ATA DA SESSÃO DE APRECIAÇÃO DA IMPUGNAÇÃO AO EDITAL CONCORRÊNCIA AA - 03/2007 - BNDES Aos dezesseis dias do mês de outubro de 2007, reuniu-se a Comissão de Licitação indicada por intermédio da Instrução de Serviço AA/SUP nº 063/2007, para análise da Impugnação ao Edital, apresentada pela STEFANINI CONSULTORIA E ASSESSORIA EM INFORMÁTICA S.A., que contempla, em síntese, as seguintes considerações: A DAS RAZÕES DE IMPUGNAÇÃO O Requerente, em síntese, questiona um eventual cerceamento à competitividade do certame, em decorrência dos critérios estabelecidos no Edital para julgamento das propostas técnicas. Impugnou (i) a inclusão, no Anexo II Requisitos Mínimos para a Proposta Técnica, do Edital, de exigências supostamente abusivas relativas aos requisitos mínimos da Proposta Técnica; (ii) a inclusão, no Anexo III Planilha de Pontuação de Proposta Técnica, do Edital, de exigências supostamente abusivas referentes à experiência dos profissionais da empresa licitante; e (iii) a previsão, no subitem 1.3 do Anexo II Requisitos Mínimos para a Proposta Técnica, do Edital, de limitação temporal consistente na apresentação de atestados de serviços realizados entre 01.01.2004 e a data da sessão de entrega dos envelopes de habilitação. B DA ANÁLISE DAS RAZÕES DE IMPUGNAÇÃO E DO JULGAMENTO: I- Do estabelecimento de requisitos mínimos na proposta técnica O objeto da Concorrência AA 03/2007, qual seja, consultoria técnica para implantação da Central de Atendimento ao Cliente do BNDES, constitui um serviço técnico que, para execução de seu escopo, na forma e nos prazos constantes do Anexo I do Edital, exige profissionais experientes e qualificados. Ao BNDES não interessa a prestação de serviço sem a qualidade esperada, visto que o resultado da consultoria subsidiará o BNDES na decisão da definição do modelo de sua Central de Atendimento e esta, provavelmente, acarretará investimentos para a sua implantação. Portanto, um serviço realizado por profissionais sem o perfil desejado poderá ter como conseqüência dispêndios desnecessários e um serviço de atendimento ao cliente ineficiente, que não atenda ao pretendido. O serviço licitado é extremamente específico e altamente técnico, envolvendo implantação de sistema bastante complexo. A Entidade Licitadora deve estabelecer no Edital os perfis exigíveis dos profissionais para cada atividade a ser realizada, bem como os critérios de substituição de profissionais, tentando com isso garantir a seleção da proposta que melhor atenda suas necessidades.
- 2 - Tais requisitos têm sede na própria especificação técnica, sendo que o atendimento dos requisitos mínimos é verificado quando da apresentação da proposta de preço (em uma licitação de tipo menor preço ) ou da proposta técnica (em uma licitação de tipo técnica e preço ). Pelos motivos expostos, o BNDES optou por uma licitação do tipo técnica e preço. Tanto nas licitações de menor preço quanto naquelas que se consideram a técnica é exigido do administrador público a análise da adequação das propostas apresentadas pelos licitantes em cotejo com as especificações do objeto. Ocorre que a pontuação não exclui, a priori, a análise de aceitabilidade da proposta técnica, ou seja, da adequação das propostas à especificação do objeto. Assim, não há impedimento para o estabelecimento de requisitos mínimos na proposta técnica; no caso de serviços, esses requisitos mínimos seriam a experiência e qualificação mínimas, porém mais específicos que os requisitos de habilitação, que, se não atendidos, acarretam a desclassificação do licitante, por serem os requisitos mínimos indispensáveis para um serviço de qualidade, servindo a pontuação como diferencial técnico entre os licitantes que comprovassem capacidade técnica e experiência mínimas para a execução do objeto contratual. Os requisitos mínimos, como o próprio nome indica, são o mínimo tecnicamente exigível dos licitantes para assegurar a entidade licitadora à execução de um serviço cujo resultado atenda suas necessidades. Não teria lógica entender que não deve haver nenhuma análise prévia de requisitos mínimos na proposta técnica em uma licitação de tipo técnica e preço, visto que em uma licitação de tipo menor preço, utilizado exatamente em objetos de menor complexidade técnica, há a análise da aceitabilidade da proposta em face da especificação do objeto. No caso de licitações de serviços a proposta deve cumprir o detalhamento prévio das especificações previamente definidas pela entidade licitadora (como é o caso da Concorrência AA 03/2007 BNDES), a formulação de quesitos de pontuação deve dar primazia à avaliação da habilidade, qualificação e experiência dos licitantes nos serviços objeto da licitação (Acórdão 786/2006 P), nos termos dos 1º e 2º do art. 46 da Lei 8.666/93, transcritos abaixo: Art. 46. (...) 1º Nas licitações do tipo "melhor técnica" será adotado o seguinte procedimento claramente explicitado no instrumento convocatório, o qual fixará o preço máximo que a Administração se propõe a pagar: I - serão abertos os envelopes contendo as propostas técnicas exclusivamente dos licitantes previamente qualificados e feita então a avaliação e classificação destas propostas de acordo com os critérios pertinentes e adequados ao objeto licitado, definidos com clareza e objetividade no instrumento convocatório e que considerem a capacitação e a experiência do proponente, a qualidade técnica da proposta, compreendendo metodologia, organização, tecnologias e recursos materiais a serem utilizados nos trabalhos, e a qualificação das equipes técnicas a serem mobilizadas para a sua execução; (...) 2º Nas licitações do tipo "técnica e preço" será adotado, adicionalmente ao inciso I do parágrafo anterior, o seguinte procedimento claramente explicitado no instrumento convocatório (...). (negrito não existente no original).
- 3 - Como pode ser verificado da leitura do artigo, a Administração deve definir, no Instrumento Convocatório, as exigências mínimas a serem cumpridas pelos licitantes e estas deverão ser imprescindíveis para assegurar que a entidade licitadora alcance seus objetivos. Portanto, nada impede que o edital preveja padrão técnico mínimo, destinado a eliminar propostas que não atendam a requisitos reputados como indispensáveis. A partir daí, as propostas são reputadas admissíveis, passando a serem diferenciadas de acordo com a pontuação alcançada por sua qualidade técnica. Na análise do dispositivo legal acima transcrito, o Prof. Jessé Torres Pereira Junior 1 O julgamento e a classificação das propostas técnicas levarão em conta critérios que a lei define, cabendo ao Edital apenas decompô-los segundo as características pertinentes à natureza do objeto licitado. Esses critérios são: (a) capacitação e experiência específicas do proponente na execução do objeto (não se repetirão as exigências de qualificação preliminar, que têm caráter genérico); (b) a qualidade técnica da proposta, ou seja, do modelo operacional a ser utilizado na execução do objeto, compreendendo metodologia, organização, tecnologia e recursos por meio dos quais o licitante pretende dar perfeita execução ao objeto; (c) qualificação das equipes técnicas que executarão o projeto. Concluído o julgamento e a classificação das propostas técnicas, encerra-se tal fase, que também é eliminatória e preclusiva. (negrito não existentes no original). No mesmo sentido, Marçal Justen Filho 2, em edição atualizada de sua famosa obra, dispõe, no trecho a seguir, sobre a proposta técnica: (...) Nada impede que o edital preveja padrão técnico mínimo, destinado a eliminar propostas que não atendam a requisitos reputados como indispensáveis. A partir daí, as propostas são reputadas admissíveis, mas introduzindo-se diferenciação proporcionada à maior qualidade técnica. (negrito não existente no original). Os textos parecem claramente indicar a possibilidade de requisitos mínimos obrigatórios na proposta técnica, cujo não atendimento ensejaria a desclassificação da proposta técnica. Nesse sentido, a Constituição Federal, no artigo 37, inciso XXI, foi taxativa delimitando que só se exigirá o imprescindível, in verbis: (negrito não existente no original) XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas das propostas nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. 1 Comentários à lei das licitações e contratações da administração pública, 3º ed., Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 295 2 Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 11ª ed., São Paulo: Dialética, 2005, p.436.
- 4 - Não se pode confundir qualificação técnica da habilitação e julgamento da proposta técnica. A habilitação consiste na fase da licitação na qual são verificadas as condições jurídicas, técnicas e econômico-financeiras do licitante, bem como averiguada sua regularidade fiscal. O objetivo da habilitação é apurar a idoneidade e a capacitação de quem se propõe a contratar com a Administração Pública, e está disciplinada nos arts. 27 a 33 da Lei de Licitações. Enquanto ato decisório, a habilitação é ato vinculado, não é informada por qualquer juízo de conveniência, nem pode se fundar na vantajosidade de propostas. Há uma radical dissociação entre habilitação (exame da presença das condições do direito de licitar) e julgamento das propostas. Em licitação do tipo melhor técnica ou técnica e preço são julgadas conjuntamente as propostas de preço e técnica dos licitantes, de modo a se eleger a mais vantajosa para a Administração, segundo os critérios de pontuação definidos no edital. Sua definição e características estão nos arts. 45 e 46 da Lei 8.666/93. Nessas hipóteses, a melhor qualidade técnica da proposta se refletirá em pontuação mais elevada. Logo, quanto melhor a qualidade técnica, tanto mais provável será a vitória da proposta. A classificação final será obtida através de uma ponderação da nota técnica e da nota atinente ao preço. Dentre inúmeras decisões deste Tribunal que enfrentaram a matéria, trazemos à colação a Decisão n. 351/2002 - Plenário - TCU, adotada em sessão de 10.04.2002, ao decidir sobre o TC 010.220/2000-8, referente à Representação formulada pela 3ª Secex, em que o Ministro-Relator Augusto Sherman Cavalcanti, no Voto condutor da deliberação, fez pertinentes considerações, a respeito do tema, in verbis: 26. Conforme se deduz da norma constitucional, há a permissão para que se introduzam exigências de qualificação técnica e econômica nas licitações. No entanto, como registrado por José Cretella Júnior, apenas serão admitidas exigências de qualificação absolutamente necessárias para demonstrar que o proponente está preparado para executar o objeto da licitação. Há, em conseqüência, uma visível determinação no sentido de que os requisitos sejam reduzidos ao mínimo possível. O BNDES, através da Unidade Demandante da Contratação, no exercício do poder-dever da autotutela da Administração, ou seja, o poder-dever de rever seus próprios atos, avaliou os requisitos mínimos exigidos no Edital para alterá-los. II- Do estabelecimento de exigências com relação à experiência dos profissionais A jurisprudência do TCU a respeito da exigência de profissionais prévia à contratação é pacífica no sentido de que tal exigência é vedada, seja na fase da habilitação, seja na fase de proposta técnica, por constituir restrição à competitividade, sendo possível apenas exigir a disponibilidade da equipe de profissionais da empresa Contratada. O BNDES não está exigindo que o licitante tenha vínculo com os profissionais durante a licitação, o que está sendo exigido é o compromisso do licitante em ter vínculo com o profissional no caso de
- 5 - sagrar-se vencedor do certame. O licitante vencedor, no momento imediatamente anterior à contratação, terá que comprovar o vínculo, na forma do subitem 13.1 do Edital. O Anexo X do Edital dispõe o seguinte:... o profissional (nome do profissional) é/será contratado, caso seja vencedora no certame, obrigando-se à comprovação do vínculo atestado no momento previsto no subitem 13.1 do edital da Concorrência AA -03/2007 - BNDES. Portanto, a exigência constante no Edital e seus Anexos não é abusiva e está em consonância com a jurisprudência do TCU. III- Da limitação temporal dos atestados de serviços A linha de entendimento do TCU é pacífica quanto à vedação de restrições temporais em atestados de qualificação técnica quando exigidos na fase de habilitação, considerando os termos do art. 30, 1º, inciso I, e 5º da Lei 8.666/93: Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a: 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo, no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas as exigências a: I- capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela entidade competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos máximos; (...) 5º É vedada a exigência de comprovação de atividade ou de aptidão com limitações de tempo ou de época ou ainda em locais específicos, ou quaisquer outras não previstas nesta Lei, que inibam a participação na licitação. (negrito não existente no original) No entanto, na pontuação técnica, vem sendo admitida pelo TCU, com reservas, a previsão de quantidades, volumes e prazos para os atestados de capacidade técnica, desde que tecnicamente justificáveis, principalmente com base na existência de nexo de causalidade entre o fator avaliado, o quesito de avaliação correspondente e a necessidade e adequação da restrição temporal para a execução dos serviços. Conforme estabelecido no Anexo IV do Edital, "somente serão considerados os atestados de capacidade técnica do licitante de serviços realizados e em fase de realização entre 01/01/2004 e a data do presente edital. Esta exigência encontra justificativa nas rápidas mudanças tecnológicas em acontecimento, principalmente em ambientes informatizados". Segundo a Unidade Demandante da Contratação do BNDES, uma central de atendimento envolve diversas tecnologias que precisam trabalhar de forma integrada, tendo a maior parte de seus componentes uma acelerada evolução, pois as empresas que desenvolvem estes softwares e
- 6 - hardwares investem milhões anualmente para lançarem novas versões de seus produtos, trazendo cada vez mais funcionalidades para propiciar melhor gestão e operação do atendimento. Desta forma, uma empresa que se dispõe a prestar consultoria no desenho e definição de um modelo de uma central de atendimento em um banco do porte e importância do BNDES não pode estar desatualizada em relação a qualquer uma das tecnologias que compõe o ambiente de uma central de atendimento, sob risco de oferecer ao BNDES e a seus clientes uma solução defasada e ineficiente em relação ao mercado. Portanto, exige-se que, no mínimo, esta empresa tenha desenvolvido um projeto de implantação de central de atendimento nos últimos 3 anos. Seguem abaixo alguns exemplos de tecnologias relacionadas com Central de Atendimento que vêm sofrendo constantes atualizações nos últimos anos: - IVR: Tecnologia que permite a um computador detectar voz e sinais telefônicos no decorrer de uma chamada telefônica. Um sistema IVR pode ser capaz de responder ou interagir com o interlocutor através de áudio pré-gravado ou gerado dinamicamente permitindo, por exemplo, instruir o interlocutor das ações a tomar, e estar dotado de reconhecimento de voz para possibilitar o reconhecimento de mensagens vocais como "Sim" ou "Não", nomes, etc. - discadores preditivos: Discam automaticamente para os números de telefone listados em um mailing. O processo consiste em calcular o tempo médio de cada ligação e iniciar a discagem de forma que os atendentes fiquem o menor tempo possível aguardando nova chamada, para em seguida transferi-la automaticamente ao primeiro atendente disponível. - CTI: Integração de telefonia com computador. Caracteriza-se pelo uso do computador para a administração das ligações entrantes e saintes da central telefônica. Seu objetivo é permitir o gerenciamento das ligações e a distribuição das mesmas através dos operadores e grupos de atendimento em serviços de Telemarketing, SAC, Helpdesk e URA, distribuindo as ligações de acordo com sua origem ou serviço desejado. - URA: URA (Unidade de Resposta Audível): Interface telefônica que permite a criação de aplicações sofisticadas de atendimento a clientes, com scripts em que o cliente navega. Permite um número ilimitado de diálogos, onde o cliente é convidado a informar dados que posteriormente serão consultados em um banco de dados e/ou repassados para um atendente. Integrado a bancos de dados, por exemplo, a URA possibilita criar sistemas de auto-atendimento com racionalização de linhas telefônicas e diminuição de custos com atendentes, pois funciona ininterruptamente, atendendo ligações 24 horas por dia. A URA atende a chamada telefônica, informa as diferentes opções de consulta para o usuário, solicita dados que podem ser discados no telefone e, em poucos segundos, busca informações num banco de dados e responde a consulta solicitada. O próprio sistema instrui e orienta sobre as opções de consulta disponíveis de maneira rápida e fácil. As ligações também podem ser transferidas para um atendente, se necessário. - VOIP: Integração telefonia / computador - Rede Privada Virtual (Virtual Private Network - VPN): Rede de comunicações privada normalmente utilizada por uma empresa ou um conjunto de empresas e/ou instituições, construída em cima de uma rede de comunicações pública (como por exemplo, a Internet). O tráfego de dados é levado pela rede pública utilizando protocolos padrão, não necessariamente seguros.
- 7 - Conforme demonstrado pelas considerações apresentadas pela Equipe Técnica da Unidade Demandante dos Serviços, restou demonstrado que o Edital atendeu aos princípios norteadores da atuação da Administração Pública. Ante os motivos acima expostos, afiguram-se desarrazoadas as alegações do Impugnante, motivo pelo qual não merecem ser acolhidas, razão pela qual entendemos pela manutenção dos itens impugnados. Rogerio Abi-Ramia Barreto Presidente Liane Salomon Vodovoz Membro da Comissão Maria de Fátima Lopes Povoa Membro da Comissão