RELATÓRIO DE FISCALIZAÇÃO REFERENTE ÀS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS CONSULTÓRIOS ODONTOLÓGICOS NO MUNICÍPIO DE NOVA BRASILÂNDIA DO OESTE-RONDÔNIA 1 - Introdução O presente relatório tem por finalidade atender solicitação do Ministério Público do Estado de Rondônia, conforme ofício nº. 258/2015/ PJ NBO (Anexo A), com a finalidade de constatar, in loco, por representante do Conselho Regional de Odontologia de Rondônia CRO-RO, das condições de trabalho nos consultórios odontológicos no município de Nova Brasilândia do Oeste-RO. O presente instrumento fundamenta-se em critérios técnicos e éticos exigidos para a prática da Odontologia no Brasil, e foi realizado e confeccionado pelo Presidente do Conselho Regional de Odontologia, com vistoria in loco, subsidiado por laudo fotográfico, depoimento de usuários, servidores e autoridades. A base legal e normativa para produção do presente relatório de fiscalização ética profissional encontra escopo na Lei Federal n. 4.324/64, Lei Federal n.º 9.784/99, Decreto nº 68.704/71, que regulamentam a prática da Odontologia no Brasil. Os dados no presente relatório são sinalizadores para uma política pública de saúde bucal mínima, devendo ser praticada com a observância das normas pelas secretarias de saúde dos municípios e estado, buscando sempre alcançar oferecer segurança aos usuários, eficiência nas ações e serviços oferecidos a população, fato que durante a fiscalização, constatou-se não estar ocorrendo, constatando-se, inclusive situações alarmante pelas condições de alguns dos consultórios odontológicos, encontrados sem qualquer condição de funcionamento, podendo, inclusive, serem considerados como vetores de propagação de bactérias e riscos à saúde da população. CRO-RO 2 - Dos relatos colhidos e observações feitas in loco pelo Presidente do Após solicitação de fiscalização por parte do Ministério Público do Estado de Rondônia, formalmente recebidas pelo CRO-RO, alertando da necessidade de fiscalizar
as condições de trabalho dos consultórios odontológicos do município de Nova Brasilândia do Oeste-RO, este presidente deslocou-se ao referido município, conforme consta na PORTARIA CRO-RO-062 DE 11 DE MAIO DE 2015 (Anexo B). No dia 12 de maio de 2015, iniciou-se a fiscalização ética e técnica, pelo Centro de Saúde Bucal do município de Nova Brasilândia do Oeste - RO, tendo como Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, (CNES) nº 4000889. Durante a fiscalização, constatou-se lotação, no referido posto, do Cirurgião Dentista, Dr. Ricardo André Muczfeldt - CRO-RO nº. 1600, bem como da Dra. Leila Mara Soligo - CRO-RO nº. 842, ambos os cirurgiões dentistas devidamente habilitados e registrados no Conselho Regional de Odontologia de Rondônia para o atendimento odontológico da população. Durante fiscalização do referido Centro Odontológico, o CRO-RO foi recebido pela enfermeira Silvia, responsável por aquela Unidade de Saúde, quando na oportunidade foi solicitado à servidora que acompanhasse toda fiscalização do CRO-RO, juntamente com os cirurgiões-dentistas acima citados, funcionários públicos. Durante a fiscalização, foram encontradas várias irregularidades referentes à biossegurança, esterilização de instrumentais, condições de trabalho, ausência de ações preventivas e curativas preconizadas pelos programas de saúde bucal do Ministério da Saúde na Unidade Fiscalizada. No consultório 01, constatou-se a presença de algumas infiltrações, o que ocasionou o surgimento de fungos (mofo), conforme fotos abaixo:
Além do mofo, constatou-se que foi realizado reforma para instalação do ar condicionado, não concluída a pintura, conforme depreende-se pelas fotos anexadas:
0 Constatamos, ainda, no referido ambiente, pontos de ferrugem junto a base das cadeiras odontológicas, além da presença de revestimento áspero do piso, bem como encanamento exposto, o que dificulta a higienização e torna o ambiente propício a proliferação de bactérias,conforme fotos abaixo:
Constatou-se que materiais de uso rotineiro, instrumentais clínicos e produtos de limpeza, são acondicionados de forma irregular, precária, dividindo mesmo espaço, contrariando normas da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), conforme fotos abaixo:
No consultório 2, encontramos os mesmos problemas de mofo nas paredes, conforme foto abaixo:
abaixo: Piso inadequado e ferrugem na base da cadeira odontológica, conforme foto A esterilização é realizada de forma adequada através da técnica de vapor úmido (autoclave), conforme fotos abaixo, entretanto em local inadequado:
Os instrumentais acondicionados e embalados corretamente, porém a esterilização realizada no mesmo ambiente onde ocorrem atendimentos, o que vai de encontro com as normas da ANVISA, que determina que a esterilização deve ser realizada em um local especifico (Central de Esterilização), distintos dos ambientes onde são realizados os atendimentos, o que não ocorre no referido Centro de Saúde, conforme fotos abaixo:
Após relatos de usuários, servidores e observação in loco, ficou confirmado que os consultórios odontológicos apresentam cadeiras odontológicas necessitando de pinturas para remoção da ferrugem na sua base, pintura das paredes, piso inadequado e com tubulação e fiação exposta, prejudicando a correta limpeza e higienização dos consultórios, falta de uma central de esterilização, falta de lixeiras com tampa e pedal, locais (armários) apropriados para acondicionar produtos de limpeza, instrumentais e materiais de consumo, local adequado para acondicionar o lixo contaminado e o lixo perfuro cortante. Todas essas irregularidades vão de encontro às normas preconizadas pela ANVISA e pelas normas que regulam a correta e adequada prática odontológica, expondo profissionais e a população a sérios riscos de infecções cruzadas e contaminação. Tais fatos inviabilizam qualquer tipo de procedimento seguro, colocando em risco iminente a saúde dos usuários e dos profissionais envolvidos, comprometendo a qualidade do atendimento aos pacientes e a eficiência do serviço público. Foi constatado que o município não cumpre ações preventivas e curativas preconizadas pelo Ministério da Saúde no tocante a saúde bucal da população.
O Ministério da saúde estabelece várias metas e procedimentos preventivos e curativos mínimos na atenção básica ao cidadão, entretanto, pode-se confirmar, in loco, que o referido município, negligência ações básicas de saúde bucal, descumprindo normas do MS e da boa prática da odontologia. As condições do posto e a realidade fática encontrada é demais preocupante, pois constata-se que não estão sendo cumpridas pelo referido município, ações preventivas básicas preconizadas pelo Ministério da Saúde, caracterizando falta de compromisso com a saúde bucal da população do município e o total descontrole com a higienização, com a prevenção e cuidado para não disseminação de doenças e bactérias, estando os usuários do sistema de saúde em iminente risco. Foi realizado ainda, fiscalização no Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) do referido município (foto abaixo), que não possui CNES ativo, estando em processo de cadastramento, conforme declaração da diretora da Unidade. Ao chegar ao referido Centro de Especialidades, o presidente do CRO-RO, foi recebido pela senhora Valney Medina de Souza, diretora da Unidade, que o acompanhou na fiscalização. Foi constatada a lotação da Cirurgiã Dentista, Dra.
Alessandra R.G. Pacheco CRO-RO Nº 2494 e da Dra. Mayara Delly Bianchini CRO-RO Nº 2463, ambas cirurgiãs devidamente habilitadas e registradas no Conselho de Odontologia, estando aptas ao atendimento odontológico da população. O CEO possui uma recepção ampla e confortável, conforme foto abaixo: Possui ainda, dois consultórios odontológicos novos, instalados em salas bem iluminadas, arejadas e com perfeitas condições para o atendimento, conforme fotos abaixo:
Possui ainda um aparelho de raios-x odontológico e avental de chumbo necessário para a proteção dos pacientes durante as tomadas radiográficas, conforme foto abaixo:
A presente Unidade possui lixeiras adequadas, conforme as exigências da ANVISA, conforme foto abaixo:
Percebeu-se desorganização no acondicionamento dos materiais e instrumentas odontológicos de uso rotineiro e também nos materiais de limpeza, conforme foto abaixo:
Fica claro a necessidade de aquisição de armários para acondicionamento correto e seguro dos materiais e instrumentais de uso odontológico, além de local especifico para guardar produtos de limpeza. A Unidade necessita ainda, de central de esterilização, conforme preconiza normativa da ANVISA.
Todos esses fatos foram relatados a diretora do CEO e aos profissionais cirurgiãs-dentistas lotadas no referido Centro de Especialidades. A diretora relatou que estavam em processo de mudança e instalação e que ainda estavam organizando a Unidade para poder iniciar o atendimento a população, bem como o Cadastramento junto ao CNES. Todas as irregularidades observadas pelo Presidente, descritas neste relatório, foram noticiadas às diretoras das Unidades de Saúde fiscalizadas, quando afirmaram que dariam ciência a Secretária de Saúde do Município. A desídia e a falta de atenção por parte da administração municipal é visível, a falta de aplicação de recursos para o eficaz atendimento da população é latente, conforme relatos e a constatação, in loco pelo CRO-RO apontadas no presente relatório. Conforme nota técnica do Ministério da Saúde, anexo C, o município de Nova Brasilândia do Oeste, possui um teto de credenciamento de dez equipes de saúde bucal, porém apresentam apenas três equipes implantadas, o que gera repasse mensal de R$ 10,035. 000 (dez mil e trinta e cinco reais) por mês do Ministério da Saúde através do Programa Brasil Sorridente. Esse recurso deve ser utilizado exclusivamente na Odontologia do município, podendo ser empregado em materiais odontológicos, instrumentais e equipamentos odontológico e pessoal (cirurgiões-dentistas e auxiliares de cirurgiões-dentistas). Percebemos, portanto, que 70% da população do município não possui acesso ao serviço público de atendimento odontológico. Fato preocupante, pois além de gerar demanda reprimida, por atendimento odontológico, o impacto na saúde bucal e sistêmica da população é bastante negativo, onde muitas doenças, como por exemplo, diabetes, cardiopatias e etc, podem ser agravadas por infecções orais. Além disso, o impacto financeiro no SUS (Sistema Único de Saúde) para atendimentos preventivos é extremamente inferior aos gastos com procedimentos curativos e caso esta situação se mantenha no município, sem programa de política pública de saúde voltada para a
Odontologia, os gastos dos SUS com a população de Nova Brasilândia do Oeste tendem a aumentar, além de contribuir para a ineficiência da gestão pública bem como o iminente risco à saúde da população. 3 - Conclusões Conforme descrito e demostrado no presente relatório, podemos concluir que existe falta de políticas públicas para atendimento de qualidade na saúde bucal da rede municipal de Nova Brasilândia do Oeste diante, principalmente pela constatação da precária estrutura física e local inadequado para correta esterilização de instrumentos odontológicos, conforme constatado in loco, durante a fiscalização realizada. Constatou-se não existir execução e nem planejamento para as ações preventivas e curativas por parte da atual gestão, fato que acarretam perda de recursos financeiros federais para subsidiar, ampliar, incrementar e criar ações de saúde bucal do município, estando à população desassistida em algumas localidades, tendo em vista que apenas 30% da população possui cobertura de atendimento odontológico. Resumidamente, podemos afirmar que há falta de condições de trabalho para o exercício da odontologia nas Unidades Fiscalizadas, falta de planejamento para atendimento curativo e preventivo, condições inadequadas de esterilização de instrumentais, estrutura física precária com paredes mofadas, piso inadequado e tubulações e fiações expostas, o que dificulta limpeza e higienização dos ambientes, além de contribuir para a proliferação de micro organismos causadores de doenças, esterilização realizada no mesmo ambiente onde ocorrem os atendimentos e a limpeza do material, cadeiras com a base enferrujada, lixeiras inadequadas em algumas Unidades, locais inadequados para acondicionamento do lixo contaminado e do lixo perfuro cortante, todas as irregularidades visíveis, conforme pode ser atestado pelos laudos fotográficos presentes no presente relatório. Durante a fiscalização, observou-se ainda que não há o cumprimento das metas mínimas traçadas pelo Ministério da Saúde, o que pode causar não apenas perda de
recursos financeiros e investimentos para melhorias, modernização e ampliação do serviço de odontologia, como também acarreta demanda reprimida de vários pacientes. O impacto a longo prazo da atual situação encontrada e levantada neste relatório no tocante à política de saúde bucal adotada pelo município fiscalizado, poderá acarretar disseminação de doenças, não só na saúde bucal da população, mas na saúde sistêmica, em função do possível agravo das morbidades que afetam a saúde, e com o tempo, podem evoluir, causando problemas, como por exemplo, a endocardite bacteriana, infecções generalizadas, câncer de boca, agravos nos pacientes com diabetes, hipertensão e etc. Em relação, ao CEO o mesmo apresenta uma boa estrutura física e equipamentos novos, faltando apenas à organização dos materiais e instrumentais, além de uma central de esterilização para que o serviço seja ofertado com uma maior qualidade aos munícipes. Diante de todo o exposto, somos de parecer que todas as falhas, irregularidades e deficiências apontadas no presente relatório, devam urgentemente serem solucionadas, diante do risco iminente da população do município de Nova Brasilândia do Oeste, que corre risco de contaminação. Além disso, propomos que seja devidamente atestado se os recursos repassados mensalmente, no valor de R$ 10.035,000 (dez mil e trinta e cinco reais), pelo Ministério da Saúde através do Programa Brasil Sorridente ao referido município, que totaliza R$ 120.042,000 (cento e vinte mil reais e quarenta e dois reais) ao ano, estão sendo empregado, conforme determina as regras do programa, exclusivamente nas ações da Odontologia do referido município. Diante do dever funcional do Presidente do CRO-RO, o envio deste relatório aos gestores do município de Nova Brasilândia do Oeste, bem como ao Ministério Público do Estado de Rondônia e ao Ministério da Saúde, é medida que se impõe com urgência.
Porto Velho, 01 de Julho de 2015. HAILTON CAVALCANTE DOS SANTOS Presidente do CRO-RO
ANEXO A: Ofício nº 258/2015/PJ NBO
ANEXO B: Portaria CRO-RO 062
ANEXO C: Nota Técnica da Coordenação Nacional de Saúde Bucal