Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região - 2º Grau PJe - Processo Judicial Eletrônico Consulta Processual Número: 0010065-54.2014.5.14.0000 31/03/2014 Classe: DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE Tipo Partes Nome SUSCITADO SIND.TRAB.NO COM. DE MINERIOS E DER.PETROLEO NO ESTADO - CNPJ: 00.854.843/0001-55 SUSCITANTE AMAZONGAS DISTRIB DE GAS LIQUEF DE PETROLEO LTDA - CNPJ: 04.957.650/0001-80 ADVOGADO HERALDO FROES RAMOS - OAB: RO977 SUSCITANTE SOCIEDADE FOGAS LIMITADA - CNPJ: 04.563.672/0001-66 ADVOGADO HERALDO FROES RAMOS - OAB: RO977 Id. 11057 7 Data da Assinatura Documento Documentos 29/03/2014 15:27 Decisão Decisão Tipo
DESPACHO Trata-se de Dissídio Coletivo de Greve suscitado pelas empresas AMAZONGÁS DISTRIBUIDORA DE GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO LTDA. e SOCIEDADE FOGÁS LTDA., tendo como suscitado o SINDICATO DOS TRABALHADORES NO COMÉRCIO DE MINÉRIOS E DERIVADOS DE PETRÓLEO NO ESTADO DE RONDÔNIA STCMDP/RO. Alegam as suscitantes que no dia 28.3.2014, receberam, por e-mail, ou seja, de forma informal, o Ofício Circular nº 001/2014/PRES./STCMDP/RO, comunicando o início de movimento grevista no dia 31 de março de 2014, encaminhado pelo sindicato suscitado. Esclarecem que referido e-mail, fora encaminhado no dia 27 de março de 2014, após às 18h, ou seja, após o expediente que encerra às 17h30min, tendo esse sido recepcionado, assim, somente no dia 28 de março de 2014, sexta-feira. Afirmam que a forma de comunicação adotada não é válida para o fim a que se destina, qual seja, comunicar o início de movimento paredista, sustentando que, ainda que seja considerada válida, não fora observado o prazo disposto no art. 13 da Lei nº 7783/1989, na medida em que exercem atividade considerada essencial, e sendo assim, deveriam ter sido notificadas com 72 (setenta e duas) horas de antecedência do início do movimento paredista, prazo esse que deve ser computado a partir do dia 31 de março de 2014, por aplicação do art. 240 do CPC e Súmula 1 do TST, considerando que não há expediente nas demandantes nos sábados e domingos. Sustentam, ainda, que não houve comunicação por meio de jornais, TV, mídia eletrônica etc, dando conta à população da paralisação, afigurando-se nula referida notificação. Por entender presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, considerando a plausibilidade do pedido de declaração de validade e eficácia das novas condições de trabalho em vigor desde 01-set-13 e, de corolário, a decretação da abusividade de greve, pugna pela concessão de liminar, inaudita altera pars, para: a) determinar que o Sindicato demando se abstenha de dar início à greve programada para o dia 31 de março de 2014, até que sejam formalmente cumpridas as exigências do artigo 13 da Lei nº 7783/1989, sob pena de pagamento de multa diária de R$500.000,00 (quinhentos mil reais), sem prejuízo das sanções administrativas e penais em decorrência da desobediência à ordem judicial; b) e, uma vez não acolhido o pedido supra, que se determine ao Sindicato demandado a manutenção de 70% dos trabalhadores das duas demandantes em atividade, sob pena de pagamento de multa diária de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) por descumprimento da ordem. Pedem, ainda, em face da iminência da deflagração da greve, que seja designada, com urgência, audiência de tentativa de conciliação e julgamento, neste Tribunal. Apresentaram cópia de procurações e documentos que entendem pertinentes. É o breve relatório. D E C I S Ã O. Em atenção ao disposto no art. 1º, alínea b, da Resolução Administrativa nº 71/2009 do CNJ, passa-se a analisar o pleito formulado. A Lei nº 7.783/1989 assegura o direito de greve, no entanto, dispõe que o empregador deverá ser comunicado com 48 (quarenta e oito) horas de antecedência da paralisação, sendo que referida comunicação, no caso de serviços considerados essenciais, deverá ocorrer com 72 (setenta e duas horas) de antecedência: Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho. Num. 110577 - Pág. 1
Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas, da paralisação. [ ] Art. 13 Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação. O artigo 10 elenca as atividades consideradas essenciais, e o art. 11, por sua vez, prescreve a necessidade de manutenção dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade: Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI compensação bancária. Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população. Abstrai-se de citados artigos, que a distribuição de gás é tida como essencial à população e, por isso, a intenção de início de movimento de greve deve ser comunicada com 72 (setenta e duas) horas de antecedência, não podendo, ainda, sofrer solução de continuidade. O ofício Circular nº 001/2014/PRES./STCMDP/RO confirma a deflagração do movimento paredista pelos empregados das empresas suscitadas, indicando que houve a realização de assembleia para tal fim. Num. 110577 - Pág. 2
Não há no estatuto social do suscitado (ID nº 110575) ou no acordo coletivo celebrado entre as partes (2012/2013 ID nº 110558), indicação do procedimento a ser observado em tal hipótese, ou seja, qual o modelo de comunicação deve ser adotado. tanto. As suscitantes, por sua vez, sequer indicaram qual seria a forma de notificação adequada para Embora se reconheça a informalidade do meio utilizado, qual seja, e-mail, certo é que as suscitantes tomaram ciência de que, no dia 31 de março de 2014, será iniciado movimento de greve por parte de seus empregados. As suscitantes não comprovaram a existência de ajuste quanto à forma de contagem do prazo indicado na Lei nº 7783/1989, e sendo assim, compreende-se, inicialmente, pela inaplicabilidade do art. 240 do CPC, que trata da contagem de prazos processuais, ressaltando-se, entretanto, que referida decisão pode ser revista, no aspecto, posteriormente. A comprovação acerca da comunicação prévia do movimento de greve à população, por óbvio, dar-se-á apenas pelo suscitado, na medida em que se destina a afastar eventual declaração de ilegalidade do movimento grevista. Nesse contexto, compreende-se, em um juízo prévio, que não houve violação a Lei nº 7.783/1989, não havendo razão, assim, para suspender a greve programada para iniciar-se no dia 31 de março de 2014. No entanto, considerando tratar-se de serviço essencial, e, ainda, que Porto Velho está sofrendo em razão da cheia do Rio Madeira, o que obrigou as suscitadas a deslocar a sede de suas empresas para novo endereço, conforme nacionalmente divulgado, fato inclusive mencionado na petição inicial, dificultando o abastecimento desta cidade e de todo o Estado de Rondônia, defere-se, em parte, os pleitos contidos na peça inicial, concedendo liminar inaudita altera parte, para determinar ao Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo no Estado de Rondônia STCMDP/RO, que implemente condições para que 70% (setenta por cento) da mão de obra dos trabalhadores das suscitantes permaneça em seus postos de trabalho, sob pena de multa diária de R$50.000,00 (cinquenta mil reais), a ser revertida a uma instituição filantrópica deste cidade, posteriormente definida. Determina-se, ainda, a intimação do Sindicato suscitado para que se abstenha de proibir o acesso de pessoas e veículos às instalações das suscitantes, ressaltando que as manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à pessoa, ao direito de ir e vir da coletividade ou a propriedade, seja pública ou privada. Não sendo atendidos os comandos contidos nesta decisão pelos grevistas, de forma pacífica, deverá ser requisitada força policial para o seu fiel cumprimento, a fim de que sejam garantidos os direitos daqueles que não estão participando do movimento, bem como a garantia do direito à saúde e a preservação do patrimônio público e das suscitantes. De forma a solucionar com maior brevidade o conflito entre as partes, designa-se audiência de conciliação para o dia 31 de março de 2014, às 15h, na sede deste Tribunal, a ser realizada pelo Presidente, considerando que a atuação desta magistrada dá-se em regime de plantão. Dê-se ciência às suscitantes, pelo próprio sistema. Comunique-se ao Ministério Publico do Trabalho, a data e hora da audiência designada. Em observância aos princípios de economia, celeridade e eficácia processuais, atribui-se a este despacho força de mandado para todos os fins de direito, que deverá ser cumprido por Oficial de Justiça, inclusive em relação ao Ministério Público do Trabalho. Num. 110577 - Pág. 3
Porto velho, 29 de março de 2014. (assinado digitalmente) ELANA CARDOSO LOPES DESEMBARGADORA DO TRABALHO PLANTONISTA Num. 110577 - Pág. 4