EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: UMA POSSIBILIDADE PARA REFLETIR, INFORMAR, EDUCAR E PRESERVAR.



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Transcrição:

25 a 27 de maio de 2010 Facom-UFBa Salvador-Bahia-Brasil EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: UMA POSSIBILIDADE PARA REFLETIR, INFORMAR, EDUCAR E PRESERVAR. Ana Maria Garcia Moura 1 Cristiane Batista dos Santos 2 Resumo: Educação patrimonial é um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo (HORTA: 2003). Com base nesse pressuposto, foi desenvolvido o projeto de ensino Patrimônio Cultural Sergipano tendo como objetivo estimular práticas de educação patrimonial que privilegiem a apresentação de elementos do patrimônio cultural local. Para tanto realizou-se pesquisa bibliográfica e visitas aos espaços institucionalizados de cultura da cidade de Aracaju-Se. Dentre as instituições visitadas selecionou-se o Museu do Homem Sergipano MHSE para realizar visita com os alunos. Houve uma sensibilização por parte de toda a comunidade escolar para a importância de se conhecer o patrimônio cultural local. Palavras-chave: Patrimônio cultural, educação patrimonial, cultura local. 1 Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) E-mail: mouramgm24@gmail.com 2 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). E-mail: cristiane9386@hotmail.com

INTRODUÇÃO O ser humano está constantemente construindo, elaborando e reelaborando o meio no qual está inserido, o resultado desse processo dinâmico e interativo é manifesto em suas práticas culturais. Existem várias definições para o termo cultura, dentre elas (uma definição mais costumeira), a de que cultura seria um conjunto de crenças, valores e costumes de uma dada sociedade ou povo. No entanto, neste trabalho adotaremos a definição de E. B. Tylor que percebe esse fenômeno de forma mais ampla. Para Tylor cultura é o conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade. A partir dessa perspectiva, podemos afirmar que o homem é o único ser dotado de cultura. Ele cria e transforma seu meio com o intuito de melhorar sua qualidade de vida, mas na medida em que empreende essas transformações também é afetado por elas. Ao produzir cultura está produzindo a si mesmo, está manifestando os seus anseios, suas necessidades, sua humanidade. Homem e cultura constituem uma relação intrínseca de reciprocidade, uma vez que não existe cultura sem homem, da mesma forma que é impossível existir o homem sem que este se manifeste culturalmente. Por isso mesmo, Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva afirmam que: A cultura abrange todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo. Ou seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde artefatos e objetos até ideias e crenças. Cultura é todo complexo de conhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente. Além disso, é também todo comportamento aprendido, de modo independente da questão biológica (SILVA; SILVA: 2008, p. 85) Com base nessa noção ampla de cultura passou-se a refletir sobre a concepção de patrimônio. Inicialmente estava ligada a ideia de herança, bens familiares, mas com o surgimento de novas abordagens do termo cultura, patrimônio passou a incluir também as diversas manifestações humanas, ou seja, as formas do ser humano existir, ser e pensar, bem como as representações simbólicas de seus saberes. Essas manifestações podem ocorrer de maneira material e imaterial. Material é quando a cultura se apresenta por meios de objetos manufaturados, artesanatos, instrumentos cotidianos que o ser humano utiliza para modificar o meio natural e social

a seu favor. Imaterial são as visões de mundo, a linguagem, símbolos, valores, a religião, etc. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que a cultura é produto do ser humano também se configura em elementos singulares, de caráter objetivo e subjetivo, que penetra o homem modelando sua identidade, seu modo de vida, suas visões de mundo. Logo, o patrimônio cultural, entendido como os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem, está dentro desse contexto. Para tanto, Kalina Silva e Maciel Silva frisam que o conceito de patrimônio cultural não está restrito as produções materiais do homem, pois, envolve também as produções emocionais e intelectuais, isto é, tudo o que permite ao homem conhecer a si mesmo e ao mundo que o rodeia pode ser chamado de bem cultural (SILVA; SILVA: 2008. p. 325). Portanto, o patrimônio cultural é de fundamental importância para a memória, identidade e cultura de um povo. O patrimônio de um povo é muito mais do que um amontoado de antiguidades, feitos e lendas, pois, é por meio dele que temos acesso aos processos históricos culturais que nos antecederam. Cada objeto da cultura, bem como a utilidade, o motivo pelo qual foram feitos, estão intimamente ligados ao contexto da época, da sociedade que os produziram e por isso mesmo não podem ser vistos isoladamente. Esses objetos, esses conhecimentos (levando em conta os bens imateriais) constituem elementos significativos da memória social de um povo ou nação. Alguns desses objetos e conhecimentos são reconhecidos como bens culturais. Bens culturais são as produções humanas (artefatos, obras de arte, artesanatos, culinária) que expressaram ou expressam as características de uma dada época e sociedade. Há um atributo legal para a preservação de bens culturais, o tombamento, que garante a integridade e preservação da memória. Com o tombamento esses bens ficam sob a tutela do poder público. Através da apropriação desse conhecimento, relativo à importância da cultura, do patrimônio cultural, as pessoas poderão usá-lo na preservação da memória, da identidade. A cultura é dinâmica, mas é preciso que nesse processo dinâmico se tenha consciência das mudanças e das permanências, o porquê elas ocorrem e como as gerações anteriores se organizavam para entender a forma como estamos lidando com os processos culturais, e porque é necessário preservar a identidade e a memória. No entanto, para que esse processo seja conhecido é preciso que práticas de educação patrimonial sejam empreendidas envolvendo não só as instituições escolares,

mas a comunidade como um todo. De acordo com Maria de Lourdes Parreiras Horta, educação patrimonial é: um processo permanente e sistemático 3 de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Isto significa tomar os objetos e expressões do Patrimônio Cultural como ponto de partida para a atividade pedagógica, observando-os, questionando-os e explorando todos os seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimentos. (HORTA: 2003). Todas as pessoas participam do processo de elaboração cultural, porém muitas desconhecem a relevância de se preservar o acervo de bens materiais e imateriais que representam sua história. Conhecer o patrimônio cultural ajuda a entender os seus significados e a importância na construção de uma identidade em determinada dada sociedade. O conhecimento e a apropriação consciente por parte dos indivíduos do seu patrimônio são fatores imprescindíveis para a preservação sustentável dos bens, como também para fortalecer os sentimentos de identidade e cidadania. Conhecer os aspectos que fazem parte da diversidade cultural colabora justamente para o respeito à multiplicidade de manifestações culturais. (HORTA: 2003). O diálogo proporcionado pelo processo educativo estimula e facilita interação entre as diferentes comunidades, possibilitando assim, a troca de conhecimentos. Nessa perspectiva, a educação patrimonial se configura como um instrumento de alfabetização cultural que possibilita ao indivíduo ler o mundo que o rodeia, compreender seu universo sociocultural (HORTA: 2003). Com base nesses pressupostos, foi desenvolvido o projeto de ensino Patrimônio Cultural Sergipano no Colégio Folhinha Verde, numa turma do 5 ano do ensino fundamental, tendo como objetivo principal fazer com que os alunos tomassem conhecimento sobre o patrimônio cultural sergipano, reconhecendo sua importância. PATRIMONIO CULTURAL SERGIPANO: UMA POSSIBILIDADE DE ENSINO O projeto Patrimônio Cultural Sergipano, surgiu de uma proposta feita na disciplina Estágio Supervisionado II cursada no 7 período do curso de Pedagogia na Sociedade de Ensino Superior Amadeus, localizada em Aracaju Sergipe. 3 Grifo do autor

Inicialmente foi feita uma pesquisa de cunho bibliográfico a respeito do tema a ser trabalhado no projeto com o intuito de dar fundamentação ao desenvolvimento da prática pedagógica, em seguida observou-se durante quatro dias a turma na qual o projeto seria executado. Nesse período de observação pôde-se perceber que as atividades desenvolvidas pela professora em sala de aula eram planejadas de acordo com o cronograma da escola, que segue o calendário de datas cívicas e comemorativas, mesclando os conteúdos programáticos das diversas ciências, mas priorizando a escrita e a leitura. Foi possível observar também a rotina dos alunos e conhecer cada um deles, o que facilitou no processo de elaboração do projeto de ensino. Após isso foram realizadas visitas aos espaços culturais institucionalizados da cidade de Aracaju para coletar informações acerca do seu patrimônio, procedendo a elaboração do projeto de ensino logo em seguida. O projeto de ensino contemplou aspectos teóricos e práticos. Os aspectos teóricos foram desenvolvidos através de aulas expositivas e discursivas que abordou os conceitos de cultura, patrimônio cultural, bens materiais e imateriais, identidade, memória, preservação, tombamento, dando ênfase a aspectos singulares do patrimônio cultural sergipano. Os aspectos práticos foram desenvolvidos através da solicitação de pesquisa de campo (pedimos aos alunos que observassem em suas casas, com os pais e pessoas idosas aspectos que pudessem ser considerados patrimônio cultural de suas famílias ou da cidade), foram realizadas atividades de recorte e colagem, exposição de vídeos, além de uma visita ao Museu do Homem Sergipano MHSE. O Museu do Homem Sergipano foi escolhido dentre os espaços institucionalizados da cidade de Aracaju por apresentar melhores condições para receber o público infantil, pois, possui uma política que incentiva a interação com a sociedade (é possível agendar visitas, há uma calendário de exposições temáticas, estagiários disponíveis para acompanhar os alunos e preparados para fornecer informações sobre o acervo), além disso, a partir da vista prévia realizada, percebeu-se que o acervo do MHSE possuía objetos que chamariam mais a atenção e despertariam a curiosidade dos alunos. Os objetivos do projeto de ensino eram: conhecer o patrimônio cultural sergipano e sua importância, familiarizar os alunos com uma noção mais ampla de cultura, desenvolver no aluno a curiosidade pelo patrimônio cultural local, despertar o interesse de defender o patrimônio cultural, fazer com que os alunos adotassem posturas

favoráveis ao patrimônio cultural na escola, em casa e na comunidade, possibilitar ao aluno reconhecer-se como sujeito ativo na construção do patrimônio cultural. O projeto foi aplicado no Colégio Folhinha Verde, durante o período de 31/03/2008 a 15/04/2008, a instituição pertence à rede privada de ensino e está localizada no bairro Santo Antônio na cidade de Aracaju-Se. Por ser uma instituição de pequeno porte e ser adepta de práticas pedagógicas consideradas tradicionais, inicialmente o projeto não foi bem aceito, pois mudaria a rotina já pré-estabelecida (conteúdos, provas, revisões). Além disso, a proposta do projeto abordava práticas mais dinâmicas (formação de rodas de discussão, pesquisas na biblioteca, visita a espaços externos à escola, exposições, trabalhos em grupo, etc). Mas durante a execução do projeto percebeu-se que os agentes da escola (gestores, professores e alunos de outras turmas) demonstraram interesse e curiosidade. A professora da turma na qual o projeto foi realizado embora não tenha dificultado resistiu a mudança do roteiro de conteúdos, não disponibilizando as 5 horas aulas por dia, após o término das tarefas ela retomava os conteúdos programados. Os alunos responderam a proposta do projeto de maneira satisfatória. Demonstraram entusiasmo com a mudança de rotina, além de terem participado ativamente de todo processo. Alguns surpreenderam pela demonstração da rápida apreensão dos conceitos trabalhados e pela associação que faziam entre estes e sua realidade. Constatou-se que a facilidade em compreender tais conceitos resultou da abordagem didático-metodológica, que levou em consideração os conhecimentos prévios dos educandos. É importante ressaltar que os conceitos trabalhados em sala de aula deram subsídios teóricos para que os alunos pudessem analisar criticamente as informações apresentadas a partir dos objetos expostos durante a visita feita ao MHSE. Ao término do projeto notou-se que a maioria dos objetivos propostos no planejamento foram alcançados, os alunos passaram a demonstrar interesse e conhecimento a respeito de vários aspectos da cultura de Aracaju tidos como patrimônio cultural. Além disso, houve uma sensibilização por parte de toda a comunidade escolar para a importância de a escola manter relações mais próximas com outras instituições sociais no desenvolvimento de suas práticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação patrimonial tem importância implícita na valorização e preservação da memória coletiva, pois possibilita que conceitos que poderiam ser considerados de difícil compreensão para pessoas de determinada faixa-etária, realidade sócioeconômica ou nível de escolaridade sejam abordados a partir da realidade local, já que, como foi dito acima, todas as pessoas participam do processo de elaboração cultural e todas as culturas possuem bens culturais que são tidos como patrimônio cultural e possuem valor inestimável para preservação da identidade, necessitando por este motivo ser preservados. O trabalho com a temática patrimônio cultural permitiu aos educandos obter informações sobre sua realidade cultural possibilitando uma reflexão mais aprofundada a partir disso. Desta forma pode-se afirmar que os objetivos propostos no projeto de ensino Patrimônio cultural sergipano em geral foram alcançados, pois possibilitou momentos de aprendizagem informando, refletindo e estimulando, portanto posturas de defesa e preservação. Em suma, acredita-se que trabalhos como este, que expõem experiências reais analisadas a partir da relação entre teoria e prática podem contribuir consideravelmente para estimular outras experiências que visem incentivar práticas de educação patrimonial e que privilegiem a apresentação de elementos do patrimônio cultural local. Iniciativas desta natureza podem ainda melhorar o processo de ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS CARVALHO, Ana Conceição Sobral de; ROCHA, Rosina Fonseca (org). Monumentos sergipanos: bens protegidos por lei e tombados através de decretos do governo do Estado. Aracaju: Sercore, 2007. FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção ampla de patrimônio cultural. In: CHAGAS, Mario; ABREU, Regina (orgs). Memória e patrimônio ensaios contemporâneos. 2ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. P.59-79. FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra C. A. O que é Patrimônio Cultural Imaterial. São Paulo: Brasiliense, 2008. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. O que é educação patrimonial. Disponível in: < http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/ep/tetxt1.htm > acesso em 20/03/2010. LEMOS, Carlos A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2006. PELEGRINI, Sandra C. A. Cultura e natureza: os desafios das práticas preservacionistas na esfera do patrimônio cultural e ambiental. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 26, nº 51, p. 115-140 - 2006. Disponível em < www.scielo.com.br > Acesso em 7 de março de 2010. RIBEIRO, Wagner Costa; ZANIRATO, Silvia Helena. Patrimônio cultural: a percepção da natureza como um bem não renovável. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 26, nº 51, p. 251-262 2006. Disponível em < www.scielo.com.br > Acesso em 7 de março de 2010. SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos Históricos. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2008.