ANÁLISE DO USO DOS ÍNDICES FINANCEIROS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO EM INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GERÊNCIA FINANCEIRA EMÍLIO CECHINEL ANÁLISE DO USO DOS ÍNDICES FINANCEIROS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO EM INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Criciúma, julho de 2007.

EMÍLIO CECHINEL ANÁLISE DO USO DOS ÍNDICES FINANCEIROS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO EM INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Gerência Financeira. Orientador: Prof. (Dr.) Abel Correa de Souza. Criciúma, julho de 2007.

3 AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Abel Correa de Souza pelo incentivo e orientação na realização deste trabalho. Aos meus pais pela vida, pelos ensinamentos e pela dedicação na educação dos filhos. Aos colegas do curso de especialização MBA em Gerência Financeira pelo companheirismo. A diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense. A todos aqueles, que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.

4 Todo homem busca uma meta: sucesso ou felicidade. O único caminho para se alcançar o verdadeiro sucesso é colocar a si próprio completamente a serviço da sociedade. Primeiro, ter um ideal definido, claro e prático - uma meta, um objetivo. Segundo, ter os meios necessários para alcançar seus propósitos sabedoria, dinheiro, materiais e métodos. Terceiro, ajustar seus meios a seus propósitos. Aristóteles

5 RESUMO Este trabalho consiste numa pesquisa bibliográfica, sendo um estudo da importância do uso dos índices financeiros na concessão e análise de crédito por instituições bancárias. A utilização dos índices financeiros na concessão de crédito, centro da atenção deste trabalho tem sido amplamente utilizado pelos bancos desde o início das operações de financiamentos, em que as empresas começaram a requisitar recursos financeiros as instituições bancárias. A análise da capacidade econômica financeira, feita através dos índices de liquidez, atividade, rentabilidade, estrutura e endividamento; análise da necessidade de capital de giro são pontos importantes a considerar na concessão de crédito a um cliente. Os riscos envolvidos na concessão de crédito com estabelecimento de limites de crédito pelos bancos envolvem avaliações de perfil do cliente através de rating. Os C s da concessão de crédito caráter, capacidade, capital, colateral e condições. Os aspectos importantes a serem observados no uso dos índices financeiros. A análise objetiva feita através dos índices financeiros sem desconsiderar os aspectos subjetivos na concessão de crédito. Palavras-chave: Índices financeiros; concessão de crédito; instituições bancárias; análise de crédito; risco do crédito.

6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 10 1.1 Justificativa... 10 1.2 Tema... 11 1.3 Problema... 11 1.4 Objetivos... 12 1.4.1 Objetivo geral... 12 1.4.2 Objetivos específicos... 12 2 GESTÃO DE FINANÇAS E SISTEMA FINANCEIRO... 13 2.1 O Sistema Financeiro... 13 2.2 Gestão Financeira... 17 2.3 Histórico da Análise Econômica Financeira Através de Índices... 22 3 ANÁLISE DO DESEMPENHO ECONÔMICO FINANCEIRO... 24 3.1 Demonstrativos Financeiros e Seus Principais Componentes... 24 3.1.1 Balanço patrimonial... 26 3.1.2 Demonstração de resultados... 30 3.1.3 Fluxo de caixa... 34 3.1.4 Demonstrações financeiras versus valor da empresa... 36 3.1.5 Etapas da análise financeira... 37 3.2 Análise Através de Índices... 41 3.2.1 Análise dos índices de liquidez... 43

7 3.2.1.1 Liquidez corrente... 44 3.2.1.2 Liquidez seca... 47 3.2.1.3 Liquidez geral... 49 3.2.2 Análise dos índices de atividade... 50 3.2.2.1 Prazo médio de renovação dos estoques... 50 3.2.2.2 Prazo médio de recebimento das vendas... 51 3.2.2.3 Prazo médio de pagamento das compras... 52 3.2.2.4 Ciclo operacional e ciclo financeiro... 53 3.2.3 Análise dos índices de estrutura... 55 3.2.3.1 Participação de capitais de terceiros... 56 3.2.3.2 Composição do endividamento... 57 3.2.3.3 Imobilização do patrimônio líquido... 58 3.2.3.4 Endividamento geral... 59 3.2.3.5 Índices de dependência bancária... 59 3.2.3.6 Índices de cobertura... 60 3.2.3.7 Alavancagem financeira... 62 3.2.4 Análise dos índices de lucratividade... 63 3.2.4.1 Margem bruta... 63 3.2.4.2 Margem operacional... 64 3.2.4.3 Margem líquida... 64 3.2.4.4 Giro do ativo... 65 3.2.4.5 Rentabilidade do ativo... 65 3.2.4.6 Rentabilidade do patrimônio líquido... 66 3.2.5 Análise de Du Pont... 66

8 3.2.6 Previsões de insolvência... 68 3.2.7 Análise do fluxo de caixa... 72 3.2.7.1 Ebitda... 76 3.2.8 Análise das necessidades de capital de giro... 77 3.2.8.1 Efeito tesoura... 79 3.3 Análise Vertical e Horizontal... 81 4 ANÁLISE E CONCEÇAO DE CRÉDITO... 82 4.1 Crédito... 82 4.2 Os C s da Concessão do Crédito... 84 4.3 Risco do Crédito... 88 4.4 Índices Financeiros na Avaliação do Crédito... 89 5 METODOLOGIA... 91 6 CONCLUSÃO... 92 REFERÊNCIAS... 94

9 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Subsistema de Intermediação... 15 Quadro 2: Atividades Financeiras... 20 Quadro 3: Balanço Patrimonial... 27 Quadro 4: Demonstração do Resultado do Exercício... 31 Quadro 5: Balanço Patrimonial Padronizado... 39 Quadro 6: Demonstração do Resultado Padronizado... 40 Quadro 7: Liquidez Seca x Liquidez corrente... 48 Quadro 8: Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro ou de Caixa... 54

10 1 INTRODUÇÃO 1.1 Justificativa: Este trabalho se propõe a oferecer uma visão dos índices financeiros, a partir da análise desses índices por instituições de crédito bancárias, os aspectos principais como o comportamento desses índices, as co-relações dos mesmos, a questão do risco do negócio, insolvência, capacidade de pagamento do crédito; fatores importantes a serem observados pelos bancos ao se conceder crédito. No contexto de uma instituição de crédito vários fatores devem ser observados a respeito do seu cliente, pois esse não tendo capacidade de pagamento poderá incorrer em prejuízos ao banco fornecedor do recurso ou em outro ponto fornecer recurso a menor enquanto a capacidade do cliente era maior também significa perda de lucratividade para a instituição financeira. Do ponto de vista de uma empresa o estudo da administração financeira envolve decisões de investimentos em bens e direitos e neste ponto como alocar recursos para financiar esses bens e direitos; necessidades de capital de giro, gerando conseqüentemente obrigações de curto e longo prazo. Uma das alternativas possíveis vem sendo recorrer aos bancos que fornecem recursos como empréstimos programados, desconto de duplicatas, descontos de cheques, créditos e limites de créditos pré-aprovados. O analista financeiro ao proceder a análise das demonstrações contábeis faz uma análise retrospectiva do desempenho passado da empresa, através do estudo dos índices financeiros que julgar mais condizente.

11 O uso das informações contábeis para avaliar o desempenho financeiro da empresa e suas necessidades de financiamento se expressa no exame dos índices financeiros os quais suas confiabilidades e limitações são discutidas por vários autores. Tanto no uso conjunto desses índices e suas relações com riscos e incertezas; quanto nas informações baseadas em fatos passados e nas possibilidades de projeções futuras dos demonstrativos financeiros. A estabilidade econômica dos últimos anos favoreceu mudanças significativas no mercado financeiro brasileiro de crédito. E com a redução das taxas de juros pelo Banco Central as operações de crédito vêm aumentando significantemente e a prazos maiores no país. Como os bancos obtêm grande parte dos seus lucros advindos de operações de crédito e estão alavancados por essas próprias operações as preocupações com a qualidade desses créditos são constantes e pertinentes. 1.2 Tema: Análise do uso dos índices financeiros na concessão de crédito em instituições bancárias. 1.3 Problema: Quais os principais aspectos a serem observados no uso dos índices financeiros como instrumentos de análise de crédito em instituições bancárias?

12 1.4 Objetivos: 1.4.1 Objetivo geral: Evidenciar os principais aspectos no uso dos índices financeiros para análise de crédito realizado por instituições bancárias. 1.4.2 Objetivos específicos Revisar as principais demonstrações financeiras e seus componentes. Demonstrar os principais índices financeiros e suas co-relações. Identificar o uso dos índices na análise de crédito. Relacionar as limitações dos índices financeiros e medidas alternativas para a análise de crédito.

13 2 SISTEMA FINANCEIRO E GESTÃO DE FINANÇAS 2.1 O Sistema Financeiro O sistema financeiro compreende o funcionamento do mercado, das instituições financeiras; em especial os bancos, indivíduos, empresas e governos os quais realizam intermediações financeiras. Assim agentes que possuem superávit de recursos podem se correlacionar com agentes que possuem déficit de recursos; gerando o fluxo de fundos, atendendo necessidades econômicas, estimulando o consumo, a produção e investimentos. Para FORTUNA (1999, p. 12) o sistema financeiro é conceituado, como um conjunto de instituições que se dedicam, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção de um fluxo de recursos entre poupadores e investidores. O Sistema Financeiro Nacional pode ser compreendido, conforme ASSAF NETO (1999, p. 58), como: um conjunto de instituições financeiras e instrumentos financeiros que visam, em última análise, transferir recursos dos agentes econômicos (pessoas, empresas, governo) superavitários para os deficitários. O Sistema Financeiro Nacional é formado pelo conjunto de instrumentos e instituições que objetivam propiciar a intermediação financeira, sendo dividido em dois subsistemas, o normativo e o de intermediação. O subsistema normativo é formado pelo Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e pela Comissão de Valores Mobiliários.

14 Conforme SILVA (2000, p. 42 e 44) essas instituições podem ser assim definidas: Conselho Monetário Nacional. Fixa as diretrizes das políticas monetárias, creditícia e cambial do país, não desempenhando função executiva. Entre as suas funções, estão a autorização para emissão de papel-moeda, a determinação das taxas de compulsório para as instituições financeiras, a regulamentação das taxas de redesconto, bem como os limites para remuneração dos serviços bancários. Banco Central do Brasil. Órgão executivo central do Sistema Financeiro Nacional que cumpre e faz cumprir as normas expedidas pelo conselho Monetário Nacional, intervindo diretamente nas instituições que operam no sistema financeiro. Banco do Brasil. É um banco comercial oficial que também tem a função de operacionalizar a política oficial do governo federal, relativa ao crédito rural e ao crédito industrial. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES. Responde pela política de investimentos a longo prazo, visando o desenvolvimento econômico e social do país, o fortalecimento da empresa nacional, e a criação de pólos de produção, entre outras funções. Comissão de Valores Mobiliários CVM. Disciplina basicamente o mercado de ações e debêntures, assegurando o funcionamento das bolsas de valores e demais instituições auxiliares. O subsistema de intermediação é constituído pelas instituições financeiras que realizam diretamente as operações de intermediação financeira. É formado por instituições financeiras bancárias, instituições financeiras não bancárias, sistema brasileiro de poupança e empréstimo, instituições não financeiras e instituições auxiliares. como sendo: BODIE e MERTON (1999, p. 44) definem os intermediários financeiros Empresas cujo negócio principal é proporcionar produtos e serviços financeiros. Incluem-se aqui bancos, as companhias de investimentos e as companhias de seguros. Seus produtos incluem contas correntes, empréstimos comerciais, hipotecas, fundos mútuos e um amplo leque de contratos de seguro. A seguir está discriminada a estrutura do subsistema de intermediação.

15 Quadro 1: Subsistema de Intermediação. Asaf, Neto (1999, p. 61) As instituições financeiras no Brasil estão segmentadas juridicamente em: Bancos Comerciais, Bancos de Investimento, Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento, Sociedade de Crédito Imobiliário e os Bancos Múltiplos. Segundo SILVA (2000, p. 43, 44 e 45) essas instituições podem assim ser caracterizadas: Bancos comerciais. Têm por finalidade o recebimento de depósitos a vista e o financiamento das necessidades de recursos de curto prazo das empresas. Bancos de investimentos. Tiveram, inicialmente, o objetivo de atender as necessidades de recursos de médio e longo prazo das

16 empresas, para fins de capital de giro e para investimentos no ativo permanente. Sociedades de crédito, financiamentos e investimentos (Financeiras). Atuam basicamente no financiamento de bens de consumo duráveis, por meio do chamado CDC (crédito Direto ao Consumidor). Sociedades de crédito imobiliário. Visam financiar o mercado imobiliário, isto é, tanto o mutuário final (aquele que adquire o imóvel), quanto o empreendimento imobiliário a ser desenvolvido pelo empresário. Bancos múltiplos. Como o próprio nome sugere, os bancos múltiplos atuam em múltiplas carteiras, ou seja, as que são operadas pelos bancos comerciais, pelos bancos de investimentos, pelos bancos de desenvolvimento, pelas sociedades de crédito imobiliário, pelas financeiras e pelas sociedades de arrendamento mercantil (leasing). A criação dos bancos múltiplos teve por finalidade a racionalização das estruturas administrativas e comerciais das instituições financeiras, possibilitando que uma única entidade (o banco múltiplo) possa desenvolver operações em diversas carteiras que antes envolveriam diversas empresas. Dentre essas instituições destaca-se a Caixa Econômica Federal como sendo integrante do sistema brasileiro de poupança e empréstimo e do sistema financeiro habitacional. Sendo a principal instituição do país fornecedora de crédito para o desenvolvimento urbano na área de saneamento e infra-estrutura. A Caixa Econômica Federal é a centralizadora do recolhimento e gestora do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FGTS dos trabalhadores. Também realiza empréstimos sob penhor e têm a função de administrar as loterias federais. A sua atuação equipara-se aos bancos comerciais na captação de depósitos a vista e no fornecimento de financiamentos e empréstimos a empresas e pessoas físicas, porém a caderneta de poupança é uma das suas principais fontes de recursos não compulsórias. Atuando ainda no mercado de capitais e na gestão de fundos. Uma das atuações da Caixa Econômica Federal que vem se ampliando é o fornecimento de crédito comercial.

17 2.2 Gestão Financeira Ao gerir uma empresa um dos principais pontos de análise é lidar com problemas de ordem financeira como, por exemplo, decisões de investimentos, obtenção de crédito em instituições bancárias, financiamentos de curto e longo prazo, orçamentos, previsões, gerenciamento do caixa, capital de giro, dentre outros enfoques. Para responder a esses desafios existem técnicas e instrumentos de análise financeira. GITMAN (1997, p. 4) define Finanças como a arte e a ciência de administrar fundos. Finanças ocupa-se do processo, instituições, mercados e instrumentos envolvidos na transferência de fundos entre pessoas, empresas e governos. Um dos principais pontos da administração financeira é analisado dentro do contexto do crédito, através de constantes decisões de obtenção de recursos para saldar obrigações, financiar ativos e manter a liquidez da empresa. O estudo de finanças envolve quatro áreas básicas aos quais compreende: finanças corporativas, investimentos, instituições financeiras e finanças internacionais. A expressão finanças corporativas diz respeito a corporações (sociedades anônimas). A área de investimentos lida com ativos financeiros, tais como ações e obrigações. Instituições financeiras compreendem bancos e companhias de seguros. E finanças internacionais é uma especialização que envolve aspectos internacionais de finanças corporativas e de instituições financeiras. ROSS (2000, p. 36). Para atender as necessidades de fundos das empresas os bancos se inserem no papel de intermediação financeira, ou seja, instituições que fornecem os

18 recursos para investimentos e capital de giro das empresas. Nas relações entre banco e empresa surge ao papel da concessão do crédito. Nesse aspecto a análise econômica financeira assume papel relevante para subsidiar a formalização do crédito. Conforme HELFERT (2000, p. 17) qualquer negócio, grande ou pequeno, pode ser descrito como um sistema de relações financeiras e de movimentos de caixa acionado por decisões administrativas. Segundo GROPPELLI (2002, p. 10) a meta principal de um administrador financeiro é maximizar a riqueza dos acionistas. As operações executadas por uma empresa e sua estrutura financeira estão diretamente interligadas, decisões financeiras como, por exemplo, empréstimos junto às instituições bancárias, modalidades de financiamentos, taxas de juros, investimentos, aplicações, dentre outras; são decisões de competência administrativa que afetam a estrutura financeira das empresas. Segundo BRAGA (1995, p. 23): A função financeira compreende um conjunto de atividades relacionadas com a gestão dos fundos movimentados por todas as áreas da empresa. Essa função é responsável pela obtenção dos recursos necessários e pela formulação de uma estratégia voltada para a otimização do uso desses fundos. Encontrada em qualquer tipo de empresa, a função financeira tem um papel muito importante no desenvolvimento de todas as atividades operacionais, contribuindo significativamente para o sucesso do empreendimento. As decisões financeiras tomadas pelas empresas envolvem três tipos básicos de questões: a) o orçamento de capital, b) a estrutura de capital e c) o capital de giro. O orçamento de capital segundo ROSS (2000, p. 39) diz respeito aos

19 investimentos a longo prazo da empresa. O processo de planejamento e gerência dos investimentos a longo prazo é denominado orçamento de capital. A estrutura de capital segundo ROSS (2000, p 40) é a combinação entre capital de terceiros e capital próprio que a empresa possui. O capital de giro para ROSS (2000, p. 40) refere-se aos ativos de curto prazo da empresa, tais como estoques, e aos passivos a curto prazo, tais como pagamento devido a fornecedores. Isso envolve diversas atividades relacionadas aos recebimentos e desembolsos da empresa. A forma de organização financeira de uma empresa depende em muito do porte que essa empresa possui, por exemplo, uma micro empresa ou uma pequena empresa na grande maioria das vezes não possuem órgãos específicos para operações financeiras ficando centralizado ao proprietário e colaboradores. Empresas médias e de grande porte apresentam uma estrutura muito mais complexa com áreas ou setores responsáveis pela gestão financeira. Segundo SILVA (2001, p. 27 e 28) as funções financeiras de qualquer porte de empresa podem ser visualizadas em três dimensões: a. Uma primeira dimensão está ligada ao dia-a-dia, que consiste em descontar duplicatas nos bancos, obter empréstimos de curto prazo, bem como fazer aplicações financeiras das sobras temporárias de recursos. b. Uma segunda dimensão, ligada às operações da empresa, compreende os demais itens do ativo circulante, como: Duplicatas a receber, cujo montante de recursos que absorve é função do volume de vendas e dos prazos concedidos aos clientes para pagamento. Estoques, que decorrem da expectativa de vendas da empresa e de sua política de estocagem. Contas a pagar a fornecedores, que também decorrem do volume de compras e da expectativa de vendas da empresa. c. Uma terceira dimensão, que está numa esfera estratégica, relacionada às decisões de investimento, de financiamento e de distribuição de dividendos. O administrador financeiro desempenha atividades, as quais conforme GITMAN (1997, p. 13) são: (1) realizar análise e planejamento financeiro; (2) tomar

20 decisões de investimento; e (3) tomar decisões de financiamento. Essas se relacionam com as demonstrações financeiras das empresas. A figura a seguir faz a correlação de cada uma delas com o balanço patrimonial. ATIVIDADES FINANCEIRAS Análise e planejamento financeiro Balanço patrimonial Ativos Passivos Decisões de investimento circulantes Ativos circulantes Recursos Decisões de financiamento permanentes permanentes Quadro 2: Atividades Financeiras. GITMAN (1997, p. 14). A análise e planejamento financeiro são atividades ligadas à compreensão dos dados financeiros de forma a avaliar a situação financeira, planejando os aumentos ou reduções de financiamentos e da capacidade produtiva. Segundo GITMAN (1997, p. 14) seu objetivo fundamental é avaliar o fluxo de caixa da empresa e desenvolver planos que assegurem que os recursos adequados estarão disponíveis para o alcance dos objetivos. BODIE e MERTON (1999, p. 29) colocam que pelo fato de o planejamento estratégico envolver avaliações de custo e benefícios ao longo do tempo, é em grande parte um processo de decisão financeira. Nas decisões financeiras tomadas ao se analisar projetos de investimentos ou mesmo em um planejamento estratégico e decidir qual

21 implementar, é fundamental calcular como financiá-los. Assim podem-se utilizar instrumentos financeiros como, por exemplo, emissão de ações, debêntures, arrendamento mercantil e empréstimos bancários. diferenciadas. As decisões de investimentos e de financiamentos possuem abordagens As decisões de investimentos referem-se proporcionalmente a quantidade de recursos a serem utilizados em ativos circulantes e permanentes. Conforme GITMAN (1997, p. 14) deve-se decidir quais são os melhores ativos permanentes a adquirir e saber quando os ativos existentes precisam ser modificados, substituídos ou liquidados. áreas principais: As decisões de financiamento para GITMAN (1997, p. 14) envolvem duas Primeiro, a combinação mais apropriada entre financiamentos a curto e a longo prazo deve ser estabelecida. Uma segunda preocupação, igualmente importante, é que fontes individuais de financiamento, a curto ou a longo prazos, são os melhores, em um dado instante. Neste contesto as instituições financeiras se inserem de forma a se apresentarem como grandes concessoras de créditos para os mais variados fins. A necessidade de capital de giro, liquidez, solvência, de financiamentos de novos projetos, compra de equipamentos, ampliações da capacidade de produção, dentre outros; credencia os bancos a concessão de empréstimo ou financiamentos mediante a utilização de técnicas de análise financeira para gerir e analisar o risco do crédito.

22 2.3 Histórico da Análise Econômica Financeira Através de Índices A análise dos balanços contábeis de empresas através de índices financeiros surgiu com a evolução dos negócios empresariais ao longo do tempo; cada vez mais empresas requisitavam recursos financeiros junto às instituições bancárias para financiar seus empreendimentos. MATARAZZO (1998, p. 22) coloca que: A Análise de Balanços surgiu e desenvolveu-se dentro do sistema bancário que foi até hoje o seu principal usuário. Seu início remonta ao final do século passado, quando os banqueiros americanos passaram a solicitar balanços às empresas tomadoras de empréstimos. As mudanças importantes que ocorrem no mundo financeiro desde a revolução industrial até o crescente uso das informações fizeram com que aumentassem a capacidade de analisar, interpretar e tomar decisões. Desta forma, cada vez mais os bancos passaram a exigir balanços às empresas, passaram a interpretar e comparar itens, formular percentuais e índices para nortear as decisões de fornecimento e limites de créditos. No ano de 1915 segundo MATARAZZO (1998, p. 23) foi tomada medida que consagrou definitivamente o uso de demonstrações financeiras como base para a concessão de crédito quando naquele ano o Federal Reserve Board o banco central dos Estados Unidos determinou que só poderiam ser redescontados os títulos negociados por empresas que tivessem apresentado seu balanço ao banco. SILVA (2001, p. 46) coloca que: Na segunda metade do século XIX, os banqueiros americanos passaram a exigir das empresas as demonstrações financeiras, visando a suas avaliações. No inicio do século XX, proliferam os chamados índices financeiros, que nas décadas de 20 e 30 têm seus grandes momentos de crescimento.

23 O pai da análise de balanços foi Alexander Wall, pois em 1919 apresentou um modelo para analisar balanços através de índices demonstrando que se deveria considerar outras relações e não somente o ativo circulante contra passivo circulante, também apresentou fórmulas matemáticas para avaliar empresas e ponderações de diversos índices. (MATARAZZO, 1998 p. 24). No ano de 1925 Gilman propôs a construção de índices encadeados para indicar as variações nos itens em relação a ano base dando início à formulação da análise horizontal. Em 1930 Du Pont formulou um modelo de análise de rentabilidade da empresa decompondo a taxa de retorno em taxa de margem de lucro e giro. E no Brasil a análise de balanços se difundiu a partir de 1968. (MATARAZZO, 1998 p. 24). Assim sendo, a análise através de índices surgiu e se desenvolveu com o passar do tempo permanecendo como instrumento prático; não só para o gerenciamento financeiro das empresas, como também para a concessão de crédito. A análise financeira das empresas compreende em um primeiro momento o estudo detalhado dos demonstrativos financeiros e seus índices; sendo que os dados financeiros, por si só, não são suficientes para compreender a situação econômico-financeira da empresa.

24 3 ANÁLISE DO DESEMPENHO ECONÔMICO FINANCEIRO Para iniciar uma análise econômica e financeira de uma empresa, um ponto de partida é a análise de suas demonstrações financeiras através de índices os quais permitem compreender melhor uma empresa. SILVA (2000, p. 207) coloca que a análise econômica financeira procura compreender e a analisar os seguintes aspectos. (1) capacidade de pagamento da empresa por intermédio da geração de caixa, (2) capacidade de remunerar os investidores gerando lucro em níveis compatíveis com suas expectativas, (3) nível de endividamento, motivo e qualidade do endividamento, (4) políticas operacionais e seus impactos na necessidade de capital de giro da empresa, e (5) diversos outros fatores que atendam ao propósito do objetivo da análise. A análise do desempenho econômico financeiro, realizado através das demonstrações financeiras, é feita por meio da análise horizontal e vertical, do fluxo de caixa, da análise das necessidades de capital de giro, modelos de previsão de insolvência e através dos quocientes ou índices financeiros. Esses devem ser interpretados a luz do tipo e grau de análise que se deseja fazer. 3.1 Demonstrativos Financeiros e Seus Principais Componentes O exame dos demonstrativos financeiros de uma empresa exige um discernimento adequado dos seus componentes. As operações de uma empresa são contabilizadas e apropriadas segundo técnicas contábeis adequadas. Nesse exame é preciso compreender e interpretar os grupos de contas das demonstrações financeiras.

25 BODIE E MERTON (1999, p. 79) colocam que: Essas demonstrações financeiras balanços, demonstrações de resultados e demonstrações do fluxo de caixa são preparadas de acordo com as regras estabelecidas pelos profissionais de contabilidade, sendo, portanto, importante compreender quais são essas regras. Todavia, os analistas financeiros às vezes discordam de como os profissionais da contabilidade decidiram medir certas variáveis-chave financeiras. Os demonstrativos financeiros apresentam um conjunto grande de informações que são muito utilizadas para tomar as decisões de créditos. Essas análises compreendem o conhecimento da estrutura dos demonstrativos financeiros, formas de contabilização e apropriação, sendo fundamental entendê-las. Em muitos casos para certas variáveis chaves fazem-se necessário reorganizar os demonstrativos para melhor compreender a informação real contida neles, e também, o valor e o lucro econômico, uma vez que esses demonstrativos podem ser elaborados para atender a legislação fiscal, societária ou satisfazer as necessidades de gerenciamento. BODIE E MERTON (1999, p. 80) afirmam que as demonstrações financeiras atendem a três importantes funções econômicas: Proporcionam informações aos proprietários e credores da empresa sobre a posição atual da companhia e o desempenho financeiro anterior. Proporcionam uma maneira conveniente para que proprietários e credores estabeleçam metas de desempenho e para que imponham restrições aos gerentes da empresa. Proporcionam modelos convenientes para o planejamento financeiro. E importante salientar que as informações advindas das demonstrações financeiras não são suficientes, por si só, para formar análises conclusivas a respeito do desempenho econômico-financeiro da empresa, fornecem sinais a serem examinados. Também é possível e importante preparar as projeções da empresa através de balanços, demonstrativos e fluxos de caixa projetados, podendo-se

26 verificar as necessidades de financiamentos de uma empresa ou até mesmo a capacidade de pagamento de empréstimos concedidos. 3.1.1 Balanço patrimonial O Balanço Patrimonial é uma demonstração contábil formada por bens, direitos e obrigações, que reflete em uma determinada data, geralmente anualmente, a posição patrimonial e financeira da empresa. GITMAN (1997, p. 72) afirma que: O balanço patrimonial representa a demonstração resumida da posição financeira da empresa em determinada data. A demonstração confronta os ativos da empresa (o que ela possui) com suas fontes de financiamento, que podem ser dívida (obrigações) ou patrimônio (o que foi fornecido pelos proprietários). líquido. O balanço patrimonial compreende o ativo, o passivo e o patrimônio BODIE E MERTON (1999, p. 82) fazem a seguinte colocação: O balanço de uma empresa mostra seus ativos (o que é de sua propriedade) e seu passivo (o que deve) em um determinado momento. As diferenças entre ativo e passivo correspondem ao seu patrimônio líquido, também chamado patrimônio dos proprietários. Os valores de ativos passivos e patrimônio líquido divulgados no balanço de uma empresa são medidos pelos custos históricos de aquisição, de acordo com os princípios contábeis geralmente aceitos. As contas no ativo são agrupadas em ordem decrescente do grau de liquidez, ou seja, inicialmente as que se convertem mais rapidamente em dinheiro, e as contas do passivo são agrupadas nas que mais rapidamente devem ser liquidadas, ou seja, pagas. O ativo representa todos os bens e direitos que a empresa possui, evidenciando onde a empresa aplicou os recursos. MARION (2005, p. 49) coloca que ativo é aquilo que atua, que exerce ação: os itens do ativo geram produção,

27 novos recursos para a empresa. O passivo representa as obrigações, evidencia de onde vieram os recursos, os quais podem ser de terceiros ou próprios. Essas fontes fornecedoras de recursos provenientes de capital de terceiros (obrigações exigíveis) são fontes externas de capital representadas pelas dívidas. E as fontes próprias (obrigações não exigíveis) provêm dos sócios ou dos lucros, são fontes internas de capital. A diferença entre ativo e passivo constitui o patrimônio líquido, ou seja, o capital que os proprietários investiram na empresa e os lucros que a empresa gerou em suas atividades. O quadro a seguir apresenta a estrutura de um balanço patrimonial: ATIVO ATIVO CIRCULANTE DISPONÍVEL Caixa e Bancos Títulos de Negociações Imediatas APLICAÇÕES FINANCEIRAS RDB, CDB, Letras de Câmbio, Debêntures, ouro etc. REALIZÁVEL A CURTO PRAZO Duplicatas a Receber (-) Duplicatas Descontadas (-) Provisão para Devedores Duvidosos Outros valores a Curto Prazo a Receber ESTOQUES Matérias-Primas e Embalagens Produtos em Elaboração Produtos Acabados / Mercadorias Materiais Diversos (Consumo e Almoxarifado) DESPESAS ANTECIPADAS Despesas apropriáveis a custo no exercício seguinte ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO Valores a Receber Títulos s Valores Mobiliários Empréstimos Compulsórios Incentivos Fiscais PASSIVO PASSIVO EXIGÍVEL CIRCULANTE Fornecedores Empréstimos e Financiamentos a Pagar (-) Encargos a Apropriar Impostos, Taxas e Contribuições Sociais a Recolher Ordenados e Salários a Pagar Outras Exigibilidades a Curto Prazo a Pagar Provisão para IR Provisões trabalhistas: férias, 13º salário etc. Dividendos propostos EXIGÍVEL A LOMGO PRAZO Financiamentos a Pagar (nacionais e estrangeiros) Outras Exigibilidades a Longo Prazo a Pagar RESULTADOS DE EXERCÍCIOS FUTUROS Receitas Antecipadas Líquidas PATRIMÔNIO LÍQUIDO CAPITAL SOCIAL Capital Social Subscrito (-) Capital Social Realizar RESERVAS DE CAPITAL Ágio Pago pelo Subscrito de Ações Doações e Subvenções para Investimento Correção Monetária do Capital Realizado (enquanto

28 ATIVO PERMANETE INVESTIMENTOS Participações acionárias em empresas coligadas e controladas Outros Investimentos (-) Provisão para Perdas IMOBILIZADO Prédios e Terrenos Máquinas, Acessórios e Equipamentos Instalações e Ferramentas de Valor Veículos Mobiliários e Equipamentos de Escritório (-) Depreciação Acumulada Marcas e Patente Fundo de Comércio (-) Amortização acumulada Minas, Florestas, Jazidas e Reservas Petrolíferas (-) Exaustão Acumulada EM ANDAMENTO Imobilizado Produtivo em Processo de Importação Encomenda de Imobilizado Produtivo (mercado interno) Construções em andamento ATIVO DIFERIDO Gastos de Instalação da Empresa Benfeitorias em Propriedades de Terceiros Pesquisas (-) Amortização Acumulada não capitalizado) RESERVAS DE REAVALIÇÃO Contrapartida do Aumento de Valor de Bens fixos RESERVAS DE LUCROS Reserva Legal Reserva Estatutárias Reservas para Contingências Reservas para Plano de Investimentos Reserva Especial Reserva de Lucros a realizar Outras LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS (-) Ações em tesouraria Quadro 3: Balanço Patrimonial. Asaf, Neto (2001, p. 60) permanente. O ativo se subdivide em circulante, realizável a longo prazo e Na primeira parte do balanço identificam-se os ativos da empresa, inicialmente o ativo circulante, composto de itens que serão convertidos em dinheiro dentro de um ano ou menos como caixa e bancos, aplicações financeiras, duplicatas a receber e estoques. As empresas muitas vezes necessitam de recursos financeiros para

29 saldar suas dívidas e nesse processo utilizam descontos de duplicatas, podendo ser assim caracterizado segundo MARION (2005, p. 61): A empresa transfere (por meio de um endosso no verso do título) a propriedade das duplicatas ao banco (ou outro financiador). Como contrapartida, a empresa recebe do Banco o valor constante nas duplicatas menos os juros contados até seus vencimentos (das duplicatas) O Banco, por sua vez, receberá o valor total da duplicata do cliente da empresa. Todavia, se, no vencimento da duplicata, não houver sua liquidação (o Banco não receber), a empresa deverá reembolsar ao Banco (ela é coresponsável) o valor total da duplicata descontada. O desconto de duplicatas que aparece no balanço patrimonial, no grupo de contas do ativo, é uma forma da empresa obter o recurso antecipadamente, sem a necessidade de esperar o cliente pagar pela aquisição do produto. O ativo realizável a longo prazo representa bens e direitos que se realizarão após o exercício social seguinte ao do enceramento do balaço. O ativo não circulante consiste no ativo permanente, o qual se subdivide em: investimentos, imobilizado e diferido. Uma conta que aparece no balanço patrimonial, no grupo de contas do ativo permanente imobilizado, é a depreciação. A depreciação representa segundo MATARAZZO (1998, p. 63) a perda do valor econômico dos bens por desgaste ou obsolescência. A depreciação tem um caráter econômico e fiscal, econômico por identificar os custos amortizáveis por desgastes ou obsolescência dos bens permanentes, pois a grande maioria possui vida útil limitada. E fiscal por ser permitido registrar como despesa do período o desgaste pelo uso ou obsolescência, sendo dedutível para o imposto de renda. MARIOM (2005, p. 65) coloca que o conteúdo do ativo permanente são itens que não se destinam à venda; seus valores não são alterados frequentemente; não há uma conotação de giro (movimento).

30 O passivo se subdivide em circulante, exigível a longo prazo, resultado de exercícios futuros e patrimônio líquido. O passivo circulante representa obrigações que devem ser pagas dentro do período de um ano ou menos, compreendendo basicamente fornecedores, encargos sociais a recolher, imposto a recolher, títulos a pagar, empréstimos e financiamentos bancários de curto prazo. O passível exigível a longo prazo representa obrigações da empresa que vencem após o término do exercício social seguinte, representado principalmente por financiamentos a pagar a longo prazo. O patrimônio líquido representa os recursos que foram investidos na empresa pelos proprietários, formado por capital social, reservas e lucros. O balanço patrimonial permite medir o grau de endividamento, o capital de giro e a liquidez. 3.1.2 Demonstração de resultados A demonstração do resultado do exercício representa a apuração do resultado econômico da empresa ao final do exercício social, demonstrando se a mesma obteve lucro ou prejuízo no período. SILVA (2001, p. 80) coloca que: A demonstração do resultado do exercício, conforme o próprio nome sugere, demonstra o resultado obtido pela empresa em determinado período, isto é, o lucro ou prejuízo. É importante notar que, enquanto o balanço patrimonial represente a posição da empresa em determinado momento, a demonstração do resultado acumula as receitas, os custos e as despesas relativas a um período de tempo, mostrando o resultado e possibilitando conhecermos seus componentes principais. A demonstração de resultado evidencia a diferença entre todas as

31 receitas e despesas permitindo identificar os elementos formadores do resultado econômico. Na demonstração do resultado do exercício é ordenado, resumidamente, receitas e despesas de forma vertical. Subtraindo-se receitas das despesas apurase o resultado econômico. Sendo que receitas e despesas são agrupadas pelo princípio da competência, ou seja, independentemente se forem pagos ou recebidos. Segundo SILVA (2001, p. 135) a demonstração do resultado da empresa abriga: (I) as receitas; (II) o custo dos produtos, mercadorias ou serviços; e (III) as despesas relativas a determinado período, que normalmente é de um ano. No quadro a seguir é mostrada a estrutura da demonstração do resultado do exercício. Demonstração do Resultado do Exercício RECEITA OPERACIONAL BRUTA (-) Vendas canceladas (-) Abatimentos sobre vendas (-) Impostos sobre vendas RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA (-) custo dos produtos, mercadorias ou serviços vendidos LUCRO BRUTO (-) Despesas de vendas (-) Despesas administrativas (-) Despesas financeiras, líquidas das receitas (-) Outras despesas operacionais (±) Resultado da equivalência patrimonial LUCRO OPERACIONAL (+) Receitas não operacionais (-) Despesas não operacionais LUCRO ANTES DOS IMPOSTOS, CONTRIBUIÇÕES E PARTICIPAÇÕES (-) Provisão para imposto sobre a renda (-) Contribuição para contribuição social

32 (-) Participações LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO LUCRO LÍQUIDO POR AÇÃO Quadro 4: Demonstração do Resultado do Exercício. Silva (2001, p. 136) A demonstração inicia-se com a receita operacional bruta ou vendas bruta, o qual segundo MATARAZZO (1998, p. 69) é constituída pelo valor bruto faturado e dela devem ser deduzidos os impostos incidente sobre vendas, vendas canceladas e os abatimentos concedidos desta forma chega-se à receita operacional líquida. A receita operacional líquida segundo SILVA (2001, p. 138) é efetivamente a parte da receita que ficará para a empresa cobrir seus custos e despesas e para gerar lucro. Da receita operacional líquida se deduz os custos dos produtos, mercadorias ou serviços vendidos chegando-se ao lucro bruto. As empresas industriais e de serviços obtêm o custo dos produtos através de sistemas de custo específicos, enquanto que as comercias, por se caracterizarem por compra de mercadoria para revenda, obtêm pela soma do estoque inicial do período com as compras líquidas deduzindo-os do estoque final do período. BODIE E MERTON (1999, p. 83) afirmam que as despesas podem ser desdobradas e quatro categorias: a primeira é o custo dos produtos vendidos, a segunda categoria de despesas são as gerais, administrativas e de vendas, a terceira categoria de despesas são as despesas financeiras (juros), a quarta e última categoria de despesas é o imposto de renda da empresa. Ao analisarmos a demonstração de resultado deve-se segundo MARION (2005, p. 114) dar atenção toda especial para a administração e controle dos custos

33 da empresa, dado que, se os custos forem elevados, sobrará pouco para remunerar setores vitais da empresa (diretores, gerentes, proprietários, bancos, governo etc.). Como o lucro bruto é a diferença entre receita operacional líquida e o custo das mercadorias ou de produção, ele após cobrir esses custos é destinado a cobrir despesas, impostos e remunerar os proprietários. SILVA (2001, p. 141) coloca que a chamada margem bruta é a relação percentual entre o lucro bruto e a receita líquida. Normalmente o analista verifica como essa relação vem se comportando historicamente. Do lucro bruto deduzem-se as despesas operacionais com vendas, administrativas, financeiras, outras despesas operacionais, mais o efeito do ganho ou perda da equivalência patrimonial, se houver. Assim, chega-se ao lucro operacional. Deduzindo-se do lucro operacional o resultado não operacional, ou seja, receitas ou despesas que não decorrem da atividade normal da empresa, chega-se ao lucro antes dos impostos, contribuições e participações. O imposto de renda e a contribuição social são apurados de acordo com a legislação vigente, já as participações representam parcelas do lucro destinadas a empregados diretores debenturitistas dentre outros. Deduzindo-as chega-se ao lucro líquido do exercício, ou seja, ao resultado econômico. MARION (2005, p. 112) afirma que é na demonstração de resultado de exercício, em que observamos o grande indicador global de eficiência: o retorno resultante do investimento dos donos da empresa (lucro ou prejuízo). A demonstração do resultado do exercício permite medir a lucratividade, a rentabilidade e a produtividade.

34 3.1.3 Fluxo de caixa Existem dois princípios importantes na contabilidade e que afetam a análise financeira e econômica das empresas, sendo um o regime de competência e o outro o regime de caixa. como segue: Conforme MARION (2005, p. 95) esses regimes podem ser explicados Diante do Regime de Competência dos Exercícios (ou regime econômico), a contabilidade considera a Receita gerada em determinado exercício social, não importando seu recebimento. Importa, portanto, o período em que a Receita foi ganha (fato gerador) e não seu recebimento. No que tange a Despesa, o raciocínio é o mesmo: importa a despesa consumida (incorrida) em determinado período contábil, sendo irrelevante o período de pagamento. Esse é o principio aplicado na demonstração do resultado do exercício, por isso, ela inclui despesas não pagas como a depreciação e receitas auferidas, mas não recebidas; nem toda receita representa entrada de caixa e nem toda despesa constitui saída de dinheiro. O regime de caixa é definido conforme MARION (2005, p. 96): Consiste, basicamente, em considerar Receita do exercício aquela efetivamente recebida dentro do exercício (entrada de dinheiro - ENCAIXE) E Despesa do exercício aquela também efetivamente paga dentro do exercício (saída de dinheiro - DESEMBOLSO). Normalmente, o resultado apurado pelo Regime de Competência é diferente daquele que se refere ao regime de Caixa. A demonstração do fluxo de caixa mostra todo o fluxo de dinheiro que entrou no caixa, bem como todo o fluxo de dinheiro que saiu do caixa em determinado período, ou seja, a origem e a aplicação do dinheiro, e, ainda o resultado financeiro da empresa. BODIE E MERTON (1999, p. 84) colocam que a demonstração do fluxo de caixa mostra todo o dinheiro que fluiu para dentro e para fora da empresa em determinado período afirmando ainda que permite que os gerentes da empresa e

35 terceiros observem se a empresa está ampliando suas reservas de dinheiro ou se está fazendo uso dele e por quê. A demonstração do fluxo de caixa engloba o disponível, ou seja, caixa e bancos, como também as aplicações financeiras de liquidez imediata. ROSS (2000, p. 61) coloca que a razão fundamental pela qual o lucro contábil difere do fluxo de caixa deve-se ao fato de que a demonstração de resultado contém itens não monetários. O mesmo autor coloca que itens não monetários são despesas lançadas contra receitas que não afetam diretamente o fluxo de caixa, como, por exemplo, depreciação. A demonstração do fluxo de caixa é dividida em atividades operacionais, atividades de investimentos e atividades de financiamentos. caracterizadas: Segundo MARION (2005, p. 432 e 433) essas atividades são assim Atividades Operacionais Abrange as transações que envolvem a consecução do objeto social da empresa, como receitas recebidas, recebimento de duplicatas, pagamento de fornecedores, pagamento de despesas operacionais etc. Atividades de financiamento Além da captação de recursos provenientes dos proprietários da empresa (sócios ou acionistas) por meio do capital social, toda capitação de empréstimos e outros recursos deverá ser incluída nesse grupo. A remuneração ao capital próprio em forma de distribuição de lucro (dividendos - juros de capital próprio) e a amortização dos empréstimos serão parcelas subtrativas desse grupo. Atividades de investimentos Transações de compra e venda de ativos permanentes como aquisições ou vendas de participações em outras atividades e de ativos imobilizados utilizados na produção, na prestação de serviços ou manutenção do negócio etc. A demonstração do fluxo de caixa pode ser elaborada pelo método indireto ou pelo método direto. O método indireto é efetuado com base no lucro líquido, ajustado com os valores das operações de receitas e despesas que não afetam o caixa da empresa.

36 No método direto são evidenciados todos os recebimentos e pagamentos que afetam a variação do caixa começando pela receita de vendas recebidas, em vez do lucro líquido, levando em conta todos os pagamentos e recebimentos ocorridos. 3.1.4 Demonstrações Financeiras Versus Valor da Empresa As demonstrações financeiras são elaboradas segundo princípios contábeis geralmente aceitos, e, as elaborações segundo tais princípios levam os registros pelo valor histórico não refletido, para efeitos de análise, o verdadeiro valor da empresa. O valor de mercado de uma empresa não é igual ao valor contábil segundo BODIE E MERTON (1999, p. 87) pelos seguintes fatores: O valor contábil não inclui todos os ativos e passivos da empresa. Os ativos e passivos no balanço oficial da empresa são (em grande parte) avaliados ao custo da aquisição original menos depreciação, e não aos valores atuais de mercado. É importante destacar que o ativo permanente além da subdivisão contábil pode ser analisado segundo a sua característica intangível, ou seja, bens de difícil mensuração, avaliados de maneiras subjetivas. Isso reflete na relação do valor contábil de uma empresa e o valor de mercado desta mesma empresa, como exemplo é o que os autores chamam de GoodWill. Segundo MARION (2005, p. 328): Goodwill é uma espécie de ágio, de um valor agregado que tem a empresa em função da lealdade dos clientes, da imagem, da reputação, do nome da empresa, da marca de seus produtos, do ponto comercial, de patentes registradas, de direitos autorais, de direitos exclusivos de comercialização, de treinamento e habilidade de funcionários etc. Todos esses exemplos são reais, mas difíceis de ser avaliados, já que muitas vezes são subjetivos. Em função desse subjetivismo, normalmente não é destacado na contabilidade.

37 O balanço contábil não contempla fatores como o valor do ponto comercial, a marca, a qualidade dos produtos, a reputação da empresa, a confiabilidade dos clientes, o capital intelectual. Além desses existem fatores que diminuem o valor da empresa como, por exemplo, processos onerosos pendentes e obsolescência dos meios de produção. ROSS (2000, p. 58) afirma que o verdadeiro valor de um ativo é seu valor de mercado, que é simplesmente a quantidade de caixa que receberíamos se realmente vendêssemos aquele ativo. Desta forma o valor de mercado da empresa é diferente daquele que contempla o balanço, pois, vários fatores subjetivos e de mensuração difícil levam a expectativa futuras de retorno do capital aplicado, não contemplado pelos balanços das empresas. 3.1.5 Etapas da Análise Financeira Para se proceder a uma boa análise financeira algumas etapas devem ser seguidas SILVA (2001, p. 181) coloca que no processo de análise deve-se obedecer a seguinte seqüência: a) Coleta da documentação para análise. b) Conferência da documentação recebida. c) Preparação: leitura e padronização das demonstrações financeiras. d) Processamento: cálculo dos indicadores e obtenção de relatórios. e) Análise dos indicadores e relatórios. f) Conclusão: elaboração do parecer. A coleta da documentação para análise varia conforme a empresa que se quer analisar seja uma empresa de capital aberto que publica suas demonstrações ou mesmo empresas menores, comercias ou indústrias que apenas atendem a legislação específica.

38 O analista deve estar atento a que tipo de análise está fazendo para encontrar informações suficientes que possam subsidiar a análise. que: Para a concessão de crédito por um banco SILVA (2001, p. 182) coloca Os bancos que operam no varejo, por outro lado, normalmente têm uma ficha de análise padronizada para atender esse tipo de operação, enquanto que os bancos que atuam com grandes negócios tendem a desenvolver análise com nível de aprofundamento maior. Outro ponto importante quando da elaboração da análise é a conferência da documentação que visa propiciar uma elevada qualidade da análise principalmente em empresa médias e pequenas. observadas; SILVA (2001, p. 182) afirma que as seguintes irregularidades devem ser a. Falta de identificação da empresa nas demonstrações, ou seja, constam os números, mas não há identificação da empresa. b. Falta de assinatura do contador nas demonstrações financeiras, ou do número do CRC, isto é, do seu registro profissional no Conselho Regional de contabilidade. c. Falta de assinatura do responsável pela empresa (da diretoria ou dos sócios gerentes), nas demonstrações financeiras. d. Demonstrações incompletas. e. Balanços excessivamente sintéticos sem possibilitar o conhecimento das principais contas. f. Recebimento de balancetes sem apuração dos estoques e do custo da mercadoria ou produto vendido. g. Total do ativo diferente do total do passivo (incluindo o patrimônio líquido). h. Mesmo no caso de sociedades anônimas, falta do parecer da auditoria, inexistência de demonstração de origens a aplicações de recursos e/ou de notas explicativas. i. Recebimento de duas versões diferentes das demonstrações financeiras de um mesmo exercício. Um outro fator extremamente importante na análise é a padronização das demonstrações. Ao se iniciar a análise das demonstrações financeiras deve-se lembrar que elas são elaboradas segundo várias normas e vários critérios e a análise procura atender a um critério específico sejam decisões de investimentos ou decisões de crédito.