CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS



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Transcrição:

CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS ALEXSANDER ALMEIDA MACIEL CELENTE II (depoimento) 2013 CEME-ESEF-UFRGS

FICHA TÉCNICA Projeto: Garimpando Memórias Número da entrevista: E-363 Entrevistado: Alexsander Almeida Macial Celente Nascimento: 21/12/1980 Local da entrevista: Academia Body up, Porto Alegre RS Entrevistadores: Anderson Medeiros, Bruna Barroso e Diesse Paula Rodrigues Machado Data da entrevista: 27/09/2013 Transcrição: Felipe Colpes e Rafaela Waldow Copidesque e Pesquisa: Christiane Macedo e Silvana Vilodre Goellner Total de gravação: 19 minutos e 38 segundos. Páginas Digitadas: 7 Observações: Entrevista realizada para a disciplina Estudos Sócioculturais III realizada na Escola de Educação Física da Universidade federal do Rio Grande do Sul O Centro de Memória do Esporte está autorizado a utilizar, divulgar e publicar, para fins culturais, este depoimento de cunho documental e histórico. É permitida a citação no todo ou em parte desde que a fonte seja mencionada.

Sumário Inserção no esporte; Relação com a seleção brasileira de goalball; Disputas com a seleção; Rotina de treinamentos; Ciclo Olímpico do Rio 2013/2016; Trabalho para além dos treinamentos; Bolsa Atleta; Divulgação da modalidade goalball; Expectativa para os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro 2016.

1 Porto Alegre, 27 de setembro de 2013. Entrevista com Alexsander Almeida Maciel Celente a cargo dos pesquisadores Anderson Medeiros, Bruna Barroso e Diesse Paula Rodrigues Machado para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte. D.M. Então, Alexsander, conta um pouco da tua história. A.C. Bom, quando eu nasci, eu nasci já sem a visão do olho direito, uma doença que a minha mãe teve na gravidez, que eu não me lembro qual agora, e que atingiu meu olho direito, que ele não desenvolveu, então, eu já era visão inocular, até os quatro anos. E eu estava brincando e acabou dando um acidente com meu irmão menor, e eu acabei furando meu olho. Mas não tem como eu dizer para vocês como é que eu recebi essa notícia, porque eu era pequeno, para mim a transição de enxergar para não enxergar foi mais natural, do que quando alguém fica adulto, porque eu não tive esta fase da revolta; eu não tinha ainda visto muita coisa, eu me lembro de algumas imagens, então, a transição foi muito tranquila, e eu era uma criança muito ativa e segui sendo, minha família nunca me prendeu. Eu já fui para escola pra pessoas com deficiência, que é o Instituto Santa Luzia 1, com seis anos, já aprendi Braile, já alfabetizei, foi lá que eu conheci o goalball, que é minha modalidade atual hoje paralímpica, e foi bem tranquila essa transição. Pra minha família também. D.M. Há quanto tempo tu jogas e qual a importância do goalball pra ti? A.C. Eu conheci o goalball na escola, como eu estava comentando agora, quando eu conheci o goalball eu tinha uns 8 ou 9 anos; eu vi um pessoal jogando no Instituto, e o professor de Educação Física lá da escola começou a passar para gente nas aulas de Educação Física e começou a organizar uns campeonatos internos entre as turmas. Desde lá eu já gostei muito do jogo, gostava bastante de jogar, na época, e eu vim jogando só na escola até 1994. Uma professora me chamou, depois que eu passei para o segundo grau, eu estava fazendo Educação Física ali no CETE 2, na FUNDERGS 3, e ela me viu jogando e me convidou pra fazer parte de uma equipe. Desde lá eu comecei a jogar os campeonatos da confederação e não parei mais. Em 2003 eu fui convocado para a seleção e o goalball 1 Localizada em Porto Alegre, RS. 2 Centro Estadual de Treinamento Esportivo.

2 começou a se tornar parte da minha vida porque ele desenvolveu muito a minha autoestima, porque no esporte tu tem uma melhora na tua autoestima. Pra nós, pessoas com deficiência, melhora muito a percepção espacial, a orientação espacial na rua, dentro de casa, fica muito mais desenvolvido essa área. Quem faz esporte e é pessoa com deficiência sabe disso, que o esporte ele ajuda muito nessa área, na área de reabilitação, que a gente chama. Tu fica muito mais ágil nas tuas tarefas, ele desenvolve o resto das coisas. D.M. Queria que tu falasse agora um pouco, sobre a tua relação com a seleção brasileira. Como é que foi a tua primeira convocação? A.C. O Brasil vem crescendo muito agora, depois dos anos 2000, e vem crescendo muito, sendo um pouco mais valorizado no esporte no Brasil, que não só o futebol. Depois que eu comecei, fui convocado pela primeira vez em 2001, eu não conhecia ainda a lei que me dava dispensa. Eu trabalhava, eu recém tinha sido chamado na Prefeitura de Alvorada até, eu me lembro, era concursado lá. Três meses depois me chamaram, me convocaram para fazer parte da seleção brasileira, pra viajar pra Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Eu neguei a convocação: Não posso, recém comecei a trabalhar, como é que vou largar meu emprego. Porque isso não vai me dar nada, não tem como, não fui, aquele ano eu não fui por causa do meu emprego. No outro ano já tomei conhecimento da lei e tal, me chamaram de novo, eu comecei a levar a sério o negócio e desde aquele mundial de 2002 eu só vim me dedicando e ganhando frutos na seleção. E em 2003 a gente foi para o Canadá, disputar vaga pra Atenas 4, a gente não conseguiu, mas disputou a quinta vaga com a Finlândia e acabou perdendo. Em 2004 não teve campeonato internacional masculino, em 2005 teve um Pan 5 aqui, que eu não fiz parte porque eu machuquei a coluna, eu tive uma hérnia de disco devido ao esforço repetitivo do goalball. Em 2007 a gente conseguiu vaga aqui no Brasil, num mundial 6 aqui para Pequim 7, na China, a gente conseguiu a vaga aqui, foi muito emocionante aqueles jogos, e de lá a gente só vem crescendo. O Brasil em si só vem crescendo, em 2009 teve a segunda medalha do goalball internacional, a gente foi medalha 3 Fundação de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul. 4 Jogos Olímpicos de Atenas em 2004. 5 Jogos Panamericanos para Cegos e Deficientes Visuais, ocorridos em São Paulo. 6 Jogos Mundiais da IBSA (International Blind Sports Federation), ocorridos em São Paulo. 7 Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.

3 de prata lá no Pan na Ibsa 8, lá em Colorado Springs. Em 2010 teve competição 9 fora também, a gente não conseguiu medalha nos mundiais. 2011 a gente foi ouro em Guadalajara 10, onde a gente conseguiu a medalha de ouro e a vaga para Londres 11. Em Londres a gente foi prata, onde o Brasil realmente, mostrou que está chegando, para 2016 buscar o ouro, aqui no Brasil, graças a Deus. D.M. Qual foi o melhor momento da tua carreira até agora, então? A.C. O melhor momento, acho que para todo o atleta, é quando tu começa, quando tu está praticando o esporte ali, com os colegas, daqui a pouco tu diz: Bah, eu quero chegar em tal lugar. O ápice desse atleta é chegar na seleção e chegar em uma Olimpíada ou numa Paralimpíada, porque é o ápice de qualquer modalidade estar lá entre os melhores, nas seleções da olimpíada ou da paraolimpíada. Então, esse era o meu objetivo, eu consegui duas vezes chegar lá, e depois que tu chega, tu quer medalhar, e uma medalha olímpica, não importa se é bronze, se é prata, se é ouro. Tu está ali, tu é um dos melhores, porque quem está lá perde no detalhe, ganha no detalhe, tu não é pior ou melhor que o outro, aquele dia tu pode estar um pouquinho abaixo e o cara ganha, e não é que tu seja ruim não, todo mundo que está lá é bom, e é emocionante. Até hoje tem várias partidas que me marcaram, mas claro que a última que me marcou foi a semifinal da olimpíada passada, onde a gente ganhou de virada da Lituânia, e conquistou a medalha de prata e ganhar a semifinal, lógico, e fomos para a final. Foi muito bom, muito mesmo, até porque o gol da virada tava na minha mão, um pênalti. Largaram a responsa no mais antigo dentro da quadra, e eu digo: Vamos fazer jus então, vamos embora. D.M. Tu é o mais antigo da seleção? A.C. Sim, no momento eu sou o mais antigo, porque eu sou o único que estou desde 2002 sendo convocado e mantendo um padrão, conseguindo treinar e estar entre os melhores, porque o resto, agora, são mais novos, tudo abaixo de 30, eu estou com 32 já. Eu digo: Bom, vamos lá, vovô está aqui (Risos). 8 Panamericano de Goalball, EUA, Colorado Springs. 9 Campeonato mundial da IBSA, Inglaterra, Shefield. 10 Jogos Para-panamericanos, Guadalajara, México. 11 Jogos Paralímpicos de Londres, 2012.

4 D.M. Como que acontecem esses treinos da seleção brasileira? Onde que eles são? A.C. Até 2008, O treinador da seleção brasileira, ele era da Paraíba 12, então, é normal que cada treinador puxa para sua cidade, organiza lá e o comitê libera verba, paga hotel, aluga quarto, esse tipo de coisa. Até 2008 eram lá os treinamentos. As convocações acontecem a partir do campeonato brasileiro, que é da confederação. Ali estão os treinadores da seleção, avaliando os atletas. No início do ano seguinte, eles fazem uma préconvocação de uns 10 atletas, até 12, no máximo, pra tirar 6, que é o nosso esporte. E nas convocações, duram 15 dias cada convocação, geralmente é uma por mês, ou uma a cada dois meses, no máximo. E vai peneirando, quando chegam os 6 lá, e graças a Deus eu sempre me mantive nos 6. Esses últimos anos os treinamentos todos foram em Jundiaí, São Paulo, porque o treinador 13 é de lá. Então, o treinador, ele já lutou Caratê, já teve em Winnipeg 14, ele já teve medalha já, ganhou medalha para o Brasil até, inclusive. Ele é o Alessandro Tosin, se vocês pesquisar, vocês vão conhecer ele, em 1999 ele foi medalhista em Winnipeg, se não me engano. Ele era lutador de Caratê pelo Brasil. Depois ele largou a carreira, e ele é professor de duas faculdades em São Paulo e treina a seleção brasileira de goalball. D.M. Tem algum atleta do esporte paraolímpico que te inspirou? A.C. É uma pergunta essa, sabe que eu estou tentando buscar isso. Na minha época de infância, porque eu tinha 15 anos quando eu comecei a me destacar no goalball, lá nas quadras, tinha uma equipe muito boa, que para época, lógico, tudo vai evoluindo. Eles eram um dos melhores do Brasil, era no Paraná, agora ele é um tiozinho, já tem os seus quase 60 anos e na época ele era o top de linha. Então, um dia, quando nos fomos jogar contra ele: Bah, nós vamos jogar contra o Joaquim 15!. E aquilo, claro, dá aquela inspiração, mas nunca tive tipo: Eu quero ser como ele!, Nunca tive esse... Eu jogava bem, eu queria é ganhar dele mesmo [Risos]. Mas nunca assim: Eu quero ser como esse cara. Depois do mundial de 2002, que foi minha primeira competição internacional, que 12 Nome não localizado. 13 Alessandro Tosin. 14 Jogos Panamericanos de Winnipeg, Canadá, em 1999. 15 Nome sujeito à confirmação.

5 eu vi o pessoal europeu jogando, ai sim, eu comecei tipo: Um dia eu quero chegar nesse goalball, mas não que eu tinha um específico. Eu vou chegar nesse nível desses caras, e estamos num nível bem tranquilo, ganhando, bem legal. D.M. E o que tu espera para o futuro do goalball? A.C. Eu espero só coisa boa porque é como eu disse, depois dos anos 2000, o troço vem crescendo. Depois de 2008 mais ainda, vem crescendo bastante aqui no Brasil, o goalball vem aparecendo cada vez mais, os atletas sendo valorizados. Agora o governo tem o programa Bolsa Atleta, então, está tudo melhorando, assim, a gente não paga mais pra treinar, hoje em dia a gente consegue pleitear um Bolsa Atleta e consegue pagar uma academia, o teu suplemento. E nesse ciclo agora, o ciclo do Rio 2013/2016 vai ser um dos melhores aqui no Brasil porque eles vão investir, então, vai rolar patrocínio. Vai ser tudo pra nós ganharmos, a gente já ganhava sem ter porque, agora a gente vai acreditar mais ainda. A gente já acreditava sem dinheiro, com dinheiro melhora um pouquinho mais, não que seja o ideal, mas é um incentivo bom. Então esse ciclo agora Rio 2016 vai ter patrocínio, vai ter coisas boas para o goalball. Eu só acredito na melhoria, daqui para lá nas competições que vão ter, a gente vai sempre medalhar pra chegar aqui no Brasil mostrando que a gente está na frente pra pegar esse ouro. D.M. E o que vocês ganham, tu e a tua equipe, é o suficiente para se manter ou tu precisas trabalhar em alguma outra coisa? A.C. É assim, a Bolsa Atleta foi estipulada pelo governo lá em 2004, ai tem três categorias: a nacional, a internacional e a paraolímpica. Na minha opinião, eu não consigo só. Hoje em dia, eu trabalho, eu não sou somente atleta, eu tenho o meu emprego, eu sou concursado aqui no BRDE, no Banco Regional do Desenvolvimento, em Porto Alegre. Eu trabalho e não conseguiria me manter só com o Bolsa Atleta. A Bolsa Atleta vem a me ajudar porque dai eu não preciso pagar personal e porque, se for fazer os cálculos, um personal vai sair o quê? Uns quinhentos, seiscentos reais por mês, mais academia, mais suplemento, e eu vou conseguir pagar minha luz depois? Se é pra eu investir em um treinamento de qualidade a Bolsa Atleta só vai servir pra isso, pra eu comprar suplemento de qualidade? Se tu for ver o preço em cada site e tu vai tomar um termogênico, um troço

6 bom é cento e cinquenta reais, duzentos reais, e vai durar 30 dias. Então tu imagina? A não ser que tu vá viver com um produto qualquer de cinquenta reais do Mercado Público. Que eu já tomei não é, mas depois se tu toma um produto de melhor qualidade tu vê que funciona melhor. Felizmente! Então eu não consigo me manter só com a Bolsa Atleta, a não ser que agora, daqui pra lá, se tiver patrocínio e Bolsa Atleta o negócio vai melhorar, mas eu não largo o meu emprego porque não é para sempre, eu não vou conseguir me aposentar no esporte, não tem como. E não é um futebol que vai me dar um dinheiro pra eu guardar, não vai me dar aquele sustento certo. E mais, a Bolsa Atleta, tu vai lá assina o contrato bonitinho, e eles não tem uma sequência de pagamento correta. Todo dia tu está ali, certinho, e naquele mês está lá o teu dinheiro. Não! Às vezes tu recebe tudo numa bolada só e não sabe! Tu tem que organizar e então tu não tem como fazer isso. Imagina... D.M. É, se não tiver outra renda fica difícil não é? E o que tu acha necessário para o goalball ficar mais conhecido? A.C. É, bom, assim, isso já vem acontecendo. Mais dedicação das mídias, isso cada vez está melhor, e agora com a internet, a internet tem a informação. Tem no YouTube, claro que o pessoal procura no YouTube e eles tem que ver em algum lugar, eles vão ter que gostar daquilo, não é somente conhecer, mas hoje em dia está bem mais difundido do que quando eu comecei que ninguém sabia nada. Hoje em dia falam: ah tu joga goalball? E o que é que é mesmo? Ah já vi!. E depois que tu explica, ele: Ah já vi na TV. Não é mais aquele: Ah nunca vi! Isso é um ET, o que é isso?. Não, hoje em dia é difícil tu pegar alguém que nunca viu. Ele diz: Ah já vi na TV! Ah já vi na internet? Bah, já te vi na TV! e aquela coisa sabe? Hoje em dia está bem mais difundido. É claro que eu como atleta não vejo o Brasil pra 2016, nem nas outras vi, canais abertos mostrando a paralimpíada, por exemplo. E não só o goalball, falo da paralimpíada em si, o futebol, atletismo, natação, é só canal fechado, e ainda assim é só esporte individual, natação e atletismo que aparecem com mais ênfase. Aparece lá uns flashes de natação quando o cara está nas finais já, mostra a prova ou, caso contrário é mais atletismo, e agora aqui no Brasil, infelizmente, no futebol rola muito dinheiro, a gente sabe que não é tão necessário pra cada um se manter. E não vai mudar muita coisa, então... D.M. E sobre as paraolimpíadas de 2016 aqui no Rio de Janeiro? Qual a tua expectativa?

7 A.C. Como eu comentei, eu acho que são as melhores, porque o Brasil já vem numa medalha de prata olímpica, agora de Londres, vem de ouro de Guadalajara, esse ano já ganhou, acho que foi bronze, ou prata, não me lembro agora, porque nesse ano eu não participei. Agora tem os mundiais e acho que é só coisa melhor porque vai ter mais investimento aqui no Brasil, então já está tendo, então só dá pra esperar o melhor daqui para frente. D.M. Ah sim, com certeza! E tu pretendes continuar no esporte depois que tu parar de jogar profissionalmente? A.C. É, assim, no ano passado eu pedi dispensa da seleção que eu joguei, eu pedi uma dispensa, eu precisava dar um tempo, eu precisava recuperar aquela motivação, precisava dar uma resolvida na minha vida, eu tinha uns problemas pra resolver e tal, porque o atleta tem família também, tem os mesmos problemas que qualquer um tem. Às vezes tu passa, somando dá meio ano fora, meio ano em casa, tu tem que parar um pouco às vezes, e eu já vinha há dez anos treinando, e às vezes tu cansa de treinar. Quando tu cansa de treinar... Tu tem que gostar de treinar pra ser atleta. Quando tu cansa de treinar, está na hora de dar uma parada. Eu fui pedir essa parada e eu conversei no meio do ano e já pedi a volta e já me convocaram de novo, para me reavaliar e tal, e estou motivado de novo e vou seguir até 2016 e isso é certo, eu vou me esforçar para seguir até 2016 a não ser que o pessoal não queira e não me convoque de novo, mas eu quero ir até 2016 e jogar aqui no Brasil. Depois, a nível de seleção eu já não sei o que eu vou dizer daqui pra lá, se a minha ideia é parar ou não. Não sei mesmo. Vou tentar seguir jogando depois, mas é mais aqui no Brasil, porque a nível de seleção é muito pesado o treinamento, eu não sei, eu não sei o que dizer de depois, mas parar de vez acho que é só depois dos 40, sei lá, e nem assim, porque dai segue fazendo academia, jogando com a equipe devagarinho e tal. D.M. Muito obrigada Alex pela entrevista e disposição! [FINAL DA ENTREVISTA]