GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE E DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA



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Transcrição:

GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE E DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA Rachel Cavalcanti Stefanuto O CONTEXTO DA SUSTENTABILIDADE A preocupação crescente com a sustentabilidade associa-se ao reconhecimento de que há uma crise em escala global, refletindo-se no campo social, ambiental, político, institucional, cultural, ético e moral. Um dia típico do planeta Terra é caracterizado por perdas irreversíveis de ecossistemas, florestas, espécies vegetais e animais, solo, reservas de pescado, ao mesmo tempo em que cada vez mais regiões vivem as conseqüências da escassez de água e das mudanças climáticas. Estas, por sua vez, são conseqüências do aquecimento global, gerado principalmente pela queima de combustíveis fósseis. Em outro elo dessa cadeia insustentável encontram-se milhares de pessoas submetidas à condições de vida precárias, sem acesso a alimento, moradia, água e saneamento básico. Por outro lado, esse quadro negativo, não é o mesmo quando se avalia a performance da economia mundial, que apresenta, de forma persistente, altas taxas de crescimento do produto global ao longo das décadas passadas. Desde 1946, o ano de 2009 foi o primeiro em que o produto econômico mundial apresentou performance negativa em relação ao ano anterior. A intensificação desse paradoxo (indicadores econômicos cada vez melhores ao lado de indicadores sociais e ambientais cada vez piores) possibilitou o crescimento da percepção sobre a necessidade de mudanças, que já se configuram atualmente em novas práticas, nos mais diversos setores da sociedade. Essas ações, apesar de serem iniciativas de minorias compostas por cidadãos, ONG s, empresários visionários e criativos, são suficientes para revelar o potencial de transformação do modelo atual para outro, que promova a prosperidade econômica, o equilíbrio ambiental e a justiça social.

SUSTENTABILIDADE: O CONCEITO Esse equilíbrio proposto tem a Sustentabilidade enquanto meta, e para que ela seja alcançada, de acordo com o Relatório Brundtland (1987), faz-se necessário: - promover o crescimento econômico como condição necessária para erradicar a pobreza; - mudar a qualidade do crescimento para torná-lo mais justo, equitativo e menos intensivo no uso de matérias-primas e energia, compatibilizando a atividade econômica com as exigências ambientais e as necessidades humanas - atender às necessidades humanas essenciais, como emprego, alimentação, energia, água e saneamento; - manter a população em níveis sustentáveis; - conservar e melhorar a base de recursos e serviços da natureza; - estimular o desenvolvimento de novas tecnologias que minimizem os impactos ambientais e ajudem a viabilizar o alcance das metas mencionadas acima. Também aumenta na sociedade em geral e, em especial no meio empresarial, a percepção de que a insustentabilidade social e ambiental interfere negativamente sobre a produtividade e prosperidade dos negócios que, por sua vez, impacta negativamente sobre a sociedade. Há inúmeros casos de impedimentos à expansão de atividades econômicas devido, por exemplo à escassez de água. Este foi o caso da construção de um pólo petroquímico no município de Paulínia (estado de São Paulo), que geraria centenas de novos empregos, elevação da arrecadação de impostos, além de economias de escala relacionadas à produção de importantes insumos para o parque industrial do Estado de São Paulo. OS 3 PILARES DA SUSTENTABILIDADE É de forma conectada, interligada que as três dimensões da sustentabilidade (ou três pilares) devem ser compreendidas: social, ambiental e econômica. Apesar de terem suas próprias especificidades, nenhuma delas pode ser entendida, menos ainda praticada de forma isolada ou independente de qualquer uma das outras, ou seja, educar, planejar e agir segundo as metas do desenvolvimento sustentável, exige que a inserção das três dimensões se dê de forma interdependente e inter-relacionada.

De forma equilibrada e concomitante, toda ação transformadora sustentável deve compatibilizar a busca de: a) equilíbrio ecológico, ou seja, conservação dos ecossistemas, base de sustentação da vida no planeta que fornece matéria-prima e energia para o sistema econômico, que produz bens e serviços para o mercado; b) justiça social, mais equidade na distribuição da riqueza gerada pelo sistema econômico e assim, no acesso ao trabalho, a alimento, saúde, moradia, educação, trabalho e lazer; c) eficiência econômica, que corresponde a uma economia na qual as empresas obtém lucro ao produzirem bens e serviços necessários e cada vez mais duráveis, reduzindo o consumo de matéria-prima e energia, além de terem processos de produção cada vez mais limpos, reduzindo emissões e geração de efluentes e de resíduos. A) A sustentabilidade econômica A inclusão da sustentabilidade econômica em qualquer decisão e/ou em qualquer ação vai muito além de garantir os lucros ou valorizar as ações das empresas, isso seria viabilidade econômica. Para todo e qualquer setor, as decisões devem transcender o imediatismo do curto prazo, ampliando o olhar para alcançar o longo prazo, na avaliação das consequências de qualquer decisão (que substituem a gestão imediatista do resultado em curto prazo), todas as formas de capital devem ser consideradas de forma integrada: capital humano (medida pela experiência e capacidade que se fundamentam no conhecimento dos indivíduos que compõem uma organização) 1 e capital natural (matéria-prima, energia para abastecer o sistema produtivo e capacidade de suporte para absorver os resíduos da produção e do consumo). Do que depende a sustentabilidade econômica? Mais do que alocação e gestão eficiente dos recursos, através de um fluxo regular dos investimentos público e privado, a tarefa será possível apenas se algumas condições atuais forem superadas, tais como: relações de troca adversas; o ônus do serviço da dívida e seu correspondente fluxo líquido de recursos financeiros do Sul para o Norte; as barreiras protecionistas ainda existentes nos países desenvolvidos; limitações do acesso à ciência e tecnologia. B) A sustentabilidade ambiental A sustentabilidade ambiental exige que reconheçamos a necessidade de diminuir a utilização de matérias-primas não-renováveis e geração de resíduos. Trata-se de uma tarefa urgente 1 Elkington, 2001.

reconhecer que os serviços da natureza, aqueles não tangíveis, não visíveis, são fundamentais e essenciais à nossa sobrevivência, tanto quanto qualquer recurso físico. Assim, por exemplo, as florestas precisam ser preservadas não só porque fornecem a madeira que será transformada em algum produto comercializável, mas porque são elas que realizam o processo de fotossíntese, fornecem uma gama enorme de produtos e sementes e que garantem o equilíbrio ecológico necessário para a preservação da nossa biodiversidade. O principal objetivo da sustentabilidade ambiental é a manutenção dos sistemas de suporte da vida, ou seja, trata-se da preservação da integridade dos subsistemas ecológicos, que são críticos para a estabilidade do ecossistema global, protegendo, igualmente as fontes de matérias-primas necessárias para a melhoria do bem-estar humano. C) A sustentabilidade social O significado da sustentabilidade social está estreitamente associado à redução da pobreza como a sua principal meta, pois o que se constata atualmente é o crescimento da pobreza, apesar das taxas sempre positivas de crescimento econômico. As exigências da sustentabilidade social nunca foram tão visíveis: quase metade da população mundial não tem acesso a saneamento básico e vivem com menos de US$ 2 por dia, cerca de 2 bilhões de pessoas no Planeta são desnutridas e é crescente a distância entre ricos e pobres em todo o mundo. A sustentabilidade social só poderá resultar do desenvolvimento qualitativo, da redistribuição de renda e da estabilidade populacional, que, por sua vez, só poderá ser alcançado com intensa e sistemática participação da sociedade civil nos processos decisórios. Podemos definir sustentabilidade social como a consolidação de um processo de desenvolvimento baseado em outro tipo de crescimento e orientado por uma visão alternativa do que seja uma boa sociedade. Dessa forma, o principal objetivo da sustentabilidade social tem sido bem caracterizado como a construção da civilização do "ser", que se caracterize pela maior eqüidade na distribuição do "ter" e da renda, melhorando substancialmente os direitos e condições da maioria da população, diminuindo a distância entre as nações. A GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE NAS EMPRESAS A gestão da sustentabilidade nas empresas tem se traduzido, ou tem sido praticada de forma ampla como gestão da responsabilidade social empresarial. Algumas instituições respeitadas

são responsáveis pela difusão das definições mais conhecidas e bem aceitas sobre Gestão da Responsabilidade Social Empresarial, ou como também é bem aceita a Gestão da Sustentabilidade. Para a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), de acordo com a NBR 16001 o termo é definido como a relação ética e transparente da organização com todas as suas partes interessadas, visando o desenvolvimento sustentável. A ISO (International Organization for Standardization), em sua Norma ISO 26001, define RSE como a responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bem estra da sociedade; leve em consideração as expectativas das partes interessadas; esteja em conformidade com a lei aplicável e seja consistente com as normas internacionais de comportamento; esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações. Respeitado e grandemente responsável pela difusão, aceitação e implementação da responsabilidade social empresarial no Brasil, o Instituto Ethos usa a seguinte definição: responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. Há vários termos que são comuns às 3 definições e que serão destacados: responsabilidade, ética, transparência, partes interessadas (stakeholders) e suas expectativas, desenvolvimento sustentável. a) Desenvolvimento sustentável Já trabalhado anteriormente o termo define a ação do sujeito consciente que resulta em benefício à sociedade, ao Planeta, sem excluir a produção de bens e serviços de forma eficiente e viável economicamente. É o mesmo dizer que o sistema econômico produz riqueza (bens e serviços) em escala suficiente, que se refletirá em bem-estar e qualidade de vida, que se distribuem de forma justa a toda a humanidade, ao mesmo tempo em que os bens e serviços dos ecossistemas são, no mínimo conservados, e melhorados, sempre que possível. b) Ética Pensar sobre ética tem sido um desafio de filósofos há séculos, assim, de imediato existe o reconhecimento de que esse é um tema sobre o qual não existe um entendimento simples e de consenso.

De forma breve, destacam-se as diferenças existentes entre a ética e moral, ou ética espontânea e a ética moralista. De acordo com Weill (1993), a primeira, aquela é que flui naturalmente, está em cada um, e independe de normas escritas, exige sabedoria e mais do que o uso da razão para nortear nossas ações, uma vez que a razão apenas complementaria as orientações subjetivas, ou do coração. A moral por sua vez, é necessária a todos nós, enquanto o processo de conscientização, e mudanças culturais, não podem despertar os seres humanos para a primeira. Assim, a moral, ou ética moralista, é um conjunto de normas prontas, padrões de comportamento que são estabelecidos através de legislação, normas de conduta, pressão social, e que são parte resultado da cultura hegemônica. Para Diskin (2000) trata-se de normas de comportamento que devem ser capazes de assegurar a continuidade do controle e do poder e devem convencer os indivíduos que a obediência a esses códigos é para sua bem, sustentabilidade, felicidade e garantia de futuro para si e demais gerações vindouras. c) Responsabilidade Responsabilidade é muito bem definida por Edgar Morin (1998), como a noção humanística ética que só tem sentido para o sujeito consciente. Pensar o sujeito consciente nos remete a outras definições complementares de responsabilidade como um gesto livre do querer voluntário (Grajew, 2000); ou ainda do que tem a ver com o querer, com o desejo das pessoas... com o dar-se conta de que as consequências de seus atos deverão ser desejáveis (Maturana, 1999). E ter ações desejáveis ao Planeta como um todo, nos remete ao pensamento de Dalai Lama (2000) quando define responsabilidade universal, como sendo a consideração pelo bem-estar do outro; é pensar a dimensão social dos nossos atos e do igual direito de todos à felicidade; é reorientar nossos corações e nossas mentes para os outros; é ter compromisso com a honestidade e com a verdade em tudo que fazemos; liga-se intimamente com a justiça, com a obrigação de agir quando se tem consciência da injustiça. d) Transparência Esse tema tem sido associado de forma cada vez mais frequente à sustentabilidade nos negócios, e sua inclusão é quase obrigatória em documentos e normas que regulamentam a gestão da sustentabilidade nas organizações. Seguem algumas das definições mais conhecidas - é abertura sobre as decisões e atividades que afetam a sociedade e o meio ambiente, e intenção de as comunicar em uma maneira clara, exata e completa (ISO, 2008); - é a divulgação completa de informações sobre os temas e indicadores necessários para refletir impactos e possibilitar a tomada de decisões pelos stakeholders, bem como sobre os processos, procedimentos e hipóteses usados na preparação dessa divulgação. (GRI, 2006);

- é o acesso, quando aplicável, das partes interessadas às informações referentes às ações da organização (ABNT, 2004). É fundamental mencionar que a transparência não impõe que informações reservadas tornem-se públicas, nem exige a disponibilização de informações protegidas legalmente ou que de outra maneira romperia obrigações legais (ISO, 2008), ou seja, transparência não se traduz pela obrigatoriedade das organizações revelarem toda e qualquer informação da instituição ou de seus processos. Pode-se afirmar que a transparência total não é possível, pois deve ser respeitado o direito das organizações de protegerem informações sobre inovações, processos originais, fórmulas secretas e estratégias empresariais. Intimamente ligada à confiança e reputação, a transparência consiste, de uma forma abrangente, numa comunicação das organizações com os seus públicos de relacionamento sobre as ações que afetam, afetaram ou que possam vir a afetar estes mesmos públicos, assim como o meio ambiente e a sociedade como um todo. Ela deve ser clara, honesta, ampla, proativa, acessível, realizada numa via de mão dupla e com linguagem apropriada ao interlocutor. (Alledi, 2010) e) Partes interessadas - stakeholders Ainda de acordo com a fontes que foram utilizadas é possível compreender o que são stakeholders ou partes interessados, ou ainda públicos de interesse. - É um indivíduo ou grupo que tem interesse em quaisquer atividades ou decisões de uma organização. ISO 26.000 (2008) - É um indivíduo ou um grupo que tenha um interesse em quaisquer atividades ou decisões de uma organização. (ISO, 2008) - Constituem organizações ou indivíduos cujos direitos nos termos da lei ou de convenções internacionais lhes conferem legitimidade de reivindicações perante a organização e podem incluir tanto as partes diretamente envolvidas nas operações da organização (como empregados, acionistas e fornecedores) quanto as que são externas a ela (a comunidade do entorno, por exemplo). (GRI, 2006). - É qualquer parte interessada, ou seja, qualquer indivíduo ou grupo que possa afetar a empresa direta ou indiretamente, por meio de suas opiniões ou ações em quaisquer atividades ou decisões de uma organização, ou ser por ela afetado. (Inst. Ethos, 2007) Mesmo considerando que os stakeholders possam ser mais ou menos diretamente afetados (stakeholder direto ou indireto), por uma organização, há uma tendência cada vez maior em se considerar stakeholder quem se julgue como tal, e em cada situação a empresa deve procurar fazer um mapeamento dos stakeholders envolvidos. (ETHOS, 2007a, p. 78). E o que vem a ser mapeamento de stakeholders?

Aqui começam a se explicitar alguns mitos, algumas falsas dicotomias a respeito da inserção da sustentabilidade na gestão das organizações empresariais. A sustentabilidade (ou às vezes) a insustentabilidade já é conhecida, ou minimamente percebida pelos CEO s e gestores que ainda não têm clareza e convicção suficientes para tomar suas decisões e escolher entre os ganhos relacionados ao desenvolvimento de novos produtos e inovação de processos e os custos financeiros relacionados a essas ações. O que sustenta esse tipos de dúvida é a dualidade que caracteriza nosso pensamento, focado no posicionamento ou/ou, como se não fosse possível ser rentável e sustentável ao mesmo tempo. Enfim, entendo a sustentabilidade como um modo de viver, de ser, de produzir e consumir que acontece em harmonia com o equilíbrio do planeta, com a justiça social e com a eficiência econômica. É o mesmo dizer que o sistema econômico produz riqueza (bens e serviços) em escala suficiente, que se refletirá em bem-estar e qualidade de vida, que se distribuem de forma justa a toda a humanidade, ao mesmo tempo em que os bens e serviços dos ecossistemas são, no mínimo conservados, e melhorados, sempre que possível.