Com efeito, trata-se do artigo 306, 8º, da aludida emenda. Eis sua redação:



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Transcrição:

O INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS - IBCCRIM, entidade não governamental, sem fins lucrativos, com sede na cidade de São Paulo (SP), Rua Onze de Agosto, 52 Centro, vem, por meio de seus representantes, manifestar-se nos termos a seguir expostos. Tramita perante esse E. Senado Federal o Projeto de Lei nº 554/11, o qual pretende inserir na legislação infraconstitucional a obrigatoriedade de apresentação do preso à autoridade judicial em até 24 horas, a contar da efetivação da prisão em flagrante delito. Recentemente, o ilustre Senador Humberto Costa, membro da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania desta Casa, apresentou nova proposta de emenda (emenda nº 2 CCJ), nos termos de um projeto substitutivo, por meio do qual pretende realizar alterações e acrescentar alguns dispositivos legais ao texto original. Esclareça-se que as alterações sugeridas, em sua grande maioria, são fundadas e merecem aprovação, na medida em que promovem maior segurança jurídica na aplicação do instituto da audiência de custódia. No entanto, há um dispositivo legal contido na referida proposta que deve ser suprimido em sua inteireza, sob pena de se esvaziar a intenção inicial da proposta normativa. Com efeito, trata-se do artigo 306, 8º, da aludida emenda. Eis sua redação: Art. 306... (...) 8º Na impossibilidade, devidamente certificada e comprovada, da autoridade judiciária realizar a inquirição do preso quando da sua apresentação, a autoridade custodiante ou o delegado de polícia, por meio de seus agentes, tomará recibo do seventuário (SIC) judiciário responsável, determinando a juntada nos autos neste último caso, retornando 1

com o preso e comunicando o fato de imediato ao Ministério Público, à Defensoria Pública e ao Conselho Nacional de Justiça. Consoante se depreende da leitura do dispositivo legal proposto, haveria casos em que o preso em flagrante, malgrado regularmente conduzido à autoridade judicial para o fim de realização da audiência de custódia, não teria a legalidade de sua prisão apreciada, nos termos em que se imagina propor com o projeto de lei.. Segundo a sugestão legislativa, havendo impossibilidade de fazer a audiência de custódia, o magistrado poderia, fundamentadamente, deixar de realizar audiência para inquirição do preso. vejamos. A proposta de inserção do 8º não pode, de modo algum, prosperar. Senão, Inicialmente, cumpre lembrar que a razão inicial do PLS nº 554/11 é conferir efetividade plena, em nossa legislação processual, à garantia estabelecida por meio de tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário (Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e Convenção Americana sobre Direitos Humanos). Nos referidos diplomas internacionais, internalizados desde 1992 no ordenamento jurídico pátrio, não se admite qualquer exceção à regra, devendo obrigatoriamente ser toda pessoa detida conduzida, sem demora, a uma autoridade judicial. Dessa forma, o 8º, ao estabelecer norma de exceção para justificar a inocorrência da audiência de custódia, para além de desrespeitar os termos dos tratados internacionais, acaba também por amputar garantia já existente do preso. 2

Ou seja, um projeto de lei inicialmente voltado para ampliar direitos do custodiado poderá gerar na prática, se aprovado o 8º, uma maior restrição desses direitos. Importante ponderar, ainda, que o motivo central para existência da audiência de custódia é justamente o rápido contato direto entre magistrado e preso, de modo que o primeiro possa verificar, pessoalmente, a ocorrência de maus-tratos e eventual possibilidade de impor medidas diversas da prisão. Eventual exceção legal, conforme proposta pela emenda em discussão, tornará parcialmente inócua a nova lei, seja pela possibilidade maior de desaparecimento de vestígios de eventuais maus tratos sofridos pelo preso, seja pela possibilidade maior de, em situação de vulnerabilidade inerente à situação da prisão cautelar e imediata, o próprio preso não declarar com a pretendida riqueza de detalhes as situações regulares ou não que permearam especificamente sua prisão. Ora: por isso se pode ver, com todo o respeito, que a pretendida alteração vai na contramão mesmo da raiz da implementação da audiência de custódia no Brasil, que é justamente a de, tão brevemente quanto possível, fazer com que o preso tenha contato não só com quem o prendeu, mas particularmente com o juiz, exatamente para que a situação prisional seja analisada e efetivamente controlada. Desnecessário ir longe para perceber que, se aprovado o texto com a inserção do 8º, as razões para justificar a impossibilidade de inquirição do preso serão as mais diversas. Assim como se verifica hodiernamente, não tardará para que magistrados fundamentem a não realização das audiências com base no alto volume de demandas criminais, bem como na fragilidade do aparato estatal para atender aos ditames da lei. 3

Não se pode conceber que legislação alguma legitime o Poder Judiciário a justificar o descumprimento de uma garantia. O Estado particularmente nas vestes de Estado-Juiz, ao revés, precisa aparelhar-se para garantir efetividade aos direitos dos cidadãos e não encontrar motivos, a priori, para inobservá-los. Aliás, como evitar que aquele preso de fato torturado e que, por isso, precisa urgentemente ser levado à presença de um juiz, não será justamente prejudicado pela exceção à regra? Cabe à lei, por isso, conferir tratamento equânime a todo e qualquer preso, não permitindo que se abram exceções aptas a justificar eventuais abusos e iniquidades. Ou ainda, no rigor da pretendida alteração proposta com o substitutivo do eminente Senador: se a principal motivação de se internalizar a audiência de custódia no ordenamento jurídico brasileiro é o contato entre o cidadão preso e o juiz, e se pelo texto do próprio substitutivo o cidadão terá sido trazido ao Poder Judiciário e estará à disposição do Magistrado, não se concebe qual seja o fundamento para que o Juiz de Direito, no exercício do controle da legalidade da prisão de qualquer pessoa, com o cidadão preso e à sua disposição, decida não realizar a audiência. Se o problema for logístico de ordem a se impedir que, malgrado já conduzido ao Fórum, algum juiz determinado realize a audiência de custódia, o mínimo do razoável será que, ao invés de, diante de dificuldades dessa natureza, preveja o legislador o seguimento de escala de plantão, ou rodízio entre Magistrados. Como tal disciplina sabidamente se enquadra em disposições tidas como inerentes à autorregulação de cada Tribunal, nem haveria razão para, na Lei Federal que se quer implementar, cogitar dessa válvula de escape no PLS 554/2011. 4

A bem da verdade, parece que a proposta do sobredito parágrafo abre perigosa e contrária ao motivo de se implementar a audiência de custódia no Brasil permissão para, na inexistência do devido controle jurisdicional quanto às situações que permeiam a situação de qualquer pessoa, possa se evitar considerar a situação como rigoroso excesso de prazo na situação prisional, o que, havendo, fatalmente redundaria na soltura do preso. É necessário repisar este ponto: soluções há, sem qualquer dificuldade, dentro do limite autorregulamentador que cada Tribunal do país tem, de normatizar as escalas e eventuais rodízios entre juízes, justamente para não tornar uma triste e vergonhosa letra morta o ponto, talvez, mais crucial da nova legislação que se quer instituir no Brasil: o controle jurisdicional, expedito, da prisão cautelar. Os riscos aqui vistos, perceptíveis intuitivamente, não podem ser suportados justamente pelo cidadão preso, à disposição do Estado, que já terá sido levado à presença do Juiz. E por todas essas razões, enfim, é que a redação do 8º não fornece qualquer segurança ao jurisdicionado, mesmo que se preveja que a impossibilidade de realizar a inquirição deverá ser certificada e motivada. Na realidade, eventual ausência de fundamentação da decisão judicial somente será apreciada tempos depois, quando o preso já tiver sofrido todas as mazelas que deveriam ser sanadas na própria audiência. Por essas razões, enfim, o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais expressa seu apoio à emenda nº 2 da CCJ, de autoria do D. Senador Humberto Costa, desde que suprimido por completo o 8º do texto, uma vez que tal dispositivo legal está inquestionavelmente dissociado do real intento da PLS nº 554/11. 5

De São Paulo para Brasília, aos 11 de junho de 2015. Andre Pires de Andrade Kehdi (Presidente do IBCCrim) Renato Stanziola Vieira (Coordenador-Chefe do Departamento de Estudos e Projetos Legislativos do IBCCrim) Daniel Zaclis (Departamento de Estudos e Projetos Legislativos do IBCCrim) 6