0 RELATÓRIO DE ENSAIOS TECNOLÓGICOS ANÁLISE DO DESEMPENHO DE CONCRETOS INCORPORANDO BAIXOS TEORES DE FIBRAS DE POLIPROPILENO, NYLON E POLIESTER à ETRURIA Industria de Fibras e Fios Sintéticos Ltda. ------------------------------------------------------------------- Prof. Dr. NEWTON DE OLIVEIRA PINTO JÚNIOR COORDENADOR DO LABORATÓRIO DE ESTRUTURAS E CONSTRUÇÃO CIVIL FEC UNICAMP JUNHO DE 2001
1 ÍNDICE RESUMO...2 I - CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS...3 II - ZONA DE TRANSÇÃO FIBRA MATRIZ...5 III - MECANISMOS DE AÇÃO DAS FIBRAS...5 IV - INFLUÊNCIA DO TEOR DE FIBRAS INCORPORADO...7 V - TENACIDADE DOS COMPÓSITOS...7 VI - A RETRAÇÃO DO CONCRETO...9 VII - DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS FIBRAS POLIMÉRICAS...10 VIII - PROGRAMA EXPERIMENTAL : APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS...11 IX TESTE 1: AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA ADIÇÃO DAS FIBRAS AOS CONCRETOS...12 X - TESTE 2 : INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DAS FIBRAS NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS CONCRETOS...17 XI - TESTE 3: AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS FIBRAS NO CONTROLE DA RETRAÇÃO PLÁSTICA DOS CONCRETOS...28 XII - CONCLUSÕES...44 XIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...45
2 RESUMO Neste trabalho são apresentados os resultados de um programa experimental desenvolvido para avaliar o comportamento de concretos de resistência usual, com resistências à compressão axial ao redor de 30 MPa, incorporando fibras de baixo módulo de elasticidade, como as de polipropileno, denominadas FIBERLOCK, de nylon e de poliéster. São analisadas as influências da adição de baixos teores destas fibras ( 300 g, 500 g e 900 g por m 3 de concreto para as de polipropileno, e 300 g e 500 g por m 3 de concreto para as de nylon e de poliester ) nas propriedades mecânicas dos concretos, tais como, resistências à compressão axial, à tração na compressão diametral e na flexão, módulos de elasticidade e tenacidades, bem como a absorção de água por capilaridade dos concretos. Foram também avaliadas as resistências à compressão axial após elevação da temperatura dos concretos acima do ponto de fusão das fibras, buscando determinar sua influência nesta propriedade mecânica. A retração plástica dos concretos é um fenômeno que se manifesta em extensas superfícies de concreto, sujeitas a grande insolação combinada com alta taxa de evaporação e elevada incidência de rajadas de vento, como nos pisos e pavimentos executados a céu aberto. Visando avaliar a influência da adição de baixos teores de fibras no controle da retração plástica, moldaram-se placas com dimensões de 2,20 x 1,10 x 0,15 m, buscando simular situações reais de concretagem, com concretos incorporando diversos teores destas fibras de baixo módulo de elasticidade. Os resultados obtidos são apresentados e discutidos, culminando com uma avaliação do desempenho das fibras empregadas. O programa experimental foi desenvolvido pela equipe técnica do Laboratório de Estruturas e Construção Civil da Faculdade de Engenharia Civil da UNICAMP.
3 I - CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS Um concreto contendo cimento hidráulico, água, agregados miúdos e graúdos e fibras discretas descontínuas resulta num compósito, denominado concreto reforçado com fibras. Tal concreto pode também conter pozolanas e outros aditivos normalmente usados em concreto convencional. O uso de fibras como reforço de materiais de construção tem seu primeiro registro, de acordo com o Exodus 5:6, a aproximadamente 3200 anos, que salienta que os egípcios utilizavam fibras de asbesto para reforçar tijolos de barro. Há evidências de que este mesmo tipo de fibra foi empregado para reforçar postes de argila há cerca de 5000 anos. As primeiras fibras empregadas na construção civil, sem caráter artesanal, foram as de amianto, no princípio do século. Normalmente, o concreto contém numerosas fissuras e sua rápida propagação sob tensão aplicada, é responsável pela baixa resistência à tração do material. Inicialmente, foi considerado que as resistências, tanto à tração quanto à flexão do concreto, podiam ser aumentadas substancialmente pela introdução de fibras próximas uma das outras, as quais poderiam obstruir a propagação de microfissuras, retardando, portanto, o início das fissuras de tração, aumentando, assim, a resistência à tração do material. Conforme afirmam MEHTA & MONTEIRO (1994), estudos experimentais mostraram que, com os volumes e os tamanhos das fibras que poderiam ser convenientemente incorporadas às argamassas e concretos, os produtos reforçados com fibras não apresentaram crescimento substancial das resistências à tração e flexão como esperado, porém foi obtida uma melhora considerável no comportamento pós-fissuração desses materiais. O início do estudo cientifico sobre o comportamento destes compósitos deu-se apenas na década de 50 com o aparecimento das fibras de aço e vidro (BENTUR; MINDESS, 1990). No caso das fibras poliméricas, a primeira tentativa de emprego é atribuída a GOLDFEIN, em 1965. As fibras poliméricas de maior emprego atualmente são as fibras de polipropileno, existindo, também, outros tipos de fibras, tais como as de nylon, poliéster, polietileno e celulose.
4 Em 1966, a Shell desenvolveu e patenteou o processo de produção de fibras de polipropileno em forma de filmes fibrilados picotados, bem como concretos contendo estas fibras. O material obtido foi denominado de "Caricrete" e a adição máxima possível de fibras com esta tecnologia foi de 1%, em volume (ZONSVELD, 1983). Posteriormente, na Universidade de Surrey, foi desenvolvido um processo no qual espalhavam-se em camadas as fibras em forma de filmes, formando malhas, que eram impregnadas por argamassa de cimento resultando em placas reforçadas. A substituição dos componentes cimento-amianto pelos de argamassa reforçada com fibras de polipropileno justifica-se pelo efeito nocivo do amianto à saúde dos operários envolvidos no processo de produção. O interesse pela incorporação de fibras como reforço de matrizes de argamassas e concreto tem crescido nos últimos anos. Em 1995, o número total de publicações relacionadas com materiais de matrizes cimentícias reforçadas com fibras chegou a aproximadamente 8000 (TROITIER et al., 1997) e é estimado o emprego, na construção civil, de um milhão de toneladas por ano de fibras de aço e sintéticas em todo o mundo (BALAGURU, 1994). Nos Estados Unidos e Europa é comum o emprego de compósitos reforçados com fibras de polipropileno (SCHUPACK; STANLEY, 1992; SOROUSHIAN; MIRZA; ALHHOZAIMY, 1995 (a); TROITIER et al, 1997), principalmente em pavimentos industriais, onde estas fibras adicionadas em baixos teores (0,1% em volume), substituem as telas metálicas, destinadas apenas ao controle da fissuração por retração. A substituição de telas metálicas é justificada pelo ganho de produtividade, uma vez que é eliminado o tempo para a disposição e fixação de telas, além do seu custo ser compensado pelo custo global das telas. Como exemplo de economia pode-se citar a utilização de fibras de polipropileno fibrilado em substituição a telas metálicas em placas pré-moldadas para revestimento dos pavimentos no World Vision, em Victoria, Austrália (1992). Foi empregado um teor de fibras de 0,1% em volume por metro cúbico de concreto, em aproximadamente 480 m 3 de concreto. O emprego das fibras propiciou uma economia de US$ 4,00 por m 2, totalizando uma redução de custo de US$ 32000,00 (FIBERMESH, s.d.).
5 II - ZONA DE TRANSÇÃO FIBRA MATRIZ No concreto reforçado com fibras as características da zona de transição entre a fibra e a matriz, na região da interface entre estes materiais, influi decisivamente no comportamento mecânico do compósito, pois a região é mais porosa que o restante da matriz, o que é determinante para as condições de aderência. Segundo AGOPYAN (1991) a eficiência das fibras na melhoria das propriedades da matriz de cimento é controlada por dois fenômenos : pela transferência de tensões entre a matriz e as fibras através da aderência (micro-ação) e pelo efeito de costura na matriz fissurada, nos estágios mais avançados do carregamento (macro-ação). A microestrutura da região de interface entre a fibra e a matriz é diferente daquela encontrada no restante da pasta. Segundo MEHTA e MONTEIRO (1994), as partículas de cimento se hidratam e reagem formando partículas coloidais de C-S-H e grandes cristais de CH. Ocorre a formação de espaços preenchidos com água ao redor das fibras, devido à exsudação interna e ao empacotamento ineficiente dos grãos de cimento em torno da superfície da fibra (efeito parede). Assim, a relação água/cimento nas imediações da fibra é maior e, portanto, mais porosa é a matriz, sendo também gerados cristais grandes de hidróxido de cálcio (CH), orientados perpendicularmente à superfície da fibra, criando uma zona preferencial da fratura, BENTUR e MINDESS (1990). III - MECANISMOS DE AÇÃO DAS FIBRAS Segundo HANNANT (1978), observando os valores das deformações de ruptura das fibras e das matrizes cimentícias, nota-se que as deformações de ruptura das fibras atinge valores três vezes maiores que as deformações da matriz. Portanto, antes que as fibras sejam solicitadas no seu limite de resistência, a matriz já estará fissurada. Após a fissuração da matriz as fibras atuam como ponte de transferência de tensões através das fissuras, sendo então arrancadas da matriz (BENTUR e MINDESS, 1990). Este é o principal mecanismo de reforço proporcionado pelas fibras. A transferência de tensão da matriz para a fibra ocorre por combinação de dois mecanismos básicos: transferência elástica e transferência por atrito.
6 Na transferência elástica a matriz e a fibra estão aderidas entre si e possuem compatibilidade de deformações, ou seja, não há deslocamentos relativos entre a fibra e matriz. É desenvolvida uma tensão de cisalhamento na interface fibra-matriz, que distribui a solicitação entre elas. Este mecanismo é dominante enquanto as tensões de cisalhamento na interface fibra - matriz não superam o limite de resistência ao cisalhamento, não ocorrendo deslocamento, o que se dá na etapa de pré - fissuração do compósito. Até esse ponto a fibra não atua como ponte de transferência de tensões através da fissura. Após a fissuração da matriz, o mecanismo de transferência de tensões passa gradualmente de elástico para o mecanismo por atrito. Em função das características peculiares da zona de transição fibra-matriz, a tensão de cisalhamento por aderência supera a resistência ao cisalhamento da interface, provocando o deslocamento da fibra e o posterior escorregamento e arrancamento da mesma. Ocorrendo o deslocamento relativo entre a fibra e a matriz, as tensões são transferidas através do atrito. Estas tensões de cisalhamento por atrito são admitidas como uniformemente distribuídas ao longo da interface fibra-matriz. Neste ponto a fibra age como ponte de transferência de tensões, como exemplificado na Figura 1. FISSURA FIBRAS ATUANDO COMO PONTES DE TRANSFERÊNCIA DE TENSÕES Fig. 1 - Exemplificação do mecanismo de ação das fibras
7 IV - INFLUÊNCIA DO TEOR DE FIBRAS INCORPORADO O teor de fibras incorporado tem grande influência no desempenho do compósito, pois define o número de fibras presentes na seção de ruptura, que atuarão como ponte de transferência de tensões. Quanto maior o teor, maior será a probabilidade das fissuras interceptarem um maior número de fibras. Por outro lado, quanto maior for o teor incorporado maior será a dificuldade em se obter uma mistura homogênea, o que pode afetar sobremaneira o desempenho do compósito. O teor de fibras influencia o denominado volume crítico de fibras, idealizado por AVESTON et al (1971). O volume crítico de fibras é aquele para o qual o compósito mantém uma resistência residual pós-fissuração igual ao da matriz. V - TENACIDADE DOS COMPÓSITOS Para avaliar o desempenho de um material compósito deve-se considerar os mecanismos envolvidos em sua ruptura. Uma das formas de quantificar estes mecanismos, consiste em medir o gasto de energia envolvido na fratura do material. Segundo BENTUR e MINDESS (1990), além daquelas propriedades controladas no concreto convencional, o concreto reforçado com fibras deve ser avaliado quanto a sua tenacidade. A incorporação de baixos teores de fibras no concreto não causa um aumento das resistências à tração e compressão, ou seja, a matriz de concreto com adição de fibras irá fissurar com o mesmo nível de tensão e deformação que a matriz sem fibras. Ainda de acordo com BENTUR e MINDESS (1990), a vantagem da adição de fibras no concreto é demonstrada após a fissuração, pois as fibras atravessam as fissuras atuando como ponte de transferência de tensões entre as partes da matriz separadas pela fissura, suportando o processo de arrancamento, de tal forma que a deformação somente pode continuar com um novo acréscimo de energia proveniente do aumento da solicitação. Em outras palavras, as fibras adicionadas ao concreto contribuem para o incremento de absorção de energia e uma avaliação do efeito dessa contribuição é comumente obtida através da determinação da sua tenacidade.
8 O comportamento normalmente frágil do concreto simples transforma-se em dúctil com a adição de fibras, de tal forma que a sua capacidade portante é conservada mesmo depois de fissurado. Portanto, para a avaliação do desempenho das fibras como reforço do concreto, utiliza-se a quantificação da energia total absorvida pelo compósito até a separação completa do corpo-de-prova ou, em outras palavras, pela medida da energia total de fratura do compósito, para a qual dá-se o nome de tenacidade. AVESTON, COOPER e KELLY (1971), baseando-se em princípios de balanço energético, mostraram que em um compósito reforçado com fibras, as fontes de dissipação de energia na formação e progresso de uma fratura são geradas pela deformação elástica da fibra, pela transferência de tensão entre a matriz fissurada e a fibra, pelo trabalho realizado para descolamento da fibra da matriz ( que se propaga ao longo da interface fibra - matriz) e pelo trabalho necessário para vencer as forças de atrito, permitindo que ocorra o escorregamento entre fibra e matriz. Portanto, a aderência é determinante no fenômeno de propagação das fissuras, pois a ruptura da aderência e o escorregamento da fibra consomem energia no processo da fratura. O estudo do arrancamento das fibras é fundamental para se entender o aumento da ductilidade nos compósitos. Segundo ALWAN et al. (1991), a capacidade de absorção de energia depende de dois mecanismos: a deformação do material e eventualmente, a formação de novas superfícies fissuradas. Nos materiais frágeis a tenacidade é baixa, pois a deformação resistida é limitada. Com a introdução das fibras ocorre uma melhora nos dois mecanismos, pois o arrancamento das fibras envolve a perda da aderência, que altera a configuração das fissuras, e a deformação da fibra aumenta a capacidade de deformação do material. Esta propriedade dos concretos com adição de fibras se manifesta através da elevação do ramo descendente da curva carga x deslocamento vertical, obtida em um ensaio de tração na flexão com velocidade de deformação controlada, aumentando a tenacidade, que, de acordo com norma japonesa JSCE SF4, é numericamente igual à área contida sob a curva acima citada, para um certo deslocamento vertical máximo especificado.
9 VI - A RETRAÇÃO DO CONCRETO A retração é um fenômeno inevitável no concreto e, como é uma das principais causas da fissuração, seu controle assume fundamental importância, pois a sua ocorrência está associada à durabilidade do concreto. Inúmeros fatores podem influenciar a retração, tais como : as condições ambientais, tipo litológico e dimensão máxima característica dos agregados, propriedades físicas (absorção e massa específica) e elásticas dos agregados, proporção dos materiais que compõem a mistura do concreto (principalmente a quantidade de água), microfissuras na interface pasta agregado), cura do concreto e outros. No estado ainda fresco podem ocorrer fissuras de grande profundidade ou superficiais no concreto, devido à retração plástica, a qual é influenciada pelas condições ambientais, tais como, temperatura, umidade e velocidade do vento. Retração plástica e fissuração ocorrem quando a taxa de evaporação da água do concreto fresco é maior do que a exsudação. Neste tipo de retração, as fissuras ocorrem também devido à restrição a uma retração uniforme, como, por exemplo, sobre armaduras e sobre partículas grandes de agregado, ou quando a contração de uma grande área horizontal se torna mais difícil do que na direção vertical, formando, neste caso, fissuras profundas dispostas irregularmente. De modo geral, as fissuras plásticas típicas são paralelas entre si, espaçadas entre 0,30m e 1,0m. A retração plástica aumenta com o crescimento do consumo de cimento e com a redução da relação água/cimento. Quanto à eliminação ou minimização de seus efeitos, é recomendável, em situações ambientais desfavoráveis, a proteção do concreto contra o sol e vento, assim como a cura apropriada imediatamente após o lançamento, além de aspersão de água e a revibração com o concreto no estado ainda fresco. A incorporação de fibras de baixo módulo de elasticidade aos concretos, como as que estão em análise neste trabalho, pode também controlar, ou mesmo eliminar, os efeitos danosos deste tipo de retração. A retração por secagem ou hidráulica (higrométrica) é o fenômeno que consiste na contração irreversível decorrente da variação de umidade dos concretos.
10 A contração manifesta-se imediatamente após o adensamento (contração no estado fresco), e a seguir após o início do endurecimento (retração por secagem). No caso da retração por secagem, se não forem tomadas providências que assegurem uma perfeita cura do concreto, ou seja, se não for impedida a evaporação da água nele contida, os efeitos da retração serão muito mais significativos, podendo o concreto apresentar fissuras ainda a baixas idades. A incorporação de fibras de baixo módulo de elasticidade aos concretos, não impede o aparecimento de fissuras causadas pela retração por secagem que, como acima comentado, só podem ser evitadas com uma cura adequada. Tais fibras podem, nesta situação, apenas limitar as aberturas das fissuras nas primeiras idades. VII - DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS FIBRAS POLIMÉRICAS Polipropileno é um polímero termoplástico semicristalino, derivado do monômero C 3 H 6, obtido pelo craqueamento do petróleo, através da síntese de elementos orgânicos. Este polímero é composto por cadeias longas de alto peso molecular e desenvolvimento helicoidal (SPENCER-SMITH, 1976). Quando o plástico é empregado abaixo da temperatura vítrea, ele apresenta um comportamento frágil, ou seja, o plástico torna-se quebradiço. Contudo, quando é empregado acima da temperatura vítrea, apresenta um comportamento dúctil. Este é o caso do polipropileno, cuja temperatura de transição vítrea é aproximadamente 20 º C, bem abaixo da temperatura ambiente (GRUENWALD, 1992; MILLS, 1993). Devido ao arranjo atômico regular da macromolécula, as fibras de polipropileno podem ser mais facilmente produzidas na forma cristalina, passando em seguida por um processo de extrusão estirada, que gera uma orientação das cadeias poliméricas (BENTUR; MINDESS, 1990). As fibras podem ser produzidas em monofilamentos, como mostrado na Figura 2, em fitas e filmes.
11 Fig. 2 - Fibras de polipropileno em monofilamentos VIII - PROGRAMA EXPERIMENTAL : APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS O programa experimental foi idealizado para avaliar o comportamento de um concreto convencional, com resistência média à compressão f cm = 30 MPa, incorporando fibras de polipropileno, de nylon e de poliester em diversos teores. As principais características das fibras empregadas são mostradas na Tabela 1. O concreto foi dosado de acordo com o traço 1 : 2,47 : 3,25 (em massa), empregando-se uma relação água/cimento igual a 0,65. Foi empregado o cimento marca CIMINAS, tipo CP V ARI Plus. Os resultados de ensaios de caracterização atendem as exigências da NBR-5733 Cimento Portland de alta resistência inicial. Foram utilizadas duas areias naturais da região de Campinas, classificadas granulometricamente como areia grossa e a outra como muito fina, enquadradas na zonas 4 e 1, respectivamente.
12 Foram realizadas as seguintes análises : Teste 1: Avaliação preliminar da adição das fibras aos concretos; Teste 2: Influência da adição das fibras nas propriedades mecânicas dos concretos; Teste dos concretos. 3: Avaliação da eficiência das fibras no controle da retração plástica Tabela 1 Características das fibras Dados técnicos POLIPROPILENO NYLON 6.6 POLIESTER ADITIVADO FIBERLOCK Peso específico (g/cm³) 0,9 1,14 1,38 Diâmetro (µ) 18 18 17 Comprimento (mm) 12-20 - 30 21 28 Área específica (m²/kg) 255 - - Tensão de ruptura (Mpa) 810 630 670 Alongamento (%) 28 45-95 30-45 Absorção de água (%) 0 4 - IX TESTE 1: AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA ADIÇÃO DAS FIBRAS AOS CONCRETOS Buscando avaliar a influência da incorporação das fibras aos concretos, foram realizados ensaios preliminares, adicionando-se os teores de 0,05; 0,1; 0,2 ; 0,6 e 1,5 %, em relação a massa de cimento, para comparação com o concreto de referência, sem adição de fibras. Nestes ensaios iniciais foram utilizadas fibras de polipropileno e de nylon, de mesmos comprimentos e diâmetros. Foram moldados corpos-de-prova cilíndricos de 100 x 200mm para avaliação das resistências à compressão axial, à tração na compressão diametral e determinação dos módulos de elasticidade dos concretos. Estes corpos-de-prova foram mantidos em cura úmida e ensaiados aos 7 dias de idade.
13 Os resultados médios obtidos para as resistências à compressão axial, tração na compressão diametral e para os módulos de elasticidade tangente são apresentados nas Figuras 3, 4 e 5, respectivamente. 40 RESISTÊNCIAS À COMPRESSÃO AXIAL TESTE 1 Resistência (MPa) 35 30 25 20 15 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 % de fibras incorporadas naylon polipropileno Fig. 3 Valores médios das resistências à compressão axial dos concretos, incorporando distintos teores de fibras, e vista do ensaio
14 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA COMPRESSÃO DIAMETRAL 14,00 TESTE 1 Resistência à Tração ( MPa ) 12,00 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 0 0,05 0,1 0,2 0,6 1,5 Teores de fibras de polipropileno ( % ) DETALHE DO CORPO DE PROVA NO ENSAIO Fig. 4 Valores médios das resistências à tração na compressão diametral, dos concretos incorporando distintos teores de fibras, e vista do ensaio.
15 Módulo de Elasticidade (GPa) 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 MÓDULO TANGENTE DE ELASTICIDADE TESTE 1 0 0,05 0,1 0,2 0,6 1,5 Teores de fibras de polipropileno ( % ) VISTA DO ENSAIO CORPO DE PROVA INSTRUMENTADO Fig. 5 Valores médios dos módulos de elasticidade tangente, dos concretos incorporando distintos teores de fibras, e vistas do ensaio e instrumentação.
16 Analisando os resultados mostrados nas Figuras 3, 4 e 5, referentes ao Teste 1 : Avaliação Preliminar da Adição das Fibras aos Concretos, pode-se tecer as seguintes considerações : a) RESISTÊNCIAS À COMPRESSÃO AXIAL : A incorporação das fibras de polipropileno FIBERLOCK aos concretos proporcionou melhores resultados das resistências à compressão do que os obtidos com as fibras de nylon, para todos os teores incorporados. Observando a Figura 3, nota-se que a incorporação de 0,05 e 0,1%, ou seja, aproximadamente de 170g a 350g por m³ de concreto, conduz aos melhores resultados. Analisando os dados contidos na Figura 3, onde é estabelecida uma comparação entre os acréscimos gradativos de teores de fibras de polipropileno, notase que a porcentagem ideal, que apresenta uma elevação da resistência em torno 6,5% comparativamente ao concreto sem adições, está entre os valores de 0,05 a 0,1%, ou seja, entre aproximadamente 170g a 350g por metro cúbico de concreto. Nota-se, ainda, pela análise da Figura 3 que, em comparação com as fibras de nylon, as de polipropileno apresentam sempre melhor desempenho, com exceção apenas para o teor de 0,2%, que representa cerca de 700g por m³ de concreto, dosagem para a qual foram obtidos valores semelhantes. A incorporação do teor usualmente recomendado de fibras de nylon, cerca de 350g/m³, ou seja, 0,1% sobre a massa de cimento, resultou em uma redução de cerca de 13% no valor da resistência à compressão do concreto, valor este que é inferior ao obtido com a incorporação de igual teor de polipropileno, e 5,3% inferior em comparação ao concreto sem adição de fibras. Nestes ensaios foram utilizadas fibras de polipropileno e de nylon com comprimento de 12mm. b) RESISTÊNCIAS À TRAÇÃO NA COMPRESSÃO DIAMETRAL : Observando a Figura 4, nota-se um ligeiro aumento da resistência à tração com a adição de fibras polipropileno FIBERLOCK para o teor de 350g/m³ (0,1%), em comparação com o concreto sem adições, que corresponde a um aumento de
17 aproximadamente 10% no valor da resistência. Para os outros teores não ocorreu diferença significativa em relação ao concreto sem fibras. c) MÓDULO TANGENTE DE ELASTICIDADE: Os resultados apresentados na Figura 5 mostram que com a adição de fibras poliméricas de polipropileno FIBERLOCK ao concreto, ocorre um aumento do módulo de elasticidade tangente. Este aumento é gradativo com a elevação do teor de fibras adicionado, porém tem seu limite no teor de 500g/m³ (0,15% sobre a massa de cimento), teor a partir do qual começa a diminuir o módulo de elasticidade do compósito, tendendo os valores do módulo de elasticidade a voltar para aquele do concreto sem adição de fibras. X - TESTE 2 : INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DAS FIBRAS NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS CONCRETOS Para estabelecer um comparativo do desempenho dos concretos incorporando fibras de polipropileno, nylon e poliéster, realizaram-se ensaios para determinação das suas resistências à compressão simples, tração na compressão diametral, tração na flexão e módulo de elasticidade. Foram moldados corpos-de-prova cilíndricos de 100 x 200mm para avaliação das resistências à compressão axial, à tração na compressão diametral e determinação dos módulos de elasticidade dos concretos. Estes corpos-de-prova foram mantidos em cura úmida e ensaiados aos 7 dias de idade. Para a obtenção da resistência à tração na flexão e determinação do valor da tenacidade dos compósitos, foram moldados quatro corpos-de-prova de dimensões 150mm x 150mm x 500mm para cada concreto a ser analisado, sendo ensaiados a idade de 28 dias. Nestes concretos foram utilizados fibras com distintas características, tanto no seu comprimento quanto na sua natureza, variando-se, também, os teores incorporados, como mostrado na Tabela 2.
18 Tabela 2 Características das fibras Código Descrição Quantidade 0 testemunho - (g/m³) 1 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 300 2 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 500 3 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 900 4 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 30 mm 500 5 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 12 mm 500 6 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 500 7 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 300 8 fibra poliester - corte 28 mm 500 9 fibra poliester - corte 28 mm 300 Os resultados médios obtidos para as resistências à compressão axial, tração na compressão diametral e para os módulos de elasticidade são apresentados nas Figuras 6, 7 e 8, respectivamente. Resistência (MPa) 37 36 35 34 33 32 31 30 34,57 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL TESTE 2 33,17 33,74 33,93 32,40 35,97 34,57 35,01 33,23 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Código 33,49 Fig. 6 - Valores médios das resistências à compressão simples, dos concretos incorporando distintos teores de fibras.
19 Tabela 2 Características das fibras Código Descrição Quantidade 0 testemunho - (g/m³) 1 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 300 2 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 500 3 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 900 4 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 30 mm 500 5 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 12 mm 500 6 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 500 7 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 300 8 fibra poliester - corte 28 mm 500 9 fibra poliester - corte 28 mm 300 Resistência (MPa) RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA COMPRESSÃO DIAMETRAL TESTE 2 16 14 12 10 8 6 4 2 0 13,54 10,78 11,71 12,31 11,50 12,31 12,22 11,71 12,90 12,65 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Código Fig. 7 - Valores médios das resistências à tração na compressão diametral, dos concretos incorporando distintos teores de fibras.
20 Tabela 2 Características das fibras Código Descrição Quantidade 0 testemunho - (g/m³) 1 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 300 2 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 500 3 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 900 4 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 30 mm 500 5 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 12 mm 500 6 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 500 7 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 300 8 fibra poliester - corte 28 mm 500 9 fibra poliester - corte 28 mm 300 Módulo (GPa) 35 30 25 20 15 10 5 24,71 MÓDULO TANGENTE DE ELASTICIDADE TESTE 2 29,26 27,96 28,65 28,40 19,95 25,42 24,44 27,45 28,62 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Código Fig. 8 - Valores médios dos módulos de elasticidade tangente, dos concretos incorporando distintos teores de fibras.
21 As influências da elevação da temperatura, da absorção de água por capilaridade e da tenacidade dos concretos com fibras incorporadas são apresentadas nas Figuras 9, 10 e 11 e nas Tabelas 3, 4 e 5. Tabela 2 Características das fibras Código Descrição Quantidade 0 testemunho - (g/m³) 1 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 300 2 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 500 3 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 900 4 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 30 mm 500 5 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 12 mm 500 6 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 500 7 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 300 8 fibra poliester - corte 28 mm 500 9 fibra poliester - corte 28 mm 300 Resistência (MPa) 38 36 34 32 30 28 26 24 34,57 27,06 R E S IS TÊ N C IA À C O M P R E S S Ã O A X IA L TE S TE 2 35,97 35,01 34,57 33,74 33,93 33,17 33,23 32,40 26,55 26,04 25,46 27,50 26,74 25,59 27,44 27,25 33,49 29,28 22 20 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A N T E S D A T E M PE R A T U R A C ódigo A PÓ S T EM PE R A T U R A Fig. 9 - Valores médios das resistências à compressão axial dos concretos, incorporando distintos teores de fibras e perda de resistência após elevação da temperatura.
22 Tabela 2 Características das fibras Código Descrição Quantidade 0 testemunho - (g/m³) 1 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 300 2 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 500 3 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 900 4 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 30 mm 500 5 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 12 mm 500 6 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 500 7 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 300 8 fibra poliester - corte 28 mm 500 9 fibra poliester - corte 28 mm 300 ABSORÇÃO (g/cm²) 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 2,0 ABSORÇÃO DE ÁGUA POR CAPILARIDADE TESTE 2 1,8 1,9 1,7 1,8 1,6 1,8 1,9 1,9 2,1 0,0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Código Fig. 10 - Avaliação da absorção de água por capilaridade.
23 Tabela 2 Características das fibras Código Descrição Quantidade 0 testemunho - (g/m³) 1 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 300 2 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 500 3 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 900 4 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 30 mm 500 5 fibra polipropileno - FIBERLOCK - corte 12 mm 500 6 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 500 7 fibra nylon 6.6 - corte 21 mm 300 8 fibra poliester - corte 28 mm 500 9 fibra poliester - corte 28 mm 300 600 TENACIDADE TESTE 2 Tenacidade (Nxmm) 500 400 300 200 100 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Código Fig. 11 Avaliação da tenacidade com distintos tipos e teores de fibras.
24 Fig. 12 Vista geral do ensaio de tração na flexão com velocidade de deformação controlada, para determinação das tenacidades dos concretos. Tabela 3 Tenacidades dos concretos de acordo com a JSCE SF4 TIPO DE FIBRA T f TENACIDADE (N x m) CP 1 2 3 4 fct,1 fis.(pa) 1 0,62 0,30 0,29 0,34 0,0032 2 0,79 0,58 0,31 0,48 0,0032 3 0,56 0,27 0,61 0,48 0,0032 4 0,29 0,91 0,43 0,34 0,0032 5 0,15 0,96 0,51 0,38 0,0032 6 0,37 0,43 0,64 0,27 0,0032 7 0,20 0,65 0,54 0,55 0,0032 8 0,32 0,33 0,06 0,49 0,0032 9 0,62 0,06 0,69 0,42 0,0032 fct,1 fis. : resistência dos concretos na 1ª fissura
25 Tabela 4 Resistências equivalentes segundo a JSCE SF4 f ct,eq RESISTÊNCIA EQUIVALENTE (Pa) CP 1 2 3 4 1 2,78E-05 1,32E-05 1,28E-05 1,49E-05 2 3,52E-05 2,57E-05 1,37E-05 2,12E-05 3 2,51E-05 1,22E-05 2,72E-05 2,11E-05 4 1,27E-05 4,03E-05 1,89E-05 1,50E-05 5 6,71E-06 4,26E-05 2,26E-05 1,71E-05 6 1,66E-05 1,90E-05 2,84E-05 1,19E-05 7 8,90E-06 2,87E-05 2,41E-05 2,45E-05 8 1,40E-05 1,47E-05 2,86E-06 2,18E-05 9 2,77E-05 2,86E-06 3,08E-05 1,87E-05 Tabela 5 - Coeficientes de ductilidade segundo a JSCE SF4 R e3 COEFICIENTES DE DUCTILIDADE (%) CP 1 2 3 4 1 1% 0% 0% 0% 2 1% 1% 0% 1% 3 1% 0% 1% 1% 4 0% 1% 1% 0% 5 0% 1% 1% 1% 6 1% 1% 1% 0% 7 0% 1% 1% 1% 8 0% 0% 0% 1% 9 1% 0% 1% 1%
26 Analisando os resultados mostrados nas Figuras e Tabelas anteriores, referentes ao Teste 2: Avaliação Preliminar da Adição das Fibras aos Concretos, pode-se tecer as seguintes considerações : a) RESISTÊNCIAS À COMPRESSÃO AXIAL : Na Figura 6 nota-se claramente que praticamente não existe diferença quanto ao desempenho entre as fibras polipropileno de tamanho de corte de 20mm e 30mm, como também um melhor desempenho da fibra polipropileno de 12mm sobre os demais cortes ou materiais. Praticamente não ocorre diferença significativa entre os valores obtidos para a resistência à compressão para as fibras de corte 20 mm em geral, como pode ser observado comparando-se os resultados obtidos entre as fibras polipropileno (códigos 1, 2), as fibras de nylon (códigos 6 e 7) e as fibras de poliester (código 8 e 9) Observou-se também que o teor de fibras de polipropileno normalmente utilizado comercialmente apresentou valores inferiores, confirmando-se assim o comentário realizado anteriormente sobre a Figura 3 do Teste 1, onde teores de fibras polipropileno entre 0,05% e 0,15% apresentam melhor desempenho. Quanto as fibras de nylon 6.6, nota-se que o aumento do teor não correspondeu a um aumento do desempenho, permanecendo os valores praticamente inalterados ao se passar de 300 g/m³ para 500 g/m³. b) RESISTÊNCIAS À TRAÇÃO NA COMPRESSÃO DIAMETRAL : Analisando a Figura 7, nota-se que a adição de fibras poliméricas, não importando a natureza delas, causa um pequeno decréscimo da resistência à tração na compressão diametral em relação à obtida para o concreto de referência, porém os valores obtidos não apresentam diferença significativa. c) MÓDULO TANGENTE DE ELASTICIDADE: A adição de fibras de polipropileno FIBERLOCK ao concreto, para teores de 300g/m³ e 500g/m³, causam uma elevação do módulo de elasticidade de até 18,5%. Para teores mais altos, como o de 900 g/m³, ocorre um decréscimo no valor do módulo, chegando-se a uma redução de aproximadamente 19% em comparação com o concreto sem adição de fibras, como pode ser constatado na Figura 8.
27 A adição de fibras de poliéster proporcionam um acréscimo no valor do módulo de elasticidade do concreto, chegando-se próximo aos valores obtidos com a adição de fibras polipropileno. Nota-se também na Figura 8, que a adição de fibras de nylon não causa nenhum acréscimo nos valores do modulo de elasticidade, em comparação com o concreto sem adição. d) RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO APÓS ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA: A resistência à compressão axial foi avaliada por meio de ensaios em corpos - de - prova cilíndricos com dimensões de 100mm x 200 mm, realizados aos 28 dias de idade. Estes ensaios tiveram por objetivo verificar a influência, na resistência à compressão dos concretos, da elevação da temperatura acima do ponto de fusão das diferentes fibras poliméricas adicionadas ao concreto, fixando-se para esta análise a temperatura de 200º C. Observando os resultados mostrados na Figura 9, nota-se uma queda generalizada da resistência à compressão, após a elevação da temperatura, ao redor de 21%, reduções estas muito próximas da encontrada para o concreto de referência, o que demonstra o efeito deletério da elevação da temperatura sobre os concretos. Fica portanto evidente, que a incorporação destas fibras aos concretos não traz benefícios a esta importante propriedade dos concretos, a não ser o de criar canais internos, anteriormente preenchidos pelas fibras, que pode ser de grande valia na liberação de vapores internos gerados em situações de incêndio, minimizando os problemas de desplacamentos que ocorrem em tais situações. e) ABSORÇÃO DE ÁGUA POR CAPILARIDADE: A absorção de água por capilaridade foi avaliada segundo a NBR 9779/95, tendo-se moldado corpos - de - prova cilíndricos com dimensões de 100mm x 200 mm, ensaiados aos 28 dias de idade. Nota-se, através da análise dos resultados apresentados na Figura 10, que o concreto incorporando fibras de polipropileno aditivado, designado pelo código 5, apresentou o melhor desempenho com relação a esta propriedade, fato que pode ser
28 explicado pela maior quantidade de fibras dispersas na mistura, em função de seu menor comprimento. f) RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA FLEXÃO E TENACIDADE DOS CONCRETOS Analisando os resultados apresentados na Figura 11 e nas Tabelas 3, 4 e 5, fica evidenciado que a incorporação destes teores de fibras de baixo módulo de elasticidade aos concretos não altera o seu comportamento frágil na ruína. XI - TESTE 3: AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS FIBRAS NO CONTROLE DA RETRAÇÃO PLÁSTICA DOS CONCRETOS. Com o objetivo de avaliar a eficiência das fibras quanto a sua capacidade de transferência de tensões referente a abertura de fissuras por retração plástica, foram confeccionadas placas de dimensões de 2,20m x 1,10m x 0,15 m, buscando simular situações reais de concretagem. Para estabelecer um comparativo do desempenho dos concretos incorporando fibras de polipropileno FIBERLOCK e nylon, realizaram-se ensaios para determinação das suas resistências à compressão simples e de determinação de seus módulos de elasticidade tangente e secante. Foram moldados corpos-de-prova cilíndricos de 100 x 200mm para estas avaliações, sendo tais ensaios realizados aos 28 dias de idade. O traço utilizado foi 1:2:2 a/c=0,65, f cm =35MPa, objetivando uma potencialização da exsudação da água de amassamento e majoração no fenômeno da retração plástica. Foram utilizadas duas areias de granulometrias diferentes, para uma maior abrangência nos resultados finais obtidos. As placas foram moldadas em três series, utilizando dois tipos de concreto, sendo que nas duas primeiras foi utilizado concreto confeccionado com areia de granulometria grossa e na última concreto confeccionado com areia de granulometria muito fina. Foram adicionados vários teores de fibras, variando-se também a composição delas, como pode ser visto na Tabela 6 a seguir apresentada.
29 Os resultados médios obtidos para as resistências à compressão axial e dos módulos de elasticidade secante e tangente são apresentados nas Figuras 13, 14 e 15, respectivamente. Tabela 6 Características das fibras, teores incorporados e tipos de areias empregadas nos concretos das placas. Descrição Quantidade (g/m³) Testemunho - Fibra Polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 500 Fibra Polipropileno - FIBERLOCK - corte 20 mm 900 Fibra Nylon 6.6 - corte 20 mm 500 Fibra Polipropileno - FIBERLOCK - corte 12 mm 500 Fibra Polipropileno - corte 12 mm - Fibrilado 900 Descrição Areia Concreto série 1 Concreto série 2 Concreto série 3 Granulometria grossa Granulometria grossa Granulometria muito fina Resistência à compressão (MPa) 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL TESTE 3 testemunho pp (500g/m³) pp (900g/m³) nylon (500g/m³) pp (500g/m³) Teores 12mm SÉRIE 1 SÉRIE 2 SÉRIE 3 Fig. 13 -Valores médios das resistências à compressão axial dos concretos, incorporando distintos teores de fibras.
30 Módulo de elasticidade (GPa) 35 30 25 20 15 10 5 0 MÓDULO SECANTE DE DEFORMAÇÃO TESTE 3 testemunho pp (500g/m³) pp (900g/m³) nylon Teores (500g/m³) SÉRIE 1 SÉRIE 2 SÉRIE 3 pp (500g/m³) 12mm Fig. 14 - Valores médios dos módulos secante de elasticidade, dos concretos incorporando distintos teores de fibras. Módulo de elasticidade (GPa) 36 35 34 33 32 31 30 29 28 27 MÓDULO TANGENTE DE DEFORMAÇÃO TESTE 3 testemunho pp (500g/m³) pp (900g/m³) nylon (500g/m³) pp (500g/m³) 12mm Teores SÉRIE 1 SÉRIE 2 SÉRIE 3 Fig. 15 - Valores médios dos módulos de elasticidade tangente, dos concretos incorporando distintos teores de fibras.
31 VERIFICAÇÃO DA CAPACIDADE DE CONTROLE DAS FISSURAS CAUSADAS POR RETRAÇÃO PLÁSTICA: Para realizar esta análise, moldaram-se placas com dimensões de 2,20 x1,10 x 0,15m, buscando simular situações reais de concretagem em obras correntes. A moldagem das placas foi precedida pela execução de fôrmas, como a seguir descrito. CONFECÇÃO DAS FORMAS Inicialmente foi executado um lastro de concreto magro com espessura de 5 cm, com a finalidade de aumentar a restrição ao encurtamento do concreto que posteriormente seria lançado sobre este lastro. Para aumentar ainda mais o grau de restrição às deformações do concreto durante sua secagem, foram posicionadas sobre a camada de concreto magro, duas cantoneiras metálicas, ortogonais entre si, como mostrado na Figura 16 a seguir apresentada. Fig. 16 Montagem das fôrmas com execução de lastro de concreto magro e posicionamento das cantoneiras metálicas sobre este lastro.
32 MISTURA E LANÇAMENTO DO CONCRETO Todos os traços de concreto foram dosados em massa seca, tendo-se assim um controle rigoroso sobre a quantidade e qualidade dos materiais utilizados. Fig. 17 - Dosagem do concreto feita em massa para maior controle das propriedades do concreto. A mistura da fibra foi efetuada manualmente, podendo-se notar a homogeneidade de sua distribuição em toda a massa de concreto. Fig. 18 - Mistura manual das fibras. Para a moldagem das placas foi adotado um procedimento padronizado, tendo como referencia todas as etapas de uma concretagem em obra. Após o lançamento do
33 concreto realizou-se o seu desempeno e acabamento final, como mostrado nas Figuras a seguir. É importante salientar que logo após este acabamento iniciou-se o monitoramento da superfície do concreto, com relação ao surgimento de fissuras ocasionadas pela retração plástica. Fig. 19 - Lançamento de camada inicial e final de concreto, respectivamente. Fig. 20 - Desempeno e acabamento.
34 Foram realizadas medições constantes da temperatura ambiente e interna do concreto, como também da velocidade do vento, buscando-se manter constantes as condições de execução dos ensaios. Fig. 21 - Medição da temperatura no interior do concreto. A documentação fotográfica das placas moldadas, que mostra o efeito da incorporação das fibras no controle da retração plástica, é a seguir apresentada.
35 DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA DAS PLACAS CONCRETO SÉRIE 1 Fig. 22 - PLACA 1 : Testemunho, sem adição de fibras, concreto traço 1-TESTE 3. Fig. 23 - PLACA 1 : Testemunho, sem adição de fibras, concreto traço 1-TESTE 3. Fissuras longitudinais e transversais, grande retração plástica.
36 Fig. 24 - PLACA 2 : Adição de 300gr de polipropileno FIBERLOCK- TESTE 3. Sem fissuras Fig. 25 - PLACA 4 : Adição de 900gr de polipropileno -TESTE 3. Grande quantidade de fissuras transversais.
37 Fig. 26 - PLACA 5 : Adição de 500gr de nylon - TESTE 3. Sem fissuras. Fig. 27 - PLACA 6 : Adição de 900gr de polipropileno fibrilado - TESTE 3. Grande quantidade de fissuras transversais.
38 Fig. 28 - PLACA 6 : Adição de 900gr de polipropileno fibrilado - TESTE 3. Detalhe do afloramento das fibras. CONCRETO SÉRIE 2 Fig. 29 - PLACA 8 : Testemunho, sem adição de fibras, concreto traço 1-TESTE 3. Fissuras transversais de grande abertura, grande retração plástica.
39 Fig. 30 - PLACA 8 : Testemunho, sem adição de fibras, concreto traço 1-TESTE 3. Detalhe do aparecimento de grande quantidade de fissuras por toda a extensão da placa em diversas direções ( pés de galinha ) Fig. 31 - PLACA 9 : Adição de 300gr de fibras de polipropileno FIBERLOCK de 20mm, concreto traço 1- TESTE 3. Sem fissuras
40 Fig. 32 - PLACA 10 : Adição de 500gr - fibras de polipropileno FIBERLOCK de 20mm, concreto traço 1- TESTE 3. Sem fissuras Fig. 33 - PLACA 11 : Adição de 500gr de fibras de polipropileno FIBERLOCK de 30mm, concreto traço1-teste 3. Sem fissuras
41 Fig. 34 - PLACA 12 : Adição de 500gr de polipropileno FIBERLOCK de 12mm, concreto traço1 TESTE 3. Sem fissuras Fig. 35 - PLACA 13 : Adição de 500gr de nylon, comprimento 20mm, concreto traço1 TESTE 3. Sem fissuras.
42 CONCRETO SÉRIE 3 Fig. 36 - PLACA 14 :Testemunho, sem adição de fibras, concreto traço 2-TESTE 3 Fissuras transversais, grande retração plástica, surgimento de pequenas fissuras por toda a extensão da placa. Fig. 37 - PLACA 15 : Adição de 500gr de polipropileno FIBERLOCK, concreto traço 2- TESTE 3. Sem fissuras.
43 Fig. 38 - PLACA 16 Adição de 500gr de nylon, concreto traço 2- TESTE 3 Sem fissuras. Fig. 39 - PLACA 17 Adição de 900gr de polipropileno, concreto traço 2. TESTE 3. Aparecimento de fissuras transversais a placa.
44 XII. CONCLUSÕES A incorporação de fibras de polipropileno FIBERLOCK no teor de 500g por metro cúbico de concreto, mostrou ser a melhor dosagem para controle das fissuras ocasionadas pela retração plástica dos concretos. Os concretos confeccionados com tal teor apresentaram, também, um aumento ao redor de 18 % nos valores de seus módulos de elasticidade tangente, em comparação com os do concreto sem adição de fibras, fato que é relevante para o controle de deformações em peças estruturais. As resistências à compressão e à tração na compressão diametral dos concretos não é alterada com a incorporação destas fibras poliméricas, sendo mantidos os mesmos níveis de resistências dos concretos não aditivados. As fibras poliméricas de baixo módulo de elasticidade não suportam o processo de arrancamento da matriz endurecida, que é o principal mecanismo de transformação do comportamento de material frágil para dúctil, pois ao serem interceptadas por uma fissura rompem-se antes que ocorra seu arrancamento. Portanto, tais fibras não podem ser utilizadas como reforço estrutural substituindo as armaduras convencionais. Com a utilização de 500g por metro cúbico de concreto de fibras de polipropileno FIBERLOCK, foi possível inibir o aparecimento das fissuras causadas por retração plástica. As fibras demonstraram, também, ser eficientes na prevenção do aparecimento de fissuras mapeadas sobre o concreto, popularmente denominadas pés de galinha, além de proporcionar vantagens econômicas, evitando gastos posteriores com a recuperação de pisos novos. Em todos os ensaios em que foram utilizadas fibras de formato monofilamento, não ocorreu seu afloramento na superfície do concreto. O acabamento das placas não foi prejudicado pela incorporação deste tipo de fibras. Notou-se, ainda, uma diminuição da água de exudação do concreto com a utilização destas fibras, o que sem dúvidas reduz a probabilidade de aparecimento de fissuras.
45 XIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN CONCRETE INSTITUTE, Manual of Concrete Practice: part 4, State-of-theart Report on Fiber Reinforced Concrete. (ACI 544. 1R-82). American Concrete Institute Committee 544. Detroit, 1982, 16p. AMERICAN SOCIETY for TESTING and MATERIALS. Standart Specifications for Steel Fibers for Fibers Reinforced Concrete. ASTM A820. Book of ASTM Standarts. ASTM, Philadelphia, 1994.. ASTM C 150 Standart Specification for Portland Cements. Philadelphia, 1991.. ASTM C 1018-92 Standart Test Method for Flexural Thoughness and First-Crack Strength of Fiber Reinforced Concrete (using beam with third-point loading). Detroit, 1992, 7p.. Standart Specification for Fiber Reinforced Concrete and Shotcrete. ASTM C1116. Separata ASTM. ASTM, Philadelphia. 1995. ARMELIN, H.S. Contribuição ao Estudo do Concreto Projetado por Via Seca com Fibras de Aço Destinado ao Revestimento de Túneis NATM. São Paulo, 1992. 145p. Dissertação (Mestrado). Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. ARMELIN, H.S.; BANTHIA, N. Predicting the Flexural Post-Cracking Performance of Steel- Fiber Reinforced Concrete from the Pull-out of Single Fibers. ACI Materials Journal. v 94. Detroit, n.1, january-february 1997, p. 18-31. BALAGURU, P.N.; NARAHARI, R.; PATEL, M. Flexural Toughness of Steel Fiber Reinforced Concrete. ACI Material Journal, v 89, n. 6, 1992, p. 541-6. BALAGURU, P.N.; SHAH, S.P. Fiber Reinforced Cement Composites. USA. McGraw-Hill. 1992. BANTHIA, N. Study of Some Factor Affecting the Fiber-Matrix Bond in Steel Fiber Reinforced Concrete. Canadian Journal of Civil Engineering, V.17, n 4, 1991, p.610-620. BANTHIA, N.; TROTTIER, J.F. Concrete Reinforced with Deformed Fibers, Part I: bond-slip mechanisms. ACI Materials Journal, V.91, nº5, sep-oct 1994, p 435-446.
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