilhamento visíveis. Contudo, à nível microscópico ocorre um processo de erosão (microerosão), que pode comprometer o desempenho do material. PALAVRAS-CHAVES Erosão; envelhecimento; hidrofobicidade; isolador; microscopia eletrônica. I. INTRODUÇÃO mesmo formato, mas o EPC utiliza uma resina epóxi cicloalifática comum, enquanto que o EPCH utiliza uma resina cicloalifática modificada, que apresenta maior hidrofobicidade. TABELA 1 Descrição dos isoladores estudados Isolador Material do Tipo Distância de revestimento escoamento, mm S1 Silicone Bastão 410 S2 Silicone Bastão 485 E EPDM Bastão 470 PE1 Polietileno Pino metálico 360 PE2 Polietileno Pino polimérico 450 EPC Epóxi cicloalifático Pilar 400 EPCH Epóxi cicloalifático hidrofóbico Pilar 400 Materiais O ensaio em névoa salina tem sido utilizado para se testar a performance de isoladores [1], bem como a performance de materiais utilizados na confecção de isoladores [2,3]. O presente trabalho tem como objetivo, investigar os efeitos do envelhecimento em névoa salina por 1000 horas, sobre algumas propriedades superficiais de isoladores confeccionados com diferentes materiais poliméricos. A influência do envelhecimento sobre a hidrofobicidade do material, tem sido bem documentado na literatura [2,4-6]. Medidas de correntes de fuga em isoladores sob névoa salina também sido publicadas [3,8,9]. Espectroscopia de infravermelho também tem sido utilizada na caracterização do envelhecimento de isoladores [4,10]. II EXPERIMENTAL B. Envelhecimento em névoa salina Uma câmara de acrílico com volume de 10 m 3, foi utilizada no envelhecimento dos isoladores. Quatro bicos pulverizadores localizados no teto da câmara produziam névoa à taxa de 0,5 l/(h.m 3 ), com salinidade de 10 g/l. Os isoladores foram pendurados no interior da câmara através de fios de nylon. Isoladores de pino e pilar foram pendurados na posição vertical, enquanto que isoladores de suspensão foram pendurados na posição horizontal. Todos os isoladores foram submetidos à tensão eficaz de 13 kv, durante todo o ensaio. Os isoladores foram envelhecidos pelo período de 1000 horas, com exceção dos isoladores EPC e EPCH, que permaneceram energizados por apenas 570 e 780 horas, respectivamente. A. Amostras Todos os isoladores estudados são destinados ao uso em tensão nominal de 15 KV. Na tabela 1, são mostradas as características dos isoladores. S1 e S2 são isoladores tipo suspensão confeccionados em silicone, de fabricantes diferentes. PE1 e PE2 são isoladores tipo pino, confeccionados em polietileno. Ambos possuem o mesmo formato, mas o PE1 utiliza um pino metálico convencional, ao passo que o PE2 utiliza um pino polimérico, confeccionado com resina Norylâ, e porisso apresenta maior distância de escoamento. EPC e EPCH são isoladores tipo pilar, confeccionados integralmente em resina epóxi cicloalifática. Ambos possuem o C. Medidas de ângulo de contato O ângulo de contato de uma gota de água em repouso sobre a superfície de um isolador, definido de acordo com a Figura 1, foi utilizado como uma medida da hidrofobicidade do material. γ GS, γ GL e γ LS são as tensões superficiais nas interfaces gássólido, gás-líquido e líquido-sólido, respectivamente [7]. Gotas de água com volume aproximado de 10 ml eram cuidadosamente depositadas na região da haste dos isoladores, com o auxílio de uma seringa hipodérmica. Em seguida, utilizando-se uma câmara digital (Olympus, mod. UZ2100) com zoom de 10X equipada com uma lente macro, eram 520

tiradas fotografias de perfil das gotas. Os ângulos de contato eram calculados a partir das imagens digitais das gotas, com o auxílio de um software de geometria (Geometer s Sketchpad). FIGURA 1 - Ângulo de contato de uma gota d agua sobre uma superfície hidrofóbica. D. Microscopia eletrônica de varredura Amostras da superfície de isoladores novos e envelhecidos foram recortadas, coladas em porta-amostras e revestidos com uma fina camada de ouro. As amostras foram então examinadas no microscópio eletrônico de varredura (Philips, mod. XL30), a fim de detectar mudanças na morfologia superficial dos isoladores, devido ao envelhecimento. E. Espectroscopia de infravermelho Os espectros de infravermelho foram obtidos utilizando-se a técnica de ATR (Attenuated Total Refletion), através da qual se pode analisar diretamente a superfície do material. Amostras na forma de lâminas com 5 cm de comprimento, por 1 cm de largura, por 2 a 5 mm de espessura aproximadamente, foram retiradas da região superficial dos isoladores, para serem analisadas. Foram retiradas amostras na região das saias ou da haste, dependendo do tipo do isolador. O equipamento utilizado é um espectrofotômetro de infravermelho com transformada de Fourier, marca BOMEM, modelo DA8. Os espectros foram obtidos na região entre 650 e 5000 cm -1, com uma resolução de 2 cm -1, fazendo-se 20 varreduras para cada amostra. II. RESULTADOS E DISCUSSÃO A. Medidas de ângulo de contato É conhecido o fato de que radiação UV e descargas corona levam à perda da hidrofobicidade de isoladores poliméricos. Para alguns isoladores, esta perda é temporária, pois o material tem a capacidade de recuperar total ou parcialmente sua hidrofobicidade. Esta propriedade, de recuperar a hidro-fobicidade, é de grande importância para o desempenho do isolador em regiões de alta agressividade ambiental. A tabela 2, apresenta os resultados das medidas de ângulo de contato em isoladores novos e em isoladores envelhecidos. Todas as medidas em isoladores envelhecidos, foram feitas após períodos superiores a 1 mês, depois de encerrado o ensaio de envelhecimento, a fim de permitir recuperação completa da hidrofobicidade. Desta forma, os ângulos de contato obtidos refletem a capacidade do material de recuperar sua hidrofobicidade, isto é, uma diminuição no ângulo de contato do material envelhecido com relação ao material novo, significa que o material não recuperou, ou recuperou parcialmente sua hidrofobicidade, ao passo que se o ângulo for igual ao do material novo, significa que o material recuperou totalmente sua hidrofobicidade. A não recuperação ou a recuperação parcial da hidrofobicidade, será denominada daqui em diante apenas como perda de hidrofobicidade. Como pode ser observado, no envelhecimento em névoa salina os isoladores de silicone recuperaram praticamente toda hidrofobicidade, mas os de EPDM, epóxi e polietileno, tiveram perda considerável de hidrofobicidade. Com o objetivo de relacionar os ângulos de contato com a molhabilidade dos isoladores na prática, efetuou-se testes de imersão dos isoladores em água. O isolador de epóxi comum molhava-se completamente quando imerso em água, ao passo que o isolador de epóxi hidrofóbico apresentava regiões que se molhavam e regiões que repeliam água. O mesmo não era observado nos isoladores de polietileno que, embora apresentando baixos ângulos de contato, não produziam filme contínuo algum quando eram mergulhados em água. O pino de Noryl apresentou baixo ângulo de contato mesmo quando novo, sendo completamente umectável após o envelhecimento. TABELA 2 RESULTADOS DE MEDIDAS DE ÂNGULO DE CONTATO Isolador Amostra nova Amostra envelhecida S1 106 ± 3 102 ± 12 S2 105 ± 6 105 ± 5 E 102 ± 4 70 ± 6 PE1 83 ± 9 74 ± 2 PE2 78 ± 2 EPC 100 ± 5 66 ± 10 EPCH 96 ± 4 76 ± 25 Noryl (pino) 49 ± 4 0 B. Microscopia eletrônica de varredura Após inspeção visual a olho nu da superfície dos isoladores, não foi constatada a ocorrência de erosão ou trilhamento em nenhuma das amostras. Entretanto, foram observadas formas mais brandas de degradação, como perda de brilho, descoloramento e formação de manchas escuras. Posteriormente, com a utilização de microscopia eletrônica de varredura (MEV) observou-se a ocorrência de erosão a nível microscópico de acordo com a descrição a seguir. A figura 2 mostra fotomicrografias obtidas a partir de MEV, da superfície de isoladores novos (fotos à esquerda) e envelhecidos em névoa salina (fotos à direita). As fotos (a) e (b) mostram que o envelhecimento do isolador de silicone S1 provoca microerosão superficial através da formação de buracos espalhados uniformemente por toda a superfície do material. Os buracos parecem ser causados pela extração de partículas de carga mineral da superfície do material. O mesmo processo de microerosão ocorre com II Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica 521

Materiais o EPDM, como mostram as fotos (c) e (d). No caso do silicone S2, fotos (e) e (f), e do polietileno, fotos (g) e (h), o envelhecimento provoca desgaste superficial do material, aumentando sua rugosidade, mas não há formação de buracos. As fotos (i) e (j) mostram as superfícies do isolador de epóxi EPC. Após envelhecimento em névoa salina podem ser observadas partículas de carga mineral aflorando na superfície da amostra. O mesmo padrão foi observado no isolador de epóxi EPCH. Portanto, o envelhecimento dos isoladores de epóxi provoca preferencialmente a remoção de resina da superfície, deixando expostas partículas de carga mineral. Isto poderia ser a causa da perda de hidrofobicidade do material, uma vez que a carga mineral é hidrofílica. FIGURA 2 - Fotomicrografias da superfície de isoladores obtidas por MEV. Fotos à esquerda são de isoladores novos; fotos à direita são de isoladores envelhecidos. (a) e (b) silicone S1; (c) e (d) EPDM; (e) e (f) silicone S2; (g) e (h) polietileno PE2; (i) e (j) epóxi EPC. Ampliações originais de 2000X. C. Espectroscopia de infravermelho A figura 3 apresenta os espectros obtidos do silicone S1. As bandas em 2960 e 1270 cm -1, resultam de vibra- ções C-H e Si-CH 3, respectivamente, que envolvem os grupos laterais CH 3, enquanto que a banda em 1020 cm -1 resulta de vibrações de grupos Si-O-Si, pertencentes à cadeia principal. As bandas compreendidas entre 3700 e 3200 cm -1, resultam de grupos OH pertencentes à alumina trihidratada (ATH), uma carga mineral presente na formulação da borracha. A tabela 3 mostra que, com o envelhecimento, a redução nas absorbâncias das ligações C-H e Si-CH 3 é proporcionalmente maior que a redução na absorbância da ligação Si-O-Si, indicando haver ruptura preferencial de ligações Si-CH 3 referentes a grupos laterais CH 3, com relação a ligações Si-O-Si presentes na cadeia principal [4]. No caso do silicone envelhecido, notase uma redução na intensidade das bandas do OH, quando comparado ao silicone novo, devido à remoção de partículas de carga na superfície. A tabela 3 apresenta uma relação entre intensidade da banda do OH a 3436 cm-1 e intensidade da banda do Si-O-Si, mostrando que a concentração de alumina trihidratada na superfície diminui com o envelhecimento, de acordo com o que foi observado através de MEV. Na figura 4 são mostrados os espectros obtidos do isolador de EPDM. Em 2920 cm -1 existe uma banda devido a ligações C-H pertencentes à cadeia principal, e em 1460 cm -1 existe uma banda devido à ligações C-H pertencentes a grupos laterais CH 3. A banda em 1735 cm -1 resulta de grupos carbonilas gerados pela degradação oxidativa do polímero, e as bandas entre 3700 e 3200 cm -1 resultam de grupos OH pertencentes à alumina trihidratada, que é utilizada como carga. A tabela 4 apresenta o resultado de cálculos para o índice de oxidação do polímero (O i ), definido como a razão entre absorbâncias de grupos carbonila e grupos CH 3 [10]. Observa-se que a amostra nova, que já apresenta um pequeno grau de oxidação, sofre um processo de oxidação moderado, ao ser envelhecida em névoa salina. Na terceira coluna da tabela IV, são apresentadas as razões entre as absorbâncias de grupos laterais CH 3 e ligações C-H na cadeia principal. É observado que esta razão varia pouco ou nada com o envelhecimento, indicando que ruptura de ligações ocorre igualmente em grupos laterais e na cadeia principal. A figura 5 mostra os espectros obtidos para os isoladores de polietileno. Para o polietileno novo, foi possível observar uma pequena banda a 1738 cm -1, correspondente a grupos carbonila, gerados pela degradação oxidativa do polímero durante o processo de moldagem por injeção. Não foram observadas para os polietilenos envelhecidos, bandas de carbonila provenientes de degradação oxidativa. A figura 6 mostra o espectro de infravermelho obtido para os isoladores de epóxi. No espectro de isoladores envelhecidos, aparecem duas fortes bandas em 1160 e 1010 cm -1, atribuídas à sílica pulverizada, que é utilizada como carga na formulação do epóxi. Como foi 522

visto através de microscopia, figura 2 (i) e (j), a degradação do epóxi provoca o afloramente de partículas de carga na superfície do isolador, fazendo com que sejam detectadas no espectro de infravermelho. A tabela 5 apresenta a relação entre a absorbância da banda a 1010 cm -1, pertencente à sílica pulverizada e a absorbância da banda a 2913 cm -1 correspondente a ligação C-H presente no polímero. Nota-se que há aumento nesta relação, mostrando que a concentração de partículas de carga aumentou na superfície do isolador, relativamente ao polímero. (a) FIGURA 3 - Espectro de infravermelho do isolador de silicone S1, novo e envelhecido por 1000 horas em névoa salina. (a) FIGURA 6 - Espectro de infravermelho dos isoladores de epóxi, novos e envelhecidos por 1000 horas em névoa salina. (a) EPC; (b) EPCH. FIGURA 4 - Espectro de infravermelho do isolador de EPDM, novo e envelhecido por 1000 horas em névoa salina TABELA 3 Absorbâncias Relativas de Grupos Presentes em Espectros de Infravermelho de Isoladores de Silicone Isolador Absorbância relativa S1 novo 0,40 1,04 0,40 S1 envelhecido 0,29 0,84 0,14 TABELA 4 Absorbâncias Relativas de Grupos Presentes em Espectros de Infravermelho de Isoladores de Epdm. OI = ÍNDICE DE OXIDAÇÃO DO POLÍMERO. ISOLADOR ABSORBÂNCIA RELATIVA E novo 0,08 0,33 E envelhecida 0,30 0,33 FIGURA 5 - Espectro de infravermelho do isoladores de polietileno, novos e envelhecidos por 1000 horas em névoa salina. TABELA 5 ABSORBÂNCIAS RELATIVAS DE GRUPOS PRESENTES EM ESPECTROS DE INFRAVERMELHO DE ISOLADORES DE EPÒXI Isolador EPC EPCH Novo 0,08 0,27 Envelhecido 0,54 0,45 II Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica 523

IV. CONCLUSÕES Envelhecimento em névoa salina por 1000 horas não provocou erosão ou trilhamento aparentes nas amostras de isoladores; A observação ao MEV mostrou a ocorrência de erosão a nível microscópico em todas as amostras; Em isoladores de silicone, houve recuperação praticamente total da hidrofobicidade; O isolador de EPDM sofreu perda considerável de hidrofobicidade, a julgar pela redução no ângulo de contato após o envelhecimento, tornando sua superfície umectável; Os isoladores de polietileno, embora apresentando baixos ângulos de contato, não se tornaram umectáveis; A microerosão nos isoladores de epóxi provocou o afloramento de partículas de carga na superfície, tornando-os hidrofílicos. O epóxi cicloalifático hidrofóbico apresentou recuperação maior da hidrofobicidade em relação ao epóxi cicloalifático comum. V. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à COELCE e ao LACTEC pelo apoio financeiro e infra-estrutura durante a realização deste trabalho. VI. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS [1] A. Kohli et al., "Characterization of Polymeric Housings Materials of Nonceramic Insulators after Aging Tests", in Proc. 1998 IEEE International Symposium on Electrical Insulation, pp.343-346. [2] [H. Zhang and R. Hackam, "Surface Resistance and Hydro-phobicity of HTV Silicone Rubber in the Presence of Saltfog", in Proc. 1998 IEEE International Symposium on Electrical Insulation, pp.355-359. [3] R. S. Gorur, E. A. Cherney and R. Hackam, "A Comparative Study of Polymer Insulating Materials Under Saltfog Conditions", IEEE Transactions on Electrical Insulation, vol.ei-21, pp.175-182, Apr. 1986. [4] N. Yoshimura & S. Kumagai & S. Nishimura, "Electrical and Environmental Aging of Silicone Rubber Used in Outdoor Insulation", IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, vol.6, pp.632-650 (1999). [5] H. Hillborg & U. W. Gedde, "Hyrophobicity Changes in Silicone Rubbers", IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, vol.6, pp.703-717 (1999). [6] M. Ashraf & R. Hackam, "Recovery of Hydrophobicity in High Density Polyethylene", IEEE International Symposium on Electrical Insulation, June, pp.351-354 (1998). [7] P. D. Blackmore et al., "Condition Assessment of EPDM Composite Insulators using FTIR Spectroscopy", IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, vol.5, pp.132-141 (1999). [8] M. A. R.M. Fernando and S. M. Gubansk, "Leakeage Current Patterns on Contaminated Polymeric Surfaces", IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, vol.6, pp.688-694 Octob. 1999. [9] T. Sörqvist and S. M. Gubanski, "Leakage Current and Flashover of Fieldaged Polymeric Insulators", IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, vol.6, pp.744-753 Octob. 1999. [10] P. D. Blackmore et al., "Condition Assessment of EPDM Composite Insulators using FTIR Spectroscopy", IEEE Transactions on Dielectrics and Electrical Insulation, vol.5, pp.132-141, Feb 1998. Materiais 524