Diego Teixeira de Araújo Universidade Federal do Ceará diegogeoufc@gmail.com ÁREAS DE LAZER NA PRAIA DA LESTE-OESTE INTRODUÇÃO O litoral hoje se constitui como importante área de lazer, veraneio, vilegiatura, e sobretudo de turismo, se tornando assim uma área bastante valorizada comercialmente. Dentro desse contexto o litoral se torna um importante gerador de renda, principalmente se levarmos em conta a indústria do turismo. Através desta, são gerados milhares de empregos, tanto de maneira direta, como de maneira indireta para diversos tipos de trabalhadores, abrangendo desde o setor formal, como hotelaria e redes de restaurante, até o mercado informal através dos vendedores ambulantes, cantadores, vendedores de água de coco e etc. Nas últimas décadas, o Ceará veio, através do marketing, construindo sua imagem ligada ao litoral, rompendo com sua imagem anterior ligada as secas, e formando a imagem da terra da luz. O turismo no ceará é uma das principais atividades econômicas, e é no litoral que este setor se apresenta com maior representatividade, onde podemos encontrar a concentração de hotéis, pousadas, restaurantes, dentre outros equipamentos turísticos. No litoral fortalezense podemos notar diferentes tipos de ocupação no lado oeste e no lado leste da cidade. Enquanto o lado leste é ocupado por hotéis, bares, restaurantes, casa de veraneio, e residências de altos níveis, o litoral oeste é ocupado por favelas e casas de população de baixa renda. E ambos possuem barracas de praia instaladas em seu litoral. Este trabalho apresenta como objetivo geral estudar qual a função do litoral para a população do Grande Pirambu, dando enfoque na perspectiva do lazer gerado pela praia. E observar qual função urbana desta na construção desse bairro. Como objetivos específicos dessa pesquisa, procuramos: a) Investigar os aspectos históricos que levaram a ocupação do Grande Pirambu; b) Identificar as práticas marítimas na da praia da Leste-Oeste na atualidade e os fatores que contribuíram para a realização destas práticas; c) Traçar um perfil dos freqüentadores da praia da leste-oeste. 1
Para a realização desse trabalho, alem de fazer pesquisas bibliográficas sobre o objeto de estudo em bibliotecas, efetuamos aplicação de formulários em freqüentadores dessa praia, e fizemos diversas pesquisas de campo nessa área, a fim de observar sua dinâmica diária. FORMAÇÃO DO GRANDE PIRAMBU Nem sempre o litoral foi valorizado. A cidade de Fortaleza cresceu se mantendo ligada ao serão, formando um quadro de cidade litorânea com alma sertaneja. A cidade se desenvolvera de costas para o mar (Dantas 2002) e as áreas litorâneas eram caracterizadas como lugar de habitação das classes pobres da cidade. As dificuldades impostas, ao morar na cidade construída para as classes abastardas, induzem a ocupação das zonas de praia por importante contingente de emigrantes pobres do sertão. Eles estabeleceram-se nos terrenos de marinha, área anteriormente ocupada pelas comunidades de pescadores, denotando crescimento dos efetivos demográficos, marcado por estado de saturação cujo testemunho, após final do século XIX, são as favelas. O primeiro tipo de ocupação, ligado à pesca, encontra-se na totalidade do território cearense, mas o segundo, as favelas, representa fenômeno característico de Fortaleza, cidade cujo forte fluxo migratório impediu integração de todos os retirantes às comunidades de pescadores. (Dantas,2002) Devido o grande contingente de imigrantes não houve a incorporação das atividades de pesca pelos retirantes, ocasionando a formação de favelas (Dantas 2002). Durante o período das reformas urbanas na época da belle époque de Fortaleza, o cemitério São João Batista foi remanejado para o Pirambu. Escolheram este bairro para abrigar o cemitério por ser um bairro pobre, e pelo fato de os ventos em Fortaleza sopram de nordeste para sudoeste, de forma tal, que os ventos não levariam os miasmas para o restante da população. Pelo mesmo motivo que escolheram o Pirambu para abrigar o cemitério, o escolheram para abrigar os retirantes. Durante a seca de 1932 o Pirambu sofreu uma espécie de 2
abarracamento e se tornou um dos Campos de Concentração¹ cearenses destinados a abrigar os retirantes vindos da seca deste referido ano. O campo de concentração do Urubu, como era chamado, teve uma importante contribuição para o adensamento populacional dessa área, visto que ainda no final de julho deste ano já havia cerca de 1800 retirantes divididos entre os dois Campos de Concentração de Fortaleza. OCUPAÇÃO DO LITORAL PELOS RICOS A valorização do litoral Cearense começou no período da belle- époque, porem a região litorânea veio realmente a se valorizar entre as décadas de 40 e 70. Foi nesse período que o litoral passou a ser massivamente ocupado pelas classes abastardas. Onde estas classes se instalam, ocorrem expulsões. Inicialmente na praia de Iracema, com a especulação fundiária, e, posteriormente, na praia do Meireles, evidenciando uma expulsão crescente dos antigos habitantes. (Dantas,2002). As zonas de praia do litoral oeste não Foram ocupadas pelas classes mais abastardas por serem, de um lado, delimitadas por uma antiga zona portuária e pelas favelas, por outro lado, marcadas pela poluição e ocupação popular. ¹devido a carga ideológica historicamente ligada a esse termo, se orna interessante explicitarmos que os referidos campos de concentração se diferem dos que houveram na Alemanha nazista. Como o próprio nome evidencia, esses tinham o intuito de concentrar os imigrantes e não havia o interesse de atentar contra a vida de nenhum retirante O PIRAMBU E A PRAIA O lazer atualmente desempenha um grande um papel na sociedade moderna, pois segundo Santos (2000) ele não é uma oposição ao trabalho, e sim, um complemento indispensável ao equilíbrio individual pela reposição de energias físicas e mentais que proporciona. Se tornando assim indispensável para a reprodução do trabalho. A segregação espacial que ocorre em Fortaleza também é marcada pela distribuição desigual dos equipamentos de lazer. Na zona leste, ocupada pelos mais afortunados estes são mais abundantes e sofisticados, na zona oeste são escassos e de inferior qualidade (Santos, 2000). Na região do Grande Pirambu a situação descrita acima é ainda pior, pois alem de possuir poucas éreas de lazer, algumas dessas áreas, como pracinhas, acabam sendo 3
sucateadas e/ou marginalizadas, servindo de ponto de tráfico de drogas, prostituição e assaltos. Tornando-se impraticável o lazer nessas áreas (sobretudo em determinados horários). A maior parte da população do Grande Pirambu é constituída por famílias de baixa renda e por isso não podem buscar com freqüência atividades de lazer fora do próprio bairro. A pesquisa ainda está em fase de andamento, no entanto através de dados preliminares podemos concluir que a maioria dos freqüentadores dessa praia vem não só do Grande Pirambu, mas de vários bairros que ficam nessas proximidades. Quando perguntávamos aos entrevistados qual o motivo de freqüentarem esta praia, as respostas mais frequentes foram em ordem decrescente: por causa da proximidade, para tomar banho de sol e para as crianças brincarem. Durante a pesquisa de campo um dos freqüentadores ressaltou a importância da praia e se queixou da falta de investimentos do poder público na região. Queixou-se da falta de policiamento, da falta de salva vidas, e do acumulo de lixo na faixa de praia. A PRAIA E PRECONCEITO Os freqüentadores da Leste-Oeste são provenientes basicamente do Grande Pirambu e dos seus bairros adjacentes. Isso se dá pelo fato de boa parte da população fortalezense não ver com bons olhos esta praia. Vários fatores contribuem para isso, mas acreditamos que os principais são: A localização próxima a comunidades carentes e ser freqüentada pela população dessas comunidades O fato de as pessoas que passam pela avenida Leste-Oeste associarem o mal cheiro da estação de tratamento à praia As imagens historicamente associadas a essa praia da praia. De ser perigosa, poluída, mal freqüentada. A Praia da Leste-Oeste, assim como diversas outras de Fortaleza, é Imprópria para o banho, no entanto isso não impede que seus freqüentadores tomem banho ou pratiquem outras atividades ligadas ao mar. Durante a pesquisa de campo realizada nessa praia, podemos observar que seus freqüentadores costumam realizar diversas práticas de lazer associadas à praia. Dentre as 4
quais podemos citar: Banho de mar; banho de sol; futebol de areia; frescobol; surf, dentre outros. A PRAIA E A OCUPAÇAÃO DO ESPAÇO O fato de essa praia ser freqüentada pela população local gera uma demanda por equipamentos e produtos ligados ao lazer, dessa forma, o uso da praia gera uma alteração no espaço, devido à instalação de equipamentos de lazer, como as barracas de praia que podem ser encontradas em boa parte da extensão da Leste-Oeste. A importância da praia é tamanha que as casas localizadas próximo a praia tem um valor comercial maior do que as encontradas bairro adentro. A PRAIA E AS ATIVIDADES ECONÔMICAS A importância dessa praia não esta apenas no lazer, pois, esta se constitui como importante fonte de renda para a população local, através das barracas (pois estas além de gerar renda para o dono, gera emprego para cozinheiros, garçons, e os seus demais funcionários), dos vendedores ambulantes e através da pesca. As barracas instaladas na areia ocupam boa parte da praia, com suas mesas e cadeiras se estendendo até próximo do mar, acabam por ser outro fator atrativo para os freqüentadores da Leste-Oeste, pois muitos deles vão à praia no intuito de beber cerveja com os amigos, paquerar, consumir produtos típicos de praia, como caranguejo, camarão, peixe, etc. 5
Os vendedores ambulantes chegam a comercializar produtos provenientes da própria localidade, como castanhas assadas artesanalmente pelos próprios vendedores e piabas assadas. Geralmente estes oferecem produtos com preços mais acessíveis, e por isso tem a preferência de muitos. No entanto, muitas vezes seus produtos não possuem um bom estado de conservação, devido passarem o dia expostos ao sol, sem uma refrigeração adequada. 6
A pesca é a atividade econômica mais antiga na região, e prevalece até hoje. Os peixes provenientes dessa praia são vendidos, pelos próprios pescadores no mercado, localizado próximo à Praia de frente para a avenida Leste-Oeste, e costumam ser consumidos dentro do Grande Pirambu. 7
CONCLUSÃO Existem várias imagens negativas associadas à praia da Leste-Oeste. De ser poluída, perigosa, freqüentada por marginais... No entanto, durante as pesquisas, vimos que essa praia tem um importante valor para a população local e que só podemos pensar que é freqüentada por marginais se levarmos em conta o sentido etimológico dessa palavra (aqueles que ficam a margem da sociedade). A praia da Leste-Oeste é um local de lazer dos excluídos e um espelho da segregação urbana de fortaleza, historicamente construída através dos séculos. 8
Esperamos que com esse trabalho tenhamos contribuído para a desmistificação do que seria a praia da Leste-Oeste e quais seriam suas reais atribuições dentro do perfil urbano de Fortaleza. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, Ângela Maria Falcão da. A Cidae e o Mar. As Praticas Maritimas Modernas e a Construção da Praia do futuro. 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2006. DANTAS, Eustógio Wanderlei Correia. Mar à vista: Estudo da maritimidade de Fortaleza. Fortaleza: Museu do Ceará, 2002. DANTAS, Eustógio Wanderlei Correia. Maritimidade nos trópicos: Por uma Geografia do Litoral. Fortaleza: Edições UFC, 2009. SILVA, Debora Marques da. Pirambu e suas geografias. Um Olhar Sobre o Jornal O Povo. 2006. 198f. Dissertação de Mestrado (mestrado em Geografia) Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2006. CORBIN, Alain. O Território do Vazio: A praia e o imaginário Ocidental. Paris, 1988. RIOS, Kênia Sousa. Campos de Contração do Ceará: Isolamento e Poder na Seca de 1932. Fortaleza: Museu do Ceará, 2002. 9