2.1. VALORAÇÃO BASEADA NO CUSTO DE DESENVOLVIMENTO --------------------------------------------------- 4 2.4. TEORIA DE OPÇÕES REAIS



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Transcrição:

1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------ 3 2. METODOS DE VALORAÇÃO --------------------------------------------------------------------------- 4 2.1. VALORAÇÃO BASEADA NO CUSTO DE DESENVOLVIMENTO --------------------------------------------------- 4 2.2. VALORAÇÃO POR MÚLTIPLOS ------------------------------------------------------------------------------ 6 2.3. FLUXO DE CAIXA DESCONTADO (FCD) -------------------------------------------------------------------- 7 2.4. TEORIA DE OPÇÕES REAIS --------------------------------------------------------------------------------- 8 3. CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------------------------------------ 10 AGRADECIMENTO -------------------------------------------------------------------------------------------- 11 AUTORES ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 11

1. INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo é discutir os principais métodos de valoração de novas tecnologias e empresas iniciantes de base tecnológica (startups). A valoração de novas tecnologias é um tema recorrente em diálogos tanto acadêmicos quanto gerenciais. Dois motivos justificam a recorrência do tema valoração em discussões práticas e teóricas. Primeiro, diversos agentes, envolvidos no processo de desenvolvimento de novas tecnologias, depositam na valoração a solução para viabilizar a sua comercialização. Segundo, ainda não há um consenso a respeito da melhor forma de se valorar uma tecnologia. Antes de discutirmos os métodos de valoração, é necessário distinguir os conceitos de valoração e avaliação de tecnologias e empresas nascentes. Em um artigo anterior 1, argumentamos que valoração e avaliação são conceitos complementares que fazem parte de um processo mais amplo, a saber: a comercialização de novas tecnologias. De modo geral, a avaliação funciona como um primeiro filtro que, além de esclarecer o estágio de desenvolvimento da tecnologia, indica projetos mais promissores que devem ser valorados para algum fim. A valoração, por sua vez, deve ser feita apenas no caso de tecnologias mais promissoras (identificadas através do processo de avaliação). Em geral, valorar uma nova empresa ou tecnologia significa atribuir-lhe um valor justo. Ressaltamos que, por valor justo ou esperado, entendemos a melhor descrição do potencial econômico de uma tecnologia diante das informações disponíveis no momento de sua análise de valor. Em outras palavras, o objetivo da valoração não é prever o valor exato da tecnologia no momento de sua comercialização, mas fornecer, diante de todas as incertezas que caracterizam o processo de inovação tecnológica, um valor esperado que, de certa forma, capte os riscos e incertezas inerentes a este processo. Além desse, outro objetivo desta análise é a definição de valores-referência para uma eventual negociação. Três aplicações representam os objetivos finais de uma valoração: (i) comercialização e licenciamento de tecnologias, (ii) análise de riscos em investimentos de P&D e (iii) priorização de projetos de P&D. Assim, não faz sentido investir todo o esforço e tempo necessários para uma valoração bem fundamentada apenas para saber o valor da tecnologia em questão. Esse valor é, na verdade, uma informação necessária para dar prosseguimento ao processo de comercialização de uma tecnologia. Três aplicações representam os objetivos finais de uma valoração: (i) comercialização e licenciamento de tecnologias, (ii) análise de riscos em investimentos de P&D e (iii) priorização de projetos de P&D. Nesse artigo, apresentaremos os métodos mais conhecidos para a valoração de ativos em geral, apontaremos as principais vantagens e limitações de cada um deles e indicaremos o que, na nossa concepção, seria uma alternativa indicada para valorar novas tecnologias. 1 Avaliar x Valorar Novas Tecnologias: Desmistificando Conceitos, disponível em http://www.institutoinovacao.com.br/downloads/avaliar_x_valorar_1.pdf

2. METODOS DE VALORAÇÃO Diversas metodologias têm sido utilizadas para a valoração de novas tecnologias e inovações tecnológicas. Dentre estas, as mais conhecidas e utilizadas são a valoração baseada no custo de desenvolvimento, a valoração por meio de múltiplos, e a valoração baseada no Fluxo de Caixa Descontado (FCD). Além dessas, mais recentemente, a Teoria de Opções Reais tem surgido como alternativa aos métodos tradicionais. A figura abaixo esquematiza os pontos principais de cada metodologia: Figura 1 :: Metodologias de Valoração Fonte: Análise dos autores A seguir apresentamos os conceitos básicos de cada uma dessas metodologias, suas vantagens e limitações, além de situações em que cada uma delas pode ser útil. 2.1. Valoração baseada no custo de desenvolvimento A lógica da valoração baseada no custo de desenvolvimento está relacionada à negociação baseada em um investimento já realizado. O conceito básico dessa metodologia é determinar o valor de uma tecnologia em função de seu custo de desenvolvimento. A lógica desse tipo de valoração está relacionada a uma negociação baseada em um investimento já realizado. Uma premissa, geralmente assumida inconscientemente, caracteriza esse tipo de valoração: não há gargalos tecnológicos e, portanto, o desenvolvimento pode ser conduzido por

mais de uma equipe/empresa (e.g., desenvolver internamente ou terceirizar). Duas abordagens podem ser utilizadas para o levantamento desses custos, dependendo do ponto de vista da negociação. Do ponto de vista do desenvolvedor, busca-se apurar os valores já desembolsados com o desenvolvimento e usar esse custo total como o valor da tecnologia. Neste caso, objetiva-se recuperar o investimento já realizado. Já do ponto de vista de quem compra a tecnologia, estima-se seu custo de desenvolvimento interno ou seja, pela equipe da empresa interessada na aquisição ou se apura o desenvolvimento com outras empresas e se utiliza esse custo como referência para o valor da tecnologia. A principal vantagem da abordagem baseada no custo de desenvolvimento é sua simplicidade. A principal vantagem desse tipo de abordagem é sua simplicidade. No caso de valoração baseada nos custos auferidos pelo desenvolvedor, o levantamento das informações é bastante direto para os principais custos (e.g.: horas de trabalho, materiais, hora de equipamentos), desde que exista um acompanhamento desses valores durante o desenvolvimento. Já no caso da valoração baseada no custo de desenvolvimento interno, boas estimativas podem ser feitas caso o processo de desenvolvimento seja dominado pelo interessado na aquisição. Essa última vantagem, no entanto, explicita a primeira limitação dessa abordagem. Quando quem adquire a tecnologia não domina o processo de desenvolvimento, o que é muito comum para produtos com alto nível de inovação, estimar os custos de desenvolvimento interno torna-se uma tarefa extremamente complexa (se não impossível). Isso porque a empresa terá que considerar a contratação de pesquisadores, a construção de laboratórios de pesquisa e o risco inerente à mesma, o que não é trivial. Além disso, essa análise muitas vezes acaba negligenciando a receita que a empresa deixa de gerar em função do tempo gasto com o aprendizado para o desenvolvimento interno da tecnologia. A restrição fundamental desse tipo de abordagem é sua lógica de aplicação. A empresa que internaliza uma tecnologia o faz pelo retorno futuro que essa pode propiciar. Pouco importa quanto custou, até o momento, para a inovação ser desenvolvida. Além dessas limitações, consideramos que uma restrição fundamental desse tipo de abordagem consiste em sua lógica de aplicação. Entendemos que o interesse pela compra de um ativo está calcado em seu uso e potencial retorno futuro. Pouco importa o que foi gasto anteriormente com esse ativo. Para ilustrar esse conceito, alguns exemplos do dia-a-dia são bastante esclarecedores. Quando uma nova casa é adquirida, o comprador não está interessado nos custos anteriores de se construir e/ou reformar o imóvel (foram uma ou dez reformas? Quanto custou cada uma?). Na verdade, o comprador está interessado na utilidade do bem para si, na possível valorização do imóvel, na necessidade de futuras reformas e/ou na possibilidade de melhoria (ou degradação) das condições da vizinhança. Ou seja, quem adquire um imóvel (aqui ilustrando um ativo ) olha para o futuro e não para o passado. O mesmo se aplica a qualquer tipo de ativo e, em especial, à comercialização de tecnologias. A empresa que internaliza uma tecnologia o faz pelo retorno futuro que essa pode propiciar. Pouco importa quanto custou, até o momento, para a inovação ser desenvolvida. De maneira análoga, para um capitalista que investe em uma startup a informação que realmente importa é quanto essa empresa vai gerar de retorno no futuro. Quanto tempo e quanto dinheiro foram gastos para desenvolver essa startup tornam-se informações irrelevantes. Parafraseando uma máxima freqüentemente utilizada por investidores:

custos passados não são garantias de ganhos futuros. 2.2. Valoração por Múltiplos Uma forma bastante utilizada no mercado financeiro por bancos e fundos de investimento - para comparar ativos é a valoração pelo método dos múltiplos. A lógica desta abordagem é atribuir valores de forma comparativa, com base em indicadores de ativos semelhantes. A valoração por Múltiplos parte do pressuposto de que é possível determinar o valor de uma empresa / tecnologia baseando-se no desempenho de empresas do mesmo setor e/ou de tecnologias semelhantes. Essa metodologia parte do pressuposto de que é possível determinar o valor de uma empresa / tecnologia baseando-se no desempenho de empresas do mesmo setor e/ou de tecnologias semelhantes. Ou seja, o comportamento desses ativos segue um certo padrão. Um exemplo comumente utilizado para ilustrar esta abordagem é o do mercado imobiliário, para o qual se tem valores de referência para o metro quadrado de determinada região. Uma série de múltiplos é utilizada no mercado, ou mesmo em algumas análises de novos projetos ou startups. Como exemplo, podemos citar múltiplos do Lucro, do EBITDA, da receita ou do volume de vendas. Além destes, há também múltiplos específicos para determinadas indústrias (empresas.com, por exemplo, utilizavam a quantidade de visitas a seus sítios eletrônicos na época da bolha da internet). A lógica de cálculo é simples. Multiplica-se um número, o chamado múltiplo, pelo indicador (e.g., EBITDA) referente ao ativo avaliado (e.g., uma startup). O valor obtido dessa multiplicação é o valor do ativo. A principal vantagem da valoração por Múltiplos é sua praticidade. Essa metodologia tem como principal vantagem a praticidade e, conseqüentemente, a rapidez para se chegar a uma estimativa de valor. Com base em uma simples planilha de fluxo de caixa ou em um demonstrativo de resultados é possível chegar a um valor de referência para a empresa. Além disso, o fato de a mesma ser amplamente utilizada no mercado financeiro a torna familiar a vários tomadores de decisão. Entretanto, essa simplicidade implica em algumas limitações. A primeira delas está relacionada à estimativa do múltiplo. Para empresas já estabelecidas, ou seja, que já possuem um mercado claro, pelo menos um produto comercializado e liquidez no mercado, a estimativa do múltiplo é mais direta. Por outro lado, para o desenvolvimento de novas tecnologias e, principalmente, para empresas iniciantes de base tecnológica, isto não é óbvio. Mesmo porque, pela falta de liquidez dessas empresas (há poucas negociações de empresas de base tecnológicas), a estimativa de múltiplos torna-se difícil. Por exemplo, a comparação com empresas já estabelecidas não reflete a garantia de desempenho de uma nova empresa/tecnologia (e.g., um mecanismo de busca na Internet não deve ser valorado com base no mecanismo já estabelecido no mercado). Outra limitação está relacionada à motivação para o desenvolvimento de uma nova tecnologia. Esta motivação é a própria inovação tecnológica da qual espera gerar valor. Assim, há uma falta de aderência dos indicadores de empresas estabelecidas à nova, pois seus múltiplos não captam o risco tecnológico inerente ao desenvolvimento. Uma terceira limitação se deve à possível super-valoração de empresas devido a modismos. Por exemplo, as diversas bolhas no mercado

A abordagem por Múltiplos é útil para checar se o valor atribuído por outras abordagens é coerente (crosscheck). financeiro são causadas por falsas impressões, baseadas muitas vezes na comparação equivocada (e.g., não consideram o efeito da competição, o mercado total, e/ou a vantagem de ser o primeiro). Além disso, o método dos múltiplos pode também ser facilmente influenciado pela liquidez do mercado. Por fim, ressaltamos que, apesar de todas estas limitações, o método dos múltiplos é freqüentemente utilizado por sua rapidez de resposta e simplicidade de abordagem. Além disso, essa abordagem também é útil para checar se o valor atribuído por outras abordagens é coerente (crosscheck). 2.3. Fluxo de Caixa Descontado (FCD) O Fluxo de Caixa Descontado (FCD) é, provavelmente, o método mais utilizado por tomadores de decisão em empresas para valoração de novas tecnologias e empresas iniciantes de base tecnológica (startups). Em parte, uma das razões para sua ampla utilização deve-se ao fato de esta abordagem ser amplamente discutida e ensinada em cursos superiores (e.g., administração, economia, engenharia). Este fato faz com que gerentes estejam familiarizados com este método, o que facilita a sua aplicação. Esse método de valoração é baseado em três variáveis essenciais: o fluxo de caixa esperado, o risco e o tempo de vida do ativo. O conceito básico dessa metodologia é que o valor de um ativo é dado pelo valor de seus fluxos de caixa futuros, projetados ao longo do seu tempo de vida, descontados por uma taxa que representa o valor do dinheiro no tempo e o risco. Em outras palavras, o valor de um ativo é dado pelos ganhos futuros esperados, descontando-se os riscos. A seguinte fórmula ilustra a metodologia: Onde: n = vida do ativo FC i = Fluxo de caixa do período i r = Taxa de desconto que reflete os riscos inerentes ao ativo avaliado Essa metodologia de valoração é amplamente adotada por tomadores de decisão graças à sua simplicidade e objetividade (se o valor presente líquido (VPL) do projeto é maior que zero, o projeto é aprovado. Caso contrário, o projeto é rejeitado). Além disso, os modelos de FCD servem como base para o cálculo de alguns indicadores bastante difundidos como Taxa Interna de Retorno (TIR) e tempo de recuperação do investimento (Payback). A análise baseada no FCD é adequada para ambientes de baixa incerteza. Do ponto de vista técnico, é sabido que análises baseadas no FCD propiciam uma boa representação do valor de ativos para os casos em que: os fluxos de caixa futuros são estimados com boa previsibilidade, o tempo de vida do ativo é claro, e a taxa de desconto a ser utilizada é facilmente calculada. Dado que o futuro é tido como previsível, a análise

por FCD acaba considerando um cenário fixo (determinístico) de tomada de decisão ao longo do tempo (já que o futuro é conhecido, gerentes não irão tomar decisões contingenciais). Em resumo, uma análise baseada no FCD é adequada para ambientes de baixa incerteza. Contudo, esta característica do FCD acaba limitando a utilização desta abordagem em análises de valoração de tecnologias. O primeiro ponto a ser destacado é a dificuldade de se estimar o valor dos fluxos de caixa futuros para esse tipo de ativo, uma vez que o nível de incerteza é muito grande. E essa incerteza pode impactar em cenários que representam desde um grande fracasso até um sucesso estrondoso. Surge da incerteza outra limitação do FCD na valoração de novas tecnologias. Se o risco, inerente aos ativos dessa natureza, for representado por uma alta taxa de desconto (r), o valor presente da nova tecnologia tende a ser muito baixo. Isso pode fazer com que gestores refutem projetos extremamente promissores, embora arriscados. Analisando sob outra ótica, a taxa de desconto pode reduzir o valor do projeto ao considerar apenas seu risco de fracasso. A face positiva do risco, responsável pela possibilidade de grandes ganhos, muitas vezes é desconsiderada. Uma terceira limitação está relacionada à estimativa da taxa de desconto. A definição do prêmio de risco referente a uma tecnologia não é trivial, uma vez que as informações disponíveis raramente são suficientes para se estimar uma taxa justa (via modelo CAPM, por exemplo). Há ainda outro fator que limita a utilização da abordagem de FCD em um ambiente como o de projetos de tecnologia. O ambiente estático/determinístico considerado nesse tipo de abordagem não reflete a realidade gerencial, em que tomadores de decisão freqüentemente têm opções de alterar os rumos de um projeto em função do surgimento de novas informações. Esta flexibilidade gerencial que acabamos de mencionar motivou a abordagem pela técnica de opções reais, que descrevemos a seguir. 2.4. Teoria de Opções Reais A teoria por opções reais é indicada para problemas nos quais a decisão é tomada de forma seqüencial e a incerteza desempenham um papel fundamental. Está claro para a maior parte dos tomadores de decisão que a flexibilidade gerencial possui valor. Entretanto, a forma de se avaliar concretamente esta flexibilidade não é tão óbvia. A flexibilidade gerencial está associada ao direito, mas não à obrigação de se investir em algum empreendimento. Gestores procuram exercer este direito de investimento à medida que as incertezas diminuem (e.g., ao superar um gargalo tecnológico) e/ou haja novas informações a respeito do desenvolvimento/mercado. A teoria por opções reais é indicada para problemas desta natureza, nos quais a decisão é tomada de forma seqüencial e a incerteza desempenha um papel fundamental. A abordagem por opções reais foi motivada por dois fatores-chave: (i) gestores desejavam captar a flexibilidade gerencial (lógica de decisão bastante aceita do ponto de vista prático, porém não incorporada pelos métodos tradicionais de valoração); (ii) tomadores de decisão, motivados por uma teoria consolidada que aborda opções financeiras, passaram a incorporar lógica semelhante de raciocínio à valoração de projetos.

É bastante intuitivo o fato de que, ao longo do desenvolvimento de um projeto, as incertezas que o caracterizam são reduzidas. Por exemplo, à medida que a tecnologia fica mais próxima de ser lançada no mercado, a equipe de desenvolvimento, a empresa e os potenciais clientes possuem maior clareza do produto que será comercializado. Conseqüentemente, a gerência passa a ter flexibilidade para a tomada de decisão em função de novas informações a respeito tanto da tecnologia quanto do mercado. Desta forma, tomadores de decisão poderão alterar sua estratégia inicial com o objetivo de aproveitar novas oportunidades ou de reagir de forma a minimizar as perdas. Este cenário caracteriza o desenvolvimento de novas tecnologias; a formação de startups; a exploração de recursos naturais; os investimentos em infra-estrutura, e em propriedades (terrenos); e os investimentos para bloquear ação de concorrentes;, entre outros. A gerência pode, com base em novas informações que caracterizam o projeto, expandir, contrair, abandonar, ou expandir as atividades planejadas para o desenvolvimento da tecnologia. A lógica de opões reais, como no mercado financeiro, indica que aquele que possui uma opção tem o direito, mas não a obrigação, de exercê-la (por exercer, entendemos usufruir da flexibilidade gerencial). Assim, se o valor esperado de se exercer a opção for positivo, o proprietário o fará. Caso contrário, o proprietário não exercerá esta opção, e sua perda ficará limitada ao valor investido para se ter tal opção. Por exemplo, a gerência pode, com base em novas informações que caracterizam o projeto, expandir, contrair, abandonar, ou expandir as atividades planejadas para o desenvolvimento da tecnologia. Sob esse ponto de vista, tem-se que o valor de um projeto de desenvolvimento de tecnologia que possui opções gerenciais a ele inerentes (ou oportunidades de investimento) é maior que o valor do mesmo sem opções, freqüentemente representado pelo FCD. Esta é a base para comparação entre os valores de uma mesma tecnologia (ou empresa) avaliada pela teoria de opções reais e pela abordagem FCD. A diferença ocorrerá exatamente em função do valor gerado pela flexibilidade gerencial da empresa que possui opções. Por exemplo, empresas que desenvolvem produtos de biotecnologia freqüentemente redirecionam o seu processo de comercialização de novas tecnologias em função de novas informações que surgem ao longo do desenvolvimento (por exemplo, resultados de pré-testes, reações de concorrentes, entre outras). Uma das principais vantagens da valoração por Opções Reais é que os gestores conseguem captar e compreender suas alternativas (opções) de investimento. Há inúmeras vantagens de se utilizar a abordagem por opções reais para valorar projetos de novas tecnologias. A primeira delas é que o capital é parcialmente comprometido. Ou seja, esta abordagem capta a lógica de se investir paulatinamente em um projeto em função do resultado do desenvolvimento (por exemplo, em função das informações recebidas a cada revisão de projeto, gestores investem recursos adicionais no desenvolvimento). Outra vantagem é o fato de gestores conseguirem captar melhor suas opções (reais) de investimento no projeto. Exemplos de opções incluem atividades como abandonar o projeto, expandir a capacidade produtiva, adiar ou deferir o desenvolvimento ou redirecionar o produto para outro mercado, entre outras. Além disso, tomadores de decisão conseguem integrar diversos cenários de desenvolvimento em uma mesma análise ao invés de considerarem, por exemplo, os cenários mais prováveis, otimistas e/ou pessimistas. Este fato permite um melhor direcionamento para a tomada de decisão,

dado que nem sempre é possível inferir sobre a exeqüibilidade de cenários isolados. Em resumo, valorar projetos por opções reais modifica a forma tradicional de se decidir e de conduzir projetos como, por exemplo, o desenvolvimento de novas tecnologias. Por fim, a técnica de opções reais permite uma melhor compreensão do investimento por parte dos gestores. Muitas vezes, a valoração por opções reais viabiliza projetos que, em abordagens tradicionais, seriam descartados. Em resumo, valorar projetos por opções reais modifica a forma tradicional de se decidir e de conduzir projetos como, por exemplo, o desenvolvimento de novas tecnologias. Apesar das inúmeras vantagens, esta abordagem também possui algumas limitações. A primeira delas é que a análise é mais complexa e demorada do que as demais metodologias, pois é necessário coletar mais informações. Além disso, as técnicas matemáticas utilizadas são mais sofisticadas que as utilizadas pelo FCD. Apesar disso, ressaltamos que são justamente estas informações adicionais que propiciarão a análise mais acurada da flexibilidade gerencial. Outro desafio da abordagem por opções reais é comunicar a análise a decisores ainda não acostumados a considerar a flexibilidade, e que utilizam outras formas de valoração (e.g., múltiplos, FCD, etc.). Naturalmente, é necessário quebrar este paradigma. Para tal, um dos pontos mais importantes para comunicar a análise é justificar prioritariamente a lógica utilizada pela valoração, ao invés de focar em detalhes operacionais da técnica (que poderão, oportunamente, ser explorados). Uma vez superado este desafio, gestores certamente abordarão a valoração de forma mais estratégica e segura, já que muitas de suas decisões não se encaixam na ótica do agora ou nunca. 3. CONCLUSÃO Neste artigo, apresentamos os métodos mais conhecidos para a valoração de ativos em geral e, em particular, de novas tecnologias. Apresentamos quatro abordagens: (i) valoração baseada no custo de desenvolvimento, (ii) valoração por múltiplos, (iii) fluxo de caixa descontado, e (iv) teoria de opções reais. Ressaltamos nosso principal argumento de que a valoração é parte de um processo mais amplo: o de comercialização de novas tecnologias. Nesse processo, três aplicações representam os objetivos finais de uma valoração: (i) comercialização e licenciamento de tecnologias, (ii) análise de riscos em investimentos de P&D, e (iii) priorização de projetos de P&D. Como discutido, a valoração baseada no custo de desenvolvimento, em geral, não é apropriada para valorar novas tecnologias. Em síntese, nosso argumento para tal afirmação se baseia no fato de que custos passados não são garantia de ganhos futuros. É mais apropriado basearse em ganhos futuros esperados, pois este é um dos principais objetivos do processo de desenvolvimento de novas tecnologias. Já as abordagens por múltiplos e pelo fluxo de caixa descontado para valorar novas tecnologias são úteis principalmente quando se quer uma resposta rápida, ou uma ordem de grandeza do valor da tecnologia em questão. Além disso, a discussão dos resultados destas duas abordagens junto a tomadores de decisão é mais fácil devido à alta utilização destas técnicas. Contudo, estas duas abordagens apresentam uma séria limitação: elas não consideram a flexibilidade gerencial. A flexibilidade gerencial é um ponto-chave para lidar com o risco tecnológico e o

processo de decisão seqüencial, duas características marcantes no processo de comercialização de novas tecnologias. A única abordagem que capta a flexibilidade gerencial é a abordagem por opções reais. Esta é a mais indicada para se chegar a um valor mais preciso ou para justificar um investimento mais arriscado. Entretanto, como afirmamos, esta abordagem requer mais informações e uma maior sofisticação matemática. Assim, a valoração através desta técnica justifica-se apenas quando é necessário tomar alguma decisão importante (e.g., financiamento ou licenciamento significativos) e, principalmente, no caso de projetos em que o valor estimado pelo método de fluxo de caixa descontado é próximo de zero. AGRADECIMENTO Os autores agradecem as profícuas discussões com Gustavo Mamão do Instituto Inovação. O apoio concedido pela FAPEMIG e pelo CNPq na condução de suas pesquisas também merece especial destaque. AUTORES Daniel T. Elói Santos é mestrando em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduado em Engenharia de Produção também pela UFMG. Vem desenvolvendo pesquisas relacionadas à valoração de tecnologias e à estimativa de seus resultados futuros com o foco no apoio à tomada de decisão sob incerteza. Tem experiência em consultoria de gestão e setor financeiro, tendo trabalhado na Accenture, Unibanco e McKinsey & Company, em projetos relacionados à estratégia, desenvolvimento de produtos e análise de investimentos. Leonardo P. Santiago é professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Minas Gerais. Possui doutorado em Engenharia de Sistemas pela Boston University, EUA. O Professor Leonardo é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase em Gestão da Tecnologia e do Desenvolvimento de Novos Produtos. Sua área de atuação contempla, principalmente, apoio à decisão sob incerteza, avaliação e valoração de novas tecnologias, e seleção de projetos e alocação de recursos em projetos de P&D.