DEPOIMENTO DE DONA IZAR NASCIMENTO ALVES IZAR NASCIMENTO ALVES *



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Transcrição:

DEPOIMENTO DE DONA IZAR NASCIMENTO ALVES AO DO JUDICIÁRIO DO RIO GRANDE DO SUL Diz-se que o Júri é o Tribunal do Povo. E é o que o depoimento de Izar Nascimento Alves revela com todas as letras. O relato de Dona Izar foi realizado por sugestão do Juiz de Direito Felipe Keunecke de Oliveira, Titular do 1º Juizado da 2ª Vara do Júri de Porto Alegre, por considerá-lo importante como registro das lembranças, vivências e valores de alguém que viveu a função de jurada durante quatro décadas. Dona Izar conversou com toda a franqueza com o pessoal do Memorial do Judiciário. Nascida em Alegrete, filha de agricultor, depois de terminar o ginásio, veio para Porto Alegre terminar o 2º grau. Trabalhou como servente e depois na área administrativa do INSS. IZAR NASCIMENTO ALVES * Dona Izar, a nossa entrevista, além dos pontos sobre o Tribunal do Júri, da sua vivência, é para conhecê-la melhor. Primeiro, começando com a sua vivência escolar, em casa, os seus pais, a sua origem. Bom, eu não sou porto-alegrense, eu sou da fronteira, sou alegretense. Meu pai foi um pequeno agricultor, brasileiro nato. Naquele tempo, nós éramos 11 filhos mais o casal, então eu achei por bem, já adolescente, procurar um trabalho, porque, entre os demais irmãos que eu tinha, a gente precisava ajudar o pai nas lidas. Foi aí, * Depoimento concedido à equipe do Memorial do Judiciário, em 09-01-2013, no Memorial do Judiciário. Degravaç ão do Departamento de Taquigrafia e Estenotipia do TJRS. Textualização Carine Medeiros Trindade.

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História então, que eu fui para o Alegrete e fiquei uns anos, até que eu fiz 22 anos, e vim para Porto Alegre. Aqui continuei os meus estudos, mas famílias humildes, principalmente meninas, tinham pouco estudo na época. Então, eu terminei o ginásio e vim para fazer o 2º grau aqui, trabalhando de dia e estudando à noite. Tem coisas que eu lembro daquela época. Era muito bom, pois a gente trabalhava bastante, e estudar à noite, para nós, era tranquilo, a gente ia e vinha, chegava em casa onze e tanto da noite, e de manhã cedinho já estava novamente, nos esperando para ir ao trabalho. Eu trabalhei aqui só em uma empresa particular e depois fiz concurso, já fiz concurso para o serviço público, porque uma coisa que eu gostei muito, sempre, foi de estudar, com dificuldade, pois meu pai era, como já falei, pequeno agricultor, todos esses filhos, mas eu gostava muito de estudar. Então, terminado o 2º grau, logo eu fiz concurso. Trabalhei primeiro em um laboratório de prótese dentária, vários anos aqui, dez anos, depois, então, fui para a Previdência, para o INPS, e aí, então, fui sempre trabalhando, sempre procurando me atualizar, crescer. Primeiro eu trabalhei de servente, e o último concurso que eu fiz foi para Agente Administrativo. Então, me aposentei como Agente Administrativo da Previdência, e foi aí, quando eu estava na Previdência, que alguém me convocou para o trabalho de jurada. Foi uma convocação, então, que a senhora recebeu? Foi uma convocação. Não sei quem me convocou, mas fui convocada e, de repente, me chamaram. Como eu sempre fui uma pessoa que gostei de atender, na medida do possível, o que é bom e gostei sempre muito de prestar atenção nas leis do País, para mim foi muito bom. Então, eu continuei trabalhando, me aposentei, e continuei ainda no Júri. 228 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 No ano passado, em março, foi a última vez que eu atendi à convocação, conversei com o Dr. Felipe Keunecke de Oliveira e disse: Olha, Dr. Felipe, eu pediria que o senhor me dispensasse. Eu acho que já deu tempo, todos esses anos, eu acho que a minha missão está cumprida. Comecei neste prédio aqui. E a senhora poderia nos situar no tempo? Em que ano, mais ou menos, que a senhora entrou no INPS? O ano, para trabalhar no INPS, foi em 55. vez? E quando a senhora foi convocada para jurada pela primeira Pela primeira vez mais ou menos há 40 anos, mas que me chamaram para trabalhar como jurada, eu não guardei realmente quando eu comecei, só sei que comecei aqui. Em que década mais ou menos? Década de 70, mais ou menos. Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 229

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História E já era aqui no térreo do Palácio da Justiça? Já era aqui. Dona Izar, da sua primeira participação do Júri, que foi uma convocação, o que a senhora percebeu do trabalhar no Júri? Bem, eu, como já falei, não costumava escolher serviço. Me convidaram, e eu estava lá prestando muita atenção sempre, achando maravilhoso, porque estavam ali togados, o Sr. Juiz, os senhores advogados, Promotor, defensor, togados, e eu achei aquilo muito lindo, os jurados ali, os sete. Depois, então, eu comecei a entender, porque antes eu não conhecia o serviço, eu comecei a entender, vendo, por exemplo, aquela pessoa vir com os policiais ali, os policiais depois tiravam a algema, e a pessoa, então, ia sentar ao lado do seu defensor, e eu prestava muita atenção também na pessoa que estava sendo julgada. Acredito até que naquele tempo isso também era diferente, bastante diferente de hoje, porque hoje a gente, ainda trabalhando, pode ver que os presidiários são mais livres, parecem não temer, a maneira de agir deles é bem diferente. Naquele tempo, eles pareciam ser mais tímidos, tinha algum que até chorava, outros eram normais, mas era bem melhor. Agora não, agora a coisa é bem difícil, bem diferente, vamos dizer, e eles chegam ali porque são levados. Então, isso tudo, ao longo do tempo, a gente viu. A gente sentiu também a melhora que houve no trabalho dos senhores advogados. Como eu gosto de ouvi-los. Quando eles nos davam o processo, a gente abria o processo, e eles explicavam e mostravam, eu prestava muita 230 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 atenção, porque eu sou uma pessoa religiosa também, e eu nunca gostaria de fazer injustiça a alguém, tanto condenando, se preciso, como defendendo, se preciso. Antes de sair de casa, era o meu costume, eu me punha de joelhos e pedia proteção para Nosso Senhor Jesus Cristo: Proteja, me dê condições, me dê sabedoria e inteligência para que eu possa desempenhar essa tarefa de acordo com a Sua bendita vontade. Isso sempre foi o meu costume. E sempre procurei cumprir, sem faltar, que eu acho muito importante. A senhora notou uma diferença na postura do réu. O que a senhora entende? Que o réu antes teria um pouco mais de respeito, ele seria, talvez, melhor preparado pelo advogado? O que a senhora percebe? Talvez melhor preparado pelo advogado, sei lá. Não é respeito, mas o jeito, a maneira da pessoa se portar. Não sou psicóloga, mas parece que a gente tem um pouquinho de psicologia, começa a analisar a pessoa e o processo. Muitos pensam que o jurado não analisa o processo, mas o jurado analisa sim, e os senhores advogados põem na folha: Você vai analisar isso aqui, ver o que está escrito aqui, e a gente analisa e, enquanto eles estão conversando, a gente repassa o processo. Eu sempre fui muito calada, mas atenta, e muitas vezes no processo a gente está vendo o que aconteceu com ele, por que aconteceu aquilo, por que a pessoa foi assim, a gente vai analisando, não como doutora, que eu nunca fui, mas como uma jurada, forcejando para atender às obrigações. Mais sobre os tipos de crime. Sabemos que ao Tribunal do Júri vão crimes contra a vida, quando se teve a intenção de matar, mas às vezes há alegações do advogado dizendo que foi uma legítima defesa. Acontecia Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 231

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História muito, acontece muito esse tipo de defesa em que, no processo, os jurados estão vendo que não é... Que não é bem assim. Exatamente, não foi bem assim. Mas aí é a parte que a gente analisa, fica quieta ali e vai dizer justamente o que a gente achou. Eu era assim. Posso dar o exemplo de uma mulher, jovem ainda, que tinha um bebê isso já faz uns cinco anos de quatro meses, que ela matou porque queria acompanhar o homem, o marido, um desses desajustes de família. Então, ela queria acompanhar, e ele deixava ela em casa porque agora eles tinham um bebê, e ela simplesmente sufocou, ele morreu sufocado, tinha a foto da criancinha lá. E não mostrava arrependimento nenhum aquela mulher, por mais que fosse falado e tudo. Ela esteve até no Pelletier, e as irmãs mandaram uma carta para o Tribunal dizendo: Ela ficou seis meses aqui e não mostrou nenhum arrependimento. E era mesmo, para ela parecia que ela tinha feito uma coisa muito boa, sei lá, sentia-se liberta. Nesse Júri, ela levou um advogado muito bom, acho que até seria particular, porque, pelo jeito, ela pagou muito bem aquele homem. Ele era um advogado bastante inteligente, não lembro mais o nome dele, e aquele homem tentou mudar a nossa cabeça, tentou mesmo mudar a nossa cabeça. Eu olhei o processo, analisei e disse: Mas nós não estamos aqui para alguém mudar a nossa cabeça. Nós estamos aqui para julgar o caso. Então, eu e mais dois fomos pela condenação daquela mulher, porque eu digo: Não é como aquele moço está dizendo. Talvez ele seja muito bem pago. A gente não pode ceder, mas os outros quatro foram pela defesa dela. Até a própria Juíza, depois, disse: Acho que vou fazer voltar. E, quando volta, esta turma não volta, volta outra turma, e eu não pude ver, mas deveria ter ido assistir para ver como é que ficou aquele caso. É um dos casos mais horríveis que eu já vi, mas nós estamos ali para a nossa cabecinha dizer. 232 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Voltando, falando um pouco ainda das defesas que os réus alegam. Tem uma pesquisa que estamos desenvolvendo aqui no Memorial em que o réu matava a sua esposa em flagrante adultério. A senhora chegou a pegar algum Júri em que ele alegava legítima defesa da sua honra ou até em algum outro tipo de crime, não com a esposa, mas de legítima defesa da honra? E não era tão difícil isso. Era mais comum ele matar porque ela o traiu, traiu a honra dele, vamos dizer, e ele matava. Isso era mais comum em épocas passadas, era bem mais comum. Agora já não, agora parece até que os casamentos diminuíram, então já não é tão comum. Agora eu acho que vão para outra e acabou a história. É mais fácil isso. E normalmente os jurados acompanhavam essa defesa, realmente era legítima essa defesa da honra? Olha, eu olhava sempre, primeiro, aquele processo, o que vinha acontecendo e se a pessoa, não digo que fosse matar a pessoa, mas se a pessoa, vamos dizer, é tão falha assim, que na sua cabeça, do réu, agiu pelo certo. Eu achava isso. Se ela vinha traindo ou se dizia no processo que ele várias vezes tentou fazer com que ela não cometesse aquela traição, que, na época, era crime, eu cheguei a absolver a pessoa, pelo que eu lia. E algum caso que a mulher matou o esposo, a senhora chegou a pegar? Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 233

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História Que a mulher matou, eu acho que eu não peguei um caso assim, de a mulher ter matado o esposo, mais era o homem. Voltando um pouquinho. A senhora lembra, por acaso, do nome do Juiz da sua primeira participação no Tribunal do Júri? Ah, não lembro. Eu não lembro pelo seguinte, que a gente vinha, cumpria a missão e ia embora. A gente lia só nas instruções ali que o Juiz Fulano de Tal iria atuar, e eu tinha muita ocupação sempre: trabalhava, estudava, eu estava sempre ocupada. Eu lia, lia que estava atuando o Juiz Fulano, mas eu não era de guardar muito os nomes deles. Guardei o nome de poucos Juízes ou Juízas. Guardei o da Dra. Laís, que eu gostava muito também, e o do Dr. Felipe Keunecke, que é de agora, então desse eu não esqueci o nome, mas de guardar os nomes assim, não. O que sempre, sempre me preocupou muito foram as leis brasileiras, e as leis, se eu tivesse condições, se eu fosse alguém que pudesse mudar a lei criminal, eu mudava. Eu acho que as leis criminais estão terríveis hoje. A falta de respeito ao próximo, tanto de adulto como de crianças, parece que as pessoas estão ficando insensíveis. Eu tenho a impressão que essa lei é o que mais faz o progresso da injustiça. A senhora acha porque ela é muito leve? O que seria? Posso dizer muito leve e posso dizer também que essa lei deixa muito frouxo. Vamos ver se eu acho um exemplo do que eu quero dizer. 234 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Em março do ano passado, nós despendemos a tarde ou a manhã, de bracinhos cruzados lá, porque o preso só vai quando quer, o presidiário vai quando quer, e era o dia do Júri de um homem, mas ele não quis ir. Estávamos nós e o Dr. Keunecke lá esperando, todos prontos esperando. Então, aquela pessoa, que eu não conheci, não quis ir, e a Polícia não pode entrar na cadeia e tirar o sujeito, a Polícia não pode fazer isso. Então, eles têm lá um delegado, prisioneiro também, vocês devem saber, que é o chefe deles, e, se aquele delegado leva o prisioneiro até a porta e entrega para a Polícia, a Polícia traz para o Júri, mas, se não entrega, ele não vem, e nós voltamos para casa. Já pensou? Juízes, jurados, Defesa, Promotoria. Simplesmente o sujeito não quis ir. É uma falta de respeito até com as pessoas. Até com as pessoas. É por isso que eu acho que as leis estão muito leves em certo sentido. Dona Izar, voltando, então, para os tipos de crime. Tem algum crime que tenha lhe chamado mais a atenção porque chamou a atenção da comunidade local, que tenha impactado, como a gente chama, as pessoas? Para a comunidade local, vários crimes que acontecem, vamos dizer, na vizinhança, que, de repente, um inocente está pagando pelo que não fez. Isso é muito fácil. Antes, os senhores sabem muito bem, quem morava em bairro, tinha um murinho dessa alturinha, mas hoje é tudo com grades de Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 235

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História ferro, com fios elétricos, e ainda, podendo, eles entram. Então, por isso eu acredito e sempre achei que as leis brasileiras estão arcaicas. Elas não poderiam ser assim como são. Eu não sou ninguém para julgar isso, mas eu propriamente acho que as leis criminais precisam ser mudadas. A gente sabe que os jurados no Tribunal do Júri devem ser protegidos, o sigilo dos seus votos. A senhora já presenciou alguma quebra do sigilo ou alguma tentativa dessa quebra do sigilo por alguém externo ou até por algum jurado? Olha, quebra do sigilo, todos esses anos, eu não presenciei nenhum, porque a gente sai dali, vai para aquela salinha, ali a gente vota. Felizmente eu não presenciei a quebra de sigilo de nenhum dos jurados. Dava certinho, cada um com o seu votinho e tudo. Isso não. E alguma tentativa até de pressão do réu, do advogado ou de alguém externo para a votação? Alguma tentativa externa de pressão? Bom, pressão, às vezes, sim. A pessoa vem assim, na calma, com jeitinho de bonzinho, achando que o seu cliente é muito bom. Isso já aconteceu sim. Então, eu, nesses momentos, ficava indiferente. Simplesmente a pessoa está conversando, indiferente. Parece que, como se usa a expressão comumente, entra aqui e sai ali. É uma conversa mais ao pé do ouvido, tentando convencer? 236 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 É, mais ao pé do ouvido, tentando convencer e tudo. Então, eu achei que o melhor era isto: nem sim, nem não. Porque lá eu vou, como eu já falei, observar o processo, ver como é. Não vou me vender para ninguém por dinheiro. Nunca me ofereceram dinheiro, mas vêm com aquela conversinha que parece certa, mas é mentirosa. A senhora não chegou a presenciar algo mais grave, uma ameaça, alguma coisa mais séria? Até não só aos jurados, mas ao Juiz, durante o Tribunal do Júri? Alguma coisa mais grave, a senhora chegou a presenciar? Eu acredito que não, mas teve um sujeito, com o Sr. Juiz, que ele parecia não querer acatar ou coisa assim. Isso aí já teve. Era uma pessoa que, a gente, olhando, não podia falar lá, mas depois disseram que ele era perigoso. Isso eu já vi. Sim, de observar a própria pessoa já se notava? Já se notava. Observando a própria pessoa, a gente já notava. Dona Izar, a senhora disse que o seu primeiro Tribunal do Júri foi aqui. E os outros locais? Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 237

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História Foi só lá, depois que foi para lá, para o Foro Central. Eu não participei em nenhum outro local. A senhora chegou a conhecer outros jurados que tenham participado tantas vezes, não tantos anos quanto a senhora, mas muitas vezes do Tribunal do Júri? Algumas vezes sim, mas muitas vezes não, porque a gente costuma sair dali, sair o mais rápido possível para não ficar... Mas a gente, que foi várias vezes, a gente acabava se cumprimentando, vamos dizer, mas cada um para a sua... Até porque o jurado tem que ficar mais na sua, vamos dizer, até para não dar nenhum problema. É, é o costume do jurado, pra não dar nenhum problema. Então, eu ficava mais quieta e tratava logo de desaparecer daquele local. A senhora, como jurada, já que a senhora já pediu dispensa, acha que inocentou mais ou que condenou mais? 238 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Eu acho que nesses anos todos eu inocentei mais. Se eu disser que condenei mais, não é verdade. Eu inocentei, olhando, estudando, verificando bem como é que foi, porque a gente é povo, é júri popular, e essas pessoas também são povo, e eu não estou ali para ser carrasca, estou ali para ver. Se eu via que ele, nem é inocente, porque estava sendo julgado, mas que era uma pessoa que os antecedentes dele não eram tão ruins, parecia ser uma pessoa que ainda poderia ser salva, vamos dizer, eu inocentava. Então, eu inocentei mais do que condenei. Então, realmente, a gente diz que é o caso, é o crime que está sendo julgado, mas o que essa pessoa tem de história conta? É. Exatamente. Conta. E sempre foram pessoas da população, o povo, como a senhora falou. E alguém mais abastado, alguém com uma classe social mais alta, vamos dizer, já passou por um Tribunal do Júri que a senhora participou? Bom, a gente não fica sabendo, mas aquela mulher da criancinha, eu acredito que ela tivesse dinheiro e que pagou, como eu falei, muito bem aquele advogado, pela maneira como aquele moço agiu, mas aquela não Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 239

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História me convenceu. Eu acho que ela deve ser de família abastada, sei lá, mas outros a gente não ficava sabendo se tinha dinheiro, se não tinha dinheiro. Então, mais um pouquinho sobre os crimes. Dos que a senhora condenou, a forma de punição que o Juiz impôs, a senhora acha que recupera, que é realmente o que tem que ser feito com a pessoa que é presa? O nosso sistema. Esse nosso sistema, para ser honesta, eu posso dizer que não é a verdadeira forma de punição. Eu acho, vou abrir um parêntese, que até mesmo hoje os apenados não deviam ficar encerrados naquelas cadeias, eles deviam ter uma maneira de trabalhar, de comer do trabalho das suas mãos, ter um agrônomo ou o Governo que fizesse lavouras e plantas. Eu tenho a impressão que assim conseguiriam salvar muito mais essas criaturas. Eles plantando, comendo dali, porque vai a comidinha quente lá dentro e, se não estiver quente, a carne não estiver boa, dizem, eu não vou lá ver, eles até viram, às vezes, a comida, põem fora. Se eles trabalhassem, com um engenheiro organizando tudo, a Polícia sempre atenta, mas com um engenheiro para cuidar, para ensiná-los a fazer a coisa, eu tenho a impressão que seria muito melhor. Eles seriam ressocializados. Ressocializados, vendo a plantinha crescer pela própria mão deles, comendo da fruta ali que eles próprios plantaram em vez de estarem guardados nessas cadeias como uma chocadeira de maldade ali, que está 240 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 sempre criando mais maldade. Dessa forma, particularmente acho que seria muito melhor, com a mudança da lei e colocando essas pessoas a trabalhar, porque nós, os senhores, todos trabalhamos para ganhar o nosso sustento. Por que eles têm que roubar, por que eles têm que pegar pessoas inocentes e depois vão para ali ficar fechados, aprendendo mais maldades? Eu acho que essa lei, sinto muito, não é boa. A escolha dos jurados é por sorteio, mas tanto a Defesa quanto a Acusação podem negar alguns jurados. A senhora já foi negada em algum julgamento? A senhora lembra? Olha, eu não sei se fui negada, mas vezes eu fui daqueles que voltam, que são vinte e um e só ficam sete. Vão os advogados ali, e eles escolhem, e a gente nem fica sabendo. Bom, o meu nome não foi sorteado. Já várias vezes o meu nome, como a gente diz, não foi sorteado. Aí vai para casa. Mas a senhora nem fica sabendo se foi por sorteio ou não? Não, não. Nesses anos todos, na fala do defensor, na fala do Promotor, a senhora já viu algum caso, alguma questão de preconceito de uma forma geral, ou até preconceito de raça? Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 241

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História Preconceito eu acredito que não. Eles chegam lá, fazem a fala deles, aliás, eu acho lindo, lindo um advogado que sabe falar. Teve um advogado lá, ainda bem que tinha uma água para tomar, chegava a dar sono de tão mal que esse homem falava. A gente queria ficar atento, mas esse senhor lá se exibia, ele era exibido, ele exibia a pessoa dele: Eu tenho isso, eu tenho aquilo. Até uma égua ele tinha. Isso não tinha nada com o assunto. Então, aquilo, para mim, não valeu nada, me dava um sono, e eu tomava água. Então, isso a gente já percebeu. E outros advogados, tanto Promotor quanto defensor, era a coisa mais linda, os homens falando, esclarecendo, parece que tinham uma luz, porque é muito bom, é muito bonito. O réu era absolvido ou condenado, mas o advogado era uma beleza, era maravilhoso. Esses homens que são os homens que deveriam sempre estar naquele lugar. A senhora formava a sua convicção já no início do Tribunal do Júri, quando já começava, ou conforme as falas iam ocorrendo? A senhora já teve que mudar a sua convicção? A minha convicção eu não formava nunca antes, porque antes eu não tinha visto o processo. Antes também eu não tinha ouvido esses senhores falar, antes eu não tinha, sequer, visto o réu. Esse conjunto é que forma a convicção da gente. Teve algum crime que a senhora participou do Tribunal do Júri e ficou sabendo de forma externa, por televisão, por rádio, foi informada por outro meio que não dentro do Tribunal do Júri? 242 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Não posso lhe dizer, não estou lembrando se eu fui informada, assim, pela TV ou por isso ou aquilo de algum crime que eu tenha participado. Outra questão de defesa, sobre o alcoolismo. Há algum tempo, quando a pessoa cometia um crime quando estava alcoolizada, normalmente era dito que essa pessoa não tinha como responder pelos seus atos. Isso apareceu alguma vez ou algumas vezes como defesa ou não? Eu acho que isso apareceu como defesa do réu. Ele estava bêbado e não respondia pelos seus atos, não estava lúcido. Isso aparecia. Porque hoje é bem ao contrário, porque, se o réu comete alcoolizado, bêbado, até é uma agravante, como chamam. Então, há uma mudança no pensamento. De atitude, pois é. E isso foi para melhor, porque antes não era assim. Havia também muitos casos em que a pessoa se dizia sem poder responder pelas suas ações, não só porque estava bêbada, mas também por algum outro motivo. Também tinha isso? Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 243

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História Tinha, tinha isso também. Aliás, o réu procura, aquela hora em que ele vai à frente e fala, o Juiz faz perguntas, e ele fala, a gente só fica na escuta mesmo. Teve uma alteração nesses tempos da ordem das falas. Antes o réu era o primeiro a falar ou um dos primeiros a falar e agora ele é o último. É, agora ele é o último. E ele fala se ele quiser também, ele não é obrigado a falar. Se ele não quiser falar, ele não diz nada. Ele não é obrigado a falar? Não. Ele não se pronuncia. A senhora se recorda exatamente em que ano que a senhora começou a ser jurada aqui? Foi na década de 70, mas eu não digo se foi 71, 72... 244 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Foi no início da década de 70? É. Que dia a senhora nasceu? Eu nasci no dia 04-11-32. Qual é o seu nome de solteira? Izar Oliveira do Nascimento. E de casada? Izar Nascimento Alves. Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 245

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História Quantos filhos a senhora teve? Três. Um está aqui presente. O mais velho? Não, o do meio. Tem um mais velho, tem esse e tem uma moça. Depois ainda criei mais duas para ajudar o Governo. E algum parente seu, das suas relações, também foi jurado alguma vez, foi chamado? Não, não foi. Nenhum. A sua primeira vez foi convocada e depois a senhora se apresentava ou sempre foi convocada? Sempre fui convocada. Sempre, sempre. Eu fui convocada, atendi, fui lá, e eles, sempre que precisavam, chamavam. 246 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 O seu nome já estava na lista. Eu estava na lista. A senhora trabalhou no INSS aqui da Borges? Trabalhei nos três: INAMPS, no ex-iapi, que era na época, e agora nesse outro ali da Jerônimo Coelho. A senhora está com quantos anos, então? Eu estou com 80 anos. A senhora soube, mesmo indiretamente, que algum jurado ficou tanto tempo no Júri quanto a senhora? Pode ser, mas, que eu saiba, não. Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 247

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História Eventualmente a senhora chegou a ficar amiga de algum? Amiga não, mas algum assim que de vez em quando a gente chegava ou dava uma conversadinha, mas ficar amiga não. A senhora já participou de algum Júri só de mulheres? Não. Sempre misturado? Sempre misturado. E era muito mais homens mesmo, mas algumas Juízas. Eu me lembro que tinha Juíza de Lajeado, tinha a Dra. Laís, várias Juízas também, mas não muitas. Algum acontecimento diferente nesses anos todos durante o Júri? Algum acontecimento diferente que a senhora se lembre depois de vinte anos, dez anos, algum Júri que foi especial porque aconteceu alguma coisa diferente? 248 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 De diferente só esses de agora, que ele vai se quer, se não quer, não vai, e o Senhor Juiz, com certeza, não tem poderes para mandar trazer o réu. E teve um acontecimento, que eu não estava de jurada, mas fiquei sabendo, que um cara fugiu era aqui ainda, e foram pegar ele lá na Rua da Praia. Esse acontecimento foi engraçado, foi interessante. Qual foi o guarda que foi atrás dele? Ah, foi policial daqui, mas quem pegou foi um civil lá embaixo. Então, Dona Izar, só para finalizar, eu gostaria que a senhora nos dissesse quais características, qual o perfil que um jurado deve ter para poder atuar bem, porque a senhora, com a sua vivência, tem uma boa percepção. Eu acredito que o jurado, eu não sei quem nomeia, quem chama, nem nada, mas deve ser bem selecionado. Que não seja uma pessoa leviana ou fofoqueira. Eu acho que o jurado deve ser muito bem escolhido para que ele não vá fazer bobagem lá ou se vender por dinheiro ou se trocar por isso ou por aquilo. Então, acho que o jurado deve ser muito bem escolhido. Deve ser uma pessoa observadora? Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 249

Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 Justiça & História É. Além de observadora, correta. E usar um pouco também, se tiver, de inteligência, porque senão vai dizer bobagem. Isso é o que eu acho, são ideias minhas, mas acho que precisa ser uma pessoa correta, uma pessoa que vai lá com o interesse de fazer aquele trabalho certo. Eu acho isso. Então, muito obrigada, Dona Izar, pela entrevista. Foi muito boa a sua entrevista. Como eu lhe falei antes, ela vai ser colocada no papel, e depois nós vamos lhe enviar. Se a senhora quiser alterar qualquer parte do texto, a senhora fique à vontade para acrescentar informações ou retirar alguma que a senhora não tenha certeza. Muito obrigada pela entrevista. Eu que agradeço, porque isso, para mim, faz muito bem, porque os senhores viram a minha idade, e eu ainda sou pronta, gosto de fazer as coisas, saio para fazer os meus negócios, as minhas compras. Se dependesse da Justiça, a senhora continuava jurada, não é? Sim, se dependesse da Justiça, porque eles me chamaram em março passado, em 2012, mas eu digo: Bom, agora eu vou viver um pouco para mim. 250 ALVES, Izar Nascimento

Justiça & História Vol. 11 n. 21 e 22, 2011 E a senhora já está aposentada há quantos anos? Quando eu me aposentei, eu estava com 53 anos. A senhora continuou sendo jurada depois, então? Continuei sendo jurada. Eu gosto da lei, dos estudos de leis, só não fui uma doutora porque não tinha dinheiro, o meu pai não tinha dinheiro, e eu tinha que trabalhar para me sustentar longe da família ainda, mas eu gosto. Algum dos seus filhos seguiu a carreira jurídica? Seguiu. Este aqui é advogado. Depoimento de Dona Izar Nascimento Alves ao Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul 251