A ELABORAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES: UNIVERSIDADE INTEGRADA À ESCOLA BÁSICA



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Transcrição:

A ELABORAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES: UNIVERSIDADE INTEGRADA À ESCOLA BÁSICA Profª Ms.Adriana Claudia Martins Fighera (UFSM) Acad. Simone Fátima Novakoski(Letras-UFSM) RESUMO Refletir sobre a temática do material didático a ser utilizado em sala de aula é tema instigante na formação inicial e continuada de professores. Este trabalho desenvolve-se a partir da realidade de uma escola de Ensino Fundamental do município de Santa Maria/RS. Eis o contexto, que se buscou discutir a elaboração de um material didático de Inglês como Língua estrangeira (LE). A metodologia proposta foi de pesquisa, seleção e coleta de textos para cada lição, levando-se em consideração a faixa etária e os recursos financeiros dos alunos e da escola. Considerando-se os temas transversais de saúde e de meio-ambiente, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998) elaboraram-se as atividades do material em questão. Os resultados parciais indicam que há satisfação profissional da professora em formação inicial, bem como da professora orientadora desse trabalho com a aplicação das atividades do polígrafo e os momentos que se desencadearam das atividades planejadas. Importa mencionar a comprovação da motivação que esse material didático trouxe para esses alunos e para a escola como um todo. PALAVRAS-CHAVE: Material Didático. Inglês Língua Estrangeira. Formação Inicial. Escola Municipal. INTRODUÇÃO O texto discute a elaboração de material didático, tendo por horizonte a trajetória de formação inicial e continuada de professores, considerando-se a reflexão a partir da prática de uma professora em formação, em período de estágio supervisionado e, de uma professora orientadora desse projeto de elaboração de material e de estágio. A organização desse estudo contempla a observação de uma realidade de escola básica, de Ensino Fundamental com aprendizes de baixa renda, bem como, envolve questões de discussão e pesquisa de material didático, elaborados e aplicados numa turma de 4ª série, com 23 alunos. Para isso, partimos de uma necessidade de seqüência de ensino da língua estrangeira, ano após ano, indagamos o programa de ensino existente, proposto pela escola e professora titular da turma. Como reflexão proposta, indicamos o desafio de uma professora em formação inicial e de uma professora da instituição de ensino superior de encontrarem a possibilidade de discutirem a própria aprendizagem docente, a consciência e a responsabilidade a partir das questões de ensinar e de aprender.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA MATERIAL DIDÁTICO Durante a prática de estágio em escola pública constatamos que o sistema escolar brasileiro valoriza muito pouco o ensino de inglês. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, Brasil, 2000) editados pelo MEC, chamam a atenção para uma carga horária reduzida na grade curricular, além de classes superlotadas e falta de material didático ou recursos destinados para esse fim na escola de ensino fundamental (Brasil, 1998:21, 24). Além disso, encontra-se no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) (MEC, 2008) indicativos de que o material didático de LE não é disponibilizado como em outras áreas. O PNLD disponibiliza ás escolas somente livros nas disciplinas de Matemática, Português, Ciências, Geografia e História, mas não de LE. Além da falta de material didático no ensino fundamental de algumas escolas, pesquisas na área de linguagem (Ticks, 2003, 2007) e orientações para o ensino de LE (Brasil, 1999, 2006) destacam que as atividades de LE na escola ainda estão atreladas ao ensino descontextualizado da língua e desvinculadas da realidade do aluno. O foco do ensino é centrado numa concepção estruturalista, onde se busca ensinar apenas formas gramaticais, vocabulário através de memorização, escrita desconectada da vida social. A escola concentra-se no ensino apenas lingüístico ou instrumental da língua como se um idioma pudesse ser aprendido isoladamente de seus valores sociais, culturais, políticos e ideológicos (Brasil, 2006:90). No entanto, o papel do professor é reconhecer a importância da capacidade mental do aluno e ser capaz de ativá-la (Nicholls, 2001:29). Portanto, ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção (Freire, 1996:22). Ao organizar o material a ser ensinado de tal forma que se torne significativo para o aluno, o professor está concorrendo para ativar os processos mentais disponíveis no aluno e para a aquisição cociente de competência, um requisito necessário ao desempenho satisfatório (Nicholls, 2001:29). O professor de línguas precisa pensar o material didático através da ótica do seu público e do contexto ao qual ele pertence (Ticks, 2003:1). Nesse sentido, é fundamental que o ensino de LE seja contextualizado e relevante para a faixa etária dos alunos contribuindo para sua formação crítica, pois, um ensino de qualidade deve

aumentar a autopercepção do aluno como ser humano e como cidadão (Brasil, 1998:15). Tal função pode estar relacionada com o desenvolvimento de atividades críticas de linguagem que levem em conta as experiências dos alunos, suas práticas de leitura e escrita e com a implementação de atividades relacionadas aos temas transversais. 1.1.1 Temas transversais e transdisciplinariedade A aula de linguagem é uma oportunidade rica para a discussão de questões relevantes ao aluno (temas transversais) que ultrapassam os limites entre disciplinas escolares (transdisciplinariedade). Para tanto esta secção tratará destes dois tópicos importantes que foram levados em consideração na elaboração de nosso material didático. Os temas transversais são destacados pelos PCNs (2000) e mais recentemente, nos OCNs (Brasil,2006) como uma tentativa de orientar reflexões sobre temas atuais e relevantes que se relacionem com o contexto social do aluno. Os temas transversais são questões que envolvem múltiplos aspectos e diferentes dimensões da vida social, os critérios estabelecidos para a escolha são: urgência e abrangência nacional, compreensão da realidade e participação social (Brasil, 1998:25-26). São exemplos de temas transversais: ética, meio ambiente, pluralidade cultural, trabalho e consumo, saúde e educação sexual. A interdisciplinaridade refere-se a uma nova concepção de ensino e de currículo, baseada na interdependência entre os diversos ramos do conhecimento. (ROSSI, C.M.S, sd.) As atividades transdisciplinares envolvem relação com as diversas disciplinas atendidas pelo aluno no contexto escolar. O aluno pode ao mesmo tempo aprender uma língua estrangeira e ter a possibilidade de lidar com situações variadas, tais como assuntos da ciência, matemática, saúde e meio-ambiente. AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA Temas relacionados à aquisição da linguagem são pertinentes neste contexto de elaboração de material didático. Nesse sentido, a Hipótese do Noticing, que infere existir uma relação muito próxima entre atenção e aprendizagem vão ao encontro das idéias aqui propostas (Schmidt, 1990, 1994, 2000, 2001). Assim, o noticing é uma condição necessária e suficiente para que a aprendizagem ocorra e, quanto maior for o grau de atenção dispensado pelo aprendiz durante o processo, maior será a garantia de seu sucesso. Para isso, um material didático cuidadosamente elaborado pode provocar a atenção dos alunos durante as aulas.

Schmidt explica que o que os aprendizes notam é determinado por uma série de fatores, entre eles, a saliência do fato lingüístico em questão, a freqüência com que tal fato ocorre no input, o tipo de tarefa exigida e o nível de desempenho dos aprendizes na tarefa. Assim, a Hipótese do Noticing está centrada naquilo que os aprendizes notam no input e que se converte em intake. FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES Nesta seção discutimos o processo de aprender a ensinar com um caminho de reflexão crítica dos profissionais docentes. Com a prática de ensino, o aluno em formação inicial tem a oportunidade de se inserir no contexto escolar. Assim, certas situações, vivenciadas resultam num grande aprendizado profissional, como por exemplo, às questões que envolvem o material utilizado no ensino e aprendizagem da língua estrangeira. Desse modo, angústias e superações de dificuldades são vivenciadas. De acordo com Porlán (1997), algumas situações no planejamento e reflexão contribuem para a prática pedagógica, pois registram as ações que fazem daquele professor em formação uma pessoa única. Através da realidade escolar, das necessidades constatadas pelo aluno em formação e, até mesmo, o professor orientador, busca-se a construção do conhecimento e da aprendizagem. Nesse sentido, a trajetória de formação profissional se dá, também de modo institucional. Com base nesses pressupostos, Freire (1996) versa sobre a importância do processo contínuo de formação, que só acontece quando há uma reflexão sobre a prática. Porlán (1997) destaca que não é a mudança na forma de pensar que vai alterar a maneira de atuar, todavia, dificilmente mudaremos nossa forma de atuar sem refletirmos sobre nossas concepções. Além disso, acredita-se que são as experiências vivenciadas na escola que possibilitam a reflexão sobre as ações, as crenças, as críticas do grupo escolar, numa proposta de compartilhar das dificuldades e de buscar a superação das dificuldades. No intuito de compreender os saberes específicos de professores, diversos trabalhos e pesquisas foram produzidos desde a década de 1980, buscando constituir uma nova epistemologia da prática, alicerçada na reflexão sobre a ação (Schön). Tais produções contribuíram significativamente para a superação de modelos educacionais tecnicistas. Assim, uma nova abordagem do professor e seu trabalho vêm sendo construídos.

Esses diversos fatores de condicionamento do trabalho do professor permitem-lhe analisar, avaliar e planejar a própria ação. Os saberes decorrentes desse processo reflexivo foram destacados na entrevista coletiva, interpretados como um dar-se conta da realidade escolar, em alguns casos, dando origem a frustração e sentimento de impotência face a realidade escolar. 2. METODOLOGIA A metodologia proposta foi de pesquisa, seleção e coleta de textos para cada lição. Levou-se em consideração a faixa etária, os recursos financeiros dos alunos e da escola, o programa de 4ª série da escola, implementando temas relevantes de saúde, natureza e meio ambiente. Serão discutidos nesta secção a 2.1 Seleção dos textos Procurou-se contemplar gêneros textuais de popularização da ciência a fim de inserir os alunos num universo cientifico desde cedo, músicas infantis e textos não-verbais(imagens) coletados da Internet. Cabe destacar que os textos de popularização da ciência são textos sobre ciência propiciando ao leitor leigo o contato com a ciência através de uma linguagem que lhe familiar (Leibruder, 2000:229 citado por Fuzer, 2002:1). Esse gênero possibilitou o trabalho com os temas transversais de saúde e meio-ambiente e a transdisciplinariedade, focando em ciência, matemática, linguagem, etc. Tendo em mente a faixa etária dos alunos, os textos foram adaptados sites para crianças http://www.sciencenewsforkids.org por exemplo, facilitando a sua leitura. As músicas foram coletadas de sites como http://www.britishcouncil.org/kids e os textos não verbais (imagens) para a elaboração do vocabulário (ao final da unidade) foram retirados da Internet. 2.2 Estrutura das atividades Nesta seção serão discutidos os critérios de elaboração de atividades que se subdividem em atividades de: leitura, listening, produção escrita, lúdicas e vocabulário. 2.2.1 Atividades de leitura Inicialmente, foram exploradas atividades de leitura crítica de LE que objetivam conectar a experiência individual às experiências e estruturas sociais (Motta-Roth, 2007:4).

O ato de ler é um processo ativo e crítico de modo a demonstrar a função comunicativa do texto e a relevância da participação do aluno no processo de construção do conhecimento (Motta-Roth, 1998). Trata-se de uma mediação entre a linguagem e o contexto do aluno, levando o aluno a refletir questões da própria condição humana, social e econômica. (idem:ibidem). As atividades de leitura crítica se estruturam em três momentos de acordo com Wallace, C. (1992) e Aebersold, J.A. and Field, M. L. (1997): 1) pré-leitura: atividades que objetivam ativar do conhecimento prévio do aluno associando e colaborando para um melhor sentido do texto; estabelecer expectativas reais sobre o assunto do texto, para entendê-lo mais efetivamente; prever o assunto do texto, explorando título, subtítulo, textos não-verbais e noção de gênero. 2) leitura: atividades de identificação de palavras-chave no texto, atividades de gramática e vocabulário, entendimento de elementos culturais específicos tais como ironia, expressões idiomáticas, figuras de linguagem, também objetivam identificar a relação semântica entre as sentenças e orações; 3) pós-leitura: relação do texto com o contexto do aluno no qual o espera-se que o aluno seja capaz de associar o conhecimento do texto trazendo-o para a sua própria realidade e desenvolver a habilidade crítica, fazendo com que seja capaz de opinar em relação ao texto. 2.2.2 Atividades de Listening As atividades de compreensão oral (listening) são exploradas com o uso de recursos de som (CDS e DVDs) com músicas e filmes para a faixa etária. Algumas músicas exploradas seriam o The alphabet song (o alfabeto em inglês), Going to the zoo(indo para o zoológico) entre outras e o filme Madagascar. Destacamos aqui a importância do uso de tecnologias como a televisão e o som, a própria Internet que são disponibilizados na escola. Trata-se de recursos que auxiliam no aprendizado, tornando a aula interessante, estimulando o aluno, pois a escola e o vídeo são espaços diferentes de aprendizagem, mas não antagônicos. A TV o vídeo e o computador podem ser emissores, e não apenas receptores de idéias. Ela pode ser tanto um complemento do que aprendemos na escola como também um motor de conhecimento, Gaddotti (1997:32). Portanto, buscamos a conexão entre meios tecnológicos e o ensino de LE em escola pública. Pois, a informática e outros meio de comunicação podem servir como fontes de informação, comunicação e resolução de problemas a ser utilizada no

conjunto de atividades profissionais, lúdicas, de aprendizagem e da gestão pessoal. (Rossini, 2004). 2.2.3 Atividades de produção escrita Em seguida são desenvolvidas atividades de escrita sob a perspectiva sociointeracional da linguagem(backtin,1992, Fairclough, 1992), no qual a produção de um texto escrito é um processo social tornando-se um meio de interação entre o leitor e o escritor. Para tanto, as atividades desenvolvidas buscam focar na produção de textos reais que tenham conexão com a realidade do aluno. 2.2.4 Atividades lúdicas e vocabulário Ao final de cada unidade são desenvolvidas atividades lúdicas tais como: jogos, caça-palavras e cruzadinhas que objetivam estimular e alimentar a curiosidade e o interesse dos alunos pela LE. As atividades lúdicas promovem o aprendizado e a alfabetização de maneira criativa e divertida, pois aprender tem que ser gostoso (Rossini, 2004:13-14), baseando-se em idéias relacionadas com as necessidades e objetivos dos alunos. Já o vocabulário ao final da unidade tem por objetivo retomar o que foi aprendido. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a criação de diversas unidades foi desenvolvido um polígrafo que contou com apoio social, sendo este impresso, encadernado e entregue para cada um dos 23 alunos da turma 41 (4ª série), da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Helena, de Santa Maria-RS. Os resultados esperados desse projeto piloto são de proporcionar um material conveniente ao aluno, que seja organizado e tenha seqüência de conteúdo. Também oferecer ao professor em formação inicial orientação e apoio ao longo do período de ensino, sendo este já estruturado seqüencialmente. Além disso, espera-se um aluno mais independente do professor que possa rever o material perceber seu progresso ao longo do semestre. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste texto, buscamos sintetizar as reflexões acerca dos saberes produzidos por estagiários de Letras acerca do trabalho docente. No intuito de promover um espaço que

articulasse pesquisa e formação, buscamos realizar procedimentos metodológicos que aliassem reflexão individual e coletiva dos participantes acerca dos saberes produzidos ao longo das experiências de estágio. Com isso, esperamos contribuir para a reflexão sobre a formação inicial de professores, e as implicações da reforma recente nos currículos de licenciatura. Desse modo, como reflexão desse estudo, atendemos para as experiências de ser professor/professora, em espaços distintos ou, enquanto trajetória de um processo de desenvolvimento profissional. Cabe ao professor em formação inicial propiciar um ensino que alie a teoria com a prática. O desenvolvimento do material didático parte de teorias vistas ao longo de todo período acadêmico, vindo ao encontro da prática de ensino em escola pública. O material desenvolvido servirá de apoio ao professor, no entanto, há limitações principalmente, devido ao curto espaço de tempo. Caberá, portanto, ao professor em formação inicial, no decorrer do semestre fazer modificações, substituir ou até inserir novas atividades. Percebemos que se o ensino for contemplar as quatro habilidades de ler, escrever, ouvir e falar, será necessário o desenvolvimento de atividades que privilegiem a comunicação oral. REFERÊNCIAS AEBERSOLD, J.A and FIELD, M. L. From reader to reading teacher. Issues and strategies for second language classrooms. Cambridge: Cambridge University Press. 1997 BACKTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: MartinsFontes [1953]. 1992. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio: linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, DF, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio: temas transversais. Brasília, DF. Acesso em 23 de janeiro de 2008. Disponível em : <http://www.ceunes.ufes.br/downloads/pde-ensino%20fundamental%20-%20pcns%20- %20temas%20transversais.pdf.>, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília, DF. Acesso em 23 de janeiro de 2008Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pcn_estrangeira.pdf>, 2006 GADOTTI, Moacir. Lições de Freire. Revista da Faculdade de Educação. São Paulo, vol. 23 n. 1-2 Jan./Dec. 1997

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