THALES DE ANDRADE O CAMPO E A CIDADE



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Transcrição:

THALES DE ANDRADE O CAMPO E A CIDADE André Dela Vale / UNIMEP-PPGE-CAPES Thales Castanho de Andrade, piracicabano, escritor e professor, ficou conhecido nacionalmente por escrever vários livros infantis, principalmente contos e fábulas. Lançou o seu primeiro livro de conto A Filha da Floresta em 1919, antes mesmo de Monteiro Lobato lançar Narizinho Arrebitado. Thales de Andrade é aclamado pelos memorialistas da cidade de Piracicaba pela grandiosidade de sua obra, pelo fato de considerarem que esse autor já exibia uma grande preocupação com a ecologia e a preservação das florestas antes mesmo de existir o termo ecologia. Um outro aspecto importante que devemos considerar é que Thales de Andrade é filho de Piracicaba e nessa época (1910-1940) essa cidade ficou conhecida como sendo a Atenas Paulista. Atenas no sentido de se referenciar o alto grau de escolaridade e de escolas existentes em Piracicaba, como também por sua produção intelectual e artística. De uma forma ou de outra, Piracicaba é tida, por seus memorialistas, como um pólo de educação e essa educação foi fundamental para o seu desenvolvimento. Thales é representante desse período histórico e um dos responsáveis por Piracicaba ser conhecida como tal. Nosso objetivo nesse trabalho é abordar a obra de Thales de Andrade por três aspectos distintos: a relação campo-cidade, a educação e a nacionalismo. O Campo e a Cidade A cidade para esse autor é o lugar da vida moderna, de uma vida mais agitada, do lugar dos inventos, inovações e dos desenvolvimentos científicos, como é possível observar em algumas passagens do livro Saudade, em que Thales de Andrade apresenta as impressões e acontecimentos do menino Mário que se muda com a família do sítio para a cidade. Assim relata Mário ao falar dessa mudança: A nossa vida ficou muito diferente. Mamãe obrigava-me a andar bem vestido o dia inteiro. Isso, para mim, era um verdadeiro castigo. 1 Em nossa casa a mobília era nova. 1 ANDRADE, Thales. Saudade São Paulo: Editora Nacional, 64º Edição, 1974, p.12.

Havia um guarda-roupa com um espelho comprido onde eu me enxergava dos pés à cabeça. A mesa de jantar ficava maior ou menor, conforme a gente quisesse. Na sala de visitas estenderam um tapete, onde se via uma onça pintada. Mamãe vivia ralhando comigo, com receio de que eu estragasse o verniz dos móveis ou engordurasse o assoalho. Eu teimava em pedir-lhe que me armasse a rede ao canto da varanda. De manhã até a noite batiam palmas ao portão ou faziam soar a campainha. Aquilo parecia não ter fim, enjoava a gente. Era o padeiro, o leiteiro, o verdureiro, o peixeiro, o carteiro, o mascate, o cego, o aleijado e mil outras pessoas que iam oferecer alguma coisa ou pedir, ou visitar mamãe e acompanhá-la nos passeios. 2 É possível notar que o personagem Mário vê na cidade um lugar de avanços, de novidades e de mudanças, uma vida agitada, mas essa vida é por demais turbulenta, cansativa e castigante. É o progresso e o desconforto ao mesmo tempo. Uma outra imagem da cidade que podemos notar nos textos de Thales de Andrade, e que seu personagem Mário nos descreve, é a cidade como sinônimo de um lugar e de uma vida incerta: Dantes, quando possuía a fazenda, tudo parecia cair do céu por descuido. Não pagava aluguel de casa, não pagava água, lenha, café, feijão, arroz, batatas, cebola, banha, leite, queijo, manteiga, frangos, ovos, verduras, frutas, flores... Agora? A despesa, já despropositada, crescia cada vez mais. Tudo custava muito dinheiro. Mas não era só isso. Percebia-se [o pai de Mário] explorado pela maioria dos que o rodeavam. Ainda naquele dia arranjara mais um desafeto. E por quê? Somente porque não lhe emprestara certa quantia de dinheiro que estava no banco. 2 Idem, Ibidem, p 12-13.

Qual! Era preciso mudar de vida. Era forçoso acabar com aquilo. Era necessário gastar menos, senão, ao cabo de algum tempo, chegariam à miséria. 3 A cidade é, portanto, um lugar de comércio, de relações financeiras, mas um lugar que possibilita, ao mesmo tempo, o fracasso, a ruína pessoal, a miséria. A cidade é o progresso, é a modernidade, é a possibilidade de uma socialização muito grande, porém, é um lugar de pessoas traiçoeiras, trambiqueiras, que podem causar mal às pessoas de bem e trabalhadoras. A cidade é o progresso, mas um grande perigo e desafio para as pessoas simples e trabalhadoras do interior. O despreparo, a ingenuidade e a falta de sorte poderiam levar as pessoas que vivem na cidade à miséria. Por outro lado, o campo é o oposto da visão de cidade apresentada por Thales de Andrade. Vejamos nesse trecho como o personagem Mário narra uma conversa sobre os prejuízos de se morar na cidade: Que saudade da fazenda, disse papai suspirando. O senhor não calcula, seu Ferraz, o meu arrependimento por ter abandonado a liberdade do sítio. Ao vender a fazenda, fiz a maior asneira da minha vida. _ Também penso nisso, afirmou o seu Ferraz. A cidade tem os seus encantos: ruas bem arranjadas, igrejas, teatros, mercados, iluminação, automóveis, muita gente e tantas coisas boas, mas também tem outras que só nos causam desgosto e dão prejuízos. 4 O campo é o lugar da liberdade, da abundância de alimentos, de uma vida tranqüila e boa. O comportamento e vida simples são o esperado e o desejado pelas pessoas. A cidade também passa a ser traiçoeira, pois engana as pessoas por suas belezas, modernidades, avanços, mas por trás de tudo isso está a verdadeira face da cidade: um lugar perigoso para se viver, como podemos notar em outro fragmento narrado pelo personagem Mário : 3 ANDRADE, Thales. Saudade São Paulo: Editora Nacional, 64º Edição, 1974, p.15. 4 ANDRADE, Thales. Saudade São Paulo: Editora Nacional, 64º Edição, 1974, p.19-20.

- E o senhor não fala do perigo dos veículos em disparada. Lembre-se de que sempre há por aí um caso novo de uma desgraça. É um homem com as pernas quebradas, é uma criança esmagada... - E as doenças, seu Ferraz? - É verdade. Só poeira... só a poeira quantas moléstias não espalha! Basta falar da tuberculose. Depois há sempre as epidemias de gripe, de sarampo, cachumba, catapora, dor-d olhos, coqueluche... Alastram-se espantosamente. 5 O campo, por ser o oposto da cidade, vai ser o lugar da falta de perigos para as pessoas, um lugar bom e adequado para a vida, longe de doenças e moléstias, como também o lugar da falta de perigo da modernidade. Ficar na cidade, com tudo de mal e perigoso que ela oferece, seria entendido como um grande erro, e Thales de Andrade propõe como solução para a família do personagem Mário, o retorno ao campo. O campo passa a ser entendido como salvação dos problemas das pessoas e, principalmente, do próprio país. Observamos isso em um outro personagem de Thales de Andrade, que é um advogado bem sucedido e que pretende vender algumas terras que não estão sendo trabalhadas como deveriam e considera isso um problema. Vejamos a seguinte passagem: - Eu tensionava retalhar a propriedade. Ela deveria ser, assim, inteiramente cultivada. Mas ao senhor prefiro vendê-la englobadamente. Sei que a aproveitará o mais que lhe for possível 6 E continua... Saiba que essas terras me couberam por herança e que não pretendo cuidar da lavoura. Achei acertado auxiliar alguém que pretenda viver dela. Com isso me favoreço, dispondo de uma coisa morta para mim, favoreço-o também e creio beneficiar a nossa Pátria. Não é nada mas será sempre uma grande área de terra cultivada, produzindo, enriquecendo o país. 7 5 Idem, Ibidem, p..21. 6 ANDRADE, Thales. Saudade São Paulo: Editora Nacional, 64º Edição, 1974, p.28. 7 Idem, Ibidem, p 33.

A vida no campo não é só boa para a vida do homem como também é boa para o desenvolvimento da nação. A salvação do homem e da nação se dá pelo bom aproveitamento e desenvolvimento agrícola do país. O futuro do Brasil está na produção agrícola. A Educação Thales de Andrade não deixa de considerar que existe uma grande tensão entre o campo e a cidade, uma tensão que pode significar uma falta de harmonia social, já que é na cidade que se produz os avanços científicos, como também é o símbolo de modernidade desse período histórico. Ser uma sociedade moderna é ter uma vida urbana desenvolvida, é ter tecnologia e equipamentos novos. Tecnologias, técnicas e conhecimentos científicos que faltam ao campo. O campo é a possibilidade de um país melhor, mas não produz ciência. Identificamos nesse sentido que Thales de Andrade propõe uma saída para que haja harmonia entre as tensões do campo com a cidade, e que ela se dará pela educação. É a educação que possibilitará que o campo se torne mais desenvolvido, mais produtivo e faça parte de uma sociedade moderna. A proposta de Thales de Andrade é a criação de escolas voltadas para atender uma demanda agrícola, ou seja, é produzir conhecimentos e técnicas que sejam utilizados no campo permitindo uma maior produção e, conseqüentemente, um maior desenvolvimento nacional. O exemplo que Thales de Andrade utiliza no seu livro Saudade é a criação da Escola Agrícola Luiz de Queiroz 8 - essa escola atualmente se chama Esalq, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, que se encontra incorporada à USP (Universidade de São Paulo) essa escola procuraria desenvolver técnicas e conhecimentos sobre a agricultura, servindo de subsídios, principalmente, para filhos de agricultores do país. No entanto, consideramos que a utilização dessa escola tem um sentido simbólico, já que essa escola se situa dentro do perímetro urbano da cidade de Piracicaba, mas é ao mesmo tempo uma fazenda, ou seja, é a união do conhecimento científico, próprio da cidade urbana, com o campo. Essa escola é uma instituição urbana, mas o seu terreno é a constituição de uma fazenda, representando a união entre o campo e a cidade, entre uma sociedade urbana e moderna com uma vida rural, o conhecimento técnico e o trato com a 8 ANDRADE, Thales. Saudade. São Paulo: Editora Nacional, 64º Edição, 1974, p. 163-165.

terra. É a união da cidade com o campo, é um único lugar que é campo, mas está na cidade, que produz conhecimento científico, mas que esse conhecimento é produzido em uma fazenda. Piracicaba entra nessa discussão de duas formas. A primeira é que Piracicaba é a cidade que Thales de Andrade está se inspirando e vivendo; em segundo lugar que a experiência e modelo que ele propõe como solução para a falta de harmonia entre o campo e a cidade é uma experiência piracicabana, como que Piracicaba fosse um exemplo para todo o país, a educação em Piracicaba fosse algo a ser observado e valorizado pela nação, já que soube tão bem unir o campo e a cidade. O Nacionalismo Vários livros de Thales de Andrade foram publicados pela Editora Nacional, como também tiveram uma circulação expressiva, já que até 1930 o livro Saudade contava com mais de trinta edições. Assim, podemos inferir que a proposta de Tales de Andrade estava articulada com uma proposta nacional, ou que no mínimo sua proposta era aceita pelo Governo Federal e, principalmente, pelo Governo do Estado de São Paulo, já que era este último quem publicava os livros de Thales de Andrade. É importante lembrar que no período que Thales de Andrade escreve a maior parte de sua obra, o governo brasileiro era influenciado pelo que ficou conhecido como política do café com leite. Isso indica mais um fator de concordância das teses de Thales de Andrade com a política nacional, pois defendia que o campo é a possibilidade de avanço, graças a uma grande produção agrícola, como também que o principal personagem desse processo produtivo é o homem do campo, quando esse é o proprietário de terra. O que identificamos é uma afirmação da importância do produto agrícola e do agricultor, que por sua vez é a base política do governo nacional do período, ou seja, é uma afirmação da importância política do café com leite, do produto e das políticas rurais, é a afirmação da importância nacional de São Paulo. A forma como Thales de Andrade enxergava a sociedade brasileira e mesmo a educação era em prol de uma proposta nacional, visando um projeto civilizatório, através da harmonia entre o campo e a cidade. Nesse sentido, os alunos que tivessem contato com os textos de Thales de Andrade, seriam estimulados a assumirem uma missão nacional, na qual deveriam valorizar a produção agrícola e, principalmente, a figura do produtor rural.

Ao valorizar o campo, Thales de Andrade acaba defendendo também a preservação da natureza, mas isso se dá menos por uma visão ecológica de não devastação das matas, como afirmam muitos dos memorialistas de Piracicaba, e mais pela importância do campo e, conseqüentemente, da natureza nesse projeto nacional. Seria necessário cuidar da natureza porque é dela que sai o principal produto do trabalho brasileiro. Cabe ainda salientar que ao defender o campo e o homem rural, Thales de Andrade propõe uma superação do campo e do homem rural, mas no sentido de que a estes devem ser acrescentados novas técnicas e conhecimentos, novos hábitos e refinamentos. É uma valorização do homem e do campo prevendo sua superação em prol da nação. Bibliografia: ANDRADE, Thales Castanho. A Filha da Floresta Coleção Encanto e Verdade. Prefeitura do Município de Piracicaba/Secretaria de Ação Cultural, 1998.. El Rei Dom Sapo Coleção Encanto e Verdade. Piracicaba: Editora Melhoramentos/Editora Unimep, 1999. Fim do Mundo Coleção Encanto e Verdade. Piracicaba:Ed. Melhoramentos, 2000. CANDIDO, Antonio. Os Parceiros do Rio Bonito. São Paulo: Editora 34, 9º Edição, 2001, D ARAUJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000 DE DECCA, E. 1930 - O Silêncio dos Vencidos. São Paulo: Editora Brasiliense, 6º Edição, 1997 NETTO, Cecílio Elias. Almanaque 2000 Memorial de Piracicaba Século XX. Piracicaba: IHGP/Jornal de Piracicaba/ Unimep, 2000. NAXARA. Márcia R. C. Estrangeiro em Sua Própria Terra. São Paulo: Ed. Annablume, 1998. Jornais: Arquivo do Jornal de Piracicaba 1910/1940 Biblioteca Municipal de Piracicaba.