ALGUNS ERROS E OMISSÕES EM PROJECTOS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS SOME ERRORS AND OMISSIONS IN PROJECTS OF FIRE SAFETY IN BUILDINGS



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Transcrição:

Tema 2 - Performance e Segurança 1 ALGUNS ERROS E OMISSÕES EM PROJECTOS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS SOME ERRORS AND OMISSIONS IN PROJECTS OF FIRE SAFETY IN BUILDINGS António Varela Mestre em SCIE - UC CDOS Faro apfvarela@gmail.com João Paulo Rodrigues Professor Universidade de Coimbra Jpaulocr@dec.uc.pt Resumo No presente artigo é feita a identificação e caracterização dos erros e omissões mais comuns na elaboração e implementação dos projectos de segurança contra risco de incêndio em edifícios, observados antes da entrada em vigor do actual Regulamento de Segurança Contra Incêndios em Edifícios. São ilustrados e comentados os erros mais frequentes com objectivo de alertar o leitor para os mesmos de forma a permitir que não voltem a ser repetidos. Palavras-chave: incêndio, erro, omissão, regulamento, projecto. Abstract In the present paper is done the identification and characterization of the most common errors and omissions in the design and implementation of projects of fire safety in buildings, observed before the entry in force of the current Regulation of Fire Safety in Buildings. They are illustrated and discussed the most frequent errors in order to alert the reader to them and with this avoiding their repetition. Keywords: fire, error, omission, regulation, project.

2 Rodrigues, Varela 1 Introdução No presente artigo identificam-se e enumeram-se alguns dos erros e omissões mais comuns na elaboração e implementação de projectos de segurança contra incêndio em edifícios (SCIE), tendo por objectivo a sua eliminação, através da respectiva divulgação. Tal objectivo prende-se com a convicção de que a divulgação das deficiências registadas na elaboração e implementação dos referidos projectos contribuirá para a redução significativa das mesmas. Como metodologia para a abordagem do tema optou-se por efectuar uma reflexão acerca da instrução dos projectos e o levantamento empírico dos erros e omissões detectados na fase de análise e na implementação dos projectos aquando das vistorias para emissão da licença, relativas a processos analisados no Comando Distrital de Operações de Socorro de Faro [1]. 2 Erros e omissões detectados nos projectos As deficiências detectadas nos projectos analisados têm várias causas, salientando-se a incorrecta ou deficiente instrução dos projectos, o não cumprimento da legislação aplicável e a não utilização de regras de boa prática. Algumas dessas deficiências devem ser enquadradas tendo em conta a legislação aplicável à utilização em causa [2, 3]. 2.1. Domínio dos conceitos teóricos Apesar de nos últimos anos algumas cadeiras leccionadas nas Universidades abordarem as exigências legais relativas à SCIE, a maioria dos técnicos não dominam os conceitos referentes à temática ou os mesmos não estão consolidados. Este facto deve-se em parte à existência de diversas exigências legais nas mais variadas especialidades, o que dificulta a sua apreensão pelos técnicos. Importa referir que a SCIE consiste numa especialidade que é transversal aos vários projectos, necessários para a construção dos edifícios, implicando conhecimentos específicos das várias especialidades, que incluem entre outros, o projecto de estruturas, o de águas e o electromecânico [4]. 2.1.1 Peças escritas A memória descritiva é uma peça escrita fundamental para quem vai implementar um projecto de SCIE, dado que contém informação específica, que não consta das outras especialidades, nomeadamente a resistência ao fogo das portas, a reacção ao fogo dos materiais de decoração e revestimento, o tipo de extintores, entre outras. Uma memória descritiva e justificativa com a caracterização e justificação de todas as medidas e meios de segurança preconizados, permite criar condições para que em obra não sejam cometidos erros que em determinadas situações podem ser de difícil resolução e com custos elevados. Nos erros e omissões relativos às peças escritas, observa-se a elaboração da memória descritiva com base em legislação já revogada, que são mencionadas utilizações que não constam do projecto, que as memórias são omissas no que respeita a medidas e meios de segurança contra risco de incêndio bem como às suas características técnicas, que não se descrevem os elementos construtivos, nem se menciona qual a sua resistência ao fogo, não se identifica os locais de risco, não se descreve nem se preconiza isolamento e protecção para locais de risco, não se incluí o cálculo do efectivo e o respectivo dimensionamento dos caminhos de evacuação, são determinados efectivos com base em critérios não aplicáveis, nada se menciona sobre o tipo de central automática de detecção de incêndios, nada se menciona sobre os comandos efectuados pelas centrais de detecção, não se descreve os sistemas de controlo de fumos, não se descreve a central de bombagem de incêndios, não se menciona qual a

Erros e omissões na SCIE 3 capacidade do depósito de água previsto para a rede de incêndio, não se descreve o tipo e a capacidade dos extintores, não se caracteriza os hidrantes exteriores e a sua fonte de abastecimento. 2.1.2 Peças Desenhadas Os erros e omissões verificados nas peças desenhadas devem-se essencialmente à sua organização, instrução e em alguns casos à sua ausência. A apreciação dos projectos é fortemente condicionada pela informação que é fornecida nas peças desenhadas, a qual deve permitir a completa compreensão das condicionantes e das medidas e meios preconizados, contribuindo ainda para uma correcta implementação das mesmas em obra. Os erros e omissões detectados relativos às peças desenhadas são, não se incluir peças desenhadas legíveis, não se identificar os vários espaços; não se incluir alçados, cortes dos edifícios e planta de implantação; na planta de implantação não se localizar os hidrantes exteriores nem se evidenciar a acessibilidade às viaturas dos bombeiros e não se incluir a representação dos percursos de evacuação, nem a identificação do risco e do efectivo dos locais. 2.1.3 Termo de responsabilidade Contrariamente ao que seria de supor, dado que existe legislação onde consta a minuta do termo de responsabilidade dos técnicos autores dos projectos de SCIE, constatou-se a existência de erros na sua elaboração. Os erros e omissões relativos aos termos de responsabilidade dizem respeito à menção de legislação que não se aplica ao estabelecimento/edifício; mencionarem especialidades, que não constam da legislação do licenciamento de obras particulares (ex: projecto de instalações de segurança e projecto integrado de segurança) e mencionarem que a responsabilidade do técnico termina após a aprovação do projecto ou dois anos após a sua elaboração. 2.1.4 Simbologia Os erros e omissões relativos à simbologia contribuem para dificultar a apreciação dos projectos, a realização das vistorias e originar erros na instalação das medidas e meios de SCIE. As deficiências identificadas relativamente à simbologia são as seguintes: não se utilizar simbologia normalizada; não se incluir legenda com a simbologia utilizada; a utilização de símbolos normalizados, mas legendados com significado diferente ao indicado na documentação técnica. 2.2 Medidas de protecção construtivas [5, 6, 7, 8] 2.2.1 Caminhos de evacuação Os erros e omissões relativos aos caminhos de evacuação inserem-se na segurança passiva, tendo origem na concepção da arquitectura. As incorrecções constatadas relativas aos caminhos de evacuação dizem respeito à não consideração de saídas em número e/ou larguras suficientes para o efectivo dos locais, estarem previstas distâncias a percorrer até atingir saídas superiores ao regulamentado, não se preverem passadeiras a definir os caminhos de evacuação em parques de estacionamento cobertos, não se prever a descontinuidade nas caixas de escadas e não se preverem passeios sobrelevados nos percursos de evacuação pelas rampas dos parques de estacionamento cobertos. 2.2.2 Compartimentação A compartimentação também está associada à segurança passiva, sendo os erros originados pelo desconhecimento da legislação e da finalidade do isolamento e protecção, ao não se prever câmaras cortafogo na ligação entre o estacionamento e os restantes espaços dos edifícios, não se prever a

4 Rodrigues, Varela compartimentação das cozinhas nos vãos dos passa-pratos, não se prever a compartimentação para os locais de risco e não se prever que a protecção e isolamento do compartimento do gerador implique que este não funcione devido à inexistência de entradas de ar. 2.2.3 Portas As portas contribuem para que a evacuação do edifício ou recinto se efectue em segurança em situação de incêndio. Os erros associados às portas devem-se essencialmente ao desconhecimento da legislação, não se prevendo barras anti-pânico, a sua não abertura no sentido da evacuação e não se prever que as portas de correr automáticas sejam dotadas de dispositivo anti-pânico ou com abertura em caso de falha de energia. 2.3 Sistemas e instalações de protecção 2.3.1 Controlo de fumos Os erros e omissões associados ao controlo de fumo inserem-se na segurança passiva. Estes erros ficam a dever-se, no caso das escadas, ao facto de não se prever clarabóias com a justificação de que as mesmas facilitam a infiltração da água da chuva, e os comandos de desenfumagem não se localizarem em locais de fácil acesso aos bombeiros, verificando-se ainda a ausência de sistema de controlo de fumos, ou da sua correcta caracterização. 2.3.2 Iluminação de emergência Na iluminação de emergência os erros e omissões relacionam-se com os conhecimentos dos técnicos autores dos projectos e na sua formação de base, a qual é na maioria dos casos da área da engenharia civil. Os erros e omissões identificados relativos à iluminação de emergência, consistem em não prever a instalação de aparelhos de iluminação de circulação ao longo das passadeiras dos parques de estacionamento e não se prever a existência de iluminação ambiente e de sinalização. 2.3.3 Sistemas automáticos de detecção de incêndios Os erros relativos aos sistemas de detecção devem-se essencialmente ao desconhecimento das regras de concepção dos mesmos, nomeadamente ao não prever a existência de repetidores/sinalizadores de acção (nas centrais convencionais), não proteger todos os espaços com detectores, não se respeitar os afastamentos dos detectores às paredes e entre detectores, não se localizar os detectores em função das características dos tectos (ex: inclinação dos tectos e altura de vigas) e não se prever a instalação de botoneiras de alarme. 2.3.4 Extintores O extintor de incêndio é o equipamento de SCIE de utilização generalizada. No entanto verifica-se que o desconhecimento das regras para a sua instalação bem como das exigências legais aplicáveis contribuem para os erros verificados, nomeadamente ao prever a utilização exclusiva de extintores de anidrido carbónico, não se prever a instalação dos extintores afastados dos equipamentos a proteger impedindo a sua utilização em caso de incêndio, prever a instalação de um extintor em situações em que a legislação obriga à instalação de dois, ao não se cumprir as distâncias a percorrer até atingir um extintor e não se prever a sua instalação junto das saídas. 2.3.5 Redes de incêndio Relativamente às bocas-de-incêndio armadas, constatou-se a utilização de PVC nas tubagens de alimentação, devido a este material apresentar maior longevidade e menores custos de manutenção. Um

Erros e omissões na SCIE 5 erro comum é não prever a instalação das bocas junto das saídas nem de forma a cobrir todos os espaços, ou prever a sua instalação no interior das escadas protegidas ou ainda junto de quadros eléctricos. Os erros e omissões constatados nas bocas-de-incêndio não armadas são reduzidos e devem-se essencialmente ao desconhecimento da finalidade das bocas e das ligações utilizadas pelos bombeiros, que são do tipo storz. Dos erros e omissões listados, os relativos aos hidrantes exteriores, são os que apresentam maior dificuldade de resolução, nomeadamente nos edifícios a construir ou estabelecimentos a instalar em edificações existentes em zonas urbanas consolidadas, dado que as redes de distribuição de água podem não apresentar condições técnicas (diâmetro da conduta e pressão) para a sua instalação, ou em alguns casos, não existir rede pública de abastecimento. Os erros mais comuns consistem em prever a instalação dos hidrantes em locais sem acesso às viaturas dos bombeiros ou em zonas de estacionamento de viaturas, impedindo a sua utilização pelos bombeiros, não prever ligações do tipo storz, e prever distâncias aos edifícios superiores ao preconizado na regulamentação. 3 Erros detectados na implementação de projectos Os erros constatados na implementação dos projectos, devem-se entre outros à inexistência de acompanhamento e fiscalização, pelos técnicos autores e/ou outros técnicos com conhecimentos na área da SCIE. Sem ser exaustivo, são mencionadas de seguida as deficiências detectadas com mais frequência em vistorias, constituindo algumas a não observância de regras de boa arte, outras infracções à legislação e outras ainda resultantes de pura negligência na manutenção e conservação dos equipamentos e sistemas. 3.1 Medidas de protecção construtivas 3.1.1 Caminhos de evacuação A obstrução dos caminhos de evacuação (Fig.1) não deve ser considerada como um erro mas sim como uma atitude negligente, sendo bastante comum apesar de não constar nos relatórios de vistoria, face à sua imediata correcção. A existência de fechaduras e/ou trincos em portas equipadas com barras antipânico ou a inexistência de patim nas portas que abrem no sentido da evacuação, também são erros observados. Fig.1 - Caminho de evacuação obstruído

6 Rodrigues, Varela 3.1.2 Compartimentação No âmbito da compartimentação, constatou-se aquando das vistorias, a introdução de vãos em elementos que definem a compartimentação, sem a necessária protecção. Um dos erros mais frequentes detectados em vistoria, consiste na instalação dos registos corta-fogo sem estarem apoiados nas paredes, o que constitui uma má prática dando origem à existência de um troço da conduta sem protecção. A existência de aberturas em elementos com função de compartimentação (paredes e lajes), condutas de ar condicionado atravessando elementos com função de compartimentação sem estarem dotadas de registos corta-fogo, portas com função de compartimentação sem dispositivo de fecho automático, dispositivo de fecho automático das portas sem força para as fecharem, passagem de cabos sem selagens e não existir parede sobre as portas com função de compartimentação instaladas nos corredores, constituem erros comuns na compartimentação. 3.1.3 Portas Um dos erros mais comuns relativos às portas com função de compartimentação, consiste na colocação de cunhas de madeira para as manter abertas (Fig.2). Esta má prática pode ser resolvida com a instalação dos retentores electromagnéticos. Fig.2 - Cunha de madeira a impedir que a porta se feche Nas portas verifica-se com alguma frequência, não estarem instaladas a abrir no sentido de evacuação, o que é obrigatório quando são susceptíveis de ser utilizadas por mais do que 50 pessoas; serem de duas folhas sem incluírem selectores de fecho, o que impede que fechem correctamente; a existência de folgas de montagem junto ao pavimento superiores ao especificado pelos fabricantes, o que compromete a sua eficácia no caso de portas resistentes ao fogo; não apresentarem a resistência ao fogo mencionada no projecto ou existirem trancas colocadas, impedindo a sua abertura em caso de emergência. 3.1.4 Sinalização No que respeita à sinalização, os erros devem-se à sua ausência ou afixação incorrecta, dificultando a sua visualização. São frequentes as situações de ausência de sinalização nos cortes de gás, na indicação dos sentidos de evacuação, nos elevadores alertando para a sua não utilização em caso de incêndio (Fig.3), nas portas com função de compartimentação mencionando que devem ser mantidas fechadas.

Erros e omissões na SCIE 7 Fig.3 - Ausência de sinalização de não utilização do elevador em caso de incêndio 3.2 Sistemas e instalações de protecção 3.2.1 Iluminação de emergência Na iluminação de emergência as anomalias detectadas reportam-se a situações relacionadas com a sua localização e a problemas devidos à ausência de manutenção, tendo-se constatado a existência de disjuntores do circuito de iluminação de emergência desligados originando acumuladores sem carga, a existência de blocos de sinalização colocados em posições que não permitem a sua visibilidade e a existência de lâmpadas fundidas. 3.2.2 Sistemas automáticos de detecção de incêndios e gás Os problemas dos sistemas automáticos de detecção resumem-se no essencial a avarias, falta de manutenção e instalação dos detectores em desconformidade com as regras. As avarias podem ter várias origens como por exemplo: cabos danificados, infiltrações de água e deficiente instalação. São frequentes nos sistemas automáticos de detecção de incêndios e gás, que as centrais se encontrem desligadas ou em avaria, que o painel da central não inclua instruções em Português, que os detectores não estejam endereçados ou que apresentem dispositivos para impedir o seu accionamento, que nas centrais de detecção convencionais as zonas não estejam identificadas, que as botoneiras de alarme não apresentem instruções em Português, que os detectores automáticos estejam instalados em zonas mais baixas dos tectos ou em esteiras de cabos afastadas dos tectos retardando o seu accionamento em caso de incêndio, a existência de detectores automáticos de incêndios instalados a menos de 50 cm das paredes ou em tectos falsos que permitem a passagem do fumo (Fig.4), o não accionamento dos elevadores pela central e a existência detectores de gás GPL instalados a altura que não permite o seu funcionamento. 3.2.3 Extintores As deficiências dos extintores, estão relacionadas com a manutenção e instalação incorrecta, tendo-se verificado que se encontram fora ou sem indicação da validade; sem as provas hidráulicas efectuadas nos prazos determinados; com massa de agente extintor superior a 3kg sem mangueira, contrariando o mencionado na NP 1618, permitindo que o extintor não seja utilizado na posição horizontal, originando que o tubo sifão não esteja em contacto com agente extintor; corpo com presença de ferrugem; instalados de modo a que o manípulo fique a uma altura superior a 1,2 m do pavimento; sem instruções de utilização em Português; rótulo com classe de fogo (classe fogo E) que não consta da NP EN 2 [9]; despressurizados; com rótulos sem indicação da eficácia; retirados para trabalhos de conservação e

8 Rodrigues, Varela manutenção, sem que sejam colocados de substituição; sem as mangueiras acopladas (Fig.5) e corpo com cores diferentes do encarnado, contrariando o mencionado na NP 3506. Fig. 4 - Detector instalado em tecto falso que permite a passagem de fumo 3.2.4 Redes de incêndio Fig. 5 - Extintor sem mangueira acoplada As deficiências das bocas-de-incêndio armadas estão relacionadas com a ausência de manutenção e instalação incorrecta. Algumas das deficiências detectadas em vistorias relativas a bocas-de-incêndio armadas, são não incluírem instruções de utilização; braçadeiras mal ajustadas; mangueira de ligação entre a válvula e o tambor dobrada, dificultando a passagem da água; mangueiras incorrectamente colocadas no armário nas bocas tipo teatro; condutas de alimentação em PVC (Fig.6); obstruídas; caixas sem a respectiva chave e não instalação de manómetro na boca hidraulicamente mais desfavorável apesar de estar previsto em projecto. As deficiências verificadas nas bocas-de-incêndio não armadas, são devidas a instalação incorrecta, observando-se que não estão dotadas de ligações do tipo STORZ e que não estão viradas para baixo, impedindo assim a passagem da água nas mangueiras. As deficiências verificadas nos marcos de incêndio devem-se na sua maioria a deficiente instalação ou existência de obstáculos (Fig.7), impossibilitando ou dificultando a sua manobra. As deficiências

Erros e omissões na SCIE 9 detectadas são: válvulas de seccionamento fechadas e dificuldade de remoção das tampas em ligações roscadas devido a oxidação ou pintura. Fig. 6 - Boca-de-incêndio armada alimentada por conduta em PVC Fig.7 - Tomadas do marco de incêndio obstruídas 4 Conclusões Os princípios gerais da segurança contra risco de incêndio em edifícios que visam a preservação da vida humana, do ambiente e do património cultural só serão atingidos com a partilha de informação, conhecimentos e de experiências, por parte de todos os intervenientes nesta área, incluindo os bombeiros que actuam nas situações de incêndio, os técnicos das entidades com competência para licenciar e fiscalizar, os projectistas, os docentes, os investigadores, os instaladores e as entidades responsáveis pela manutenção das condições de segurança. Os sistemas de informação permitem que a recolha e a troca de informação sejam efectuadas de forma mais rápida e eficiente, constituindo uma ferramenta a não descurar para a garantia das condições de segurança contra risco de incêndio em edifícios. As conclusões que se podem obter dos erros e omissões mencionados são:

10 Rodrigues, Varela A necessidade do domínio pleno por parte dos técnicos dos conhecimentos associados a esta temática; As condicionantes da SCIE na arquitectura; A necessidade de coordenação e articulação entre os técnicos das várias especialidades; A necessidade de formação e constante actualização dos técnicos; A premência da especialização. Referências [1]Varela, A.P.F. Erros e Omissões na Elaboração e Implementação de Projectos de Segurança Contra Risco de Incêndio em Edifícios, Dissertação de Mestrado, Universidade de Coimbra, 2010. [2] DL 220/2008, Regime Jurídico de Segurança contra Incêndio em Edifícios. [3] Portaria 1532/2008, Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndio em Edifícios. [4] Abrantes, J.B. e Castro, C. F. Manual de Segurança contra Incêndio em Edifícios. Sintra, Escola Nacional de Bombeiros, 2004. [5] DL 368/99, Normas de segurança contra incêndio a aplicar em estabelecimentos comerciais. [6] DL 66/95, Regulamento de segurança contra incêndio em Parques de Estacionamento Cobertos. [7] Portaria 1063/97, Medidas de segurança contra riscos de incêndio aplicáveis na construção, instalação e funcionamento dos empreendimentos turísticos e dos estabelecimentos de restauração e bebidas. [8] DL 409/98, Regulamento de segurança contra incêndio em edifícios tipo hospitalar. [9] NPEN 2: 1993 - Classes de fogos (Errata 1994). Substitui a NP 1553: 1984.